Poemas, frases e mensagens de shen.noshsaum

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de shen.noshsaum

Soneto do círio que arde no lampadário

 
“Deu causa a usar, ao ver-me, essa esquivança
Talvez e ao seu silêncio: assim pensando
Maior piedade do seu mal me alcança”.
Ao rochedo chegamos praticando,
Donde outro vai divisa-se: o seu fundo
Todo se vira, a luz não lhe faltando.”

A Divina Comédia – Inferno – Canto XXIX

A tortura recrudesce enquanto arde o círio no lampadário,
n’único pensamento queim’alma, árido sentimento fraterno;
dor recorrente de dias passados em tormento temerário,
sem misericórdia cobrindo-me negra cinza, sofrer eterno.

Harmonioso silêncio! Ainda não vejo fachos no’spaço aéreo,
mor o dom intimista os separando da imensidão dos mares;
dúbia a majestade evoca simpatias do firmamento etéreo,
escuridão paira onde há montanhas no meio ofuscando ares.

Legítimo o silêncio! Confesso ser apenas criatura vulnerável,
ao transcender limbos serão os dias confundidos com delírio,
inoculada liberdade, noites conturbadas, procura incansável.

Caídas as asas, não mais posso ver estrelas neste martírio;
me quedo e aguardo, os olhos suplicantes , peito corrompido,
negras nuvens avizinham. Sem essa presença, sou consumido.

[ e consome-se a alma em turbilhões insanos....

nos desertos d’ estrelas, candentes da mais pura....

aleivosia .]
 
Soneto do círio que arde no lampadário

“veniam sine”

 
" Nem colhe os cabos nem as velas ferra,
Odiei quanto houvera mais amado
E humilhei-me confesso e arrependido...
E o perdão, ai de mim! fora alcançado..."

Dante Alighieri - Inferno, canto xxvii, ver. 84/87



na noite branca, esfregas as mãos. semblante áspero, aspecto sisudo
tentas obter um pouco de calor, como se as mãos assim esfregadas
meio às brumas de uma noite de inverno - pessoas vestem veludo -
trouxessem algum pouco de calor ao corpo inteiro, energias renovadas.

[e também]

uma janela de vidro fecha-se rapidamente. encerrando no calor do quarto
tens desejos de arrependimento, mas...nem pensas em querer pedir perdão.
teu arrependimento nada valerá. jazerá solerte . silente ficas enquanto parto

( és hipócrita)

..

por que ...

uma janela de vidro espancada pode abafar o som exterior,
tua voz não atravessa e vai refletir reflexos de raios do luar
seu arrependimento, grãos de areia arremessados ao redor
erro de juízo, ninharia palha ardendo sem deixa cinza voar.

teu arrependimento. jamais seja uma ponte para satisfazer
os caprichos de uma alma atormentada aguardando um milagre.
primavera passa, árvores preparam-se firmes no solo sequer
uma raiz solta da argila, nem uma folha que seiva não consagre

enquanto isso ...

aves cruzam o céu levando no bico os fragmentos angariados
construção de um abrigo seguro. dia e noite, haja chuva ou o sol,
teu sentimento continua cego. não te vejo nada fazer, denodados,
ingentes trabalhos apenas contemplar da insensatez triste rol

O mundo lá fora é imprevisível, teus desejos mesquinhos
não serão satisfeitos ante simples lágrimas cruas
pedes o perdão, ou voltas pelos mesmos turvos caminhos

então ...

teu sonho será em vão. um sonho curto pode ser muito pouco,
mas é muito diante de nenhum sonho, são desesperanças tuas
vertendo copiosas lágrimas sem perdão diante de ouvido mouco

Mas quando alguma vez foi

um diferente ?
 
“veniam sine”

soneto da alma que queima

 
“ E da entrada não longe ainda estando,
Eis um clarão brilhante divisamos
Das trevas o hemisfério alumiando.

Dali distantes ainda nos achamos
Não tanto, que eu não discernisse em parte
Que à sede de almas nobres caminhamos.”

A Divina Comédia - Inferno – canto IV

Imagem na janela sem cortinas que treme ansiosa,
meio à escuridão da noite, seja por glória ou poder;
observando a alma mesmo a queimar, chama ditosa
da imortal desventura, no âmago não quer entender.

Novamente ao ledo triunfo assente sua vida remota,
saberá por que sua alma queima, quem a ela domina.
Poderá prever onde a procela vai soprar, qual a rota,
vaticinar de que bizarro ninho a tempestade germina

No turbilhão dos seus desejos, rio tangível se aquieta,
estafado das realidades cruas dos dias, alma saudosa,
logo assoma ágil e rápida e aos assombros interpreta,
fugindo de palavras habituais faz da lição proveitosa.

Sempre haja curso luz do dia, desde aurora errante,
a deixá-lo contar sonhos envoltos e clarão brilhante.
 
soneto da alma que queima

Soneto dos bucos apartados

 
“ Como cada um se agita acelerado,
Com implacáveis unhas se mordendo,
De raivoso prurido atormentado.
Iam da pele as crostas abatendo,
Como a faca do sargo arranca a escama
Ou de peixe, na casca mais horrendo.”

A Divina Comédia – Inferno – Canto XXIX

De tosca a pele abjeta, mas você vê o bastão,
sob fileira de arcos cada, como eu vi o maior;
o vento a vencê-los, agitou em mesma direção,
a triturá-los! Dos mil pecados deles era o pior.

Olhos a quatro pares como as patas da tarântula,
de bocas, qual Cérbero, três queixos pingavam suor.
Como quebrantar um freio de não medrar plântula,
para quem vazou vil em três aberturas venerador.

Hoje parece mordendo bucos apartados do nada,
juntamente com a razão que deixou longe e vazia,
nos ombros a carga, qualquer queima sopesada.

Judas Escariotes com dinheiros de prata na boca,
vê-lo em pugnas totalmente silenciosas só enfastia,
por tudo que viu durante a caminhada, reles-mouca.
 
Soneto dos bucos apartados

“ noctem verterunt in diem “

 
“ “Antes de haver da idade o tempo enchido
Sobre a terra na vida sossegada;
Num vale” — respondi — “fiquei perdido.
“Ontem costas lhe dei por madrugada;
Ele acudiu-me, quando atrás voltava,
E me conduz assim por esta estrada”.”

A Divina Comédia - Inferno - canto vx

Estertores os vivo, mais uma noite de contas amarradas,
nos meados dos fios tantos, tarefas quantas não acabadas.
Divisando, de mais um alvorecer no prenúncio, descobertas
insucessos para revelar dissabores em cercanias desertas.

Tão doces reminiscências pujantes sufocavam os temores,
robustos anseios caiavam férteis os adágios ameaçadores;
quando soturno a vastidão o canto de um pássaro refletia
proclamando fatal, mais próxima a hora do início de um dia.

Ainda à mercê das mais hílares ponderações ali desenhadas,
aquilo tudo mais parecia sobre humano, impossível suportar
tantas formas da mente anestesiada do torpor arrancadas.

Descerram-me os olhos da face gritando expressão nuviosa,
soçobra ali o corpo rendido forçada a mente ao senso tornar
luzido dia, alento incomum apesar da alma a conduta aleivosa:
 
“ noctem verterunt in diem “

soneto aos gananciosos embusteiros

 
"Receio, pois seja ato de loucura,
Se eu me resigno a cometer a empresa.
Supre, és sábio, o que digo em frase escura”.
Como quem ora quer, ora despreza,
Sua alma a idéias novas tem disposta,
Mostrando aos seus desígnios estranheza”

A Divina Comédia – Inferno – canto ii

Oh, gananciosos! Praticantes dos pecados abrasadores,
estava eu atormentado, cedendo lentamente à loucura.
N’outro dia, um sonho havido tornou críveis os rumores,
inobstante gritos abafados, repúdios da emoção-impura.

Foram terríveis os embustes, senão pesadelo alarmante,
nada daria em troca da ventura de poder viver ausente,
louvam o charlatanismo, de tetro frenocomio burlante
sequer considerei o artefato admissível, se era absente!

Seria um logro almejarem glórias sobre a palma aberta,
c’a mão turbar os artefatos pagãos, vil rancor desperta;
será tudo que terão. O tempo ominará esse agir rafeiro.

Creia! Estão mentindo os embusteiros artífices da vilania,
irão sentir chacoalharem-lhes ossos, mestres da felonia.
Não desprezem o poder de expiar no encontro derradeiro!
 
soneto aos gananciosos embusteiros

soneto do fim de dia memorável

 
— “Os que têm vista má nos semelhando” —
Tornou-me — “as cousas mais distantes vemos,
De Deus última luz em nós raiando.
Quando estão perto ou no presente as temos
Se apaga a lucidez, e a mente aprende
Por outrem só o que de vós sabemos.”

A Divina Comédia – Inferno – Canto x


Aguerrido armígero, ao desprezo frígido da terra fez jus,
sequer diante daqueles tantos passamentos permaneceria.
Desejoso da vingança, volvendo a correr ao redor do mundo,
acirrando nas plagas idas tanto ódio, parecia deter argúcia

Tudo poderia ser a mesma coisa, entre o abismo e o infinito,
como o pensamento, poder voar, sagaz poder mensurar o raio.
Os olhares e sentimentos em expansão afogaria na distância,
tanto assim o faria como há mais de século até a eternidade.

Talvez seja esta hora, ultima feliz para nós como conhecemos,
de antemão sabia não termos magnitude de senhores do universo
- brotarão as flores amassadas manchadas com sangue insalubre,
não haverá o lugar dos pássaros na linha do céu. Gritos do sol,

Gemendo quase morto não aquecerá jamais os entes cordatos,
um fim de dia memorável, pacifico como noite calma, foi o fim
 
soneto do fim de dia memorável

O anfitrião das sombras

 
Porém maior receio me assaltava,
Na reticência auspício triste vendo,
Que na expressão talvez não se encerrava.
— “A esta hórrida estância, descendendo
Do limbo, pode vir quem só padece,
A esperança”, — inquiri — “toda perdendo?”

A Divina Comédia - Inferno - Canto IX

Ó [ser]incréu amaldiçoado que ousa chamar o pródigo d'enganador!
Solerte vigília, não deixaremos que teu olhar rápido possa penetrar
nas profundidades dos corações consagrando emergente vingança.
Tua raiva é a ira violenta, sangrenta nuvem d'ódio cobre-te a testa,
mas a tua emoção nunca romperá o segredo jamais compartilhado.

Podes debalde, atirar para nós tantos quantos [teus]olhares irritados,
vives num submundo temido, [és] infausto ser jazido na noit'eterna.
Fomos todos nós ameaçados pelos rugidos e grunhidos dos porcos,
na rede de mentiras definhando ao som terrível da matilha latindo.

Fomos forjados e amadurecidos nas entranhas d'um Etna fornido
de rocha derretida arrotando às trêmulas nuvens chamas sulfúricas,
sublimando o que expeles da boca fétida, forno da palavra maldita.

Que vagues [vil] na floresta da noite sagrada pálida de luzes cintilantes
quedes envolto n'espessa neblina dos vapores do mármore fundido.
Ó anfitrião das sombras! Restará para ti o Silêncio da Paz tão hiante.
 
O anfitrião das sombras

o óbolo do amor que me dedicou

 
Sei que pássaros
respeitam
chapéus de rabinos;
A face oculta lunar
não é obscurecida
se olhada a partir de
Marte.

... depois que fui,
sem escolta,
a vida terrena deu meia volta,
passou antes de meio dia e meia,
não ficou, enfim,
pelo contrário teceu a teia,
foi quase até o fim
de mim.

… sim,
não haverá castigo
qualquer um que julgar
não poderá apontar do postigo,
falar muito mal,
nem atirar
a maçã do pecado original
na cova dos leões.

Não se deixe enganar,
haverá sofrimento
ante a visão de poás pretos
das lantejoulas prateadas,
de procissões aos supermercados
na carestia do açúcar.

Mas haverá sempre
um poeta para o sábado à noite
para dividir uma chávena de chá
adoçado com estevia natural
para rir
dos fragmentos no ar,
das agruras cruéis
da moça que puxa os cordéis,
mas afastado todo mal.

Restará amor demais,
mesmo montado em elefantes
seguindo o ritmo cosmopolitano
da cáfila alegre e festiva;
mesmo numa loja de cristais.
Escrevendo brocardos romanos
em algarismos arábicos
não haverá culpa, nem julgamentos.

... sim,
a vida passará amena,
antes das meias noite e meias eternas
quando ouvirei pela derradeira vez
ranger os gonzos enferrujados
das portas vigiadas por Cérbero
após atravessar para o Hades
levando nos olhos cerrados o óbolo
do amor que me dedicou.
 
o óbolo do amor que me dedicou

soneto dos bucos aos cães

 
Magros cães, destros, feros açulava
Dos Galandis, Sismondis e Lanfrancos
A companha, que à frente cavalgava.
“Em breve o pai e os filhos, lassos, mancos,
Já dos famintos galgos mal feridos,
Dar pareciam últimos arrancos.

A Divina Comédia, canto XXXIII

Os bucos, aos cães os sujeites, não a outros, penitentes,
também não me ungiram com a coroa do selo sagrado,
aqui devo expiar e aprender com os que estão viventes,
nesta minha própria terra me vejo então um condenado,

Minha tristeza diz a mim, não vai perturbar a clareza mar,
toda a natureza reflete nítido retrato da perfeita criação;
não serei merecedor de tal, os desvelos sempre ei de achar;
ingênuo imaginar que o arco íris seria ponte, uma conexão.

Pois não foi dada a razão para criar harmonia na vida,
se todo homem consagra os deuses, louva os lentes,
sem almejar generosas recompensas pelos atos da lida.

Quem sabe, poderá outro sol nascer sobre dias amenos,
sobre contos de fadas, florestas encantadas, outros entes;
por enquanto, indiferença e frieza polvilham qual venenos.


[esses venenos letais

que

aniquilam

pois..............
 
soneto dos bucos aos cães

soneto do malsinado vate

 
“Quando os laços do corpo uma alma ímpia
Destrói por si, do seu furor no enleio
Ao círc’lo sete Minos logo a envia.
“ Na selva tomba e aonde acaso veio,
E como o seu destino lhe consente,
Aí, qual grão germina de centeio...”

A Divina Comédia - Inferno – canto XIII

És tolo, miserável de destino jamais ambicionado por tantos,
considera- te uno homem de sorte, de inexistentes encantos.
Em vão julgaste que podias controlar o destino com feitiços,
da semeadura à colheita, os saldos da tua vida foram cediços.

Ó malsinado vate, abjeto ser, desgraçado na confusão profusa!
Mente infame, brotada da fusão de maus pensamentos reclusa.
És o nefando de pútrido agir, funesto ator d’anátema execrado,
maldito ignóbil. Poeta sem musa debalde pugna final almejado.

És a besta, desde a juventude fiel discípulo de lamentável titã,
teu negro coração intolerável cedo foi jubilo do resgate de Satã;
enfastiante nesta terra, desde priscas eras cultivas inimizades.

O hálito podre sublimas, não trouxeste liberdade para a mente,
vegetas; jamais fizeste despencar raio da viva inspiração latente;
recolhe-te, ó insuportável e repulsivo havido das profundidades.

[pois que espalhes os excrementos que produzes
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
enfim]
 
soneto do malsinado vate

Retumba alegria no brilho dourado

 
“ Gente, que de brilhante cor se pinta
Vemos, que a tardo passo em torno andava;
Chorava e em forças parecia extinta.
Capa e capuz trazia, que ocultava
Seus olhos, dessa forma de vestidos
De Colônia entre os monges mais se usava.”

A Divina Comédia - Inferno - Canto XXIII

##44.

Parece-me estranho, soe ser mais que emoção terna,
mas entre a penumbra e o sol, há um telhado de lua.
Como nos mistérios da luz que a onda quebrou eterna,
não há tristezas naquelas melodias das cigarras da rua.

Quando imagino que ninguém pode dirigir com os dedos
mantendo as mãos presas em fundo silêncio comiserado,
volto a ver imagens como num sonho, ondas e segredos
os mesmos de quando um dia caminhei na noite enlutado.

Cativo da espera cheia de desejos, agora é o momento,
auspicioso anelo: o cálice da lua flava também sedento,
sabendo que diáfana bailava, mesmo sofrendo por amor.

No brilho áureo em profundidade, ecoava a minha alegria,
os flashes espocavam a partir do telhado, o desejo ardia;
nos ecos do coração, mãos trêmulas do eterno sonhador.
 
Retumba alegria no brilho dourado

Soneto vendo sóis

 
“ Caminha, alçando-a pela coma espessa,
Da mão pendente a modo de lanterna:
Gemendo, os olhos seus nos endereça.
Servia ele a si próprio de luzerna,
Eram duas em um, era um em duas:
Como ser pode, sabe o que governa.”

A Divina Comédia – Canto XXVIII

Foi sobre os ombros como queria, e espreita o lugar,
ledo momento principal quando as asas foram abertos,
cadenciada a respiração pesada, impotente só a arfar,
perseverar ali firme, porque temos escalas assertas.

Agora e muito além, centro do mundo, da dor eterna,
ao sair pela boca como precipitado de alto penhasco,
dos vermes, qualquer parte, atrair, espocar luzerna,
fez bem aqui na terra quando fixou os pés com asco.

A derme maciça de espessura rebate agora que fui,
era nosso longo caminho sem sol, para vir para o meio,
se estivemos em palácios, templos alta muralha rui.

Mas, enquanto descia, foram para sempre os arrebóis
como em poços de lava e enxofre fervendo entremeio,
antes de sair para o Inferno, aprenda a ver esses sóis.
 
Soneto vendo sóis

"cova de leões"

 
“Mil leões apresaste por memória;
Que, aos irmãos se ajudaras na alta guerra,
Se crê triunfo registrasse a história
Dos fortes filhos da fecunda Terra!"

Divina Comédia, Canto XXXI, ver 118/121

Como mendigos nauseabundos se acercam da aba do [meu] casaco,
estendendo [suas] imundas e esquálidas mãos em suplica tragada.
São gananciosos e pecantes sem fé; [é] cobarde o espírito opaco,
tentam me atrair. para veredas sem luz; longe de minha estrada.

Oh mãe! onde está o meu pai? Ele alguma vez disse: “meu filho,
prepare-se para a vida.” Se viver é habitar uma cova de leões,
enfrentar vorazes animais em cujos olhos selvagens soa. brilho,
ao vislumbrar: terror nos olhos da presa frágil adquire galardões.

Eu sei, [meu] pai ausente; a alma dessa criatura tacanha e pequena,
que preferiu ver brotarem do fundo de uma garrafa de aguardente,
os carinhos. que a um filho daria, conselhos pelos quais ainda brada.

Oh mãe! onde está meu pai? Meu pai[que] me abandonou nesta arena,
onde posso ser perseguido e. morto sem nenhuma defesa premente,
a não ser: meus braços que sequer [ele] ensinou a brandir a espada.
 
"cova de leões"

soneto do suicida

 
“Os crimes seus no inferno se agravaram;
Já lhe disse as blasfêmias, os furores
Digno prêmio em seu peito lhe deparam.

“Vem agora após mim; pelos fervores
Não caminhes da areia incandescente;
75 Da selva ao longo evitas-lhe os ardores”.

A Divina Comédia - Inferno - canto XIV

Era noite quando se acercou, discretamente que vinha;
a prata dos raios do luar banhava cheia a triste figura.
A sós, logo estaria dizendo adeus, numa triste ladainha;
sombrio, mas tentava aparentar apatia àquela altura.

Aos pés da figura amada cairia, ignorava fosse venenosa,
cursaria todo orbe, então, aos ventos anunciaria somente;
ora tudo na mente relegaria; ao dito a voz seria volumosa,
havido êxito, o ósculo selaria a reconciliação, suavemente.

Quando falasse, cada sílaba sua teria sentido, seria clara,
estava farto de adeuses, a cada despedida, a alma separa,
sem nenhum retardo outro, daria por encerrada a historia.

Não mais ouço passos sob lua de prata, nem olhar atento,
através do pórtico do jardim aguardando fugaz momento;
olhos brilhantes sem viço. Um tiro. Deixou a vida sem glória

[ certamente agora habita o limbo]
 
soneto do suicida

Soneto da alma no espelho maldito

 
“Se espelho eu fora, a imagem tua, amigo,
Tanto não refletira claramente,B
Quanto às idéias na tua alma sigo.
Agora iguais me estão surgindo à mente,
Concordes tanto nas feições, em tudo,
Que um parecer entre ambos há somente.”

A Divina Comédia - Inferno - canto xxiii

Maldito é, ó espelho, fazer-me recordar todos os dias
que ainda vivo neste mundo chão, repleto das provações.
Cruel! Não tens ao menos sagacidade para esconder-me,
falir-me temores, todos fixos naquele reflexo revelados.

Eis! Conforta-me os olhos, confunde a sensatez da alma,
pois carece de perspicácia a distinguir o real-virtual.
Vendo ali refletida, mesmo que falaz, imagem benéfica,
afável é, aprisionada no ponto-cego do plano de cristal.

Pois é à vista das autenticas imagens, tenho-a combalida,
de alguma forma, por breves momentos, urge dissimular.
Ah! Essa vã esperança de ludibriar esquivos sentimentos,
ver em ti, sem repulsa, aquele que deveria ser eu mesmo.

Então, dissimulado, ledo respirar como detentor bendito,
do inferno ao Eden escoltado, amo-senhor de paz-sideral.

versão para palms, smarts e vistas cansadas

Maldito é, ó espelho, fazer-me recordar todos os dias
que ainda vivo neste mundo chão, repleto das provações.
Cruel! Não tens ao menos sagacidade para esconder-me,
falir-me temores, todos fixos, naquele reflexo revelados.

Eis! Conforta-me os olhos, confunde a sensatez da alma,
pois carece de perspicácia a distinguir o real-virtual.
Vendo ali refletida, mesmo que falaz, imagem benéfica,
afável é, aprisionada no ponto-cego do plano de cristal.

Pois é à vista das autenticas imagens, tenho-a combalida,
de alguma forma, por breves momentos, urge dissimular.
Ah! Essa vã esperança de ludibriar esquivos sentimentos,
ver em ti, sem repulsa, aquele que deveria ser eu mesmo.

Então, dissimulado, ledo respirar como detentor bendito,
do inferno ao Eden escoltado, amo-senhor de paz-sideral.
 
Soneto da alma no espelho maldito

Soneto dos segredos guardados

 
“Se espelho eu fora, a imagem tua, amigo,
Tanto não refletira claramente,
Quanto às idéias na tua alma sigo.

“Agora iguais me estão surgindo à mente,
Concordes tanto nas feições, em tudo,
Que um parecer entre ambos há somente.

A Divina Comédia – Inferno – canto XXX

Jamais assumiu a ousadia de medir todo o fardo,
em seu quarto, sem pressa, tinha a janela aberta,
sentada frente ao espelho para refrescar o corpo,
mesmo que o âmago queimasse em desejos insanos.

Diáfana camisola envolta em raras nuvens de ouro
farfalhava como cachos doirados de um querubim
aos espíritos hostis dava um enxame de esperança,
quando o coração perseguia as memória do passado.

Nele, havia segredos ingentes, assuntos sensíveis,
tantos eram que não poderia de memória lembrar;
enquanto tivesse a penumbra para se resguardar,
afastaria da mente toda certeza se um dia amou.

Negava se conceder ditas no mundo que ora jazia,
para habitar soturna as mansardas de infortúnios
 
Soneto dos segredos guardados

Pela vida flanando débil-sútil

 
“ E como quem o anélito esgotava
Sobre as ondas, já salvo, inda medroso
Olha o mar perigoso em que lutava,
O meu ânimo assim, que treme ansioso,
Volveu-se a remirar vencido o espaço
Que homem vivo jamais passou ditoso.”

A Divina Comédia - Canto I

A tergiversar contumelioso e voraz,
quedou-se agachado sem furor,
tornado sem corar - lhe apraz;
da existência aqualirada o honor
o poltrão-maior à exasperação
para saginar ambíguos ideais,
não corroborou o setentrião,
anelos dos reles bens-materiais

Passou pela vida flanando débil-sútil,
não a exaltou, da proba honra imbuído
abatido por estranha cooptação fútil
sempre agoniado espúrio não coaduna
não teve denodo desespero inícuo
fez do peito o apelido na fraqueza una.
na covardia havido coisa-profícuo.

Ó fúria da inanição, vil tibieza
em profusão labéu instalado
havida minando caráter da torpeza
negou-se reagir de força vazado,
diante dos inexoráveis vaticínios

Não bastam panos do cru algodão,
para cobrir-lhe as vergonhas
quis vestes de realeza - grata visão
da pura seda e fino brocado
da corrupção para sanar desígnios.
 
Pela vida flanando débil-sútil

De quem é a voz que troa

 
Se bem ou mal queres saber quem é a voz que troa
- eu te digo, prescrevendo que aceitas esta lição,
pois o leão não pergunta, sabe que é o vento que ecoa,
altivo ruge na certeza que dominar é sua inclinação.

Mas soe à hiena questionar diuturnamente o Criador
sobre as vozes que pairam no por do sol da savana
antes que abutres abandonem a presa do dia anterior,
deixando a quem questiona a carniça como tisana.

- Eu te digo! Não são vozes dos teus piores pesadelos,
àquelas que à sorrelfa faz moucos os ouvidos sem desvelos;
delas ouves os murmúrios abafados, grilhões de abjeções.

Essa voz é a que tu, covarde dirige as vis provocações,
deixando sobrepuja-la teus mais sórdidos sentimentos:
- é a voz da Consciência chamando teus brios aos tentos
 
De quem é a voz que troa

Curva-te temente, obstinado incréu

 
“ Para expressar-lhe o aspecto verdadeiro,
Eu digo que à charneca então chegamos,
De plantas nua em seu espaço inteiro.
Da dor a selva a cerca dos seus ramos,
Como o fosso a torneia sanguinoso:
Ali, rente co’a borda, os pés firmamos."

A Divina Comédia – Inferno – Canto XIV

.

Tu, ó desavisado, traste que ora em vão
caminha c’os passos insertos n’ escuridão
quando vibrante voz, chamado d’arraiz;
ela ressoou potente nos arcos celestiais
- tão brilhante que era então a tua via!
Toda abóboda agora te será descendente,
meio-arco! Parco é teu tempo d’ eufemia
- não te quedes dissimulado, ora-decadente,
desertor da fé, esta hora soturna, mandrião.
Embora ledo, nutre o sonho, entresilhado,
quando é chamado teu nome obcecado,
alvíssaras de ainda salvar-te negro avejão!

Tempos passados e futuros são-te indistintos,
não t’ escondas tentando em barras, debalde,
prorrogar por mais um dia que sejam famintos,
poupando minutos d’ agonia arrostas o alcalde

Vislumbres de chofre a realidade, nua-crua,
que se apresenta diante de ti nesse relento,
definhando sob essa mó de toda miséria tua,
és poeira apenas partícula divisa ao vento,
confundindo-se com o vermelho do por do sol.
Curva-te temente, por fim rendido, obstinado incréu
sem ter onde, agarra-te, em ânsias ate ao arrebol,
és sombra, tremula apenas como flâmula ao léu
 
Curva-te temente, obstinado incréu