BEIJOS
BEIJOS
Desfilam em cascata os fios cálidos da água
Filtrada nos lábios de quem bebe noutros lábios
A seda dos beijos jubilosos
E a lua de cristal a sorrir.
Fome insatisfeita em campos de lírios
Numa eterna e débil marcha
Inquieta de martírios.
As flores, um dia, hão de florir
em cisnes elegantes e mansos
De beijos fermentes
E as pegadas serão leves nas torrentes
dos beijos que um dia me hão de, enfim, cobrir.
Ana Maria Casaca
MUROS
MURO DE JARDIM
Sentei me junto ao antigo muro do jardim escondido detrás do velho casario.
Tinha um rosto desgastado e distorcido por ter conseguido sobreviver às erupções do tempo.
As luzes distantes eram como chamas de fogueiras que lhe iluminavam e faziam cintilar os seus esverdeados tijolos.
Sim, esverdeados..., porque próximo estavam seres de energias estranhas que misteriosamente lhe embelezavam o rosto.
A máscara que apresentava faziam- no afastar dos vestígios fúnebres que por ele tinham passado.
Estava preso no presente, submisso à miragem secreta que, rendido, fazia do passado.
Irrefletido, deixou-se dominar pela opulência do jardim e deslumbrou-se pelo espaço que lhe comprimia docemente os tijolos.
Nunca imaginou, aquele antigo e velho muro de jardim, que já era idoso;
Que o tempo tinha galopado, qual "Cavalo Alado" e reduzira-o a uma singela e esquecida presença, naquele recanto, onde eu gosto tanto de me sentar.
Conta- me histórias escondidas de outros ouvidos e eu..., divago no tempo..., como uma sentinela rendida aos seus encantos.
Lembra-me, que um dia, também eu serei igual àquele velho muro de jardim.
Ana Maria Casaca
ENTARDECER
A maré traz de volta o rugir do silêncio, o eco da nostalgia e a fúria louca das águas.
A maré bate forte a arranca as pedras duras da rocha espigada.
As dunas desfazem-se e afogam -se nas lágrimas do mar.
São levadas para longe, enleadas nas correntes que o bater engasga.
Sobre o monte branco de espuma paira a raiva que corrói a vida e que com avidez a enterra nas braçadas mareadas da dor.
O sol mastiga a morte e saborei-a ao tombar da noite, ao cair do pano, deixando a nu o caminhar desfeito sobre as águas.
A renúncia é posta à prova nas horas esquecidas em que a maré vai e volta.
Águas revoltas, em fúria, que ficam paradas ao gemer da mente, ao cansaço que esmaga um sentir diferente.
Águas de marés sentidas, nos pés descalços, das horas mortas que findam ao entardecer da vida...
Ana Maria Casaca
BEIJOS
BEIJOS
Desfilam em cascata os fios cálidos da água
Filtrada nos lábios de quem bebe noutros lábios
A seda dos beijos jubilosos
E a lua de cristal a sorrir.
Fome insatisfeita em campos de lírios
Numa eterna e débil marcha
Inquieta de martírios.
As flores, um dia, hão de florir
em cisnes elegantes e mansos
De beijos fermentes
E as pegadas serão leves nas torrentes
dos beijos que um dia me hão de, enfim, cobrir.
Ana Maria Casaca
MÃE
MÃE
No meio das lágrimas que molham meu rosto,
Em rios de saudade que habitam na minh' alma,
Te encontro, mãe, meu supremo altar,
No esplendor do sol que o coração acalma.
Nasci do ti na calada na noite
Por entre vozes entrelaçadas no espaço,
Desbravei caminhos em campos selvagens,
No doce embalar do teu abraço.
Deste me a força que a vida requer,
Sem nada em troca poder oferecer-te
Despida de nadas com tudo pr'a dar
No teu corpo forte, de doce mulher
Na força de mãe que só tu entendes,
Iluminaste- me a vida em momentos de dor,
Quebrei amarras, fui livre no tempo,
No afago quente do teu doce amor.
Quando um dia também eu partir,
Minha mãe querida, espera por mim,
Quero encontrar te na calada da noite,
Livre da vida mas perto de ti.
Agradeço te, mãe, por estares a meu lado
Nesta impetuosa e fugaz caminhada,
Por teres respeitado os erros e os sonhos,
Por me sentir sempre por ti amada.
Ana Maria Casaca