Esta sou eu
Apenas serenidade
Como no dia em que chegaste
De passos leves
E eu sonhei.
Ainda ali regresso várias vezes
E sinto os traços
Da claridade
E da frescura
Com que nasceu.
Esta sou eu.
Intensa
E sem rancores.
Como se a noite fosse de estrelas,
E o teu olhar me incendiasse
Toda a candura
Que espelhada na boca emudeceu.
Onde a ternura um dia já perdida
Anoiteceu.
Esta sou eu.
Os olhos não mentem
Os olhos não mentem,
nem o mel colado aos lábio,
Que se prova
Pela eternidade de um beijo
Que se colou ao desejo
A que fugimos,
E tardios
Nos fizeram voar por estes nós.
O pescador
Quantas vezes partiste rumo ao incerto
E dos barcos se apagaram as luzes?
Quantas vezes o caminho foi incerto
E as gaivotas
Não voaram com o vento?
Programaste o rumo do
Teu barco sozinho,
Enquanto a cidade
Ainda despertava moribunda do medo,
Acenado orgulhosa
Aos teus caminhos de sempre.
Desejando que a tua pesca
Fosse fecunda.
Sopra bem devagarinho
Cansada de escrever
E de esperar pelos teus verso,
Com mil cantigas te digo
Que de mim
Fizeste inverno.
Não me alongo
Nem te suplico
Sou como um pássaro sem bico
Numa montanha a barlavento.
Sopra bem devagarinho
Faz deste meu poema o teu ninho
E do meu passar um mistério.
Duas ruas e um caminho
Duas ruas e um caminho,
Uma flor a se erguer
Enquanto o frio pela espinha
Ao peixe
A cana a esconder.
Tanta onda,
Tanto peixe,
Nasce o poema a sibilar.
Nasce o homem que o entender
Que nele desaguar,
Num vai e vem de abarca
O rio onde se ousou banhar,
Num silêncio
Que se detona
Numa gaivota
A planar.
Foi o poema com o vento,
O cravo no meio do mar.
Nos teus vocábulos
Perco-me nas certezas dos teu vocábulos,
És tão difícil, mas para mim és tão óbvio, não tens filtros.
Sorrio,
Desculpa por sorrir das tuas lágrimas,
Calejei tudo o que me possa incomodar.
Por favor, sorri comigo,
Amanhã pode ser tarde,
Sabes,
Aquilo que nos ficou de loucos
Quando te escondes
Invades a minha zona.
Apetece-me sorrir agora.
Se eu sou gorda, tu és tão parvo.
São como os beijos
As palavras belas são como os beijos
Cansam-nos
E desgastam-nos
Quando não são verdadeiras.
É sempre preciso uma mão para virar a página, dois olhos para escrever, dois olhos para ler, e dois corações e duas almas para as sentir
No caminho.
Vem brincar
Vem brincar
que no risco dos teus olhos existe um arco-íris intemporal
que me acorda os sonhos.
Desperta as estrelas
libido do meu ventre adormecido,
por onde o relógio não conta as horas.
Aguenta as dores de um céu aberto que nos espelha
E as acácias que nos florirem
por detrás dos montes.
Anda correr por este rio
que tem nascente
de puros fervores
Antes que das margens sequem as fontes
Acredito
Sabes às vezes oro
Acredito que esta luz que me guia por dentro é tão forte.
Tão intensa, lá terá as suas razões para ser assim,...
Não me questiono,
apenas oro como sei,
também por ti.
Dentro do silêncio
Dentro do silêncio
O caminho é longo
E as memórias
Adoecem.
Das palavras inaudíveis
Nascem novos dias,
Novo procurar de sóis,
As águas saltam as pedras
Bloqueadas pelas barragens.
Espreitam aos olhos
Observando as nuvens
Que as quiseram carregar.
Desaguando
Num passado
Longínquo,
Adormecido,
Que já não me pertence
E do qual
Já nem quero fazer parte.