Poemas, frases e mensagens de victor_jeronimo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de victor_jeronimo

Victor Jerónimo (heterónimo) nasceu em Lisboa, Portugal, em 1948.

PRECE

 
Victor Jerónimo
(Portugal-Brasil)

Vedes Senhor
Como meu coração
Rejubila nas pequenas coisas
E se engrandece
Em Teu nome?

Por isso Te peço
Ajudai os meus amigos
E abre o coração
Aos meus inimigos.
Que a Tua Paz redentora

Desça sobre todos
E que os acompanhe
Em todos os caminhos
Sejam estes bons, ou maus.

Livrai o homem da tentação
Que ele veja no seu interior
E apazigúe todos os seus males
Criando a paz que tanto necessitamos.

E por tudo o que Desejas
Que irmão saiba amar irmão
E que pai, saiba amar seus filhos
E que esposo saiba respeitar a esposa
E que no inverso tudo seja como Queres.

Por tudo e pelo Teu Filho
Amém

2ª Antologia Internacional Dois Povos-Um Destino
Grupo Ecos da Poesia
ISBN – 85-905170-5-5
 
PRECE

DANÇA DAS LETRAS

 
DANÇA DAS LETRAS
Victor Jerónimo

Com P criamos uma poesia
Ou se escreve o A de amor,
Também se faz o M de magia
E por vezes a letra D de dor.

Num B de baile com L de Letrinhas
Fazemos uma canção com E de embalar,
Também podemos fazer um S de sopinha
Para em um F de fome podermos matar.

Com letras constroi-se o A de amizade
Ou o O de ódio que chega a destruir um lar,
E com o L de letrinhas construímos a liberdade.

E nestas Letras em A de andanças
Começamos com o A E I O U
Pois é assim que construímos o V da vida.
 
DANÇA DAS LETRAS

AGRADEÇO À VIDA

 
Victor Jerónimo
Lisboa/Portugal

Agradeço à vida
Ter-me dado tanto.
Agradeço a Deus
Conhecer o teu encanto.

Agradeço à vida
Todos os sons e o ouvir
Pois com as palavras te declaro
Quanto te quero sentir.

Agradeço à vida
Todas as luzes e o ver.
Pois é com este olhar
Que vejo teus lindos olhos... negros

Agradeço à vida
O poder distinguir
Entre toda a multidão
A mulher que eu amo

Céu, Lua, Estrelas
Tudo tem o seu encanto
Mas é o meu coração
Que pulsa, luta, ama...
E me permite...
Agradecer à vida!...

Portugal.10.Jun.2003

1ª Antologia Poetica, (2004) edição histórica da AVBL, ISBN 85-98219-02-9
http://www.avbl.com.br
 
AGRADEÇO À VIDA

VITIMAS INOCENTES

 
Victor Jerónimo
Portugal/Brasil

Enquanto os seus filhos choram
o monstro abre as asas pérfidas
cobrindo como um manto maligno
toda a terra sequiosa de justiça.

Sua boca podre vomita o mal
que conspurca o mundo fatal,
E as almas ficam com medo tal
que se refugiam do canibal.

O futuro imediato das gerações perdeu-se
os descendentes sem amparo finaram-se,
A inteligência em decadência inverteu-se
e a natureza perdeu a força, definhou-se.

Oh Homem bárbaro e sanguinário
que nunca conseguirás a paz,
És tu o monstro das asas pérfidas
que ao mundo trouxeste o terror.

Teus filhos em combates morrem
dão a vida, por causas insanas
E na podre paz não os conservas
permitindo que algozes os matem.

E a morte espreita a cada esquina,
E a morte espreita na rua a violação,
E a morte espreita na casa a violência
para terminar com mais uma geração.

E ai de quem lute pelo bem,
E ai de quem queira justiça,
Tu oh Homem que todos comandas
ficas insensível ao choro dos teus filhos

E na rua escura e negra
coberta com o manto maligno
mais um filho teu é arrastado
abrindo sulcos no asfalto da morte.

Fev.2006
 
VITIMAS INOCENTES

In foro conscientiae(*)

 
Victor Jerónimo
Portugal/Brasil

Grandes homens houve de valor
no meu belo e pequeno Portugal,
leais, conselheiros e sem temor,
lutaram sem medo da morte fatal.

Os belos Principes, Condes e Barões
fizeram bravas Historias de Reinos.
A fidalguia e os nobres senhores,
lendas formosas criaram em sonhos.

E o povo meus senhores... e o povo!
A plebe que serviu aos que reinaram
trabalhando a terra o ferro e o aço?

Deram a forma às caravelas, as tripularam,
dando a conhecer Novos Mundos ao mundo,
em nome das Pátrias que os esqueceram!

*No Tribunal da Consciência


Terra Latina, Antologia Poetica Internacional (2005) ISBN 85-905170-3-9
 
In foro conscientiae(*)

A MUSICA PAIRA NO AR

 
A MUSICA PAIRA NO AR
Victor Jerónimo

Musica dos deuses, arte das musas,
Donde nasceu esta arte divinal
que me coloca em prostração,
seja através da dança, ou meditação
magia pura, feita poesia musical?.

A musica vibra e paira no ar,
Acordes vibrantes em magia
encantam os meus ouvidos
leves como sublime poesia
no enobrecimento das almas.

Vão e vêm estes átomos de som
encantando e elevando o espírito
a soberbos estados de paz interior,
Acobertados pelo espaço circundante
com o ritmo das vibrações sonoras.

Onde o prazer total me invade
transformando em orgia os sons,
Movidos pelo divino senhor da criação
que nos ofertou o mais belo prazer,
O êxtase em audições místicas.
 
A MUSICA PAIRA NO AR

DESERTO À BEIRA-MAR PLANTADO

 
Victor Jerónimo
Lisboa/Portugal

Foste jardim à beira-mar plantado
que das ocidentais praias lusitanas,
Levaste à plebe a arte e o abraço
em terras desconhecidas e estranhas.

Foste fulgor e grande, oh poderosa nação,
Invejada pelos grandes reis e senhores,
Porém hoje perdeste o fulgor e a função
és Pátria pobre e saqueada nos horrores.

Hoje do teu corpo cansado escorre a seiva,
Tua alma arde nos infernos das potestades
perdeste a magia o fulgor e a linda vida.

Em pó te estás a transformar oh Pátria minha
minada pelos teus homens loucos e perdidos,
és agora um triste deserto à beira-mar plantado.


Terra Latina, Antologia Poetica Internacional (2005)ISBN 85-905170-3-9
 
DESERTO À BEIRA-MAR PLANTADO

SILENCIO... SILENCIO SANTO (*)

 
Victor Jerónimo
Lisboa/Portugal

Silêncio... silêncio santo...
Mas não sepulcral
Cantam pássaros ao redor
Ao longe ladram os cães
Borboletas pousam nas flores
Uma pessoa passa de quando em quando

É assim onde vivo... um paraíso!
Paraíso na Terra, ambicionado por muitos
Mas que as lutas do dia-a-dia não deixam
Paraíso... silêncio...
Mas não sepulcral...

Os rouxinóis cantam
Os pintassilgos fazem os ninhos nas vinhas
As abelhas em constante trabalho
Fazem o mel.
E ao longe... tocam os sinos.

Estamos numa bela tarde de verão
Sem vento... apenas uma aragem
abana as copas das árvores
Uma pessoa passa de quando em quando.

É assim dia após dia
Mês após mês
Ano após ano
Silêncio... silêncio santo!...

07 de Julho de 2003

OFICINA POESIA 20 ANOS, da Oficina Editores, Rio de Janeiro, Brasil (2005) ISBN 859828520-X
 
SILENCIO... SILENCIO SANTO (*)

RECORDAÇÕES

 
Victor Jerónimo
Portugal/Brasil

Aqueles três meses de ferias escolares eram sempre ansiados pela pequenada do meu tempo pelos chamados Lisboetas e onde muitos de nós íamos passar férias com os nossos avós noutra dimensão e onde a liberdade era quase uma constante.
Tudo começava com os meus pais fazendo a malas cheias de roupas e cestos vazios a devolver aos meus avós que na retorna viriam carregados de produtos cultivados na santa terra, ou de enchidos feitos por eles que tão bem sabiam semear ou criar animais.
Em dia aprazado lá íamos carregados de malas e cestos apanhar o autocarro da carreira 9 em direcção à estação de Santa Apolónia.
Aqui havia as bichas intermináveis nas bilheteiras com sacos, malas, cestos, garrafões tudo à mistura propriedade dos viajantes que ansiavam por serem os primeiros a entrarem no comboio e apanharem o lugar que todos julgavam mais confortável na sua imaginação.
Quando chegava a nossa vez o pai falava pro bilheteiro: "três de 3ª classe para o Fundão". E lá abalávamos com as pesadas malas quase em correria para a gare para apanharmos o comboio com duas horas de antecedência da hora da partida, este já com muita gente ocupando os seus melhores lugares, que são aqueles no meio da carruagem e onde o ponto de gravidade é menor e não balança tanto.
As carruagens eram de madeira com bancos corridos e portas nas extremidades, por fora havia um degrau a todo o comprimento da carruagem por onde o revisor passava de compartimento em compartimento para picar os bilhetes.
Cada carruagem tinha uma placa de madeira que mencionava o destino, pois quando chegávamos ao Entroncamento havia carruagens que se iriam separar, umas com destino à Guarda, outras para o Porto. Era a forma de economizar na época, no aproveitamento de um único comboio que a meio da viagem se partia em vários para outros destinos.
Ocupávamos então os lugares que o meu pai achava serem os melhores. A mãe tirava uma manta da mala para colocar no banco e tornar mais confortável a viagem de nove horas em bancos de madeira.
O pai arrumava as malas e os cestos que ocupavam quase a bagageira toda acima das nossas cabeças e quem viesse depois que se amanhasse.
Ali ficávamos esperando pela 23 horas, hora da partida, que podia não ser, do comboio que iria percorrer ronceiramente quase 300 km.
Entretanto o pai ficava à porta esperando encontrar alguém conhecido que fosse para o nosso compartimento e assim tornasse a viagem mais amena através de conversas e recordações.
Então e com sorte o comboio partia no horário certo, apitando e muito lentamente aos poucos ía ganhando velocidade.
Era então uma alegria sentir que finalmente iria para as ferias tão esperadas em casa dos meus avós.
O comboio parava em toda as estações e apeadeiros, saíam volumes, entravam volumes, numa azafama constante de quem viaja “quase com a casa às costas” pois havia os que queriam mostrar que não eram tão pobres assim.
Quando o comboio chegava ao Entroncamento ficava parado uma hora nessa estação para mudar de maquina eléctrica para maquina a carvão e conforme o comprimento deste levava uma maquina à frente e outra atrás pois a partir desta estação iríamos percorrer muitas subidas.
Quando finalmente partíamos no meio de muita fumarada, entravamos na linha de sentido único que nos levaria ao Fundão. Aqui, mais paragens intermináveis em estações para aguardar o comboio que vinha em sentido inverso e muitas vezes atrasado ou então esperar um senhor importante que se tinha atrasado.
Viajar nesta linha da Beira Baixa é contemplar uma bela paisagem que serpenteia pelas margens do Rio Tejo acima bordejando as suas águas.
Num comboio antigo com luz quase inexistente e em noite de luar a minha atenção prendia-se nos reflexos da lua nas suas águas que distraíam a minha mente ansiosa em chegar ao destino.
As conversas no compartimento diminuíam vencidas pelo cansaço e sono que a noite nos impunha e o comboio lá seguia ronceiro parando nas intermináveis estações e apeadeiros.
Lá para as tantas a porta do compartimento era aberta pelo revisor que pedia os nossos bilhetes, examinava-os cuidadosamente, não fossem estes falsificados, picava-os e devolvia-nos muitas vezes sem um boa noite sequer. Lembro-me de um revisor o Sr. Paginha um senhor careca e muito simpático que quando fazia essa viagem demorava mais tempo a falar com o meu pai e em geral com os restantes passageiros. Homem evangélico preocupava-se em transmitir-nos palavras de amor e fé.
Em Vila Velha de Rodão o comboio abandonava definitivamente o Tejo para começar a sua escalada em direção a Castelo Branco. O dia já começava a despontar e os olhos a clarear para mais um dia. O dia tão esperado da chegada.
Até Castelo Branco muitas vezes o comboio não conseguia vencer as subidas e lá ficávamos parados à espera que outra maquina chegasse e nos empurrasse em direção ao nosso destino.
Quando isso acontecia era o aproveitar para sairmos do comboio, esticar as pernas ou colher alguma fruta saborosa à beira da linha.
Finalmente Castelo Branco, capital da Beira Baixa, a partir daqui era o contornar interminável da Serra da Gardunha onde o comboio segue interminavelmente por aldeias e aldeias, até chegar ao Fundão.
Finalmente depois de 12 ou 14 horas, com horários que nunca eram cumpridos, chegávamos ao nosso destino, Fundão, capital da cereja, da Cova da Beira e de um dos vales mais férteis de Portugal, que tem como paisagem ao sul a Serra da Gardunha e ao Norte a Serra da Estrela.
Havíamos chegado e minhas ansiadas ferias estavam a começar.

12.Jul.2006
 
RECORDAÇÕES

UMA ROSA E UM MENINO

 
Victor JerónimO
Portugal/Brasil

Era uma vez, uma rosa pequenina, que ficou perdida num canto perdido, num canteiro perdido, numa guerra perdida.
A sua famíla à muito que tinha partido ceifadas pela fome ou por estilhaços das bombas que por ali perto caíam.
Mas a pequena rosa resistia incólume a toda esta desgraça e teimava em sobreviver.
Sua fome era saciada pelas pequenas gotas do orvalho da manhã que ela bebia sequiosamente, tentando sobreviver num mundo que ela sabia ter sido belo, pois o ouvira contar às suas irmãs falecidas.
No meio de tanta maldade ela crescia a cada dia mais bela, e os que a olhavam esqueciam momentâneamente os horrores devassos de uma guerra fraticida.
Um dia, um ser pequenino refugiou-se no canto que guardava a rosa; armado, ele estava de metralhadora e granadas, defendendo ou atacando a vida.
A sua infância ficou perdida num país onde as crianças não existem e onde o mal impera a cada esquina.
Tristeza de um pequeno ser e onde os seus brinquedos sempre foram as armas. Sua alma estava triste e muito cansada, naquele instante.
Precisava de sonhar, necessitava de algo belo que o fizesse esquecer os horrores em que vivia.
Então ele olhou e viu a rosa.
Seu coração enterneceu-se por momentos, o desejo de transmitir um carinho mesmo que a uma rosa instalou-se nele.Saindo do seu canto foi afagar e cheirar a rosa.
Um silvo, um estampido.
Menino da guerra e rosa perdida uniram suas vidas para sempre.

27.08.2004
 
UMA ROSA E UM MENINO

O QUE É UM VERSO?

 
O QUE É UM VERSO?
Victor Jerónimo

Verso?
O que é um verso?
Pois então...
São palavras...
Reuniões de palavras
ou serão palavras em reunião?
Têm que seguir a ordem
Marcada na agenda
Regras fixas
E adoptadas convencionalmente
Não podem fugir da linha
Senão a composição poética
Termina a reunião.

No entanto podem ser...
um anverso ou um oxítono.
Pode ser o Alexandrino
ou até o Datilíco,
que nasceu exdrúxulo ou
proparoxítono.

Um verso pode ser
da arte maior
com nove silabas...
fazendo uma pausa na
terceira sílaba
recomeçando depois,
pois então, mas vai pausando
na sexta e depois
na nona sílaba.

Mas também pode ser
da arte menor, coitado...
nasce assim com...
poucas sílabas, sabem?!
como uma redondilha.

Mas coitado
Há o de pé quebrado
Há o errado
Há o heróico
O heroico quebrado...
não, não é aquele
ferido na guerra,
é aquele com seis sílabas.

Depois há o intercalar
sabem aquele que
se repete várias vezes
em canções...
Há também quem lhe chame
estribilho... esse mesmo!

Ah...
E o leonino...
Tenham calma
que não é do Sporting...
É antes um verso
em que a sílaba da cesura
rima com a última!

Depois há os...
livres ou brancos
também há os
brancos soltos.
Há o sáfico e
o ritmico.
Há os que ficam
encandeados,
enquanto outros preferem
emparelhar.
Há os feitos à candeia
daí ficarem quebrados
e...
há o verso...
de uma página
o lado posterior de
qualquer objecto, e...
até o ânus!...

Então?!...
O que é um...
verso?!...
 
O QUE É UM VERSO?

CRIANÇA SÓ

 
CRIANÇA SÓ
Victor Jerónimo

era uma criança só
sozinha e oprimida
reprimida de ter dó
vivia sua triste sina

sozinha e oprimida
era uma criança só
com a vida parada
por adultos sem dó

vivia sua triste sina
reprimida de ter dó
a criança sem vida
definhou na nota só
 
CRIANÇA SÓ

TU E EU

 
Victor Jerónimo
Lisboa/Portugal


Quem sou eu?
Eu, sou o mesmo que tu
a mesma cor do sangue
o mesmo embrião original,
Nascido da mesma hierarquia
sem menos nem mais que tu.

Anseio à vida como tu
à mesma felicidade e saber, amar,
Ter o calor de um carinho
nem mais, nem menos, que tu.

Desejo o sol como tu
ver resplandescente o seu nascer,
E à noite olhar a lua lá no alto
nem menos que eu, nem mais que tu.

Quero o firmamento como tu,
Sentir o calor das estrelas,
Ver o explendor dos cometas,
Como tu e como eu.

Sentir a natureza como tu
ver nas flores o renascer da vida,
E a sensibilidade das borboletas,
Sem menos nem mais que tu.

Anseio ao místico como tu,
Prever o futuro deste mundo assolado,
Sentir em tudo o presente e o futuro,
Nem menos, nem mais, que tu.

Desejo crer em mim, como tu,
Crer nos sonhos que me assolam
e com eles gozar a magia do mundo,
Como tu e como eu.

Quem és tu?
O mesmo que eu,
Nos desejos de construir um mundo novo,
No sentir a paz das florestas,
Na construção da felicidade,
Tu, dá-me a tua mão, irmão.

2ª Antologia Internacional Dois Povos-Um Destino
Grupo Ecos da Poesia
ISBN – 85-905170-5-5
 
TU E EU

SAUDADE

 
Victor Jerónimo
Portugal/Brasil

Saudade que me apertas o peito
feita tenaz numa suprema angustia,
Saudade de tudo o que perdi, desfeito
nas amarguras de uma vida vivida.

Saudade da juventude que longe vai
e em que os amores já envelheceram,
Saudade dos amigos que se perderam
ficando-me a nostalgia de quem sai.

E as palavras ecoam como lembranças
dos tempos heróicos, os tempos vividos
e palavras que soavam como esperanças

de uma vida melhor em terras alheias,
Porém, tudo se vai perdendo nos prantos,
ficando-nos apenas as recordações singelas.

04.Agosto.2006
 
SAUDADE

OS VELHOS

 
Victor Jeronimo
Portugal/Brasil


Passa a vida, passa o tempo e o pensamento
Passa a luz e tudo se envolve em escuridão,
Passam os dias perdidos no fim do tempo
E tudo fica sem alento, em enorme solidão.

Foram-se da vida os belos cantos e encantos
E os gestos de amizade e amor se perderam,
pobres dos que não têm afagos nem carinhos
Infelizes dos que sem amparo envelheceram.

Resta-lhes o cansaço, a desilusão, a amargura
Fica-lhes as recordações de um vida de desilusão,
Foge-lhes correndo o fulgor da vida, a ternura
Abandonados e sem terem quem lhes dê a mão.

30.12.2005

2ª Antologia Internacional Dois Povos-Um Destino
Grupo Ecos da Poesia
ISBN – 85-905170-5-5
 
OS VELHOS

TEMPO

 
Victor Jerónimo
Recife/Lisboa

Quem sabe ...
Eu acabe por ceder ao tempo
O tempo que o tempo tem,
Numa luta constante
Pelos tempos do Além.

Tempo...
Que me escorres entre os dedos
Num tempo que a gente não tem
Talvez possa pedir ao tempo
Que me conceda o bem

Venha...
Não me deixe assim
Sofrer por tempo perdido
Faz-me ganhar o tempo
Com teu amor infinito.

Amiga...
Não lutes sem fim
Deixa o tempo correr
Verás que todo o tempo
É tempo que vem por bem!

Brasil.05.Março.2004

1ª Antologia Poetica, (2004) edição histórica da AVBL, ISBN 85-98219-02-9
http://www.avbl.com.br
 
TEMPO

A CASA

 
Victor Jerónimo
Portugal/Brasil

Era noite de inverno...
Na serra a neve caía
Muito lentamente
Num embalo sereno
Quais flocos alegres
Esvoaçantes
Não querendo chegar...
Ao fim.

Havia uma casa
Onde a lareira...
Crepitava
Tentando aquecer...
O frio

A casa...
Era enorme
Com muitos quartos e salas
Por onde o frio entrava
Sem pedir licença.
Tão fria era a casa
Que a lareira gelava

Nessa casa...
Habitava um homem
Muito só
Em solidão
Onde só o amor e...
Carinho dessa casa
Lhe amainava o coração.

Nessa casa
Onde a lareira...
Crepitava
Tentando aquecer...
O frio

Todas as noites...
Com um frio espesso
A solidão do homem amainava
Pois ele tinha na sua frente
A mulher
Que tanto...
Amava.

Mas...
Oh deuses dos deuses
Ele não podia tocar-lhe
Como se fosse
Um suplício de Tântalo
Sem a puder...
Acariciar.

Era assim nessa casa
Onde a lareira...
Crepitava
Tentando aquecer...
O frio

A Primavera chegou...
Com ela, as neves
Transformaram-se,
Em água.
E criando caminhos
Desceram alegremente
Beijando a terra.

A terra...
Agradecendo
Começou a dar os seus
Frutos
Transformando-se
Numa alegria de cores...
E sons.

O Verão chegou...
E com ele o amor.
Frustração, ânsia, decepção
Tristeza e...
Solidão
Tudo enfim
Terminou.

Naquela manhã...
Serena
De muita luz e cor
Um anjo...
Desceu dos céus e veio à terra
Amar, e...
Ter amor.

Um encontro
Um sorriso
Um beijo
Uma lágrima.

E a solidão...
Terminou!...

Agora...
Aquele homem
E aquela mulher
Vivem felizes
No céu
Que finalmente
Encontraram.

Na casa
A lareira...
Aqueceu.

Terra Lusíada, Antologia Poetica Internacional (2005) ISBN 85-905170-3-9
 
A CASA

ÓBITO: OVERDOSE

 
Victor Jerónimo
Portugal/Brasil

Era um menino de boas famílias,
Daquelas que têm quase tudo na vida,
Este quase, subentende que algo falta,
Faltava o amor e carinho nos corações,
Para eles o dinheiro era tudo e com ele
Tinham o poder e até o amor comprado.

O pai viajava muito, por muitos países
A mãe sentia-se só e viajava também,
O filho esse ficava entregue aos avós
Os únicos que com desvelo e carinho
Tão bem sabiam cuidar do seu neto,
Apaparicando-o, amando-o, acarinhando-o.

Mas a vida é muitas vezes madrasta,
Esta não contempla os designios humanos
E eis que doença fatal acomete a avó,
Esta se foi num dia cheio dos raios do sol,
O avô coitado ficou tão só e sem vigor
Que um dia pôs termo à sua vida.

Coitado do neto, que nasceu sem culpa
Fica só, entregue a uma ama de companhia
Que só roubava o que naquela casa havia.
E o menino esse crescia a cada dia sem amparo
Sem o carinho devido a tão tenra idade
Crescia assim num desamparo moral.

Eis então que, decisão das decisões dos pais
Vão de pôr o menino num colegio interno,
Daqueles de onde nunca se sai, como uma prisão.
Prisão doirada é certo pois o dinheiro tudo pode
Mas de onde nunca se sai nem em excursão
Numa pena a ser cumprida por um inocente.

Pena que este paga na terra pelo pecado
Dos pais, que viajam cada um em sua terra.
Bons hoteis, bons amantes e tudo o mais
Enquanto o filho esse, definha na prisão doirada
Sem amor, sem carinho e sem sequer ilusões
Dia a dia cresce aquela criança, assim sem culpa.

Visitas tinha-as dos pais, sempre desencontrados
Porque a direção avisou: “Vosso menino não pode mais
Ele precisa de vós do vosso carinho e amor
Porque senão vai ser um ser humano de dor
Ou pior ainda um revoltado para com a sociedade
Daqueles que só na morte descansarão”.

Pais desnaturados e sem amor próprio
Que seguiam uma vida sem lar nem norte,
Lá tinham que se sacrificar e visitar o filho
“Menino venha comigo, vamos de férias
Vamos conhecer outros países e gentes
Temos hotel de luxo, piscinas e iates”.

O menino ansiou pelo mundo e pela vida
Iria viajar com a sua mamãe querida
Conhecer o que este nunca tinha visto
Enfim, sentir o poder e força do dinheiro
Pois tinha sido essa a sua grande educação
E preparação para a vida, mesmo que madrasta.

E foi naquelas férias que o seu destino foi traçado
Naquele hotel de cinco estrelas pleno de luxos.
Mamãe coitada não tinha tempo para ele
E este ficou entregue aos filhos dos amigos,
Filhos estes que já há muito tinham suas vidas
Marcadas no ferro e fogo do consumo das drogas.

E o menino, aí entrou pela porta grande
Com a pompa e circunstância devidas
Aí a provou e sentiu o seu prazer,
Devorando suas entranhas e sentidos
Que lhe toldava a vida e o fazia esquecer
Em noites de orgias regadas a drogas.

Muitos anos se passaram e o menino
Fez-se homem, homem que continuou sem rumo
Sem carinho ou amor dos pais agora separados,
Frequentou clinicas de desintoxicação
Roubou para matar o vicio e esteve na prisão
Dia a dia definhamdo cada vez mais e mais.

Seus sonhos eram diferentes dos nossos
Queria deixar aquele vicio que o corroía
Queria ser normal, ver o sol e lua
Queria encontrar o amor ou apenas a amizade
Até que um dia seu corpo cedeu à doença
E este num misto de medo terminou consigo.

Óbito: Overdose
Coitado, mais um que terminou seus dias
Escolhendo o caminho mais fácil
Porém o mais cruel, que um jovem
Na flor da vida tem que escolher
Por falta de amor e carinho.

30.Set.2005
 
ÓBITO: OVERDOSE

O CARVOEIRO

 
Victor Jerónimo
Portugal/Brasil

Não havia o que comer e beber quase também não.
Era assim até depois da segunda guerra mundial em montes perdidos das Beiras, em Portugal.
A água gelava nas fontes, o frio era intenso e o agasalho muito pouco. Serviam as sarapilheiras de cobertor e os cavacos eram bem poucos para acender o lume.
Havia grandes pinhais, mas estes eram guardados pelos donos e mato não havia, já tinha sido roçado. Os poucos cavacos eram dos donos dos pinhais.
Por vezes lá se encontrava algum tojo para aquecer o lume, mas até esses eram uma raridade. Os carvoeiros precisavam deles para fazer o carvão e não era tarefa fácil.
Iam para os montes, longe das propriedades, abriam um buraco no solo o mais profundo possível e de preferência redondo; enchiam-nos com tojos e caruma. Depois de acenderem o fogo, havia que tapar o buraco com terra, deixando um pequeno respiradouro, para este não apagar. E assim tinham que ficar entre uma a duas semanas perto dos seus buracos, pois havia o perigo de algum ladrão os roubar.
Era assim que o Manel fazia anos a fio. Tinha mulher e seis filhos para criar.
Naquele ano o Manel estava com sorte, o ano estava a ser muito frio nas cidades e a venda do carvão estava em alta. Nesse ano ele tinha começado a fazer o seu carvão mais cedo, mas agora o frio era tanto que ele não conseguiu subir aos montes.
Tinha acabado de regressar da cidade e tinha o produto da venda consigo numa bolsa por dentro das calças e presa na perna.
Escolheu um terreno baldio lá para os lados de uma quinta procurando um abrigo. O frio nesse dia apertava tanto que ele foi recolher-se debaixo de uns beirais da loja da quinta.
Foi aí nesse beiral que o Manel, homem honesto, trabalhador e amigo do seu amigo foi encontrado sem calças e morto.
Hoje o dono da quinta é um rico industrial, que começou a fazer riqueza depois da morte do Manel.
Ele há coisas...

11-02-2004

Publicado como Editorial no jornal “O CANTINHO DO BACALHAU” Recife/Brasil, jornal de circulação entre todas as comunidades portuguesas espalhados pelo Mundo
 
O CARVOEIRO

O PESO DO OURO

 
Victor Jerónimo
Portugal/Brasil

Sinhõ... pão por Deus.
Minha mãe tá tuberculosa
Meu pai em cadeira de rodas
E eu sou pequeno pa trabalhar.
Cenas como estas deambulam em muitos lugares no mundo, esta particularmente a recordo nas minhas viagens diárias para o emprego. Crianças sujas com estes cartazes em papelão, no meio de senhores e senhoras perfumadas que fingiam dormir, ou estarem distraídas com uma leitura de momento. Ele arrasta-se de vagão em vagão, sem pernas, uns tamancos nas mãos, que substituem os pés, pendurado ao pescoço uma lata e um cartaz: - Tenham dó e piedade desta pobre alma, que não tem o que comer.O comboio rola, vencendo os trilhos de ferro, lá dentro o povo trabalhador, segue impávido, sereno e pensa, coitadinho, que horror. De vez em quando lá cai uma pequena moeda na latinha.Os olhos do invalido brilham como se tivesse ganho na lotaria. Ela ainda menina, mas já bem "apetrechada" vai ganhar a vida na... rua.Sua mãe assim o faz há muitos anos e seu pai esse... nunca existiu.Quase como que uma tradição de família, a menina, vai ganhar a vida, pois sua mãe está velha e cansada e os homens já não a querem.Preferem a carne fresca... a carne acabada de sair da infância, para entrar directamente no mundo da prostituição. Tantos, milhares, milhões, biliões de casos iguais, diferentes, mas todos em busca do pão. Pão que é tirado das searas em ouro, por homens que trabalham para um patrão, que o vende a peso de ouro.Em países com leis que destroem o excesso de produção, dando mais ouro a esse patrão.Destruição dos excessos de produção, que não podem matar a fome no mundo, pois destroi a balança de pagamentos.O ouro, que faz e desfaz, em nós complexos.Quem o tem chama-lhe seu. Quem o não tem, arrasta-se, chora e até mata por ele.Ouro esse vil metal, que podia ser do bem.Quantos séculos, ou milénios ainda terão que passar para que o homem, entenda, que o mundo pode ser um paraíso?

07.Set.2005
 
O PESO DO OURO

Victor Jeronimo
(Portugal/Brasil)