Nem sempre há flor por onde for
Minha carência é borboleta buscando néctar de flores que brevemente irão morrer;
no colo de algum outono
ou no choro de algum inverno.
É quando a primavera encontra um canto para tirar um sono.
Minha borboleta tem sede de flor.
Quer se embriagar
borboletando ar de amor...
Sem mais seda pra
pousar e sem cores
pra se camuflar, a borboleta voa sem rumo, asas sem descanso tremeluz sem plumo; o voo se desmancha quando alimento não alcança.
Ah minha borboleta!
Por onde perdeste as asas? Agora és esta lagarta que se arrasta
atrás de casulo pra se guardar
Mas casulo só abriga lagarta que
ainda vai debutar.
Um passo depois do tempo
Houve um lugar, não sei se existiu ou se fui eu quem o inventou para não desaparecer por completo. Era feito de tardes douradas e silêncios que abraçavam, com cheiro de terra molhada e o barulho manso de coisas que não precisavam de ostentação para se revelarem.
Hoje tento tocar seus contornos, mas o tempo é um apagador de desenhos ultrapassados. Caminho por ruas que não reconhecem meus passos, casas que não me olham de volta. O que foi morada virou miragem.
Um lugar perdido não tem endereço, apenas mora nas dobras da memória onde os relógios não funcionam e as portas rangem sozinhas. Tento alcançá-lo às vezes, em noites onde a saudade fala, mas ele escapa, como quem ainda me ama e, simplesmente, não sabe como voltar.
Talvez o lugar não tenha se perdido. Quem sabe mudou de roupa, de nome, de pele... Ou talvez eu que esteja perdida, vagando entre ruínas de um tempo que só eu ainda habito.
Ausente, aquele lugar ainda molda-me.
Ainda que minhas paredes estejam caídas, que meus jardins já tenham secado, que eu tenha caminhos que não levam mais a lugar nenhum, há certa beleza em meio a neblina: o lugar perdido ensina-me que há eternidades que só existem dentro da gente.
Quando chegar o amanhã...
Havia calçadas
guardando ruas
com vestidos da cor do verão dando abraços à primavera.
Brotando do chão,
muitas quimeras também nas bocas e pelas mãos. Risos e palavras eram pipas coloridas no céu que não dormia;
Estrelas estavam ali, brilhando escondidas para não espantar o dia.
Algumas vezes meu olhar pedia lua, mas teus lábios atrevidos não deixavam anoitecer o que acontecia...
Viver e amar, amar e viver com ousadia.
Pétala desmembrada
Colhe-me flor quando não
sabes que sou apenas pétala
de uma flor maior
Como saia, ergueu
as pétalas
que o vento com
rigor não perdoou
Mirabolante fui ao
ar, navegando em
nuvens e foi tanto
azul no céu que me
afoguei pensando que fosse mar
Para cair na palma do amor, pétala, parte passional da grande flor, eu sou...
Enquanto lá, sapiente no grande chão, ela fica
perfumando a razão, incentiva-me a sempre
a galopar no vento
e ser dela a parte louca da emoção.
Colhes-me como flor
mas tenho mãe.
Pequena parte pra poema de amor, simples pétala dela, sou.
Torpor
Quando te alcança um tempo
onde tudo já tem nome, tudo ja tem cheiro e até as dobras do vento tem cor e o céu
da boca já se estrelou de sabor ,
nada mais te estremece; nem espinho, nem frio,
nem ferida... nem amor
Secas
cambaleantes
sem sucesso
de horizontes
sede e fome
traça linha pontilhada
pobre verso
boquiaberto
peregrino,
seco de nuvem
de inverno
deixa rastros
fracos no caderno do deserto
Canto do rio
Na beira do rio chegamos
eu, o crepúsculo, o violão e a solidão.
O céu trouxe os pássaros e a brisa
e, de carona, folhas encheram o ar.
Também chegou a saudade
pra garantir o seu lugar. Trouxe consigo um sorriso
pra que no tempo eu pudesse voltar.
Quando o violão lançou notas no ar, a solidão não quis mais ficar.
E o rio...
Seja eu o caule, não a flor
Seja eu o caule, não a flor.
A flor é a oferenda
o caule, o doador.
No principio de que
quem doa, muito recebe,
sempre terei em mim
uma flor e seu olor.
Homem
Vermelha, no topo
da torre fria, treme uma bandeira.
Existe quem diga que não; que é mão,
afastando do peito, o coração,
pra não sofrer desilusão.
Eis o castelo!
Seu salão pra festas nunca se encerra. De portas e janelas sempre abertas pra borboletas, cinderelas e
julietas
sensibilidade
Existe uma poesia para cada pessoa ,mas, nem toda pessoa é sensivel o suficiente para acolher sua poesia.