Musa
Escrevo com os anéis dos cabelos daquela que perfuma meu travesseiro.
Por onde vai ela agora que não em meus pensamentos?
Pelas nesgas do céu a olor de canela
e mel lá está ela
desdobrando velas pra
navegar nos meus olhos.
A sopro do vento ergue a saia amarela
e me sorri de um sol bronzeando-me
boas-aventuras
Por onde vais meu amor de todos os dias descerrando-me a mente
pra deixar teus lábios nos meus?
Aonde estás, que te procuro pelo tempo grisalho dos meus dias
com a fantasia de que só respiro
porque algures existes?
Deita nos meus ombros
mais um sonho e murmura
teu nome pra pendurar no alto
do poema!
Achega-te rompendo os devaneios,
deixa real teu cheiro em minha pele,
minha musa morena!
Passos da Madrugada
Na hora do silencio -
quando a noite se despe do luto pra se
vestir de lilás - do passado um
riso suave me alcança
e lá vou eu namorar lembranças
da namoradinha que um dia
no meu coração plantou esperança.
Rósea face da menina
- afasta a solidão
que antes desse instante era
tão minha - como rosa
se desabrocha,
perfumosa companheira
até preencher a mente
- Coisas de saudade na madrugada
que vai passando silenciosa,
entende e reverencia
meu doce momento de
tormento...
Imagem do Google
Aos túrgidos lábios de uma poetisa
Alameda em frescor
Róseo botão intumescido
Meu amor,
Meu desejo,
Embevecidos
Enlaçados na quimera de...
No néctar da flor
pelo menos um
dia, sejam nela
embebidos
Invisível
as maravilhas da ilusão te levam para um falso mundo
e por lá aprendestes a viver.
mundo que bate e insulta teu corpo de menina
tua essência de mulher
em surdinas,
apeteço te guardar em meus braços
levar-te a passear em parques onde nunca adentrastes.
presentear-te com momentos de ternura com meu ombro companheiro
a amparar,
sob sombras de alamedas
colherias flores do meu amar
todos os dias cruzo teu caminho
e minhas mãos te chamam em pensamento
dentro da ilusão meus braços te
enlaçam.
eu te amo - minha boca apenas insinua.
teu olhar renega-me
e já que o invisível não tem forma
meu silencio transborda e meu
amor padece
decerto sou deserto
o escorregar da areia
o uivo do vento
o murmúrio do tempo
passos pesados
meus ecos bem perto
me acompanham
decerto
nada ao redor me acolhe
e se abre meu peito - deserto
INEBRIANDO
Coça-me a alma
o perfume tatuado q'ela deixou.
Minhas mãos cheias de calos
e os pés pesados de chão
não me deixaram levezas
para acalmar a comichão.
Sempre toquei as flores
com os olhos
para a pele não se agarrar
nas texturas das pétalas.
Mas ela veio suave e sorrateira
se esgalhando perfumosa com
propósito de me deslumbrar.
Maliciosa como a noite
que desaba o esconderijo
das estrelas,
ela veio mansa desfiando
segredos das proteções
que criei para não sofrer
invasões.
pescador
íntimo que sou das águas
e do silencio das madrugadas
pescador das horas mansas
lanço a rede pra pescar
um tempo taciturno.
não vou ao rio pra desaguar
não vou a mar pra poluir de mágoas.
sou pedrador de alimentos
purifica.dor.es; calma para
matar o vazio
criado no sofrimento.
fujo dos becos escuros
fujo da artificialidade
das luzes
das máquinas
das buzinas das ruas
que me lembram que há animal feroz
babando sua fome dentro de mim
matando a consciência
para alimentá-la
amontoando ambição
pra monumento de ganhos.
farto, farto da urbanidade,
fujo, me abandono
no corpo da amante
serenada
nos seios da sobrevivência
lanço rede
no corpo da madrugada
margeando água
entrego-me
pra namorada.
Lembranças de Uma Estação
Cai a chuva no telhado.
Assédio pra fazer o tempo
parar numa estação.
Nunca verão!
Ela está dentro
das gotas que o vento
troca de rota;
aqueles cabelos se afastando
pra longe da face pálida,
quando o adeus de uma lágrima
caiu no chão distante de agosto.
Foi o maior desgosto
que nunca verão!
Só eu vejo a dor daquela estação,
sob a forte chuva de verão.
Onde encontro aconchego
A poesia é a dama
que me abraça
e o poema é a nossa dança.
A dama tem desenvoltura
no compasso
e mesmo que eu nem sempre acerte
o passo
entrego-me como um parceiro
de boa fama.
Em seus braços
invento mil jeitos
pensando bailar com aquela que amo
e esse balanço
faz-me acreditar
qu' ela assim também me ama.