Poemas, frases e mensagens de Jomanroque

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Jomanroque

Acredito

 
Acredito

Procuro por ti e nem um ruído alcanço
Confuso, deambulo perdido nos pensamentos
Os nossos lugares visitei sem descanso
Neles tive sonhos de ver-te por momentos

Porquê este sofrimento nunca pedido
Tanta dor e raiva jamais experimentadas
Nos meus olhos trago o ardor inibido
Do choro e das lágrimas acorrentadas

Ter-te-ia ofertado as mais belas flores
Noites calorosas com estrelas luminosas
Manhãs com auroras de odores
Dias cheios de palavras amorosas

A esperança acalento cada dia
Quero tanto expulsar esta tristeza
Quebrar não posso, senão desfalecia
Diz-me que não é tarde, dá-me a certeza!

2011/11/17
Roque Soares
 
Acredito

Gongo bemdito

 
Gongo bemdito

De repente as vibrações do gongo senti
De novo levantado, olho em redor e não te avisto
Receoso que desta jornada tenhas padecido
Decidido te procuro, sou o teu melhor amigo

Não podes protestar pelo pouco que dou
Estou esgotado e assim tenho estado
Esperei tempo demais sem nenhum alento
Aceita agora tudo o que tenho guardado

Meu bem, minha luz, meu destino renovado
Caminhei sem descanso para te encontrar
Só peço que me aceites e me encorajes
Forças não me faltarão para te deslumbrar

Das lutas travadas, sei bem do teu espólio
Quereria alguém contigo trocar?
Não certamente, ninguém o faria
Serei sempre teu amparo e exijo partilhar

Roque Soares
2011/11/08
 
Gongo bemdito

Amar é assim!

 
Amar é assim!

Ainda meninos depressa crescemos
Com um chamamento moços seguimos
Veneramos fontes e delas bebemos
Sem receios nem medos tudo o que pedimos

Decalcamos sombras que nos tolhiam
Para recordarmos o que não seríamos
Alertas e outros apelos nos chamariam
Decididos a penumbra fecharíamos

Experimentamos sentimentos proibidos
Com eles derrubamos muros erosados
Inventamos caminhos revestidos
Com segredos nossos, desejados

Uns e umas, todos, repetidamente
Os sonhos de Cupido quisemos abraçar
Ao encontro do desejo ardente
Esculpimos poemas para os alcançar

Já nem sei, tu, tu e tu, por onde parais agora?
Vezes sem conta de Vós me recordo
Do melhor me lembro em qualquer hora
Bem sublime sóis para mim quando acordo

Voltar queria mas poder não descubro
Trocava parte do que sou por muitas emendas
Viveria de novo com meu rosto rubro
Declarações de amor com palavras e prendas

Escrevi versos e pontes lancei
Aproximar-me queria de quem amava
Confiei-os ao vento, não os entreguei
Não sei a morada de quem procurava

Momentos houve de tal desencanto
Em que desejei, para sempre sucumbir
Sem notícias nem sinais, algemado no meu pranto
Gritei, na sombra não, vou conseguir!

Desvendando lições não aprendidas
Deitei-me nos versos e nas palavras que juntei
Tropecei muito tempo em almas vendidas
Eis que em poeta militante me tornei

17/11/2011 - Roque Soares
 
Amar é assim!

Flashes numa madrugada

 
Flashes numa madrugada

Conheci uma Dama que é de respeito
E desde o início falámos assim
Você para cá, Você para lá
Não saímos disto e não avançámos
Que falta de jeito!

Elsa se chama e mais não digo
Porque é de bom tom não tagarelar
Em verdade Vos digo que é de respeito
É muito sensível e amua fácilmente
Muito cuidado me é exigido

Enviei-lhe versos e Musa lhe chamei
Não tenho certezas mas acho que apreciou
De imediato esperei que reagisse
Aguardei resposta mas nada me disse
Para espanto meu, nem se pronunciou

Que faço então com este sarilho
É grande a façanha em que me meti
Muito já disse e também esqueci
Por onde recomeçar o que encetei?
Estou mesmo a ficar sem brilho!

Trato-a por menina, trato-a por Senhora
Num caso apelo à doçura, no outro à mulher
Gosta do que escrevo e faz questão em repetir
Acena-me com palavras lisonjeiras
Minha mãezinha, o que hei-de eu fazer?

Insiste que escreva e que não interrompa
Que continue a mandar-lhe mensagens
Promete guardá-las e interpretá-las
Como se as palavras não tivessem fim
Exige de mim todas as passagens

Ficar tudo assim, Elsa, não posso!
Estou num sufoco que já não controlo
Mantenho-me alerta e sempre esperando
As respostas não chegam e já desespero
Ai Nossa Senhora, juntai o que é nosso

Pus fim ao sono, que falta de senso
Como regressar ao leito e voltar a dormir
Tento saber que manhas usar
E, para terminar, que a noite vai longa
Ajudai-me Senhor, preciso descansar!
Roque Soares
2011/11/03
 
Flashes numa madrugada

À Procura

 
À procura

Num labirinto me sinto e me perco
Sair? Para onde se o caminho não vislumbro
São tão ténues os laivos de luz
Tão largas as lajes que piso e me gelam

Neste limbo que me sufoca
Que é tormento da minha esperança
Busco às cegas fendas e grutas
Onde ocultar desmedido desejo

Tinha tanta pressa nesta viagem
A razão me impede de continuar
Tento, invento, rompo e desespero
Será que devo prosseguir?

Labirinto, limbo, luz, desejo, viagem
Meu rumo foi suspenso
Minha musa, meu amor verdadeiro
Diz-me, qual é o meu destino?

2011/11/01
Roque Soares
 
À Procura

Estás aí?

 
Estás aí?

Lá no alto, mesmo no cume, sorvi a luz
Com ela inundei todo o teu ser e dela me despojei
Brilhaste bela, sumptuosa, enfeitiçada
Juraste que voltavas ao entardecer

Esperei, esperançoso de te avistar
Na neblina sucumbindo, a noite se abateu
Terias rumado noutra direcção?
Não vês que dos teus olhos preciso nesta escuridão?

Sem alento, desajeitado, cansado, caminho
Busco marcas de tua presença
Pergunto aqui, além reclamo, mas de ti nada sei
Ainda há pouco te encontrei, já te perdi?

Roque Soares
2011/11/06
 
Estás aí?

Assomos numa noite

 
Assomos numa noite

Esperei um beijo porque de alimento careço
Mas, minha amada não soube e não despertou
Resignado, me oculto, nada exijo, não forço
Preces lhe rogo para que de mim não se esqueça

Sua morada virtual visitei sem descanso
Deparei-me com trancas, selos de ausência
Agastado, vigilante me tornei
Voltei, voltei e não a encontrei

Onde páras, revolta onda do meu querer?
Afasta as luzes deste anoitecer
Não cedas a tentações terrenas
Acaricia por mim as rosas que em ti plantei

Não consigo torcer a tristeza que me consome
Não poder estender-te braços seguros
Desola-me, torna-me fraco, sem porto seguro
De ti espero, anseio, acode-me agora!

2011/11/06
Roque Soares
 
Assomos numa noite

Momentos

 
Momentos

Fui poeta militante em momentos de saudade
Enamorei-me da lua cheia em noites escaldantes
Construí poemas ao sabor de ventos falantes
Lancei palavras minhas nos seios da eternidade

Ignorei apelos de felicidade sem fim
Segui trilhos, muitas vezes errantes
Rasguei-me em tantas eras delirantes
Voltei sempre para o que era de mim

Sonhei beber o amor parido nos laços e na verdade
Desejei com ardor que nunca terminasse
Fez o acaso que pelo muito querer me ficasse
Sòmente alcancei a lucidez da realidade

Consegui ver muito para além do olhar
Renasci de cinzas onde fui sepultado
Levantei-me sempre e nunca mudado
Continuo em frente, determinado, para lutar!

Roque Soares
2011/11/05
 
Momentos

INSÓNIA RENDILHADA MAS, FRUTUOSA

 
Insónia rendilhada mas, frutuosa

Tinha acabado de me deitar
E para espanto meu
Não conseguindo pegar no sono
Um grande estendal na minha mente apareceu

Mas que grande turbilhão
Toquei numa das peças, puxei e, o que é que encontrei?
Letras, palavras, sílabas, verbos, versos, nomes
Logo quis encetar um exercício mas, parei!

No remoínho das imagens projectadas
Tentado a pegar numa das pontas
Avançava, recuava, outras imagens surgiam
Vencido, confuso, fazia as minhas contas

Uma vez, outra vez, os cenários repetiam-se
Voltava atrás, reconstruía as imagens
Comparava com outras já antes vistas
Insistia na sua percepção e não terminavam as viagens

Até que decidi pôr fim a este labirinto
Mas, fazê-lo, foi tarefa não muito convencional
Concentrei-me noutros pontos do meu ser
Consegui, desloquei energias e apliquei-lhe um golpe fatal

Pois, já reconfortado, contando com o voltar do sono
Não é que, novamente, regressa o estendal
Que faço, penso eu, para armadilhar esta ratoeira
Assim, seguramente, vou dormir muito mal

Sem meios para ordenar, acedi então entrar no jogo
Espera lá, disse-me uma voz lá de muito longe
Tu não és homem para que te arrastem ou influenciem
Toma as rédeas, não te conformes como um monge

Aí, entendi que o meu terreno era a luta
Esbocei um plano para arrumar com o painel
Calculei, coloquei arrumadinhas as peças no tabuleiro
Começou a ficar tudo direitinho mas, fartei-me e pus tudo a granel

Entretanto, adormeci e foram-se as figuras
Não medi o tempo do apagão
Quando desperto fiquei de novo
Senti outro grande estremeção

Recusei experimentar um cenário diferente
Não havendo forma do sono almejar
Então, mais valia projectar o já visto
Levantei-me, as formas do meu sonho vou relatar

Era uma cidade construída só para as palavras
Ali, tudo se dizia e em grandes obras se reproduzia
Havia de tudo, de figuras enormes até aos disformes
Vou já avançar e descrever com alguma ironia

Para os maiores, os enormes que impressionam
Estava reservada a Alameda dos Eternos Pensadores
Com grandes colunas, muitos arcos e palmeiras
Podiam ver-se as obras de grandes poetas e prosadores

Num só olhar podiam ver-se tantos que são nossos
Como Camões,Pessoa,Ary,Saramago,O’Neill,Gedeão,
Mello Breyner,Cunhal,Namora,Redol,Camilo,Almada,
Florbela,Régio,Alegre,Aleixo,Natália,Bocage,Torga,Cortesão

Prosseguindo a caminhada, outra sinalética
Estávamos na Praça dos Novos Escritores
E lá se viam tantos, muitos ainda desconhecidos
Mas, com afirmação e obra, muito prometedores

Voltando para a esquerda, numa nova placa, lia-se
Travessa dos Alfarrabistas, com obras para coleccionadores
Muitas peças de museu e algumas oportunidades
Também obras ao metro, para expositores

Uma chamada de atenção aconselhava voltar à direita
Só porque, em frente, estava a Rua dos Pecados
Lá, entregues ao acaso, para quem quisesse ver
Havia um pouco de tudo, bêbedos e outros marados

Pois claro, seguindo para a direita, era o quê?
A grande Rua dos Fadistas e Guitarristas
Logo aparecia a Amália, Marceneiro, Paredes,
E um grande número dos nossos bairristas

Sem canseiras porque há que ver tudo
Seguindo a direito, aparece o Beco dos Namorados
Muitas lembranças, algumas bem ousadas
E claro, uns tantos grupinhos bem apaixonados

Mais à frente outra grande surpresa
O Solar das Tertúlias com eunucos ordeiros
Aí se encontravam figuras polémicas
Vejam lá, só para recordar, uma delas era o Medeiros

Havia um moderador, a conversa era o Jardim,
Com tantos interlocutores, daqueles que falam sem fim
Na assistência, eis que surgiu um grande cromo
À laia do não concordo, cantarolava o bailinho e o alecrim

De imediato, viram-se todos os olhares para o estranho ali presente
O homem do micro faz o gesto para o chamar, era acontecimento
Quem disto não gostou foi um dos oradores que, acto contínuo
Ripostou, dizendo: retiro-me, não aceito interrupções, foi o momento!

Depois, para completar a sequência
Surge a Ruela das Frases Que Ficaram
Então lá aparecem faixas, umas quantas, algo compridas
Bem seguras e com flores, algumas que já mirraram

Olhe que não Sr. Doutor, olhe que não!
Soares é fixe!
É só fumaça, é só fumaça!
O povo não tem medo, Pinheiro de Azevedo!
Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas!
Um milhão centi…um bilião quinh…um trilião…ih,nh,nh…!
É como bater num bebé que está na incubadora…
Ora, meus senhores, há mais vida para além do deficit!
Sim é verdade, ofereceu-me uma caixa de robalos…
A dívida soberana não é para ser paga!

Ah, também lá se encontrava uma foto antiga
Em primeiro plano o Almirante sem medo
Na sua sombra o Soares fazendo extensões labiais
Há quem diga que conferia o discurso do Azevedo

Descendo umas escadinhas ladeadas de paredes sombrias
Deparo-me com estranhos objectos
Daqueles que valem para malabarismos virtuais
Eram tantos e tão diversos, até havia horrendos dejectos

Do Benfica é que, nada se avistou, nem um standezinho
Nem a última edição de preservativos apareceu
Desta vez foi total a desgraça
Para os aficcionados, nem Jesus surpreendeu

E agora, por esta é que não esperava
Sem me aperceber, encontrava-me entre sobreiros
Olhei em redor procurando uma placa e, lá estava,
Rua projectada à Azinhaga dos Engenheiros

Qual era o acontecimento aqui
Não, não eram os verdadeiros
Eram sim mas, os dos engenhos
Aqueles que comem e inventam vespeiros

Para compôr o ramalhete, não podia deixar de ser
Bem encapotado, surge um compadre muito atarracado
Confiou-nos as suas bizarras tramóias
E de como, com humor se despede o aperaltado

Confessou que em toda a sua vida, apenas um o enganou
Veja-se lá de onde viera, de Lisboa? Não, da Beira-Serra!
Era um fidalgotezito que se julgava grande esperto
Que chegado à ribalta, o diploma arrancou no meio de muita berra

Já quase na saída, lá bem num cantinho
O que vou encontrar, o outro lado da cultura
A conhecida barraquinha do Mata-a-fome
Bem abastecida sim senhor, grande moldura

Ele, eram torresmos, couratos e bifanas
Ginginha, branco e tinto à discrição
Algumas bolas de Berlim e farturas
E mesmo pão com chouriço e com este no pão

Sem cerimónias, com o percurso completo
Resta-me aconchegar a pança afinando o palato para engolir
Saia uma bifana das grandes e um penalti de tinto
É pra já, diz o Mata-a-fome, se não chegar, é só pedir!

15/12/2011
Roque Soares
 
INSÓNIA RENDILHADA MAS, FRUTUOSA

Tropeçar não mereço!

 
Tropeçar não mereço!

Encontrei um cálice e dele bebi
O néctar que tenho procurado
Num beco caí e dele me ergui
Estava de novo embriagado

Jurei que mais não semeio
Bastam-me os frutos que possuo
Para quê viver com receio
Para enfrentar outro recuo?

Grandes são as tentações
E mais não sou quem julguei ser
O mundo é lindo, há outras opções
Não tarda nada vou renascer

Os contornos que rabisco
Aportam-me tranquilidade
Faço e desfaço, não preciso de isco
É mais fácil manter a verdade

Penso que está quase na hora
De cumprir com o anunciado
É para a minha montanha que regresso
Onde fui sempre abençoado

Espera-me tempo para as palavras
Todas as sílabas poderei desenhar
Letra a letra, pétalas lavradas
Em frescas flores que irei plantar

Cinzelarei nas pedras das calçadas
Que no meu mundo construirei
Outros cantos, outras moradas
Que para sempre fruirei

Não levo mágoas, carrego esperança
De quem ao mundo tudo deu
Não levo rancores, levo a herança
De todo o bem que recebeu

O meu santuário ficará suspenso
Nas escarpas mais rochosas
E será banhado com o incenso
Das plantas mais viçosas

Viverei lá bem no alto
Próximo de sentir o tudo
Aí distribuirei o basalto
Nas avenidas que não mudo

Roque Soares, 25/11/2011
 
Tropeçar não mereço!

Esta noite tive um sonho!

 
Esta noite tive um sonho!

Uma estrela cintilante poisou no meu leito e se aconchegou.

Quis tocar-lhe mas, receei ofuscar-lhe o brilho, intenso e belo.

Os seus anéis prateados soltavam-se sem cessar e envolviam-me mantos de tranquilidade. Não sabia o que dizer-lhe nem o que fazer. A sua linguagem não entendia. Era enorme o desejo de a acompanhar e, eram igualmente grandes o sentido e medo de perda.

Temi por instantes a ameaça da dor, essa que invade todos os sentidos.

Eram muitas as incertezas e maior ainda o sofrimento que de mim se apoderava. Ofertei-lhe lágrimas, pedindo perdão e renunciando de vez aos seus apelos constantes.

Ela, esgotadas as tentativas, porque mantinha em mim a crença que a trouxe, despediu-se com um raio luminoso, apontando-me um caminho.

Desde então, vagueio na esperança de voltar a encontrá-la.

Roque Soares
2011/10/31
 
Esta noite tive um sonho!

Que o meu Natal seja Vosso, também!

 
Que o meu Natal seja Vosso, também!

As cambalhotas que a vida dá
Marcado ainda por um exílio forçado
Muitas vezes, jurei não mais voltar
Por continuar grande o desprezo encontrado

Amigos tenho que me reclamam
Recusas invento para os sossegar
Insistem para que me meta ao caminho
Porque nada mais me pode enjeitar

Do poder ao querer vai um grande passo
Vontade não tenho, saudades também não
Rever o quê, se os meus lá não estão?
Visitar esqueletos de pedra e betão?

Pois é, uma vez mais, outra coisa a vida me ensinou
Volvidos tantos anos, meu filho as minhas passadas pisou
Não foi guerra, não foi sonho, foi a desgraça de um país
A França regressei e, com ele vou viver um Natal feliz.

23/12/2011 – Breuillet, Arredores de Paris
Roque Soares
 
Que o meu Natal seja Vosso, também!