Perdido em tempos
Um senhor professor ministra sua aula com um toque de sono.Seu terno amarronzado, com um estilo clichê americano, aumentava a sensação de rispidez.
Os alunos, que de tempos em tempos deixam o peso da cabeça falar mais alto que a matéria de filosofia, cochilam.
Próximo à janela, um aluno esquiva sua atenção ao nada: olhava indiretamente as cabeças sobre os ombros que passam, e mais distante, a quadra quase abandonada da escola. Não sente nada. Não ouve nada. Não ouve, muito menos, o tal professor.
De forma inesperada e assustadora, um dos dois ventiladores que ringiram o semestre todo, se solta de cabos de energia e parafusos, e segue direto e certeiro no rumo do tal professor, que é inteiramente degolado por uma das hélices.
Morre, então, um dos cabrestos dos alunos sonolentos, que, nesta altura, sono já não tinham mais.
Como carniceiros, uns alunos olham e tocam o corpo e a cabeça ensanguentados. O aluno que sentara próximo à janela, sem medos ou receios, se aproxima e enfia a mão, pelo pescoço, na cabeça do (ex,agora) professor e retira uma pedra uniforme e redonda, do tamanho de uma moeda. Mesmo suja de sangue, ele -o aluno- a toma, como um comprimido, e num flash, volta a ver, consciente agora, a velha quadra da escola e a ouvir a velha e rouca voz do professor de terno amarronzado.
Mar e Ilha
A estranha onda
Que de longe vem
E pra longe vai
Perto da ilha,
tímida se retrai
Beija a costa
Abraça a fina areia
Maresia que reflete
-Aresia, disperte!
Estranho mar
Linda ilha do brilho brilha
Mar, Mar e zia
Maravilha,
De Mar e de ilha
À vista, à vista!
Maravilha, maravilha,
Na onda, na crista
Mar i ilia
Ombros Caídos
E mesmo as belezas não vivem sozinhas.Vivem para os olhares. E mesmo a terra não vive sem o impacto das gotas de chuva. Ah, não mesmo! Nem mesmo a criança mimada vive sem seu sorvete doce e congelante de chocolate. Nem mesmo estas letras sem meus singelos dedos. E estas pessoas? Não sabem sequer respirar sem ajuda de outros. Embora, muito embora mesmo, há as exceções. Há sim aqueles (ou aquele, no singular mesmo) que prefere sentar-se embaixo duma pirâmide e meditar sozinho. Pensar somente em nada. Respirar o nada, sentir nada e ainda assim saber o quão grande é o sentimento do mundo, os laços das pessoas que necessitam de outras, como dito antes, o amor que estas sentem (mesmo nem sempre admitindo). Cá estou, deselegantemente escrevendo de ombros caídos, assim como os olhos, tentando descrever um alguém tampouco amado, ou mesmo odiado, pelos prazeres do mundo.
Submergir
Em silêncio que nem um pouco careço
Submerso no tempo com um fim sem começo
E sentir essa overdose de informações
Que de tempos em tempos volta
E voltando traz consigo um sermão
Um tal que vem de dentro
E de dentro fica
Até que sua repentina voz
Através do cansaço meu, se petrifica
Matando o eu como o nós
E assim, liberando o mundo de mim
Como o sempre desejou
Me despeço, assim, então
(transposto)de joelhos ao chão
Adeus, adeus dor do cão.
Necessidade
O que acontece depois daqui? - disse o pequeno garoto de olhos cintilantes ao seu grande Senhor.
E o tal Senhor, responde :
Há de vir uma inspiração, meu caro negrinho. Hoje, o barqueiro das emoções trará uma peça à esta tua juventude que carrega no coração.
O menino que carregava consigo uma atmosfera de pássaro, era levado pelas finas e machucadas pernas. Era uma cachoeira brava e violenta de sonhos, mas que, por fora, mais parecia um lago parado e sereno.
E nesta serenidade é que pairava o olhar daquele Senhor do século XVIII : Olhava triste e alegre ao mesmo tempo. Sabia que, pela linha tênue que separava a proteção dada pelos seus braços e o mundo ridículo lá fora, é que vagava a realidade que mataria aquele sonhador. Mataria. Palavra forte, mas real. Aliás, forte e real.
Decidiu, então o velho Senhor, que não deixaria seu amado sofrer e chorar no futuro.
Colocou a pobre criança na cama. Conversaram sobre o mundo e as estrelas. Ninou-a. Passou a mão pelos cabelos crespos do garoto. Enxugou as lágrimas. Levantou-se com passos cautelosos, e seguiu até seu quarto. Com a chave na mão, abriu a gaveta que guardava seus objetos pessoais e apunhalou um punhado de pano que enrolava algo.
De novo no quarto do garoto, sacou a garrucha, apontou pro triste futuro do negrinho e atirou. Atirou. Pelo sangue via escorrer suas futuras mágoas e dores.
Por doentio seu coração que chorava à época, usou a ultima e nada doce bala para enfeitar o fim do seu presente.
Há certas histórias e 'amanhãs' que é preciso serem cessadas para que o lindo horizonte perdure à eternidade.
Idade Maior. Problema menor (?)
Por tempos e tempos acreditei piamente, que quando este dia chegasse eu seria tão especial quanto o Sol. Ou um Sol. Ou como Luís.
Quede confiabilidade que tanto afamavam?
Quede bruta força de Zeus?
Quede beleza tão aclamada?
Quede respeito?
Quede liberdade?
Liberdade. Com L maiúsculo.
Quede ‘cadê’ da juventude?
Quede juventude?
Quede juventude e tempo?
O tempo. Dezoito em pouco.
18, você já foi melhor.