Explosão
Ilumina-se a noite com uma explosão de luz, como se o mar houvesse empurrado a onda contra o cais, como se o vento soprasse uma rajada que varre a areia da praia. Fogo desperto, erupção constante de sentidos aprisionados, libertados pela palavra, escrita, sentida, de um um corpo indolente, naufragado no oceano da solidão, por um instante, em pleno turbilhão, se eleva e se faz luz, na plena escuridão.
Abro em ti a caixa de Pandora, segredo escondido que trago na mão, chave mestra que te abre o coração e te despe a alma. Planto sementes de letras em teu solo fértil, de onde nascem árvores de palavras com força incontida, libertando os desejos, acordando as paixões outrora escondidas das multidões. Vens a mim, com a fúria da tempestade, tocando-me o corpo ainda dormente, acordando-me a mente.
Sinto a força, a energia que se desprende, de um corpo despido, prazer contido à espera do segredo, palavra mágica que soltará de ti todos os sentimentos, explodindo num mar imenso de letras feitas de espuma das ondas que a praia abraça. És turbilhão, constante emoção, acordada, arrancada a Morpheu, que em raios de luz percorre o Universo qual fogo de artifício, orgasmo contido em pleno céu.
O fim da noite!
Coloco a mascara, escondo o rosto, recolho as asas, encubro o dorso. Deixo as palavras morrerem no peito, o jardim deixa de florescer à falta de raios de sol, de chuva que o avive. Esta Noite não faz mais sentido, não tem qualquer cabimento quando as letras se repetem em frases ocas, em textos perdidos em desvarios da mente que à falta de ter aquilo que não encontra se limita a brincar com os sentidos, com a alma, como se fosse bola em mãos de criança.
Recolho-me, enrolo o corpo sobre si próprio, como se fosse um envelope que se fechasse por dentro, selo a alma, apago a luz e as letras deixam agora de brilhar, palavras mortas, metáforas gastas num prenúncio de fim. Não estás, não estou, aqui, já, para te abraçar, para me abraçar. Por mais braços que invente, não encontro nas palavras os sentires que me permitam tocar, tocar-te, não estás aí!
O sol ardente, queima a pele, curte-a, abrasa-a, secando cada pétala, cada folha, num único e último suspiro, num pequeno sopro, que, anuncia o final da vida, o fim da Noite, o início do dia!
Frio
O frio invade-me a alma, plena de ausências passadas, vazios feitos de nadas. Gelam-se os dedos, perdem-se as palavras entre as linhas do tempo, arrefece o espírito que se evapora nas nuvens escuras da tormenta. Cai a neve, sobre minhas folhas amareladas, sinto nos ramos o seu peso, como se carregasse comigo toda a solidão da Terra.
Faz-se a noite da ausência do dia, e eu, deixo o coração perder-se na falta de ti. O tempo passa por mim sem me cumprimentar, vejo-o ir embora e deixo-me aqui ficar, esperando eternamente a tua chegada. Cruzo as estrelas com um olhar, tentando lá te encontrar, perscrutando os céus, paraísos perdidos, em busca de te amar.
Perco-me do destino, desencontro-o para não ter de me cruzar, quero ficar, só, nesta noite fria, deixar de sentir o meu corpo clamar pelo teu, calar a minha alma e não chamar por ti, quero apenas ficar sozinho, aqui, esperando, esperando que venhas por mim.
Quem sabe um dia...
Mergulho as mão no mar, como se quisesse aprisioná-lo entre meus dedos, como se desejasse fazer dele teu corpo, moldá-lo, senti-lo como se fosses tu. Escrevo sobre a areia molhada, os versos que te não disse, sentidos reprimidos pela frieza do quotidiano. As ondas quebram as frases, apagam os desejos e arrefecem o corpo, molhado, arrastando para o fundo do oceano as esperanças escritas.
Abandono-me nesta praia deserta, esperando que a maré leve o corpo, pois a alma à muito partiu, quiçá me encontres ainda com a réstia de vida que faz bater o coração e alimentar a mente, mas, o espírito partiu, para uma viagem através dos desertos da eternidade, vales de sombras, florestas geladas, numa travessia da minha própria solidão.
Quando a alma se abre, como vela de um barco à deriva, recolhe em si todas as brisas, todos os ventos, enchendo-se, mas, a cada tempestade o pano cede às forças da natureza rasgando-se em pedaços, perde-se o rumo e o navio perde-se na solidão do vazio. A Noite, traz com elas a estrelas e o silêncio que lhe permitem adormecer embalado pela suavidade das ondas.
Quem sabe um dia, se descubra a alma deste corpo, que jaz inerte sobre a areia da praia. Quem sabe um dia alguém seja capaz de lhe devolver a vida perdida. Quem sabe um dia...
Shangri-La
Há um lugar, encerrado no tempo, onde tudo aquilo que sonhamos é realidade, onde a vida corre ao sabor da brisa de um vento que sopra suave. Nesse lugar, onde encontramos a verdadeira liberdade, onde somos tudo aquilo que sonhamos ser, esse lugar, é um céu azul, onde estiramos as nossas almas de pássaro e voamos.
E segues-me, num voo rasante sobre o mar, igualmente azul como este céu imenso que nos segura com fios invisíveis. Este Sol, por nós inventado é luz que te brilha na alma como farol em noite escura. A felicidade, encontra-la-às aqui, neste lugar escondido nos confins dos nossos sentidos. E saltamos, precipitando-nos como chuva de verão nas águas calmas deste oceano, como peixes afagados pela água pura que nos preenche.
E do perfume dos teus cabelos solta-se a fragrância que me guia neste paraíso perdido, lugar encantado onde as fábulas que te escrevo são tão reais que as podes tocar, tocar-me, num abraço profundo, onde nossas bocas se colam e se beijam alimentando as almas, preenchendo todos os sentidos numa explosão de prazer que extravasa os corpos e nos enche a libido sem que as peles se toquem.
Espero-te em cada noite, envolto na magia deste tempo, deste lugar que para ti criei.
Para sempre!
Luz, que se cruza na sombra, realce de tua pele desnuda que reflecte os sentidos da alma. Noite inundada de estrelas, que me cobre o espírito e te trás até mim. A eternidade repete-se num ciclo de palavras que nascem no final de cada dia. A Noite chega, por entre tons de fogo na agonia de mais uma tarde. És alma pura, virgem imaculada que desponta no jardim da esperança. És passado eternizado nas páginas do livro da minha vida, letra nua, palavra crua, frase doce e terna que me afaga em cada texto.
No canto suave do vento, escuto a tua voz que chega duma outra dimensão, canção ritmada, rima incandescente de amor, saudade de um tempo por inventar. Falas-me, com a voz da brisa, e afago-te com as minhas mãos, perseguindo a silhueta do teu corpo, como se já o soubesse de cor, como se estivesses aqui agora, entre meus dedos, entre meus braços entre a minha alma. Não sei porquê, não sei como mas nasces, com a Noite, em cada dia que se apaga, como uma estrela em permanente cadência, e recebo-te, neste pedaço de mundo que ambos construímos, de braços abertos, de alma na palma da mão, absorvendo cada pedaço da tua fulgurante energia, renascendo das minhas próprias cinzas, fazendo de teu corpo, meu corpo, para sempre!
A tua realidade
Oscilações da alma, a realidade prende o sonho com correntes pesadas. Teme-se perder o rumo, a cabeça, a racionalidade. Mas o desejo chama-nos de uma outra dimensão, dia após dia, Noite após Noite. Cedemos, deixamo-nos levar. Não, não podemos, temos de racionalizar. Amo-te, minha luz de letras feita, mas não posso, não devo fazê-lo. E a realidade? Afinal és apenas um sonho de uma noite de verão. Não quero pensar-te, mas... preciso de ti!
Eu, aqui sentado neste cadeirão envelhecido pelo tempo, escuto as tuas ondulações, sinto os teus passos em frente, atrás. Acompanho-te nas hesitações, quando me amas, e quando decides que já não me queres. Não flutuo, mantenho-me firme na convicção de seres para mim quem és! Sei perfeitamente o que sempre foste em mim, o sentido que fazes na minha vida, na minha eternidade.
Sei de onde vimos, tenho a certeza do caminho que temos a percorrer, mas não vou desviar-te da tua realidade, afinal ela é limitada à vida do teu corpo, e esse jamais será meu, mas... a tua alma pertence à minha e jamais irá a lado nenhum sem me levar com ela. Espero, no silêncio da Noite, abrigado entre as estrelas de onde te observo embrenhada da tua pequena realidade.
Inspiração
Sinto as curvas suaves de um corpo perdido entre nossas almas, sinto o perfume que invade o ar que respiramos, entranhando-se na pele, no corpo que é nosso. Sinto o calor do abraço, apertado, chama lenta que abrasa a libido, e nos aquece a alma com o amor que sabemos fazer. Tocar-te, é esculpir a Deusa que descubro em ti, sentindo cada parte deste todo que se faz da tua alma e termina em teu corpo.
Deitados sobre a brisa que nos transporta, somos apenas energia que flui entre corpos, amor sob a forma de sentires, palavras sobre forma de mil textos por descobrir. De amor te faço cada letra, de paixão, acesa e viva, faço cada frase, de prazer, intenso e puro, faço cada parágrafo que te escrevo na ausência, na distância e no vazio. És aurora boreal, luz que rasga as trevas, inspiração, utopia e lenda, um mito que não me canso de declamar.
Aqui sozinho, no meio de todas estas estrelas, inalo o amor que me ofereces no vento que me afaga o corpo, inspiração profunda, expiração ausente, querendo manter-te bem dentro do meu corpo. Num último e derradeiro suspiro, liberto-te, deixando ficar em mim o prazer de haver-te possuído por um singelo instante.
Anjo adormecido
Dormes, sobre o leito dos sonhos, qual anjo caído dos céus. Teu corpo não te pertence, entregas-te-lo há muito tempo, partilha-lo com outro homem. Mas, tuas asas são apenas e só tuas. Tua alma voa nos ventos que atravessam o corpo e seguem muito para lá de onde a vista alcança. És uma ave presa numa gaiola imaginária, amarrada a mil teias que te mantêm restringindo-te os movimentos. Por isso quando a Noite vem, despes teu corpo, soltas a alma e segues rumo a mim.
Sentado, na beira do riacho, vejo flutuar em cada folha caída, vidas que passam sem se deter, na corrente do dia-a-dia, espero pela tua vida e deixando-a passar, abrandando-lhe o passo, quero ficar presente mais um instante em ti, quero marcar-te a alma com essências de mim, deixar o meu nome escrito no teu peito, para depois te ver partir. Estranha forma de amar, momento em que te prendo em mim, como quadro eterno de um instante que paramos no tempo, uma pausa, para nos olharmos enquanto a vida passa.
Ao mar chegarás, sereia te farás, e a cada noite virás, à tona, cantar, e olhar a Noite, contemplar o céu, tentando adivinhar qual das estrelas carrega o brilho do meu olhar. E sabes, que ainda que seja apenas um sonho, estarei lá, para te acordar da realidade, quando o momento de sonhar, chegar. E quando o dia te despertar, outro corpo colado ao teu irás encontrar, mas foi comigo que dormiste, todas as noites em que me sentiste.
Naufrago
Navego em ti, rumo ao teu coração. Entrego a vela ao vento Norte, e o corpo à chuva fria feita de lágrimas salgadas pelos teus olhos. Enfrento a tempestade do teu corpo, sulcando ondas, vagas que me assolam a alma. Cavalgo a crista das ondas, procurando o equilíbrio entre a solidão imensa deste mar e a tranquilidade acolhedora do porto do teu amor.
Vou, voo, lanço-me no espaço vazio, agarrado aos meus sentimentos, procurando por entre as brumas a praia escondida do teu ser. Nada tenho a perder, sou apenas uma folha caída, neste Outono da minha vida, procuro apenas um lugar, que sei existir em ti, onde aportar, para simplesmente aí me deixar estar.
Derivo, perdido na imensidão do oceano que és tu, chamo-te e não me ouves, grito e não me escutas, desisto e não percebes que fiquei ali, pelo caminho, entregue ao sal das tuas lágrimas, o corpo dorido, e a esperança derramada, dissolvida nessa água. E tu? onde estás? já não me sentes, quiçá! O mundo é imenso, tanto quanto o mar que eu navego, e quantas almas perdidas, procuram ser encontradas, antes do final das vidas!