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Poemas, frases e mensagens de AliceVazDeBarros

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de AliceVazDeBarros

Regressarei a mim

 
No prado verde o murmurejar dos ciprestes perfuma a voz da natureza numa busca contínua como se os sussurros se prendessem à alma numa linguagem maternal, arrastando o som para dentro, assim como que a misturar-se ao sopro quente da melodia do coração, a embalar a quietude, a descer suavemente ao mais profundo do ser, para mergulhar dentro do suave e doce reflexo da eternidade.

Tateio as margens apertadas no peito, e sinto o sacudir da felicidade beber a esperança, como se o sabor do dia me fizesse regressar ao lugar mais profundo de mim, regresso aos meus sentidos e sinto o som da paz rasgar as marcas todas do tempo e o que vejo tem a dimensão do sobrenatural, é como se um milagre vestisse o instante, me tomasse nos braços e fecundasse em mim as sementes generosas de todo o porvir.

Sinto o vaguear das andorinhas numa dança plena, é como se a coreografia ensaiada no improviso tecesse todas as formas de amar e tocasse o fôlego da humanidade numa respiração inspirada pelas coordenadas do Criador.

Quero abrigar-me neste lugar Celestial, espargir o brilho de todo o meu contentamento e em agonizante felicidade, sentir a força da água e do fogo irromper em cada poente, como se a linha do horizonte tatuasse em mim as cores novas de todos os entardeceres.

Regressarei a mim, sim, a cada dia deixarei a ternura evadir-se, escutarei a voz doce e melodiosa que me conduz os sentidos inflamados, como se a vida fosse um bater de asas a contemplar o sonho dentro da inspiração dos dias, e mergulharei às minhas águas profundas para sentir o doce aconchego da existência.

Alice Vaz de Barros
 
Regressarei a mim

Dar asas ao sabor dos nossos beijos

 
Por entre a suave dança
do pensamento, os dedos
da sensibilidade bordam palavras
na redoma das palavras encaixilhadas,
com versos delicados e cristalinos,
que jorram do rio que trespassa a alma.

No turbilhão da corrente que corre veloz
em efervescência, sem compasso,
nem freio, carrego nos sorrisos
o sol aquecido pelo teu olhar
nesta noite cálida e serena.

Há ventos de saudades, no verão
quente do meu peito, e aromas
de margaridas, no delírio
das minhas mãos,
o cheiro adocicado que acorda
os sentidos, nas cores acetinadas
do véu da minha alma.

Trago na melodia de todos os versos,
a tua voz como a certeza do amor
que trago em mim.

Na penumbra da noite,
ouço os sussurros do meu piano
dar asas ao sabor dos nossos beijos.

(Alice Vaz De Barros)

oemas
 
Dar asas ao sabor dos nossos beijos

Um olhar a intercetar os gestos em sintonia

 
Uma brisa enigmática, toca levemente o sorriso cálido do meu rosto, num despertar silencioso, abrindo a luz num balbuciar sonoro ao dia que desponta, num ritmo em que as horas se abrem ao vento da ousadia, derrubando qualquer vestígio de inércia, estendendo as mãos hábeis à arquitetura dos sonhos do dia, numa construção intrínseca, a beber a determinação dentro da capacidade audaz da resiliência.

Um olhar a intercetar os gestos em sintonia, um agasalho de comunhão, vozes em delírio
a beberem a harmonia, o tempo a sussurrar a perfeição das horas despertas ao cuidado,
num registo de conforto como se a voz interior acordasse a sensibilidade e trouxesse à tona o toque majestoso do amor.

Ao redor, o desconforto das oscilações de humor, por dentro e aqui, a preocupação, um latejar de dor no peito, uma carta de serenidade escrita aos sentimentos a tocar a fimbria do pensamento, numa lembrança em retorno à construção dos afetos.

Mãos a conduzirem o caminho, dentro de mim, uma voz vestida de sensações inebriantes a sossegar o coração dentro do percurso, a devolver a confiança, a cativar o olhar em palavras cujos contornos abraçam as planícies por dentro.

Lá longe, a Luz a tocar a alma despida de inquietude, o refluxo perfumado e silencioso a agitar as margaridas no vaivém vertiginoso da brisa, um toque profundo mas quase impercetível, a balançar a vida.

Alice Vaz de Barros
 
Um olhar a intercetar os gestos em sintonia

O Caminho da ponderação!

 
O Caminho da ponderação!

Quantas vezes nos questionamos, e nos debilitamos face a tantas circunstâncias que nos tiram a confiança, e abalroam sonhos e projetos.

Fazem-nos quase desistir até das pessoas.
Só que na verdade, ao ponderarmos, chegamos ao fundo da questão, é preciso muita coragem para o caminho, mudança de atitude e firmeza para prosseguir.

Prosseguir é sentir os passos firmes, não vacilar e progredir, face a toda e qualquer circunstância.

Sentir o descontentamento e o desapontamento face ás circunstâncias e às pessoas, leva-nos a silenciar e a afastar-nos, para ouvir a voz do Espírito Santo.

Meditar sobre o assunto com clarividência, despindo-nos da permissividade e abraçando cada causa com verdade.

Buscar a razão com sabedoria, como se busca Deus, como se busca o céu, como quando se faz uma oração, e se é abençoado.

Agarrar-se a tudo o que é edificante, fazer escolhas, acertar os ponteiros com as coordenadas de Deus e deixar-se ir, deixar fluir!

Quando a nossa forma de pensar nos leva por atalhos e nos rouba os caminhos está na hora de simplificar, de abrandar, de nos posicionarmos e escutarmos a voz de Deus.

Quando o Espírito Santo nos leva a fazer uma análise aprofundada para que venhamos a entender qual a atitude a tomar, ficamos silenciosos e a paz desce como uma cascata ensurdecedora, porque deixamos de escutar todos os ruídos ao nosso redor para escutarmos a voz de Deus, que nos mostra o caminho!

(Alice Vaz de Barros)
 
O Caminho da ponderação!

Pudesse eu, andar pelas calçadas

 
Pudesse eu, andar pelas calçadas,

olhar a transparência dos gestos,
no mistério que veste os dias.

Pudesse eu, vislumbrar em cada olhar,
uma alma que se eleva, leve e solta,
desprendida de um qualquer olhar cego,
na nitidez dos silêncios e das palavras.

Pudesse eu, sentir na imprecisão
dos dias a amabilidade e iniciativa
vestida de cuidado,
como uma moldura de sensatez
e responsabilidade.

Pudesse eu, esperar a alvura
o olhar em dedicação, na margem
de todos os caminhos da inconstância,
sentir a esperança brotar levemente,
bem docemente, emancipada,
voluntariosa e precisa.

Pudesse eu, desfazer as realidades
desafiadoras, na inexistência
e todas as realidades que me rondam.

Pudesse eu, ver a bondade,
na imensidão que se expõe
tão inacessível e arrepiante
à voz da indiferença.

Pudesse eu, sentir a leveza de tudo
e munir-me de certezas,
ainda que o vácuo
da desesperança se levante.

Pudesse eu, deixar sair de mim
esta criança inocente, segurar
na sua mão, fitar o seu rosto angélico,
reerguer um novo existir,
e em novidade de vida,
de peito aberto e afoito,
receber em mim
esta quietude, num olhar
longe de mim, mais perto de Deus.

Alice Vaz de Barros
 
Pudesse eu, andar pelas calçadas

Sou a voz do silêncio que chora e grita por dentro

 
Sou a alegria que anuncio na dor que me trespassa,
e fortalece a alma, sou superação em dias frios,
poema em ebulição, sou sangue que ferve nas veias
duma oração, sou amor em construção.

Tenho o corpo cingido com as vestes da alegria
encharcado pela chuva da paz que me anuncia.

Sou a lágrima a cair, a melodia que ecoa, sou a voz abafada,
das dores que calo, mas também sou sorriso fresco na alvorada,
olhos cristalinos que espraiam a leveza do Ser no Ser.

E sou, sou tudo aquilo que posso ser, por vezes também o que não quero,
sou a voz do silêncio que chora e grita por dentro, a alegria que se levanta,
sou feita de instantes, momentos de glória e dor.

Mas em tudo o sou, sou genuinamente verdade e amor.

Alice Vaz de Barros
 
Sou a voz do silêncio que chora e grita por dentro

Quando escutamos o som de outro olhar

 
Despertamos quando a vida nos leva pela mão e acabamos por sentir cada momento como um milagre, desfrutamos cada instante com gratidão e soltamos as amarras aos sentidos, abafando o som dos ruídos exteriores para nos amarmos, para nos sentirmos em comunhão com o Eterno.

É assim que sentimos o pulsar da voz em silêncio, numa prece ao céu erguida, a fazer respirar os afetos em abraços que murmuram a cor dos sorrisos sempre que somos Uno.

Somos felizes quando escutamos o som de outro olhar, quando respiramos e escutamos em compasso suave os gestos desdobrarem-se como quem nos acolhe e se faz morada em nós.

Descobrimos que não estamos sós, quando nos olhamos, nos amamos nos escutamos e quando nos tocamos por dentro, ao sentirmos uma onda de ternura invadir-nos num apelo ao resgate de nós mesmos.

É como o germinar de uma semente, como vestir o verde da esperança aos sonhos, é como sorrir de peito aberto e beber a aurora matinal num bocejo trémulo para acordar o som acetinado da vida depois do grito agreste do inesperado.

Sinto a vida cobrir-me a ternura do olhar e a paz latejar no meu âmago, como se o caos ao redor ganhasse asas e voasse para bem longe para me alhear de todo o infortúnio.

Alice Vaz de Barros
 
Quando escutamos o som de outro olhar

O som crepitante do Teu Nome.

 
Quando a face sublime do amor se despe e se olha nas madrugadas, há infinitos alvoreceres por desvendar e pórticos floridos a emoldurar o desabotoar cálido dos sentidos, há vozes silenciosas e um bouquet de felicidade nas Tuas mãos a agasalhar as minhas.

Arrasto a coerência para fora da sombra do jardim e abrem-se portas de ausência para dar lugar aos sentidos despidos de silêncio, liberto as palavras aprisionadas no leito do meu rio e correm velozes como se fossem palavras andantes e sinto-as como quem sente o fluir do amor ganhar vida.

Murcho o desassossego, deixo cair os tropeços, amarroto o passado, coloco a grinalda de sonhos, escrevo uma carta aberta ao pensamento para florescer dento do abraço da primavera à minha alma.

Permaneço nesta imobilidade como se o Veludo intocável dos meus dias me vestisse a face com a exuberância do toque da candura em espontaneidade, como se sentisse os ombros cingidos pelas vestes da paz e erguesse o olhar para buscar na direção o som crepitante do Teu Nome.

Alice Vaz de Barros
 
O som crepitante do Teu Nome.

Uma porta aberta de sensatez

 
Habito na sensibilidade das palavras,
Um retrato aberto na nudez do ser,
Uma porta aberta de sensatez,
consciência e liberdade.
Indecifrável caminho este que me apraz,
no mergulho afincado dos dias,
sorriso aberto na porta escancarada,
janelas de ternura cristalina,
coração ofegante em uníssono,
e há vida, vida por viver,
na moldura dos meus olhos
a beber os teus.

Alice Vaz de Barros
 
Uma porta aberta de sensatez

Abro o corpo e a alma para te amar!

 
Abro o corpo e a alma para te amar!
 
Como poderia sorrir- te sem te olhar demoradamente,
sentir-te a franja pura da alma,
beber a espuma calma do corpo?

Como?

Mata-me o sorriso a lonjura
que nos separa neste tempo morto,
porque há um querer que te puxa em sentidos
que falam a voz do amor,
a vontade escrita
no corpo que te chama como voz ardente,
e nada consigo calar!

Mas sorrio. Sorrio porque em mim tudo é lembrança.

Vejo nas manhãs, o olhar de mel, e sorrio…
Sorrio como se te bebesse as lágrimas felizes e doces,
e sonho-te…

sonho-te prolongada no dia,
no dia em que grito este amor que trago comigo,
e danço! Também danço…

Danço a melodia do nosso amor,
e sinto-te o corpo no movimento escrito nas minhas mãos…

e sinto-te! Também te sinto, meu amor!...
Vejo-me conduzida na brandura enlouquecida,
nos passos apressados dos sentidos inteiros,
e abro… abro o corpo e a alma para te amar!...

Hoje, canto-te.
Canto todos os ventos
que te trazem na melodia deste amor intenso,
e guardo-te no regaço branco que te abre todas as portas!...

Alice Vaz De Barros

Fotografia do autor
 
Abro o corpo e a alma para te amar!

Entre a realidade e a esperança há um misto de verdade e mentira

 
Esperas e entardece em ti a esperança, como se bebesses o cálice amargo das horas vertiginosamente iludidas, é como se a mentira escorresse por entre a expectativa e a realidade te sussurrasse um sorriso sarcástico, como se sentisse que te estivesse a enganar e tu fazes de conta que acreditas.

De cabeça levantada, as horas de permanente vigília descem sob a face da inquietude, deixam secar a loucura que arde no peito, o sol deita-se cansado na linha do horizonte, como se adormecesse ali em fúria
os passos trôpegos da tormenta.

Entre a realidade e a esperança há um misto de verdade e mentira, como se trouxesse à tona o gosto emancipado da realidade a acordar os sentidos traídos pela ilusão da esperança.

Não sei porque vestir a vida de fé e confiança é o único motivo, perseverar, confiar e prosseguir o único fundamento para o caminho...

Mas de uma coisa eu tenho a certeza, enquanto vou, não me iludo, mas desafio-me sorrindo...

Alice Vaz de Barros
 
Entre a realidade e a esperança há um misto de verdade e mentira

Solto a voz imersa na profundidade dos sentidos,

 
Levanto o véu do tempo e solto a voz imersa na profundidade dos sentidos, como uma melodia em vigília a recitar-me os segredos ocultos, a rasgar o espaço e a tomar o seu lugar.

Neste espaço de amar, há um desejo contido, uma ânsia indescritível a bordar o sol na textura acetinada da pele, como se os raios refulgentes fossem como fios finos, reluzentes e condutores e adentrassem a epiderme, poro por poro e ali depositassem semente a semente, o esplendor da claridade da existência, em cada rebento e trouxessem à Luz, todos os mistérios da vida.

Neste solo sagrado, a Luz é como o respirar e a paz uma melodia que paira no ar, tão envolvente e aconchegante, que nenhum movimento ousa sequer romper a Luz do momento, ou distrair o pensamento, porque tudo é plenitude.

Sinto-me refém destes instantes, como se fosse náufraga, ou o tempo num gesto suave, desse ordem a todos os relógios e ficasse ali detido diante da magnitude do arrebatamento, como se a emoção se vestisse sem nenhum embaraço e deixasse ali fluir os veios da vida, a verterem do âmago, o toque suave da doçura e num inebriante suspiro, deixasse ali brotar todas as sensações bruchuleantes, como se a Luz fosse do mistério, a razão única da existência.

Sinto-me feliz, e saúdo a vida como se tudo fosse crescimento dentro do bem e do mal, como se tudo fosse necessário e beijo cada instante, como se unisse as asas num bater suave e pairasse ali diante do sol, como se o seu brilho me vestisse a ternura do corpo e bordasse na alma a melodia dos meus sentidos, neste eterno para sempre.

(Alice Vaz de Barros)
 
Solto a voz imersa na profundidade dos sentidos,

Como quando cai a primeira chuva depois da seca

 
Levantei-me como quem se levanta como quando se ouve e sente o som de uns passos inconfundíveis, e ficasse ali parada, imóvel, incrédula, quase estática, no movimento dos lábios, na expressão facial, e esbocei um sorriso vestido de incredulidade, como se a minha respiração fosse parar.

Segurei as emoções, aconcheguei o sopro forte da ventania no peito e cada sentimento era como se trouxesse à tona o cheiro dos lugares, os sabores e as sensações de outrora.
Talvez, sinta o vestido da noite cobrir-me a pele de luz, ou a Lua me agasalhe os ombros com a a candura do seu olhar, na maciez do seu toque aconchegante.

Talvez ainda encontre nos olhares de quem passa um resquício de bondade, como quando os olhos se vestem de generosidade e esperança quando cai a primeira chuva depois da seca, talvez ainda haja som nos passos do coração e a melodia seja revigorante e confortadora.

E se eu ainda sentir a água de uma chuva dilúvica molhar-me o rosto, isso será como uma bem aventurança e se o som dos passos inconfundíveis da esperança permanecer no caminho isso será um milagre.

Rasgo as sensações inebriantes por dentro como se me abrisse e expusesse ao som místico do desconhecido e viajo por caminhos nunca outrora percorridos, como se ao andar, a alma se desabotoasse e deixasse correr ali o rio das emoções contidas.

Depois inspiro em novidade de vida, sinto o rosto do dia saudar-me como se o único propósito fosse desatar os nós à vida e me sentisse voluntariamente capaz como se despertasse e voltasse ao lugar de sempre.

(Alice Vaz de Barros)
 
Como quando cai a primeira chuva depois da seca

Sinto o mistério do amor crescer

 
Poderia escrever sobre a alma do silêncio, perscrutar o som deste encontro dentro do templo, todas as vezes que Ele me ergue em fé e força.

Poderia forjar em fogo ardente os sonhos sustentados pelo vento da ousadia e deixar o som crepitante da voz erguer a determinação nesta força de ir.

Sou apenas uma melodia a tocar as margens do caminho, dentro de todo o trajeto, em busca de olhares que apertem a sintonia, acordo o som da alegria e ouço o esboçar de um sorriso depois do silêncio.

Este lugar onde me refúgio é como um céu de tulipas brancas, onde tudo é idílico e triunfante, é como o bordar da sensibilidade por dentro, a tocar a coragem no peito.

Sinto o mistério do amor crescer, como quando se lançam à terra as sementes do querer e sinto o amparo da terra aconchegar os rebentos nos caules que se estendem.

Sinto o toque suave desta respiração interior e sou morada em ti neste templo que Te acolhe, doce espírito do amor.

Alice Vaz de Barros
 
Sinto o mistério do amor crescer

O pulsar da voz em silêncio

 
Despertamos quando a vida nos leva pela mão e acabamos por sentir cada momento como um milagre, desfrutamos cada instante com gratidão e soltamos as amarras aos sentidos, abafando o som dos ruídos exteriores para nos amarmos, para nos sentirmos em comunhão com o Eterno.

É assim que sentimos o pulsar da voz em silêncio, numa prece ao céu erguida, a fazer respirar os afetos em abraços que murmuram a cor dos sorrisos sempre que somos Uno.

Somos felizes quando escutamos o som de outro olhar, quando respiramos e escutamos em compasso suave os gestos desdobrarem-se como quem nos acolhe e se faz morada em nós.

Descobrimos que não estamos sós, quando nos olhamos, nos amamos nos escutamos e quando nos tocamos por dentro, ao sentirmos uma onda de ternura invadir-nos num apelo ao resgate de nós mesmos.

É como o germinar de uma semente, como vestir o verde da esperança aos sonhos, é como sorrir de peito aberto e beber a aurora matinal num bocejo trémulo para acordar o som acetinado da vida depois do grito agreste do inesperado.

Sinto a vida cobrir-me a ternura do olhar e a paz latejar no meu âmago, como se o caos ao redor ganhasse asas e voasse para bem longe para me alhear de todo o infortúnio.

Alice Vaz de Barros
 
O pulsar da voz em silêncio

Pudesse eu

 
Pudesse eu, andar pelas calçadas, olhar a transparência
dos gestos, no mistério que veste os dias.

Pudesse eu, vislumbrar em cada olhar, uma alma que se eleva,
leve e solta, desprendida de um qualquer olhar cego,
na nitidez dos silêncios e das palavras.

Pudesse eu, sentir na imprecisão dos dias a amabilidade
e iniciativa vestida de cuidado, como uma moldura de sensatez
e responsabilidade.

Pudesse eu, esperar a alvura do olhar em dedicação, na margem
de todos os caminhos da inconstância, sentir a esperança brotar
levemente, bem docemente, emancipada, voluntariosa e precisa.

Pudesse eu, desfazer as realidades desafiadoras,
na inexistência de todas as realidades que me rondam.

Pudesse eu, ver a bondade, na imensidão que se expõe
tão inacessível e arrepiante à voz da indiferença.

Pudesse eu, sentir a leveza de tudo e munir-me de certezas,
ainda que o vácuo da desesperança se levante.

Pudesse eu, deixar sair de mim esta criança inocente, segurar
na sua mão, fitar o seu rosto angélico, reerguer um novo existir,
e em novidade de vida, de peito aberto e afoito, receber em mim
esta quietude, num olhar longe de mim, mais perto de Deus.

Alice Vaz de Barros
 
Pudesse eu

Bebo o sumo das palavras

 
Sabes que na dança dos meus passos,
sempre haverá uma melodia constante,
mas nunca breve.

As raízes dos meus sentidos,
são como os galhos que se estendem
se alongam e acolhem.

Bebo a seiva dos teus olhos nos gestos
de ternura que se desprendem dos meus,
para agasalhar no meu peito, os teus sentidos.

O calor do sol, a brisa suave, trazem o doce respirar
dos frutos maduros fecundados nas madrugadas,
pelo orvalho da noite.

Bebo o sumo das palavras no deleite do teu canto,
como se a tua voz fosse o hino que reverencia
uma nação, nas palavras constantes que se perpetuam,
palavras vivas que fluem na constância dos gestos.

Deixo em cada janela o cheiro suave das flores
de jasmim, para que a brancura se tatue na tua pele,
e acorde a subtileza de cada gesto.

Sinto o coração da noite bater e em passos suaves,
regresso ao aconchego do meu leito, para me agasalhar
neste céu, cujo rigor traz consigo a longanimidade
incondicional da plenitude dos dias, nesta paz que me habita.

Alice Vaz De Barros
 
Bebo o sumo das palavras

Na carta aberta dos teus olhos, beber o sol das marés cheias

 
Poderia sentir o toque das tuas mãos, fechar os olhos e na carta aberta dos teus olhos beber o sol das marés cheias, para mergulhar na ondulação do teu mar e render-me.

Poderia olhar para dentro de ti e sentir o respirar por dentro das tuas folhagens, estender os braços e mergulhar na água das tuas raízes para me reerguer a cada manhã.

Poderia mergulhar no infinito do azul, para beber todas as preces ao céu erguidas, segurar as bênçãos e em cada adversidade cantar um cântico de louvor.

Poderia sim, saltar todos os poentes e permanecer no teu horizonte de Luz, para respirar o perfume de todas as auroras prolongadas nos longos braços da eternidade.

Poderia tocar a ternura dos teus olhos, com o sol da ternura dos meus e reacender o teu sorriso, para que em cada amanhecer pudesse ainda escutar o balbuciar do meu nome pulsar dentro do teu peito.

Pois Poderia, meu amor...

Partiste como quem interrompe a vida, os sorrisos, os sonhos e há silêncios cortantes no frio da pele, o vento agreste teima em sacudir a nossa história como se o horizonte escrevesse os dias e apagasse as noites para te trazer de novo à Luz.

Ainda te espero em cada alvorada, como quando ouço o canto dos pássaros que migram, como quando sinto o perfume silvestre das flores na pradaria, como quando o sino tine e bate as horas que escuto em sobressalto, ainda toco nas lembranças e ouço o eco dos teus sorrisos como folhas gastas espalhadas pelo tempo.

Ainda sorrio quando te ouço os passos, meu amor.

Alice Vaz de Barros
 
Na carta aberta dos teus olhos, beber o sol das marés cheias

Vem dormir nos meus sonhos

 
Vem dormir nos meus sonhos,
onde as paredes têm luas acesas
e as estrelas se multiplicam
invadidas pelo calor fragmentado do sol
que aquece o dia.

Deixa que a água do oceano
que corre desgovernado em mim,
adentre as portas do teu peito
para se fazer amor, nas águas do teu amar.

E se porventura acordares, não faças barulho
porque é tanto o sonho, que se despertar,
posso não voltar a encontrar-te.

(Alice Vaz de Barros)
 
Vem dormir nos meus sonhos

Pudesse Eu

 
Pudesse eu, vestir-te com o canto da minha boca,
decifrar o enigma da tua voz emudecida,
soltar as velas do meu barco, endireitar a proa
e velejar em alto mar, sem rumo nem direção.

Pudesse eu, descalçar os pés à indiferença,
soltar os passos da negligência
e escutar todos os sons que não ouço
e morrem no vazio dos dias.

Pudesse eu escalar uma montanha íngreme,
fincar os pés sem vertigens,
abraçar a vida nas cordas da esperança
deixar o grito que trago preso na garganta,
cair nas malhas da confiança
e tecer um vestido bonito, para celebrar a vida.

Pudesse eu, ser sorriso sem pranto,
ser brisa, ser melodia ao vento e dançar
com as palavras dentro de toda a alegria
que me reverencia a alma.

Pudesse eu, silenciar todos os quereres,
lançar-me no espaço das palavras,
beber a vertigem dos ecos,
esculpir na sede do meu pranto
uma escultura com a tua esfinge,
para te embalar num abraço
demorado, pudesse eu...

Alice Vaz de Barros
 
Pudesse Eu

Alice Vaz De Barros