Poemas, frases e mensagens de reisgabriel

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de reisgabriel

Obrigado Sissi

 
Obrigado Sissi
 
Naquele dia, fui buscar-te para me fazeres companhia
Ainda estava em mim tudo muito presente,
Sentia naqueles dias, que meu coração não mais batia

Conseguiste proporcionar em mim, maravilhosos momentos
Devolver até por vezes, um pouco da minha alegria

Partilhei contigo meus segredos
Até falei, pedi-te desculpa por não ter tempo sequer para te dar a melhor da minha companhia

Soube ao final do dia,que já não me pertencias,que tinhas feito a tua pior viagem quando saí porta fora.

Nada poderia fazer,

Sei que quando te fui buscar,
Tu como o grande Bill, tinham a sua hora marcada.
Obrigado Sissi, por toda a tua demora

GABRIEL REIS
 
Obrigado Sissi

O Prega-Saltos

 
O Prega-Saltos
 
Coelhinhos de várias cores, juntaram-se na casa dos seus avós, para ajudar nos preparativos da Páscoa. As coelhas mais velhas, passam o dia na cozinha da Avó Nascimenta, preparando os doces, para que durante a quaresma, todos possam provar variedades sem fim, de guloseimas que estiveram privados de comer durante o ano.

O Prega-Saltos, um coelhinho muito traquina, decidiu mais uma vez fazer das suas. Desta vez, esperou para apanhar a Avó Nascimenta distraída e esconder a bonita cesta com Ovos Folares, que ela acabara de cozinhar.

Quando esta deu pela sua falta, olhou repentinamente para o grupo de coelhas que estavam com ela e descarregou toda a sua ira e desconfiança,logo na sua neta, que se encontrava á frente.

Perante tal ralhe-te, a coelha, não escondeu a sua fragilidade e começou a chorar. Sabia com toda a certeza, que tivera posto a cesta, exactamente no local, onde a sua avó lhe tivera dito.

Escondido com a cesta atrás do cadeirão de baloiço da Avó Nascimenta, o Prega-Saltos, assistia calmo e sereno a todo este episódio, muito divertido, fazendo grande esforço, para não deixar passar as suas risotas.

Como as brincadeiras nem sempre dão bom resultado e reparando na preocupação da Coelha idosa cada vez mais a acentuar-se, eis que o Coelho Prega-Saltos, decide então acabar com a sua disparatada brincadeira e entregar a cesta á Avó.

Sem que se tenha apercebido, o seu enorme rabo fofalhudo estava preso no cadeirão. Tentou soltar-se, mas rapidamente estatelou-se com a cesta e os folares no chão.

Vendo tudo isto, não foi muito difícil á Avó Nascimenta, descobrir quem tivera momentos antes, decidido pregar-lhe a valente partida.
Valeu ao Prega-Saltos, isso mesmo:
Saltar; saltar, para fugir do alcance das furiosas coelhas, enquanto estas atiram os ovos dos Folares, que tinham caído no chão.

(Desejo-vos uma Páscoa Feliz!)

GABRIEL REIS
 
O Prega-Saltos

Biba na Floresta Encantada

 
Biba na Floresta Encantada
 
Era uma vez um esquilo, que vivia muito próximo da Floresta Encantada. Apesar dos diferentes mamiforos que habitam a Floresta, todos os animais dão-se bem, vivendo em paz e harmonia. A alguns anos atrás, chegou àquela Floresta, uma pequena comunidade de animais castores, que ali se instalaram para construírem as suas residências e não mais saíram, até aos dias de hoje. Não é surpresa por isso, vermos aqueles simpáticos animais, um pouco por toda parte e em grande número.

São os castores que partilham com os outros animais, os trabalhos de abate das árvores e limpeza da Floresta, assim como a construção do dique, para suster as águas de um rio, que se encontra ali próximo.

Quando rompe a aurora, o esquilo Biba, pega na sua machadinha, merenda e dirige-se para a Floresta Encantada, para ajudar os seus amigos. O Rio ameaça assustadoramente alagar toda a Floresta, por isso, todos os animais são poucos para a construção do dique.

Um belo dia, quando Biba chegou á clareira da Floresta Encantada, foi confrontado por um enorme grupo de aves, que pareciam muito zangadas.
Queixavam-se ao Castor Horácio, por alguém ter derrubado as suas árvores, que lhes servia de abrigo e protecção das noites frias e geladas.

Os Carraçeiros e os Estorninhos, a maior parte das aves brancas que ao final da tarde se recolhem nas árvores para passarem a noite, estavam bastante exaltados. As corujas e os mochos estavam um pouco mais calmos, mas também faziam algum alarido. Não demorou muito tempo a que as corujas, fossem injuriadas por um casal de Pica-paus, que rapidamente lhes chamou Vá dias, por andarem praticamente todas as noites fora das árvores.

O Castor Horácio, acabou por explicar ao grupo de manifestantes, que tinha sido por engano, o derrube das duas árvores que lhes serviam de moradia.
Mas os ânimos estavam tão exaltados que a passarada decidiu desferir tremendas bicadas no pobre do Horácio. Foi então que Biba, observando que o seu amigo castor estava em apuros, saiu em seu socorro.

Empunhou a machadinha e atirando-a com toda a força, esta foi prender-se numa Azinheira que ali estava muito próxima dos prevaricadores. As corujas foram as primeiras a fugir e abandonaram o local. Já os Carraçeiros e os seus amigos, esvoaçaram e levantaram, voo pousando logo de seguida, na árvore mais próxima. O Carraçeiro mais medroso, reparando que lhe caíra uma pena do rabo, gritou:

- Chiça! - Que susto!

Horácio, agradeceu a preciosa ajuda do seu amigo esquilo e da machadinha também, enquanto o olhar atento da passarada bastante furiosa, os observava, parecendo não ter qualquer vontade arredar pé.

Foi então que no momento, surgiu o Mocho Sabichão, que possuidor de grande sabedoria, se prontificou em ajudar, apresentando de imediato, uma solução aos dois amigos:

- Porque não pedem ajuda às aves Carraçeiros e aos seus amigos, que perderam seus abrigos, para participarem convosco na construção do dique?
- Com certeza que seriam muito úteis, sempre existem locais no lago de difícil acesso, onde não é possível nenhum outro animal lá chegar. Depois, para os compensar da sua perca, sempre os poderiam deixar ocupar o enorme canavial que está perto das vossas residências. Reparo algumas noites, que lá pernoitam os Patos Dourados e os Cisnes.

Os Carraçeiros ouvindo a sugestão do sábio mocho, levantaram voo e como sinal de concordância, dirigiram-se todos para o famoso canavial. As canas davam um soberbo abrigo a qualquer bicharada, além disso, estavam muito perto do lago, o que vinha mesmo a calhar, para a passarada que gostava de diferenciar as suas refeições, mas tudo isso, só seria possível se todos os castores o consentissem.

E assim foi. O castor Horácio, falou com a restante comunidade de castores, que nada tiveram contra a preciosa ajuda daquelas aves Carraçeiras e dos seus amigos, na construção do dique e de se prontificarem a ir aos locais mais perigosos do lago.

Com o passar dos anos, os castores habituaram-se á presença daquelas aves. Ao cair da tarde, os castores observam os enormes bandos de pássaros que recolhem ao canavial para passarem a noite, não consentindo que alguém os importune.

GABRIEL REIS
 
Biba na Floresta Encantada

Era uma vez...uma Loba chamada Matilde

 
Era uma vez...uma Loba chamada Matilde
 
Em tempos, nos arredores da calma Serra do Louro; próximo de Palmela, vivia uma loba, que gozava da protecção e admiração de todos os seus habitantes.

Abandonada pela sua progenitora com apenas escassas semanas de vida, Matilde, foi descoberta por um jovem pastor, quando este passeava o seu rebanho.

Ao reparar que a cria era muito frágil e dócil, decidiu então adotar o animal, protegendo-a dos caçadores furtivos, que por ali caçavam.

A loba foi crescendo e viveu tranquila por muitos anos numa gruta no interior da Serra.

Sempre que podia, o rapaz dirigia-se á gruta para levar alimentos e inteirar-se do estado da sua amiga.

Os anos passaram e certo dia, a Vila chorou o desaparecimento da primeira filha do pastor. A sua criança com apenas cinco aninhos de idade, tinha desaparecido misteriosamente de casa, sem que alguém soubesse do seu paradeiro. O pastor e a mulher estavam desesperados.

Com a cabeça completamente perdida, Jaime e a sua mulher Maria, deixavam correr as lágrimas, enquanto populares procuravam ajudar a procurar pela criança nos locais habituais, onde a menina costumava brincar.

Abatido pela desgraça, Jaime procurou conforto junto da sua amiga loba e decidiu ir até á gruta, mas algo de muito estranho teria sucedido á sua amiga. O local estava completamente vazio. O animal tinha por hábito recolher-se quando escurecia e isso não tinha sucedido perante o olhar do pastor.

Foi então que Maria, sua mulher se aproximou do marido para lhe dar uma excelente notícia:

A loba solitária, aparecera na casa do pastor, transportando na boca um dos sapatinhos de verniz da menina, para indicar onde a menina estava. A menina Matilde encontrava-se bem e resolvera brincar perto de um velho poço abandonado, onde terá caído e torcido o tornozelo, ficando presa nos escombros e deixado cair um dos seus sapatinhos. Em homenagem ao feito corajoso e inteligente da loba, o pastor e a população, decidiram dar o nome de Matilde á loba, precisamente o mesmo nome da criança.



GABRIEL REIS
 
Era uma vez...uma Loba chamada Matilde

O Senhor dos Mares

 
O Senhor dos Mares
 
O dia acordou quente e seco como sempre.Com as temperaturas a rondar pela manhã os 26 graus, o veleiro Santiago,estava agora ancorado ao largo das ilhas das Bahamas. Decorria o ano de 1687.

O capitão Thomas Fernandez, um descendente de famílias de sangue azul que pela ironia do destino convertera-se num fora da lei, deu folga á sua tripulação de marinheiros para estes recuperarem forças. Iriam mais uma vez navegar em direcção ás ilhas da Escócia quando o vento estivesse de feição. Filho de pai inglês e mãe espanhola, Thomas Fernandez em nada se revia no estilo de vida da sua família e decidiu assim, tornar a vida daqueles que faziam viagens comerciais com as suas embarcações entre a Europa e América Latina num autêntico inferno.
Interceptava frequentemente navios e apoderava-se dos seus bens.

Santiago um veleiro apetrechado de dois grandes mastros de elevada envergadura e de sete velas de seda genuína, foram a mais recente emboscada do capitão sem escrúpulos. Todos os marinheiros se interrogavam porque razão Thomas Fernandez queria de novo rumar em direcção á Escócia se a informação de que dispunham, nenhuma embarcação com valores iria para aquela zona. Mas quem tem o poder de mandar e ordenar é o capitão e ninguém se atreveu a questionar tal ordem. O último que o tivera feito, foi enforcado no mastro principal do Santiago.Com enorme alarido e cantando ao mesmo tempo, os piratas lá iam subindo aos mastros do barco e a pouco e pouco, desfraldavam as velas enormes do Santiago.

Smith o braço direito do capitão, lembrou-se que em tempos o mesmo tinha tido um romance com uma escocesa de cabelos cor de fogo e que a sua beleza fazia inveja ás próprias sereias que por ali passavam.
Será que Thomas Fernandez estava cansado da vida que levava e iria ter finalmente com a sua ruiva?
Depois de ver o mapa de bordo do capitão, não lhe restavam dúvidas, iam mesmo direitinhos á ilha Skye na Escócia.

Parece que nem tudo estava a correr de feição. Avizinhava-se sem que alguém desse conta, uma valente tempestade tropical. O lindo sol, rapidamente foi substituído pela noite escura e o mar parecia assustar pela primeira vez as velas do veleiro. James o marinheiro mais novo da tripulação, tremia por todos os cantos.
Smith aconselhou Thomas fernandez a voltar para trás, mas este não lhe deu ouvidos.

Estava decidido a ver a sua ruiva de cabelos cor de fogo.
O navio cada vez mais tinha dificuldade em escoar toda a água que entrava. Tinha chegado ao fim das suas capacidades. O capitão continuava como se estivesse hipnotizado pelo cântico das sereias e já não dava ouvidos aos seus homens. Cada um estava entregue á sua sorte.

Smith tratou de baixar os dois únicos salva-vidas.
Estava na hora de abandonar o Santiago. Só por sorte um único salva-vidas chegou são e salvo á ilha de Skye. Dois marinheiros, Smith e James, foram os dois sobreviventes deste naufrágio. A ruiva que Thomas Fernandez tanto queria ver quando soube da tragédia, entregou-se ao desgosto e não mais quis ver-o-mar.

E assim acaba mais uma história em que a paixão cegou e abafou completamente a experiência de um senhor que conhecia bem os mares.•

Gabriel Reis
 
O Senhor dos Mares

As Crianças de Natércia

 
As Crianças de Natércia
 
Olhem! – Exclamam as crianças quando entram na sala de aula e dão pela presença de uma enorme árvore de Natal que se encontra muito próxima da secretária da professora. A árvore de Natal tem uma grande quantidade de luzes coloridas e cintilantes, que iluminam um bonito presépio, deixando as crianças ainda mais contentes.
Arnaldo, um dos miúdos mais irrequietos da turma, não resiste em tocar com a sua mão direita num dos camelos de barro, que se encontram junto dos três Reis Magos. Mas não é bem sucedido. Pouco tempo depois, recebe um valente ralhe-te da professora, chamando a sua atenção para não repetir o acto, pois tivera tido imenso trabalho para dispor todas aquelas peças que compõem grande parte do presépio. Ficou aborrecido, mas lá se convenceu a acatar o pedido da professora, acabando por se dirigir em seguida para o seu lugar, enquanto o beicinho, dava mostras de querer chorar.

Terminadas as gritarias e os empurrões, foi concedido a todos, a oportunidade de ocuparem as secretárias onde gostariam de ficar. Assim algumas das crianças mais faladoras podiam satisfazer o seu desejo ao sentarem-se ao lado do seu amigo mais chegado. As crianças estavam super contentes.

Finalmente o silêncio tomou conta da sala de aula e a professora, podia fazer-se ouvir.
Estamos a poucos dias do Natal e a professora Natércia, escolheu um tema muito próprio para trabalhar com as suas crianças relacionados com a quadra que está prestes a chegar. Aos alunos é proposto elaborar um desenho, para que a professora possa saber, quais as prendas que mais gostariam de receber no dia de Natal. A resposta não se fez esperar. O entusiasmo foi imenso. Nenhuma das crianças deu pelo passar das horas. Esgotado o tempo de aula, todos os que não acabaram o seu desenho em tempo útil, puderam assim levá-lo para casa, para o terminarem.

A professora Natércia, tem á sua responsabilidade, uma turma com 12 crianças que frequentam o primeiro ciclo do ensino básico, sendo a sua maioria constituída por crianças que vêm de famílias muito pobres. Algumas delas têm graves problemas sociais e as que têm família, pouco podem fazer para ultrapassar essas dificuldades, porque não existem grandes oportunidades de emprego na região derivado ao seu fraco desenvolvimento. Mas também existem outras razões que nem o próprio desenvolvimento poderá ser o responsável. A professora Natércia, desde que se iniciou o ano lectivo guarda o segredo de duas das suas alunas. Sabe que a Eugénia e a Catarina, não tiveram a sorte de terem o acompanhamento de uma família como todas as outras crianças deste país e por esse facto, regressam logo que terminam as aulas a uma Instituição de Solidariedade Social. Os pais são muito pobres e estão á muito desempregados, não tendo forma de as poderem sustentar, pelo que é a instituição Social mais próxima da Aldeia que as acolhe durante o decorrer da semana escolar.

Na manhã seguinte, um forte nevão, apanhou toda a Aldeia desprevenida incluindo Natércia.Alguns dos preparativos para a quadra Natalícia estavam francamente comprometidos. Praticamente quase todos os caminhos estão intransitáveis. As pessoas foram aconselhadas pela junta de freguesia, a não utilizarem os caminhos habituais da Aldeia, assim como as crianças a não irem á escola e a permanecer em casa. A professora Natércia, está muito preocupada, principalmente com as raparigas que estão no Lar. Sabe que dispõe de poucos dias para poder comprar os seus presentes e poder contribuir para dar algumas alegrias neste Natal, a crianças que vivem na Instituição.
O nevão não estava nos seus planos. Tudo indicava, que iria nevar até ao Natal. Olhava por entre a vidraça, e observava a neve a cair quando lhe surgiu uma brilhante ideia:
Porque não ir ao sótão e procurar na sua antiga mala de cartão, algumas das suas coisas de criança que guardara religiosamente? Talvez lá encontrasse algo que estivesse em boas condições para oferecer.
Assim fez! Ao abrir a mala, as recordações que encontrou eram imensas. Lá estavam as suas antigas e estimadas bonecas,assim como muitas outras coisas, que qualquer criança independentemente da idade, faz questão de guardar e com o passar dos anos, nunca as vem a utilizar.

Ficou muito contente por encontrar novamente o vistoso colar de pérolas que recebera um dia de presente de sua madrinha, quando tinha talvez a idade da sua aluna Catarina.Encontrava-se impecável!
Decidiu então que esse bonito colar seria para a sua aluna Catarina, pois pelo que conhecia da menina, esta já gostava imenso de bijutarias.
Que daria então de presente a Eugénia? Começou por retirar mais algumas coisas que estavam no fundo da mala. Encontrou então uma pequena mala em verniz, que tantas vezes a acompanhava nas fotos de família.
Falava alto, como se estivesse a falar com alguém.
- Eugénia, com certeza irá gostar de receber esta bonita mala de verniz que usei, quando tinha a sua idade.
Encantada a professora, arrumou tudo o que já não lhe interessava.
Espreitou por breves instantes pela janelinha do sótão e reparou que de facto lá fora, o tempo parecia estar cada vez mais instável. O cenário mostrava espessos mantos brancos, como se enormes quantidades de espuma tivessem tomado conta das árvores e arvoredos, cobrindo já a maior parte das ruas.

Nos dias seguintes, a neve continuou a cair com mais intensidade. Em quase todas os pontos da Aldeia,só as luzes do Natal, davam alma e cor ao dia de Natal,quando vistas de qualquer ponto alto. Quase todas as casas celebravam agora a mensagem de paz e esperança.O Natal tinha chegado. A Igreja da Aldeia está a postos para receber todos os seus fiéis, assim como todos aqueles que queiram á meia-noite, privar com Deus o nascimento do seu menino. Algumas das crianças da Aldeia naquela noite, poderão concretizar alguns dos seus desejos.
Mas as crianças de Natércia, apesar de viverem na Instituição de Soladariedade Social também poderão concretizar um pequeno sonho. Nunca tiveram o carinho da verdadeira mãe, mas sempre têm alguém que lhes dedica grande parte do seu coração. A professora Natércia!

A todos aqueles que leram este meu conto, desejo-lhes um Santo e Feliz Natal, mas também gostaria de deixar um apelo, para que nunca esqueçam as crianças de Natércia.

GABRIEL REIS
 
As Crianças de Natércia

Um conto de Verão

 
Um conto de Verão
 
Todos esperavam na paragem pelo autocarro que fazia a ligação á praia da Figueirinha. Na rádio a noticia dava conta que o dia iria ser bastante quente.

Finalmente chegou o tão desejado autocarro. A confusão era tremenda. Todos queriam entrar á pressa com chapéus, geleiras e tudo o mais. O condutor era uma rapariga ainda muito nova. Após certificar-se pelo espelho retrovisor do lado direito que ninguém ficaria preso na porta de trás, fechou ambas as portas e deu assim inicio à marcha do autocarro.

Alguém no momento deu um grito. A condutora interrompeu a marcha do veiculo travando violentamente causando algum alarido aos mais distraídos. Era um rapaz de cerca de catorze anos que tinha ficado em terra. A condutora tinha já aberto a porta da frente do autocarro para o rapaz entrar.

-Então não entras? - Perguntou a jovem condutora
- Não tenho dinheiro para a passagem senhora ! Respondeu o gaiato de aspecto franzino e muito moreno.
A condutora franziu as sobrancelhas e respondeu o seguinte:
Deixa lá, não faz mal, eu pago-te a viagem - Respondeu a rapariga mexendo num dos bolsos das suas calças. Os passageiros que iam no banco junto ao condutor, um casal de meia-idade, apreciaram positivamente o gesto da rapariga. Mas ao contrário dessa observação, houve quem não gostasse e até repudiasse o acto.

Tratava-se de um pequeno grupo de amigos de escola que pareciam ser do contra. Logo tratou de se juntar a eles um casal de nariz bastante arrebitado que insistentemente elevavam os dois braços no ar em tom de ameaça como a querer dizer que estavam atrasados tudo por causa daquele puto mal vestido e desajeitado. Porque haveria o autocarro de parar por causa daquela criatura? Tudo voltou á normalidade e se acalmou quando o autocarro começou a circular.

As lindas paisagens que avistavam pelas janelas do autocarro deixaram todos rendidos. O azul do rio Sado era deslumbrante mesmo quando já não se via e dava lugar ao outro azul. O do Oceano Atlântico. O forte do Outão, hoje convertido em hospital Ortopédico para tratar de ossos, estava já à vista. Isto significava que a praia da Figueirinha estava já muito próxima e logo ali na descida.

No dia seguinte, estava de novo mais um dia espectacular para ir á praia. O verão estava na sua máxima força. Na paragem do autocarro para a Figueirinha, estavam quase praticamente todas as caras que estiveram no dia anterior. O casal provocador e o mesmo grupo de estudantes. Por ironia do destino, o rapazinho de ar franzino também ali estava.

Um condutor decidira parar o seu bruto Mercedes mesmo na paragem do autocarro. Parecia ter aspecto de alguém muito importante pois apresentava-se todo janota vestido num belo fato de seda. Eis que surge o autocarro e dá uma forte buzinadela de advertência ao condutor que ignorava o código da estrada. O senhor do Mercedes dirige-se então ao condutor do autocarro que por sinal é a mesma condutora que tivera feito a mesma carreira um dia antes e cumprimentou-a.

Todos presenciavam aquela cena para se inteirarem do que realmente se estaria a passar. O tal senhor não era nada mais, nada menos do que o pai do rapaz franzino, que estava a restituir à condutora o dinheiro que esta tivera pago ao seu filho, pela sua deslocação á praia. Algumas pessoas comentaram que aquela atitude do pai do rapaz deveria ser digna de tal registo, pois nos tempos de hoje é muito raro ver-se alguém com aquela educação e consideração.

E assim acaba este meu conto, deixando á vossa consideração o que vos oferecer dizer ou comentar sobre o assunto.•

Gabriel Reis
 
Um conto de Verão

A Lenda do Ganso Prateado

 
A Lenda do Ganso Prateado
 
Era uma vez... á muitos anos atrás, numa pequena aldeia do nosso país, uma menina que se chamava Arpa. Arpa, apenas de oito anos, vivia com os seus dois avós paternos numa pequena aldeia perto de Alcácer do Sal. Os pais de Arpa tinham falecido ainda a menina tinha dois anos de idade. A população da aldeia não tinha crianças. O sustento da aldeia era unicamente aquilo que a terra lhes permitia cultivar. A rapariga passava a maior parte do seu tempo no campo com os avós.

Apesar de ter oito aninhos de idade, já ajudava com a lida dos animais, mas onde gostava mais de dedicar o seu tempo era no lago da aldeia. Passava muitas horas a observar os patos e os gansos a banharem-se na água. Um belo dia estava Arpa a olhar para uma rã gordinha, quando ouviu alguém chamar pelo seu nome. Olhou á sua volta, mas não encontrou ninguém nas redondezas. Quem estaria a chamar por ela? Talvez fosse confusão ou o vento a passar por entre as canas.

De repente á sua frente apresentou-se um lindo ganso prateado que falou para ela. Não podia ser verdade. Os animais não falam! Mas este insistiu e perguntou-lhe:
-Porque gosta de observar os meus amigos? A menina com dificuldade respondeu: Não tenho amigos para brincar por isso gosto de estar aqui a olhar para os animais nas suas brincadeiras. Queres ser minha amiga? Respondeu o ganso. Mas tu és um ganso respondeu Arpa. -Sim mas tenho o dom de poder falar e ouvir. Que achas? -questionou novamente o ganso.

Sendo assim aceito! E assim foi. Passaram-se muitos meses e longas tardes, em que os dois amigos juntavam-se no lago para brincarem, outras vezes confidenciavam alguns episódios engraçados que se iam passando na aldeia. Os meses passaram a anos e a idade ia avançando até que Arpa atingiu os 18 anos de idade. Estava uma linda senhora, mas apesar disso, não deixou de gostar de ir até ao lago, para usufruir da companhia do seu amigo de penas prateadas. Um belo dia, o tempo passou, sem que o seu amigo desse vista. Estava cada vez mais preocupada pois do seu amigo ganso, não vinha nem um único sinal de vida.

O dia já ia longo e o sol ia descendo por entre os montes. Que se teria passado? Estava muito preocupada. O seu amigo não tinha aparecido no lago tal como as outras vezes. Os seus olhos verteram uma lágrima, e uma após outra lágrima, estava definitivamente a chorar. Até que alguém lhe tocou no ombro e perguntou:

-Por que choras? Aquela voz era-lhe bastante familiar. Estava á sua frente um belo rapaz, forte e de olhos claros. A rapariga sem contar com a surpresa, sofreu um tremendo choque emocional. Por breves instantes teve alguma dificuldade em falar. És tu.....? O meu amigo ganso?
-Sim sou! Respondeu-lhe o rapaz. Mas porque razão te apresentas como pessoa? Porque o teu amor por mim provou ser verdadeiro e fez com que voltasse á minha verdadeira identidade.

Terminou finalmente o meu feitiço e o fardo que carregava ás costas. Meu pai enfeitiçou-me desde os meus cinco anos de idade e daí para cá, tinha de encontrar alguém que gostasse verdadeiramente de mim para voltar a ter a minha forma humana.

Assim acaba a lenda onde ainda hoje naquela aldeia as pessoas respeitam muito os gansos.

Gabriel Reis
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A Lenda do Ganso Prateado

A História de Sidney

 
A História de Sidney
 
Os tempos da tormenta e da destruição já passaram.Edwards jamais esquece a imagem do seu tio John Sidney, piloto da Força Aérea Inglesa (RAF) no decorrer da 2ª Guerra Mundial,quando certo dia,desapareceu naquela que seria a sua última missão. Na altura em que desaparecera,era considerado um dos melhores pilotos de caças da actualidade,quando foi visto pela ultima vez, nos céus de Winchester ao sudoeste de Inglaterra.

Na sua pequena localidade onde crescera, perto de Winchester, no final da 2ª Guerra Mundial, a população mandou construir um monumento em homenagem aos seus heróis. Ao que parece, o nome do piloto Sidney, foi esquecido e não consta da placa que homenageia os seus mortos. Todos os pilotos tinham o nome de baptismo de fogo nos seus aviões e John Sidney, tinha escolhido para o seu ágil avião,as iniciais de GWEN. As iniciais que escolhera, homenageava a mulher do famoso Rei Arthur, a rainha Guinevere.

Com o passar dos anos, o sobrinho de Sidney, cresceu e frequentou uma das melhores universidades de Inglaterra, tendo recebido com distinção o doutoramento em Medicina. O agora Médico, tem alguma dificuldade em esquecer aqueles tempos difíceis que passou durante a 2ªGuerra Mundial, mas recorda com alegria e satisfação, os bons momentos que passava na companhia do seu tio Sidney e quando este o levava a bordo do seu avião Gwen,a voarem juntos sobre as nuvens, como se fossem donos dos céus.

As boas recordações e saudade do seu tio, foram muito fortes, assim como a sua falta ainda está presente. Muito em breve, irá ter uma tão desejada semana de folga e deixar o trabalho no hospital. Decidiu, que iria até á clareira onde seu tio Sidney tombara, para estar por um momento, próximo dele e meditar um pouco.Chegado ao local, podia observar, que ainda ali se encontrava a pequena cratera, que o avião tivera deixado, quando embatera no solo.

Os seus olhos podiam ver e ao mesmo tempo imaginar a violência do brutal acidente,que ocorrera na época. Entristecido, olhava fixamente para o local, quando reparou que na zona da tragédia, não tinha crescido qualquer vegetação ou ervas daninhas.Mas que estranho! Porque seria? Duas perguntas, que fez a si próprio. Mais tarde, em casa, perguntou ao seu pai, agora já com uma certa idade, se recordava-se de mais alguma coisa, sobre o trágico acidente e se tivera visto o local.

O pai contou-lhe, que o tio John Sidney, não falecera de imediato. Após o embate, foi prontamente socorrido no próprio local, por uma equipa da Cruz Vermelha. A aeronave, ficou consideravelmente destruída, acabando o piloto por ficar entrevado e mais tarde, perder uma das pernas assim como a fala. Os poucos meses que viveu, tentou insistentemente dizer o que parecia ser o nome de Camelot.

Antes de falecer, aquele nome foi referido pelo piloto mas nunca ninguém soube ao certo, de quem se tratava.
Edwards, o jovem médico, não sabia daqueles pormenores, relacionados com os últimos dias de vida de seu tio Sidney. Achou também ele, muito estranho e misterioso, o nome de Camelot ser referido nas últimas palavras do infeliz piloto. Resolveu então, para sossegar a sua curiosidade, ir no dia seguinte á Biblioteca Municipal de Londres e consultar os registos antigos sobre o acidente e a história de Camelot.

Foi surpreendente a pesquisa que fez sobre o assunto:

Além de já saber que Camelot era o local onde antigamente o Rei Arthur tinha o seu reino, ficou estupefacto, por descobrir que afinal o local onde o avião de seu tio Sidney se despenhara,era precisamente a antiga Colina de Cadbury, onde em tempos o Rei Arthur e os seus Cavaleiros da Távola Redonda, tinham o seu quartel-general.

Acabou também por estranhar a coincidência do nome que seu tio arranjara para o seu avião, dando-lhe o nome de uma antiga rainha chamada Guinevere.Quando leu as críticas dos peritos, sobre o acidente daquela trágica noite,assim como as causas mais prováveis que levaram o experiente piloto Sidney a embater violentamente na Colina, várias fontes referem e dão conta, que naquele local já em tempos, a maldição tinha tomado conta daquela Colina e certas noites, aldeões comentaram terem visto, sem qualquer motivo ou explicação aparente, as Colinas de Cadbury, iluminadas por uma quantidade considerável de archotes medievais.

Edwards, nem queria acreditar,que tudo o que acontecera com o seu tio, estava ligado á lendária história do Rei Arthur. De facto, poderia muito bem ter sido possível, que qualquer piloto que por ali passasse durante a noite, vise as luzes dos archotes e as confundisse com as lamparinas utilizadas nas pistas de aterragem obrigatórias para os seus aviões e colidissem com a colina. Em tempos o Rei Arthur reunia-se naquele local, juntamente com os seus cavaleiros da Távora Redonda.Estavam ainda nos registos na pós guerra, que dois potentes e pesados bombardeiros das forças inimigas Alemâs,ali se despenharam,sem que resultasse qualquer sobrevivente

GABRIEL REIS
 
A História de Sidney

Pintão tem uma namorada

 
Pintão tem uma namorada
 
Na rua os gatos não se cansam de miar. Estamos em Janeiro e as pessoas, principalmente a dona do Pintão, sabe que os bichanos andam loucos e ficam fora de si quando chega este mês. É a chegada a hora, do cio dos gatos.
Para ajudar a toda esta situação, chegou ao bairro, uma gata Francesa com a dona, para passar férias em Portugal.

A gata chama-se Princesa e como está saída, o pátio da casa da mulher, mais parece um autêntico ringue onde os gatos de todas as redondezas, decidiram acampar para mostrar os seus dotes de namoradeiros.
Os donos do Pintão têm-no preso dentro de casa e tanto as janelas, como as portas, estão fechadas, para evitar assim, que o animal se escape. O que vale é que os dias estão frios e bastante cinzentos.

Pintão está muito triste, raramente se viu privado da liberdade. Não compreende porque razão está tudo fechado em sua casa, logo agora que tem a possibilidade de conhecer uma gata Francesa e arranjar uma namorada.
Mas o gato Faiolas, tinha reservado uma surpresa a Pintão. Deu por falta do seu amigo durante alguns dias e descobriu que este estava fechado.
Resolveu então convencer a gata Francesa a ir visitar Pintão à sua própria casa.

Quem não gostou nada da ideia foram os gatos vádios lá do sítio, que juntaram-se todos para tratarem da folha ao gato Faiolas.
O silêncio era total agora na casa de Pintão. Os donos já estavam deitados. Lá fora, parecera-lhe ouvir o miar zangado de alguns gatos. O som estava bastante perto. Pintão conhecia aquela voz. Subiu então ao sótão, para ouvir melhor aquele som que lhe era familiar:

Viu uns bigodes por entre o forro que estava rasgado numa das telhas da casa. É então que vê surgir a cabeça do seu amigo, o gato Faiolas. Era mesmo ele! Que tremenda surpresa.
Lá fora os gatos rufavam enraivecidos pela ousadia do Faiolas. Não lhe trataram da saúde, porque este, estava acompanhado por uma senhora:
A Princesa francesa.

Faiolas desceu do forro juntamente com a sua companhia. Apresentou a sua amiga ao gato. Este ao vê-la, cegou por completo. A gata era muito bonita e exibia um pêlo muito comprido, branquinha cor de algodão. Os olhos eram azuis, muito intensos com pestanas compridas.
Estaria Pintão apaixonado por tal beleza? Parece que sim, a Princesa também tinha gostado das várias manchas castanhas e da enorme pinta escura na cabeça do gato.

Ali ficaram os dois gatos a mirarem-se durante algum tempo. Faiolas decidiu abandonar o sótão, mas não sem a preciosa companhia da Princesa. Os gatos vádios estavam lá fora sedosos por se vingarem dele.
Pintão pôs a sua pata direita na cabeça do seu amigo Faiolas para agradecer a sua visita e em troca, recebeu deste uma lambidela na pata.
Já a Princesa, fazia ronrom várias vezes, como a querer dizer, que tinha gostado de ter contribuído para fazer a visita surpresa ao Pintão.

Naquela noite, Pintão sonhou que passeava com a sua Princesa em longos mantos de algodão.

Gabriel Reis
 
Pintão tem uma namorada

A MENINA DO MAR

 
A MENINA DO MAR
 
A história que vou contar, pretende de alguma forma ajudar a compreender as razões porque ainda hoje as tradicionais festas da Nª Sr.ª de Tróia são realizadas com a mesma vontade e crer de antigamente. Bruto foi o desenvolvimento que hoje ali se instalou na península, acompanhado de transformações que obrigaram alguns Setubalenses e não só, a adaptarem-se aos tempos dos novos senhores.

A alegria era imensa. Todos os populares esperavam no cais da Beira-mar pela chegada da Nª Sr. ª do Rosário que deixava assim a igreja de S. Sebastião para se dirigir para a capela do palácio de Tróia por uns dias. Os moradores do bairro das Fontainhas (Setúbal) são uns privilegiados, quase sempre são os primeiros a ter contacto com a Santa. A igreja de S. Sebastião está situada no cimo daquele bairro o que explica as razões porque são os primeiros.
Todas as embarcações são decoradas de cores aguerridas para participarem na Romaria em direcção à Caldeira da Tróia.

Na lota, pescadores e seus familiares fazem os últimos preparos e certificam-se, de que nada esta em falta dentro das suas embarcaçoes para os próximos quatro dias.
Durante as festas, é permitido acampar nas proximidades da Caldeira, o que torna a vida mais facilitada a todos aqueles que escolheram o fim-de-semana para observar de mais perto a sua Santa.

Reza a história, que muito antes das duas margens serem separadas pelo Rio Sado, os habitantes de Setúbal e Tróia eram como dois irmãos.As comunidades de pescadores dos bairros das Fontainhas;S.Nicolau e Troino, desenvolviam as suas actividades piscatorias em Troia e vice -versa.

Helena de que vos vou falar,tinha nascido em Setúbal e os seus pais eram pescadores. Depois da escola, ajudava o seu pai Zé e sua mãe Elisa, nas lides das redes.Apesar de gostar muito do mar, Helena gostava de um dia poder vir a frequentar um curso de Cabeleireira.So tem doze anos mas ja tem as suas ideias muito bem defenidas.

Com a partida das embarcaçoes, o som torna-se bastante ensurdecedor! As sirenes dos barcos de pesca e recreio, fazem-se ouvir por todo o lado. Chegara o tão aguardado momento, para se iniciar a partida.

Os barcos eram imensos e enormes, para participar no cortejo, fazendo fila atrás da traineira que transportava a Santa.Sem dar descanso ás sirenes e acompanhados pelo estalar dos foguetes, lá partiram todos na rumaria em direcçao a Tróia.
A miuda estava radiante, por poder estar perto da Santa e presenciar de muito perto, todo aquele espectáculo.

O seu cão Billy, é que não parecia nada gostar da festa, pois como é sabido, os cães têm pavor a rebentamento de petardos.Helena tem um Dalmata muito bonito e vistoso de cor preta e branco, que a acompanha para toda a parte desde muito criança.O mar parece não preocupar muito o animal pois, desde cachorrinho,sempre foi habituado a andar de barco.

Quando chegaram ao Palácio da Caldeira,não havia muito espaço para o pai de Helena soltar as amarras do barco. Todo o areal naqueles dias,tornava-se muito pequeno para tantas embarcações. A velha capela, estava muito bem enfeitada de bandeirinhas de variadas cores, assim como imensas e coloridas rosas,so deixavam ver a imagem da Nª Sª do Rosário.Apenas se coloca um único problema a todos os visitantes que ali se deslocam nas suas embarcaçoes. A maré recua demasiado e os barcos ficam completamente em seco ficando a aguardar que mais tarde a maré suba. Podem ver-se enormes pantanais de lodo em grandes extensões de areia escura á medida que a água é devolvida ao oceano.

Á noite, Helena já se encontrava bastante maçada das banhocas que tivera dado durante todo o dia, mas não pretendia faltar ao bailarico que a comissão de festas tivera organizado para aquela noite.A pouco e pouco,os menos timidos deslocavam-se para o pátio do palácio para abrirem o baile. Por sinal, a noite estava quente, mas muito agradável.

Helena não gostava muito daquele tipo de música.Resolveu então afastar-se e dar uma caminhada pela praia.Billy muito atento,resolveu acompanhar a sua dona.

Com a maré vazia a pequena teve de andar algum tempo até avistar a água. Contornou as rochas e descobriu que ao fundo dessa nova praia, estavam as famosas Ruínas Romanas que são retratadas nos livros da sua escola. E porque não, ir dar uma espreitadela ás ruínas?

O facto de as avistar não significava que estas estivessem bastante perto. O cão parecia estar a gostar do passeio. Andava sempre á frente de Helena a farejar e parecia não estar cansado. De repente o silêncio da noite quebrou-se quando o vozeirão do Billy começou a ladrar. Que teria o cão encontrado? Estava escuro à sua frente e Helena não conseguiu descortinar porque razão o cão estaria a ladrar.

Foi então que Billy correu como louco para o sentido oposto e sem olhar para trás, tomou o caminho de regresso para o palácio da Tróia
Assustada por não saber o que realmente se tinha passado com o seu amigo de quatro patas, Helena resolveu voltar para trás e juntar-se a ele, evitando assim cruzar-se com alguém indesejado.

O cão esperava por ela sentado ao fundo da praia e como se de uma maldição se tratasse, a areia que antes ambos tinham pisado, tinha agora desaparecido dando lugar à maré-cheia e a fortes correntes. A força da água parecia agora fazer frente a quem quer que fosse.

Para desalento de Helena, a escassos metros atrás deles, surgiram duas luzes bastante intensas. Era real, estavam mesmo a ser seguidos. Sabendo dos perigos e sem grande alternativa para se livrar daquele pesadelo, a rapariga lançou-se à água e começou a nadar para longe enquanto o forte Billy ladrava com ar ameaçador, enquanto as luzes se aproximavam cada vez mais daquele local negro, escuro e lamacento.

Foi já madrugada dentro que seus pais deram pela falta da miúda e do Pintarolas.Toda a gente se juntou àquele sofrimento dos pais de Helena e resolveram também ajudar nas buscas.
As praias foram passadas a pente fino e desde o Canto Verde até aos Fuzileiros ninguém encontrou quem quer que fosse. Os botes ás dezenas, tinham candeeiros pitromax acesos para verem com mais nitidez todos os locais escuros da zona.

Na capela os mais religiosos, pediam a Nª Sr.ª do Rosário para que esta concedesse mais um milagre e fizesse com que aquele anjo que desaparecera sem deixar rasto, aparecesse são e salvo.
Foi com o bater das sete badaladas, que um rapaz residente na Comporta muito moreno que andava á pesca por aquela zona descobriu numa praia escondida pela densa vegetação o corpo de Helena deitada já sem sentidos na areia da praia.

Ao que contou, parece que foi o contraste do pêlo do cão preto e branco que chamou a atenção do rapaz quando passava por aquele lugar no seu barco a motor.
Billy estava bem e tremelicava por todos os lados quando foi resgatado com a sua amiga da praia. Pelos vistos, o cão não deixou que a força da natureza o separasse da sua querida dona.

Gabriel Reis
 
A MENINA DO MAR

Constância a Rena Preguiçosa

 
Constância a Rena Preguiçosa
 
Em tempos na Lapónia, o pai Natal tinha comprado mais uma rena, para deslocar com rapidez o seu trenó. Assim sempre poderia chegar com todos os presentes ás crianças de todo o mundo.
Nicolau, o pai Natal estava em apuros.

A rena Constância, a sua nova aquisição, parecia ser muito preguiçosa. Por vezes, o seu desempenho não era o melhor. Mas que poderia fazer o pai Natal, quando o dia de Natal estava para breve e as suas encomendas para entregar?

Foi então que o soldadinho de chumbo que trabalha na fábrica de brinquedos do pai Natal, teve a brilhante ideia de dizer a este, para aparelhar o Alce Bonitão ao grupo de renas, para tentar com isso, convencer a rena preguiçosa a melhorar o seu comportamento.

Como o tempo escasseava, não restou outra alternativa ao pai Natal, senão aceitar o conselho do soldadinho de chumbo.Quem se envaideceu com aquele truque, foi o Alce Bonitão, que ao ver-se no meio de tanta rena mulherenga, não parava de abrir e fechar a boca de contente. Constância não levou muito tempo a reparar no belo macho.

O trenó do pai Natal, estava carregado de presentes e pronto para seguir viagem naquela noite fria e escura. O pai Natal observava que a rena Constância, parecia estar muito bem-disposta e pronta para trabalhar. A rena da frente deu a cadência e lá partiram todos neve dentro.

O caminho a percorrer, era bastante longo.Passadas algumas horas, o alce nada habituado àquelas andanças, estava de rastos e resolveu forçar uma paragem. O pai Natal estava furioso!

Assim iria atrasar praticamente quase todas as entregas dos seus presentes e grande parte das crianças,ficariam com o Natal estragado. O Alce Bonitão estava esgotado. Logo naquela noite tão importante, tinha de suceder aquele imprevisto.

Primeiro a rena e agora o Alce Bonitão,que mais poderia acontecer ao pai Natal? Foi então que Constância surpreendeu o pai natal. Sem qualquer explicação, a rena começou a mudar de cor.

Porque estaria a ficar rosa?

As outras com receio do que pudesse vir a acontecer com Constância, abriram-lhe algum espaço. O pai Natal observava o fenómeno com os olhos escancarados e tal foi o espanto, que acabou por deixar cair os seus frágeis óculos da cara.

Afinal Constância tinha poderes mágicos!

Foi então que a Estrela Cadente iluminou o céu como se fosse dia. Do céu, surgiu um grupo considerável de renas amigas de Constância, que se disponibilizaram a levar o trenó e o pai Natal, a todas as moradas dos meninos que tinham pedido presentes na noite de Natal.Afinal Constância, não era assim tão preguiçosa. Andar para quê, se tinha poderes para voar?

GABRIEL REIS
 
Constância a Rena Preguiçosa

A Princesa Lì Dí

 
A Princesa Lì Dí
 
Em tempos, durante a dinastia Ming, na antiga China, falava-se de uma rapariga com verdadeiras mãos de fada. A rapariga vivia sozinha, isolada nas montanhas, distante dos olhares de qualquer aldeão. Como passava a maior parte do seu tempo só, decidiu construir com as suas próprias mãos, um tear. Logo depois, passou a ocupar o seu tempo, a tecer lindos tapetes em seda de vários tamanhos e feitios.

Um belo dia, Lì Dí resolveu ir até á floresta apanhar frutos silvestres e levou consigo, um belo tapete, que ela própria tecera uns dias antes, para se sentar no chão. De regresso a casa, como tinha as mãos ocupadas, deixou ali o tapete para mais tarde ali regressar para o apanhar.

Perante tal beleza e perfeição, um aldeão que servia o Imperador na altura, reparando no tapete, agarrou-o e levou-o consigo para o Palácio Imperial. Como o Imperador fazia anos, ofereceu-o como presente. O Imperador ficou encantado, por ter uma peça de arte tão bonita e valiosa.

Lì Dí, quando voltou ao local onde deixara o seu tapete, ficou triste e magoada, por alguém lhe ter tirado o seu lindo tapete.Porque teriam cometido tal abuso? Pensou a rapariga.
Fora de si, já em casa, sentou-se no seu tear e começou a tecer sem parar, um novo tapete de seda, para tentar compensar o que lhe tinham tirado.

Estava na altura do Imperador casar o seu filho. Tinha então mandado construir um quarto novinho dentro do próprio Palácio para o seu filho. Desejava vir a casá-lo com a mais bela jovem que aparecesse na China, mas queria também que a futura mulher, reunisse algum conhecimento e sabedoria.

Naqueles tempos, não era fácil encontrar moças que surpreendessem pela sua beleza e sabedoria ao mesmo tempo. Foi então que o Imperador se lembrou de mandar chamar o homem que lhe oferecera o bonito tapete pelos seus anos. Estava decidido a comprar para o filho, os mais belos tapetes de toda a China. A pessoa que tecera aquele magnífico e belo tapete, com certeza, saberia fazer outros exemplares.

O homem ficou atrapalhado e ao mesmo tempo envergonhado, por ter oferecido o tapete que achara no Bosque ao seu Imperador. Confessou toda a verdade e disse, não conhecer o tecelão que tecera tal obra. O Imperador irritado, ordenou que prendessem o aldeão e que lhe aplicassem um severo castigo,por apoderar-se de algo que não lhe pertencia.

Enquanto isso, o tear de Lì Dí, continuava a trabalhar noite e dia sem descanso, tecendo lindas tapeçarias de várias formas e feitios.
O Imperador ordenou então, que afixassem por todas as Províncias, um manuscrito, onde podia ler-se, que daria uma boa recompensa a quem provasse pertencer-lhe o tapete que tinha no seu Palácio.

Passado algum tempo, a notícia chegou cedo aos ouvidos da rapariga, que ao saber da recompensa e da possibilidade de recuperar o seu precioso tapete, decidiu ir reclamar aquilo que lhe pertencia. No dia seguinte, deslocou-se ao Palácio do Imperador, mas este estava numa caçada.

Quem a recebeu, foi o Príncipe que ao ver a rapariga, ficou impressionado pela sua beleza. Estava presente na sua frente, quem realmente produzira tão bonita obra. Perante a ausência de seu pai, o Príncipe decidiu que Lì Dí, deveria ficar hospedada no seu Palácio, até o Imperador regressar. Também o Imperador, deveria ter a oportunidade de ver com os seus próprios olhos, a pessoa que tanta curiosidade lhe despertara.

A rapariga aceitou a generosidade do jovem Príncipe. Parece que Lì Dí gostara daquele rapaz, com ar bastante calmo e bem-educado. Quando o Imperador regressou ao seu Palácio, viu o seu filho acompanhado da rapariga. Também ele teve alguma dificuldade em acreditar, que aquela bonita rapariga tecera tão bonito tapete.

Depois de saber de toda a história de Lì Dí, pensou estar na sua presença, a futura mulher de seu filho.
Mais tarde, muito apaixonados, Lì Dí e o jovem Príncipe, casaram-se e foram muito felizes. O Imperador, mandou então reservar um espaço no seu Palácio, para que a Princesa sempre que queira, utilize o seu tear.

GABRIEL REIS
 
A Princesa Lì Dí

AMAR e PARTIR

 
As notícias são pouco animadoras. De hora a hora, se vai falando que as famílias com rapazes maiores de dezoito anos ou pouco mais, terão de apresentar os seus filhos nos quartéis militares mais próximos das áreas de residência, para que recolham os seus nomes e prepararem-se para o pior. Tudo leva a crer que terão de estar prontos, para entrar em combate, para ajudarem os militares portuguêses, em terras do Ultramar.

Portugal tinha acabado recentemente de cortar relações diplomáticas com os países de língua de expressão portuguesa e a guerra instalou-se um pouco por toda a parte, nos continentes africanos. Muito em breve e logo que os jovens tenham tempo para se refazerem da recruta e estejam prontos, seguirão com guia de marcha por via marítima aos vários destinos de Moçambique e costa da Guiné.

Quando olhei para o meu pai, rapidamente percebi, que as coisas não estavam a correr nada bem para a nossa família, sobretudo para o meu irmão mais velho o Daniel. O meu irmão ligava pouco às notícias. Não sabia tão pouco o que a sua sorte lhe reservaria nos meses mais próximos.
Conheço bem o meu pai, só pela sua cara. É uma pessoa sempre muito bem-disposta e alegre, mostrando muito raramente qualquer ar de preocupado.

Naquele dia, algo de muito grave se teria passado com o Sr. Silva, para andar impacientemente por toda a casa cabisbaixo. A Minha mãe Graciete, tentava confortá-lo, dirigindo-lhe algumas palavras de alento, mas o Sr. Silva, sabia bem que nem ele ou mesmo a própria mulher,pouco poderiam fazer, para alterar ou mesmo evitar, que o seu filho Daniel, tivesse de se apresentar no Quartel para deixar o conforto do lar e seguir rumo á Guiné. Ouvia frequentemente os amigos lá de a taberna comentar, que a maioria dos rapazes que deixavam as suas casas para combater no Ultramar, tarde ou cedo, nunca iriam regressar. Eram muito poucos ou senão nenhuns, os que davam notícias aos seus familiares, sobre o seu verdadeiro paradeiro enquanto permaneciam em batalha.

Em 1963, a grande maioria dos militares, acabou por desaparecer sem deixar rasto, não tendo mesmo os familiares ou amigos, chegado a saber dos seus paradeiros ou até mesmo recuperado os seus corpos. Os que voltaram, poucas alegrias puderam dar aos seus amigos ou familiares. A guerra roubara até alguns dos seus mais preciosos membros e o seu estado de saúde era tão débil e frágil, que ainda hoje após todos estes longos anos passados ainda continuam com profundas marcas.

Nesse tempo,vivia-se dias difíceis e eramos governados por fascistas, onde as pessoas eram constantemente perseguidas pela ditadura e pouca informação era dada às famílias dos jovens militares. Tudo era cautelosamente tratado, ou mantido em segredo, para que até a própria família não fosse alvo de tortura. Os jornais desse tempo, não podiam sequer retratar a informação com a celeridade e verdade, pois os seus colaboradores,eram constantemente alvo de investigação e tortura.

Meu irmão Daniel, era muito chegado á família. Tinha abandonado muito cedo a escola para poder ajudar os pais, que nessa altura passavam por muitas dificuldades. Eram tempos muito difíceis e Daniel conseguira arranjar um emprego numa padaria de alguma dimensão em Setúbal. Trabalhava de noite e descansava de dia. Sempre que podia, gostava imenso de brincar connosco,refiro-me ao meu irmão mais novo, o Miguel, que ainda era muito pequeno e não tinha noção de que o rodeava á sua volta.

Daniel namorava uma rapariguinha muito bonita que morava perto da nossa casa.Chamava-se Ângela! Dificilmente me esqueço da sua cara. Era uma rapariga muito alta, bem constituída e com os cabelos muito fartos, olhos castanhos-claros, sempre muito bem-disposta e alegre, quase sempre não dando muito nas vistas, mas procurando quase sempre pelo seu apaixonado com alguma frequência para não falar em insistência, esquecendo-se por vezes por completo, que o pobre Daniel, trabalhava muito durante a noite e nem sempre estava acordado de dia para lhe fazer companhia.

Quando chegou o dia da partida, Daniel apresentou-se fardado junto de nós. Apesar de tudo, aquela farda assentava-lhe muito bem. Nada faria prever, que aquele rapaz com ar inocente não iria ter um futuro nada promissor.

Haviam escassas ou poucas possibilidades do Daniel regressar a casa, num dos meses seguintes ou na pior das hipóteses, nunca. A tristeza apoderou-se de mim completamente. Um homem não chora, eram as palavras que meu pai e até o meu próprio irmão Daniel me ensinaram já a algum tempo a esta parte, mas nessa altura eu era ainda uma criança e as lágrimas, soltaram-se dos meus olhos acabando por cair da minha cara.
Vocês não imaginam como é difícil e doloroso, termos de nos despedir de um irmão naquela situação. Ficámos ainda mais aflitos, quando acabámos por ouvir dois batimentos vindos da nossa porta da rua. Pareciam ser de alguém muito aflito.

Afinal a pessoa que batia á porta, era muito conhecida cá da casa e ao mesmo tempo muito importante para o meu irmão Daniel.

Tratava-se de Ângela a sua namorada!

Ângela apesar de estar a passar por momentos complicados, tinha-se arranjado e estava muito bonita para se despedir do seu namorado. Era normal para uma rapariga da sua idade apresentar-se arranjada daquela maneira. Trazia os olhos completamente borrados por não conseguir conter as suas lágrimas. Afinal,também ela estava desolada, por o governo da altura, a ter obrigado á sua separação com Daniel.

Não era coisa pouca. Tratava-se da pessoa que mais gostava.
Depois das trocas de palavras e recomendações dos meus pais, tudo foi muito rápido. Daniel de repente, já não se encontrava em casa. O autocarro na garre da cidade, não esperava por ninguém e não podia ficar mais tempo.
Á medida que os primeiros dias se passaram, todos nós sentimos a falta de alguém cá em casa.

Olhávamos constantemente uns para os outros e o relógio de pêndulo que estava na sala era o mais visto. O tempo castigava tudo e todos aqui em casa, porque levava uma eternidade a passar. Meus pais acabaram por ficar doentes e cansaram-se facilmente quando as saudades começaram a apertar. Sempre que podiam, faziam marcação serrada ao carteiro aqui do Bairro.

Mas nada.

Nem uma única carta ou palavra, chegava vinda de África aquela humilde morada, nem que fosse para confortar a pessoa que mais orgulho sentia no momento, por ter o seu filho a combater no Exército.

Com tanta ausência e o passar do primeiro semestre, ambos aqui em casa, estávamos confusos e sem saber o que mais poderíamos fazer, para ter noticias do meu irmão ou tê-lo de volta. Que se teria a passar com Daniel?
Porque razão, não teria dado ainda qualquer notícia durante todo este tempo? Os governantes, responsáveis pela sua partida, assim como todos aqueles que viajaram com ele e que de uma ou outra forma contactaram as suas famílias,não tinham respostas para justificar todo aquele tempo.Estavam destacados noutra frente de combate.

Foi por sinal num dia cinzento e chuvoso difícil de esquecer que a pior das notícias acabou por chegar a nossa casa sem que qualquer um de nós estivesse preparado para a receber.
Honório o carteiro, entregou nas mãos de meu pai, algo que o deixou desconfiado e apreensivo, com pouca vontade para o aceitar. Era um telegrama do Exército.

Finalmente eram as tão desejadas notícias do meu irmão.Seriam as respostas para acalmar toda aquela dor e ansiedade, pensava eu. Mas não! O desgosto da nossa família estava patente nos gritos de minha mãe. Daniel ao que parece, após chegar á Guiné, fora integrado numa Companhia de Comandos e todo o seu pelotão caíra numa emboscada do inimigo e não mais fora visto ou dado qualquer notícia sobre a situação dos jovens militares envolvidos naquela operação.

A Cruz Vermelha Portuguesa, tinha registado e testemunhado, que não havia mais nada a fazer sobre a terrível emboscada que ocorrera naquele fatídico dia.Não houvera qualquer sobrevivente. Não queria sequer imaginar ou acreditar que o meu irmão Daniel pudesse estar morto. Parecia-me ter sido tudo tão rápido e tão estranho, escrito apenas num pedaço de papel timbrado.

Mas infelizmente, a notícia era verdadeira. Mais famílias portuguesas naquele mesmo dia, receberam alguns telegramas a dar conta sobre o sucedido aos seus familiares e amigos. As notícias que saíram nos jornais no dia seguinte,deram uma vez mais pormenorizadamente, mais detalhes sobre uma das muitas tragédias que se abateram sobre os já frágeis corações das famílias Portuguesas. Assim, acabo aqui mais uma das minhas histórias, pretendendo com ela de certa forma homenagear todos aqueles que ainda muito jovens poderiam ter tido um futuro promissor, mas que tombaram em combate no Ultramar ainda virgens e inocentes, sem que para isso tivessem tido qualquer oportunidade de liberdade ou escolha.

GABRIEL REIS
 
AMAR e PARTIR

O Lago de Hangzhou

 
O Lago de Hangzhou
 
Da minha recente visita á China, o que mais me fascinou, foi a linda cidade de Hangzhou. Cidade próxima a Xangai com cerca de seis milhões de habitantes é a cidade que possivelmente todos os europeus gostariam de um dia poder vir a visitar. Vestida com lindos espaços verdes, rodeados por água, Hangzhou, orgulha-se de ter o maior lago artificial do mundo.

Referenciado como cartão de visita para a maioria dos jovens casais de namorados chineses, o lago Oeste como também é conhecido, levou-me a escrever esta história que passo a contar:

Contam os barqueiros que transportavam os turistas a visitar o lago, que em tempos, uma linda princesa foi acorrentada no interior de uma Bodega (torre) próxima daquele lago. Contaminada por peste, seu pai deu ordem então na altura a que a princesa fosse para bem longe dos seus aposentos, para evitar riscos de contagio com a restante família.

Passado um século, diz-se em Hagzhou, que um famoso príncipe foi pescar para as margens do lago frente á Bodega da princesa encarcerada. Ouvindo choros bastante fortes, o jovem não resistiu em ir ver o que se passava. Deixou a embarcação na margem do lago e dirigiu-se á Bodega. Aproximou-se da entrada do edifício e qual não foi o seu espanto:

Viu uma mulher bastante idosa com trajes de princesa vestidos acorrentada.
Perguntou porque razão estava a senhora ali acorrentada, mas não obteve qualquer resposta. Resolveu então regressar ao seu barco,para procurar algo que lhe servisse, para soltar as correntes.

Pegou num pequeno pedaço de ferro que fazia parte de um dos remos da sua embarcação e regressou apressadamente á Bodega. Quando regressou,para sua enorme surpresa,no lugar da idosa,estava uma linda princesa sentada. Apressou-se de imediato a soltar a jovem rapariga.

Enquanto questionava a princesa pelos motivos que estaria ali e o que teria sucedido com a velha senhora, a princesa em tom de agradecimento encostou os seus lábios aos do príncipe para retribuir a sua gentileza e sem que nada o tivesse previsto,a rapariga desfez-se em pó!
Assustado e completamente em panico, o jovem príncipe saiu da Bodega a correr e só parou na sua embarcação.

Segundo o relato da suia família,esteve acamado durante alguns meses sem que alguém soubesse do que lhe tivera realmente sucedido dentro daquela bodega.
O seu estado de saúde agravou-se e decorrido um ano, o príncipe já muito debilitado pela estranha doença veio a falecer.

O imperador em homenagem ao seu único filho, mandou erguer duas estátuas na margem do lago Oeste precisamente onde estivera o jovem príncipe e a sua princesa.•

Gabriel Reis
 
O Lago de Hangzhou

O presente de André

 
Eram seis da tarde. André olha para o enorme relógio da fábrica, ansioso pela hora de saída. Tinha arranjado trabalho na velha fábrica de conservas de peixe onde o seu pai trabalhava.
Com apenas catorze anos de idade, André teve de deixar os estudos para ajudar os seus pais.

A mãe trabalha como doméstica na casa de algumas pessoas e sempre pode contar com a preciosa ajuda de uma vizinha que toma conta dos seus irmãos mais novos quando estes não estão na escola.

Apesar de tudo, André está muito contente por ter aquele emprego. Diariamente, desloca-se algumas vezes de bicicleta da fábrica até aos escritórios centrais, que por sinal são um pouco distantes.

O único sentimento de tristeza do rapaz, surge quando passa no largo, (ponto de encontro dos seus amigos) e repara que estão todos juntos, preparando as suas brincadeiras e passeios nas suas bicicletas.

André é muito pobre e as dificuldades dos seus pais nunca possibilitaram que o rapaz tivesse uma bicicleta própriamente sua, pelo que sempre que pode, goza e desfruta da que utiliza nas horas de trabalho que é pertença da empresa.

De vez enquanto, vai namorar a bicicleta vermelha que o Sr. Fernando tem na sua loja para venda. Está para breve, a compra da bicicleta vermelha ao Sr. Fernando. O rapaz é muito poupado, tem já em seu poder praticamente todo o dinheiro necessário para a compra da bicicleta ao comerciante.

O fim do mês está para breve e só já faltam dois dias.Era finalmente,fim do mês,André apressou-se a sair da fábrica em passo acelerado. Dirigiu-se á loja do Sr. Fernando.

Este quando viu o rapaz entrar pela porta dentro com a alegria e brilho nos olhos, calculou logo que estava para acabar o namoro da bicicleta vermelha.

Tlim! Tlim! Soltava a bicicleta repetidamente, quando o rapaz puxava pela sua campainha brilhante. A primeira paragem teve de ser obrigatoriamente no seu bairro junto ao grupo de amigos.

Todos elogiaram a nova aquisição do seu amigo. Como a praxe de mais uma bicicleta ao grupo, resolveram ambos os rapazes terminar o final da tarde fazendo uma deslocação de bicicleta ao Alto dos Moinhos.

André que tinha muita perícia a andar de bicicleta, desta vez foi o ultimo a chegar ao ponto de encontro. Não estava nada interessado em logo no primeiro dia, danificar a sua preciosidade vermelha.

Os rapazes tinham levado uma bola de futebol e como já era habitual, decidiram guardar as bicicletas dentro de um dos moinhos que se apresentava em melhor estado, para assim jogar descansados. O André concordou logo com a ideia pois assim, tinha a certeza que a sua bicicleta não levaria boladas nem riscada.

Ninguém deu pelo tempo passar,tal não era o entretenimento.

O sol estava praticamente a pôr-se.Um dos rapazes, resolveu então agarrar a bola e acabar assim o jogo. Todos se dirigiram ao velho moinho.

André gritou e soltou um tremendo palavrão e de seguida meteu as duas mãos na cabeça. A sua bicicleta vermelha tinha desaparecido. Alguém aproveitara o facto dos rapazes estarem concentrados no jogo de futebol para roubarem aquilo que tanto custara a ganhar ao jovem rapaz.
Os olhos de André estavam lavados em lágrimas.

Todos os seus amigos, foram poucos para o confortarem perante tal perca. Tinha passado muitas dificuldades e feito muitos sacrifícios para poder comprar aquela bicicleta vermelha.

O relógio continuava a andar e todos tinham de regressar a casa. Antes certificaram-se que não havia sinais da bicicleta de André naquelas redondezas.

Nenhum dos rapazes teve vontade de pedalar até casa. Ambos levaram as suas bicicletas mesmo à mão.
No dia seguinte, o Sr. Fernando soube do que sucedera ao rapaz.
Foi com a chegada da quadra natalícia que o Sr. Fernando surpreendeu todos os amigos e colegas de trabalho do André.

Começou por desvendar um segredo que tinha já algum tempo. Seu pai tinha-lhe oferecido uma bicicleta quando andava pelas idades do André. Era muito cuidadoso e tinha a bicicleta ainda em muito bom estado e guardada na sua garagem.

Estava guardada na expectativa de um dia, vir a oferecer a um filho seu.

Mas isso infelizmente, nunca veio a acontecer,não teve filhos e resolveu então dar de presente e oferecê-la ao André no dia de Natal.

Gabriel Reis
 
O presente de André

O mensageiro do rei

 
O mensageiro do rei
 
Há muitos anos, um rei que vivia na Escócia, enviou o seu mensageiro ás terras dos Três Sábios. O rei Alex, estava a envelhecer. Olhando-se ao espelho, não havia margem para dúvidas, a figura que via á sua frente, era de um velho cheio de rugas e cabelos cada vez mais brancos. Imaginem que até o Bobo da corte aconselhou o rei a procurar a planta da juventude.

O rei Alex mandou então chamar até si o seu mensageiro, um rapaz muito competente e que se chamava Sidney.A missão do mensageiro era muito difícil, se não quase impossível de concretizar. Tinha de encontrar as Terras dos Três Sábios, passar o Bosque Assombrado e se tivesse sorte no final, encontrar a milagrosa planta da Juventude no Lago Negro.

Alex acordou muito cedo ainda o sol não tinha nascido. A viagem ao sul da Escócia, era muito longa por isso levou mantimentos para cerca de uma semana. Pôs -se finalmente a caminho.
Chegou a uma pequena aldeola antes do almoço. Foi recebido pelo chefe da aldeia que o questionou sobre o que faria por aquelas bandas tão solitária criatura? Ao saber da sua missão o velho aldeão, informou o rapaz de que a terra dos Três Sábios de que procurava, não se encontrava assinalada em mapa algum. A única pessoa que recorda que conseguiu dar com aquela planta da juventude tinha sido o seu avô paterno. Esse feito tinha conseguido graças à ajuda de uma candeia Mágica que o seu bisavô tivera dado a seu pai como presente, quando este fizera anos.
-E o que é feito da candeia? Perguntou Alex
Ainda a guardo! -respondeu o aldeão
De repente o rapaz ficou com um enorme brilho nos olhos. Que estaria a pensar? Interrogava-se o chefe da aldeia.
-Empresta-me a sua candeia que a devolverei quando regressar da minha missão? Pediu o jovem mensageiro.

Vejo que posso confiar em ti meu jovem rapaz respondeu o velho aldeão. Despediu-se das pessoas da aldeia e lá continuou Alex o seu caminho muito contente de candeia na mão. Estava a escurecer e o mensageiro parou para acender a velha candeia Mágica. Estava muito confiante por ter na sua posse uma candeia Mágica. Finalmente encontrou a terra dos Três Sábios. Havia uma placa que assinalava a região. Passou a placa e reparou que só haviam três casas. Espreitou por uma das janelas de uma das casas e rapidamente ficou a perceber que ninguém ali morava. Estavam desabitadas parecia fazer já algum tempo.

Continuou então a sua caminhada. Passado algum tempo, vê uma enorme escuridão á sua frente. Estava finalmente muito próximo do Bosque Assombrado. Mas que horrível aspecto tinha as arvores. Pareciam ter saído de uma verdadeira assombração, com a candeia podia ver enormes teias de aranha nas arvores mais velhas. Haviam por ali imensas árvores mortas. O vento murmurava por entre os pinheiros muito altos, dando a sensação que as almas se tinham reunido ali naquele bosque para um ajusto de contas. Estava cansado mas nem por isso, pensou sequer em parar ali um minuto para pernoitar. Estava decidido a encontrar o mais depressa possível o Lago Negro e com ele a famosa planta da Juventude.

E assim foi, já mais á frente, podia ouvir agora o barulho ensurdecedor das rãs dentro de água. Era o Lago Negro. Aproximou a candeia da água e podia ver que o fundo do lago era realmente muito negro. Só deixava ver lodo escuro e muitas folhas de nenúfares. Onde estaria então a planta da juventude?

Aproveitou então para ficar por ali e pernoitar. Tinha tido um dia muito cansativo. De manhã com a luz do dia, procuraria melhor onde se encontrava a tão desejada planta.
Adormeceu e sonhou com a famosa planta da juventude.

No dia seguinte abriu os olhos e nem pôde acreditar no que os seus olhos viam:
Estava deitado num local nada parecido com aquele que tinha visto no Lago Negro. Estava por incrível que pareça, dentro do castelo do rei Alex e sua majestade estava mesmo á sua frente. Ao contrário do que o rapaz possa ter pensado, o rei estava muito feliz. Mas porque seria? Pensava o mensageiro confuso e baralhado da sua cabeça e ao mesmo tempo a tentar perceber o que realmente se tinha passado com ele e com a sua aventura no Lago Negro.

Estás melhor? -perguntou-lhe o rei
-Estou! mas... o que me aconteceu? Como vim aqui parar? E o Lago?
Está tudo bem contigo! Os aldeões da localidade mais próxima deram contigo caído no chão. Ao que parece caíste do teu cavalo e perdeste os sentidos. Estivestes em coma profundo cerca de dois dias.

-E a planta que o meu senhor queria? Como posso ter falhado a minha missão? Lamentou-se o jovem mensageiro ao rei.
Não faz mal! Já desisti da ideia de deixar de envelhecer. Afinal pensei bem e tenho mais amigos com esta minha idade do que com a tua, por esse facto, acho que aprendi com a idade coisas muito mais importantes que não faço questão de partilhar com mais ninguém. E assim, por estranho que possa parecer, o rei Alex depois de ter tomado a sua decisão, passou a ter um aspecto muito mais jovial e a ser mais cuidadoso com o seu visual.•

Gabriel Reis
 
O mensageiro do rei

O Mendigo de Veneza

 
O Mendigo de Veneza
 
Cai a noite, nas ruas de Veneza. Candeias de outros tempos, substituem a luz do dia, proporcionando um ambiente romântico a esta magnífica e bonita cidade.

Mozzeli, um mendigo conhecido das ruas, aproveita a desertificação, para procurar algo para confortar o seu estômago.
Os gatos vadios, seguem-no em fila Indiana, esperançados em receberem algum donativo, daquela criatura de bom coração, que reparte o pouco que encontra, com os felinos que lhe fazem companhia.

Olhando a escuridão do céu, Mozzeli, compara aquela noite de Natal, com tantas outras, que já passou. Está um pouco mais fria,em comparação à do ano passado, pensou ele. Mas a verdade é que o frio não o incomoda assim tanto. Tem pelo menos três camisolas de lã por dentro do seu casaco e isso basta-lhe. O que lhe incomoda de facto, isso sim, é a desconfortável dor no estômago.

A hora naquele momento, não é muito favorável
para que as pessoas deitem os seus restos fora.
Talvez só depois de toda a gente tomar as refeições, arranje alguma coisa para comer, pensou, reparando que no interior de um contentor, não estava absolutamente nada.

Aproveitou para passar uma das pontes, para o outro lado da rua. Sentou-se então num dos degraus da ponte e ali ficou sentado, a aguardar que a sorte o visitasse. Inevitavelmente deixou-se dormir.

Foi então acordado por um sujeito, que se apresentava de trajes um pouco estranhos, para aquela época natalícia. Tratava-se de alguém, que procurava um seu amigo naquela cidade, com o nome de Carlo Vozzeli, que já não via á imenso tempo. Mozzeli lamentou-se por não poder ajudar aquele estranho sujeito.

Não conhecia o homem, nem ouvira falar, do nome de semelhante pessoa.
Por via das dúvidas, o estranho deixou um pedaço de papel, com o seu contacto, não fosse Mozzelli encontrar por ali aquele seu amigo.
Olhou para o pedaço de papel e reparou no nome da pessoa que lhe deixara aquele papel. Chamava-se então, NICOLAU.
- Nicolau? Mas que raio!

Não se conteve e soltou um enorme palavrão. Como poderia ainda haver pessoas á face da terra, tão insensíveis à desgraça de um ser humano?
Mas não se tratava de nenhuma brincadeira!

Uma criança de Veneza, preocupada com a vida do mendigo, escreveu ao Pai Natal, para ajudar aquele pobre homem, a ter pelo menos, uma consoada com dignidade. Quando Nicolau questionou o mendigo se conhecia o seu amigo, ou onde o poderia encontrar, estava a falar verdade.
Mozzeli era nome falso.

O mendigo adoptou então aquele nome, quando á uns largos anos atrás, a sua família o deixara, por ter perdido o seu antigo emprego na velha fábrica de lãs em Verona. Decidiu que a partir dessa data, nunca mais ninguém o conheceria por tal nome.

GABRIEL REIS
 
O Mendigo de Veneza

A casa Misteriosa

 
A história que vou contar, passou-se na segunda metade do século xx, em plena Serra da Arrábida.

No cimo das colinas, entre vegetação e árvores centenárias, está uma casa de aspecto sombrio, que muito tem despertado a curiosidade dos que ali moram.

A sua construção é de 1951. O seu proprietário, um antigo industrial, que se dedicava à fabricação e comercialização da cerâmica, residia em Leiria e mandou então na altura, construir aquela casa. A sua intenção, era deixar Leiria e vir morar para Setúbal.

A construção da casa, durante três anos, esteve a cargo de um famoso arquitecto que era muito solicitado pela maioria dos empresários da época. Antero de Bastos, o empresário, á muito que comentava com a sua mulher, Maria José, a intenção de realizar um velho sonho: Ter uma casa de campo,com vista para a Serra da Arrábida,em Setúbal. Apesar do negócio não correr lá muito bem, o casal vivia sem dificuldades financeiras e Antero conseguiu realizar o seu projecto.

O facto de não terem filhos, ajudou e muito, a convencer a mulher a ir viver para Setúbal.
Com eles, veio também um velho amigo do casal, o cão Rolli.
Quando chegaram à nova casa, uma pessoa idosa observava a chegada do casal com alguma curiosidade. Como poderia alguém, morar num sitio tão bonito, mas escolher uma casa tão feia, que mais se parecia com a casa do terror ?

Antero de Bastos, estava fascinado e ao mesmo tempo realizado, por disfrutar de toda aquela magnifica paisagem do verde da Serra e o azulão da cor do mar.
Contente foi até ao seu quarto, abriu uma das janelas e deslumbrou-se mais uma vez, com o cenário panorâmico que lhe mostrava agora a linda península de Tróia. Reparou que por baixo da sua casa, a uns escassos metros, podia observar o enorme convento de S. Francisco Xavier onde em outros tempos, ali tinham vivido algumas figuras da nossa cidade.

O convento tinha nessa altura cerca de 540 anos, as palmeiras plantadas no pátio, davam-lhe um ar totalmente africano.
Mas o homem que tinha realizado o seu sonho, estava longe de saber o que lhe reserva o seu futuro. Antero de Bastos, veio a falecer mais tarde, pouco tempo depois, vítima de um cancro nos intestinos. Maria José tinha acabado de perder o amor da sua vida e as razões para ficar ali sózinha naquela casa, não existiam mais. Agora, nada a prendia àquele local.

Rolli amaldiçoado pelo destino, não regressou a Leiria com a sua dona. Após a morte do seu dono, desapareceu por entre o mato e não mais foi visto, nem sequer apareceu. Maria José chegada a Leiria, pôs a casa á venda, mas estranhamente nunca apareceram quaisquer interessados em comprar a casa. Correram rumores, que nunca ninguém ali conseguiu morar. Uma família que ali residiu, contou que não conseguiam dormir á noite, porque ouviam vozes estranhas acompanhadas de choros de crianças,que mais faziam lembrar coisas do outro mundo.

Os últimos corajosos que lá moraram, foram um casal de africanos, que por falta de condições financeiras, ali estiveram gratuitamente, mas rápidamente acabaram por a abandonar, ivocando as mesmas razões de outras pessoas que já ali tiveram estado.

A casa já esteve pintada de várias cores, hoje apresenta-se de amarelo vivo, talvez para encorajar alguém ali a morar e quem sabe, finalmente acabar com o mistério.•

(dedicado a Maria José)

Gabriel Reis
 
A casa Misteriosa

O Gato Pintão recebe um hóspede

 
O Gato Pintão recebe um hóspede
 
Pintão anda ultimamente com um certo pressentimento. Ouve os seus donos falarem com alguma insistência de um gato chamado Faraó. O irmão do seu dono, tem um gato de raça Siamês de cor cinzenta, que se chama Faraó. Todos os que conhecem Faraó,dizem que é muito meiguinho e mansinho. Claro que essa opinião, já não tem Pintão.Já tivera problemas com o gato quando estiveram a algum tempo juntos.

Acontece que o pobre senhor tem de ser internado para ser operado. Como vive só com o seu animal de companhia num apartamento, pediu ao irmão para ficar com o Faraó enquanto estiver no hospital.
Mas porque razão, os seus donos têm de aceder ao pedido do irmão? Interroga-se Pintão recordando-se de que já tivera tido problemas uma vez com Faraó, quando teve de partilhar o mesmo espaço com aquele vaidoso.

Ao contrário de Pintão, Faraó não foi adoptado e sempre era de raça, o que causava entre os gatos alguma rivalidade.
A campainha tocou naquele preciso momento. Ali à porta da entrada de sua casa,estava o solteirão do dono do Faraó. Pintão tinha os dias estragados! A transportadora do sujeito,trazia o antipático do gato Siamês.

Após algumas trocas de palavras entre os seus donos, sai finalmente da transportadora com a coleira de sempre, roxa e cheia de brilhantes, o Faraó.
Pintão observa, que o dono do Faraó, entrega uma caixa completa com várias doses de comida enlatada para a estadia do seu gato.
Faraó deu então pela presença do Pintão. Porque razão, pensaria aquele gato, que era mais importante do que ele? Pensava Pintão, enquanto o novo hóspede aproximava-se dele, para o vir cumprimentar.

Sem que alguém pudesse imaginar, faraó rufou zangado e de seguida, deu uma violenta fatechada ao Pintão.
Estava lançada a confusão:
Quem pensava aquele gato que era? Perante tal atitude, Pintão ripostou e com um salto atirou-se ao agressor e cravou-lhe uma tremenda dentada no pescoço. Ouvindo os mianços tão intensos, a dona de Pintão, entrou de imediato na sala para saber o que se estava a passar.

Ficou apavorada quando viu o Faraó pendurado pelas unhas, nos seus lindos cortinados, tentando agarrar o Pintão, que estava em cima da cristaleira para não se deixar apanhar.
Faraó estava decidido a vingar-se do gato por qualquer preço. Foi então que a Sr.ª decidiu agarrar o bichano para tentar salvar o que restava dos seus cortinados. Faraó não gostou e enterrou as suas unhas afiadas na infeliz senhora.

Por sorte o seu marido também ouviu a barulheira. Deslocou-se à sala e não gostou nada do que viu. A sorte não estava decididamente, do lado do Faraó. Levou com uma das botas de água que o dono de Pintão tinha calçadas e saiu da sala em retirada. A batalha tinha acabado! Pintão foi agarrado pela sua dona e estava agora muito assustado, mas grato por ter ainda o seu pêlo de vários tons de castanhos intacto.
Pintão depois de tudo isto, ouvia agora com enorme satisfação, o seu dono a falar com o irmão ao telefone, para este vir buscar o seu gato e procurar outras pessoas que pudessem ficar com ele.

GABRIEL REIS
 
O Gato Pintão recebe um hóspede