Não julgues uma estrela… pela distância dos seus dedos ou inercia dos seus raios…
mesmo escondida
nos arbustos
do céu
eu te amo
diante
do nublado dos teus olhos
mesmo no outro lado
da noite
apresso os raios
para te acordar
com a luz dos meus braços
mesmo ausente
na tristeza
cerrada
do teu rosto
sei que a minha chegada
destrancará
teus doces lábios
Gaivota longe do mar
quando o sol
murcha na dobra do céu
seus olhos fecham-se em sal
e a saudade
nasce
a marear
as ondas
do rosto
é assim a menina Gaivota
e o seu desgosto …[ o de não poder voltar
ao mar do seu porto ]
mas ainda existe
uma brisa de esperança
nos dias mais ventosos
nesses dias
suas penas
viraram remos no vento
suas asas
velas de pano
nesses dias
uma força renovada
apodera-se de sua alma
e a vontade de regressar aos azuis de sua casa
está ali tão perto …
a uma braçada de água
a um mergulho de ar
O que sobra de um amor entre uma onda e uma rocha é a espuma …amarga da doçura …
que cantas
tu …
menina gaivota
com uma lágrima
da chuva
que não é tua
e um firmamento
no peito
iluminando
um coração andante
que procura
O santo graal da ternura!?
por amor… escuta os meus saberes:
jamais
se pode sarar
as feridas
de um coração
sangrando amor
é como
parar
um mar
nascendo ´
de dentro
para a rua
com as mãos
servindo de tampo
haverá
sempre
a ternura
em forma
de amargura
trespassando
os dedos dos olhos
os olhos dos dedos
a pele nua da gente …
alagando
todas as partituras
do silêncio
Olhar de Avó Mãe
a saudade mantém os olhos novos
como se fossem botões
de ouro
de um sofá usado
no entanto quem olha neles
observa
o líquido amniótico de que são feito os sonhos
repara
na esperança viva
depois do tempo pisado
espreita o aglomerado de promessas que o coração faz
nota a veracidade da alma na hora de amar …
e quando os olhos que nós olhamos, vêm um filho a chegar ….
o bailado das estrelas começa
para lá das margens
envelhecidas desse olhar sempre moço
foste demasiado num período sem nada... e acabaste por ser nada também
por vezes,
calamos as palavras
audíveis cá fora
mas cá dentro,
jamais podemos calar o coração …
ele grita com a saudade tão alta
e o timbre de uma lágrima
tão sóbria …
resta-nos o afeto
de um futuro adiado ...
de um passado
difícil de ser presente
diante dos nossos passos
resta-nos o sonho
e o amor
contrariado
pelo caminho
escolhido
fica a vontade
convertida em saudade
de te amar
até à infinidade
Não te abandono porque te amo
A palavra
Foge da alma
Desmentindo o coração
Logo que te vejo
Saindo
Com as malas nos pés
E te digo - vai
Querendo dizer - fica
E silencio o “amo-te”
Num grito estranho
De pura mentira
Quero que regresses
Com a pressa mais rápida
Como um anjo
A caminho de uma barriga
Assim que chegares
Está um abraço
Pendurado
Junto da chaves
Do carro
E a esperança
Embrulhada numa vida
Caminha(dor)
falta menos caminho
para o fim
do que regressar
ao início
quando assim é
só nos apetece
ir de bicicleta
e não a pé
acabar com o martírio
de andar
sobre os espinhos em brasa
quero chegar a casa
e estar
com aqueles
que já chegaram
antes da hora
nestas andanças trilhadas
andeiros como eu
gostam de fazer balanços,
recordar feitos distintos
façanhas incomparáveis da alma
pouco tenho a dizer
do passado
para lá dos passos
gastos
nunca fui um grande amor
para ninguém
e os amores que tive
já se esqueceram de mim
de tão ruim
que foi
o afeto
aquinhoado
nos seus íntimos
o amor que dei
não tatua o tutano
de um único âmago
não semeou
um único coração
com pungentes
sentimentos
fui aquela água
que não matou a sede
não refrescou a carne
secou a floresta
ainda semente
por isso
olhar para trás é pecado
resta
continuar
a pisar o pisado
seguir o rasto
daqueles que passaram
afinal
o maior perigo
do caminho
é ficar parado
e recordar
sozinho
os passos
por dar
Caminhando sem os cardeais mas com as suas poeiras
Recuso a dar mais um passo oco
Já que não posso apagar a poeira dos antigos
Que não me levaram a lado algum
Resta-me organizar os novos passos
Redesenhar novas rotas
Uma nova direção
Ligar os pés ao coração
Primeiro passo, dar um passo novo
Segundo passo, dar a vez ao terceiro
E continuar a seguir o exemplo do primeiro
Seguir a sabedoria dos viajantes e das jantes
Pensar que o melhor está adiante
Em frente é que os olhos crescem
Atrás dos montes é que os tesouros se escondem
O horizonte adormece no lugar mais bonito do mundo e vou ser o seu testemunho
As fronteiras distantes não são feitas de cercas, mas sim de rios e de ribeiras [vou molhar os pés e as meias]
A língua seca porque a sede está na descoberta
Podemos chegar á grande meta, se dividirmos a grande por pequenas, ao longo do caminho …
Talvez chegue a pé ao pé de ti, nunca numa jangada ou de um veículo agrícola
Talvez te toque no ombro e diga “amo-te” num ligeiro silêncio
Um amor por brotar… merece ser flor no meio do nosso peito
as braçadas contra à maré
trazem-nos ao lugar de sempre...
…a este firmamento de palavras cadentes
e aqui estamos …
vertendo o sonho, pelas raízes do corpo
querendo
muito
um o outro
e já passou tanto tempo
tempo suficiente para nos esquecermos...
...mas ainda temos o perfume da pele, entre os dedos
...mas ainda sentimos, os corações tão próximos
...mas ainda lembramos, com a doçura dos olhos… os olhos …
A montanha do amor tem trajetos de dor
fio de som
entre uma ferida em lágrima
e a calma intocável
de quem sabe que o amor é assim…
... uma estrada fechada sem sinais nem marcas …
mesmo assim
existe uma esperança difícil de explicar
que nos faz avançar
pelo trilho proibido
que nos leva
ao cume e ao precipício
mais perto
do azul claro
e do brilho das almas