Poemas, frases e mensagens de Dionísio Dinis

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Dionísio Dinis

Sem título(93)

 
A metáfora obsessiva o verso asmático

Não respiro

A pausa na pauta da música eleita

Eu gosto

O exercício explícito de exuberantes vocabulários

Dá-me tédio

O sangue sem cor sabendo eu as cores que o sangue não tem

Eu bebo-o

O cisma em vaidades exaltadas na frase à míngua de sentido

Não me excita

O pleonasmo miserável nas carências em despeito

Não me tange

A demanda do poema na vagabundagem das palavras

Subscrevo-a

O poema ofertado e renegado no poeta sepultado

Traz-me o sono

O sucesso às custas das costas do alheio

Faz-me guerreiro

A metástase e a gangrena das almas religiosas

Agnosticam-me

A Mulher que me toma pela génese do amor

Eu exalto-a

O poema com sangue e sémen em enchentes

Eu devoro-o

As palavras minimais e excedentárias

Eu recuso-as

A mulher que ilumina a minha luz

Há-de vencer

Dionísio Dinis
 
Sem título(93)

Sem título(13)

 
Por dentro de mim

Soletras a palavra amor

Digito em teu corpo

Oferendas várias

Desenhas em meu rosto

Olhos que brilham

Devolvo-me a ti

Integralmente

E tens-me em liberdade

Plenamente

Dionísio Dinis
 
Sem título(13)

Sem título(80)

 
Não é curial a ameaça da partida

Nem detenho o poder do verso por escrever

Das ideias e dos quereres fiz linhas sem valor

E dos pensamentos e desejos ditos derradeiros

Recebi de retorno minha alma e meu corpo trucidados

Acatei meu merecimento

Outros enfim merecerão ser em verdade amados

Outros serão neste mundo o padrão requisitado

E fiquem outros e mais outros e todos na graça da desgraça

Que eu por mim e sem razão maior

Já vou assobiando a canção do esquecimento!

Dionísio Dinis
 
Sem título(80)

Sem título(75)

 
Escrever amor em transcendência

Dizer revolução e sol nascente

Escrever as coisas belas com teu nome

Dizer palavras com sabor em teu sabor

Escrever o teu nome no meu sangue

Dizer sonoramente a toda gente

Dizendo e escrevendo porque te amo

Dionísio Dinis
 
Sem título(75)

Sem título(31)

 
Renasço em ti

No abraço em que te enlaço.

Tomas-me inteiro

Por dentro dos meus braços,

Por dentro de mim

Fazes acontecer édenes fulgurantes!

Unimos sonhos,

Fundimos espaços,

Fazemos nascer alquimias.

Renascemos de desejos e paixões,

Noites e dias,

Sem mácula,

Sem culpa,

Desfrutando claridades.

E assim poisando

Um na alma do outro,

Em conluios deleitados,

Em rubores segredados.

Um no outro entregues

No emergente prazer tangível!

Dionísio Dinis
 
Sem título(31)

Sem título(97)

 
Quando me pedes pão

Eu sei venerar a seara onde és terra mater

Quando bailo ao sabor das espigas douradas do estio

Danço na tua dança de amor lascivo

Quando nomeias a ternura por dentro das florestas ou dos mares

Levo-te no meu dorso de golfinho

Cubro-te de sombra nas intempéries de sóis abrasadores

Se por acaso te fazes deserto de ti

Quando me falas de amor

Decanto-me liquefaço-me nas tuas torrentes de amor

Estás por dentro de mim na posse conjugada

És a face na face consumada do encontro

Faço-me suave murmúrio na pele maximizada em decibéis de desejo

Tacteio trajectos arquitecturas novos mundos

Posso cegar em olhos de ver

E na tua luz confiarei meu corpo e meu espírito consagrados a ti

Quando me pedes pão

E na miséria do meu ser nada possuir a teu contento

Mas sabendo-te ser mais que a deusa de todas as deusas

De mim faço húmus a terra estéril

Por teu carecer e por te querer tanto como o trigo anseia ser dourado ao sol

Por te ter em mim como é ter o útero pleno de vida palpitante

Como me sentir macho e saber de como é ser macho com a mulher a completar-me

Sentir-te em mim sentir-te a mulher mais amada na exuberância do teu sorriso

E o meu sorriso possuído no mar do teu olhar

E a esperança a reinar do horizonte dos teus desejos

Se falar agora de riquezas em verdade pura

Falarei de duas esmeraldas que atravessam meu coração

Porque só os teus olhos me penetram ao fundo do meu ser

Quando me pedes pão

Fermentas em mim os mais sublimes desejos

Quando nomeio o amor

Deitas-me em mim com as clarividências de mulher eleita

Quando me pedes pão

Serei mais que o saciar da tua fome

E todos os mares são ínfimos nas águas que detenho para te saciar

Porque tudo o que oferto é pertença do teu amor excelso

Porque o todo do amor nomeado se escreve com o teu nome

Dionísio Dinis
 
Sem título(97)

Sem título(27)

 
Letra morta

Cabeça no ar

A saltar

A estiolar

A pena seca

Alma danada

Naufragando

A gargalhar

Dionísio Dinis
 
Sem título(27)

Sem título(67)

 
Nos teus seios

Eu sei de cor a cor do teu amor

Na razão una de mim

No teu sexo

Nos teus sabores fico a saber

Que sabes querer amor

Na tua língua

Na minha língua

Cabeça nas tuas coxas

Suaves

Inquietantemente belas

Assim tornar-te inteira em mim

Universalmente em mim

Sermos sucessivas figurações do amor

Mimetismos e contrastes

Tão só singelamente amor

Dionísio Dinis
 
Sem título(67)

Sem título(88)

 
Tu que com graça calas a desgraça

Vivendo em permanente amor ausente

Tu que sem asas te elevas e esvoaças

Tu que te distingues de muita e outra gente

Tu que teces a trama que não mereces

Tecendo fio rude em vez de seda pura

Tu que sempre de ti te esqueces

Mesmo te sabendo de máxima estatura

Tu que sempre que reapareces

Te mostras bela e de magnífica alvura

Tu que sabes o que não queres

Por muito e mais que muito mereceres

Não retrocedas agora não esperes

Só tu és mais que dona dos teus quereres

Dionísio Dinis
 
Sem título(88)

Sem título(96)

 
Neste tempo da lua de lobos

Neste tempo em que invocas desfalecimentos

Revela-te na face oposta da dor

Neste tempo renasce-te

Porque em todos os tempos nascerá de ti a Luz

Adiante de todos os tempos os deuses te contemplam

Dionísio Dinis
 
Sem título(96)

Sem título(85)

 
Eu quero escrever um poema que seja inverosímil

Eu quero alcançar o verso que te toque, que seja o verso irresistível

Eu quero o gozo da palavra na palavra incompreensível

Eu quero fazer do amor o acto irrepetível

Tu queres as minhas mãos no teu corpo susceptível

Tu queres na tua boca o beijo hipersensível

Tu queres fazer da minha vontade o querer imarcescível

Tu queres a minha alma no teu corpo invencível

Eu quero-te por toda vida imperecível

Eu quero-te na derrota da palavra impossível

Eu quero-te dentro de mim a meus olhos sempre visível

Eu quero-te sempre liberta e imperdível

Tu queres-me clandestino ou invisível

Tu queres-me sem me querer no acto exequível

Tu queres-me num imaginário quiçá plausível

Tu queres-me com medo do medo de tudo ser possível

Eu quero no gesto imponderável ser-te sensível

Eu quero não temer em ti o imprevisível

Eu quero ser por ti sempre tangível

Eu quero manter este desejo irredutível

Tu queres hesitar e fazer-te inatingível

Tu queres esquecer, fugir e fazer o inconcebível

Tu queres calar a palavra imprescindível

Tu queres em verdade saber-te impreterível

Eu sei da nossa imensidão indestrutível

Tu saberás que te sei inconfundível

Dionísio Dinis
 
Sem título(85)

Facilex Performex

 
Sob os pés
azul céu, sol refulgente.
A cabeça
Vulcão, magmática activa.
Coração ao largo, exangue
sem rota, divagante.
Navegante imprevisível.
Pelos pés, suspenso, alado
fusão solar.
Cabeça ventre, terra mater
eruptiva explosão,
lava , seiva fértil.
Coração, pacemaker
frio engenho, executor.
Nos pés, átomo solar
descoberta inútil
desprezível devir.
Sem cabeça, sem rodeios,
supra intelecto, génio imprestável,
decapitado, mais humano.
Coroado coração
cérebro ideal,
sem razão sem pensamento
emoção à desfilada.

Dionísio Dinis
 
Facilex Performex

Sem título(32)

 
Se eu disser calor

Falo o teu nome

Se inventar a bússola

Vou a norte de mim pelo teu norte

E gozamos a plácida planície

Ao sul ao sol

À sorte maior da nossa sorte

Dionísio Dinis
 
Sem título(32)

Ão Ão

 
O cão que morde

nas canelas do poeta

de lilases calças flamejantes

a horda raivosa vociferando

de infelicidades próprias projectantes

O cão persegue a cor

é um esteta

a multidão segue obtusa

Intolerâncias

prenhe de invejas e quiproquós

globais obesos escravos

Redundâncias

O poeta morde o cão

numa orelha

vão ambos em perfeita comunhão

mordendo com gosto

a ordem velha

dentada após dentada

Revolução
 
Ão Ão

Sem título(33)

 
Sonho,

Digo o teu nome!

Não sonho,

Procuro-te!

Acordo,

Digo o teu nome!

Adormeces,

Nos meus braços!

Rio,

Digo o teu nome!

Choro,

No teu consolo!

Quente,

Digo o teu nome!

No frio,

Aqueço-te!

Sempre,

Digo teu nome!

Nunca,

Te esqueço!

Alto,

Grito o teu nome!

No silêncio

Sussurro-te!

No fogo,

Digo o teu nome!

No gelo…

Sol!

Ao sul,

Digo o teu nome!

No norte,

Encontro-te!

Hoje,

Digo o teu nome!

Amanhã,

Ouso mais!

Acordo,
,
Digo o teu nome!

Na noite…

Juntos!

Amor,

Digo o teu nome!

No sexo,

Amo-te!

Dionísio Dinis
 
Sem título(33)

Sem título(39)

 
Eu tenho na ponta da língua

O corpo inteiro da palavra

Sabe-me na língua

As letras soberbas do teu corpo

Leio-te no âmago

Decifro-te no sabor da minha língua

Sei o mundo de ti

No saber da minha língua

Sabes da minha língua

O bom saber do meu sabor

Posso dizer

Sexo

Ânus

Beijo

Seios e seios

E a saber de ti integral

Posso saber a beleza de ti

Na ponta da minha língua

Sei da minha vida

Sei de mim

Sei do que urge fazer belo

Sei fazer o teu corpo mais belo ainda

Na ponta da minha língua

Na ponta da minha língua

Desenho o abraço à nossa medida

Faço o rio sereno e revolto

Oferto-te um mar de vida

Na ponta da minha língua

Sou a verdade de nós

Na ponta da minha língua

No recôndito do teu corpo

Na verdade do nosso desejo

Na ponta da minha língua

Construo-te de novo

Reergo-te em êxtase

Na ponta da minha língua!

Dionísio Dinis
 
Sem título(39)

Sem título(37)

 
Que falem tudo de mim

Mas que não falem por mim!

Que se obriguem a tudo

Mas não me obriguem a mim!

Que se calem covardes

Mas não me calem a mim!

Que usem sem pejo a mentira

Mas deixem-me a verdade a mim!

Que vivam de olhares emprestados

Mas deixem o meu olhar em mim!

Que façam amor não amando

Mas deixem-me amar a mim!

Que castrem vossas vontades

Mas deixem-me ser livre em mim

Que vivam eternidades

Mas deixem-me morrer a mim!

Que siga tudo conforme

Que eu já passei do meu fim!

Dionísio Dinis
 
Sem título(37)

Sem título(77)

 
Não sei saber a diferença do vidro mastigado

Nem quero saber da ressaca do vinho vomitado

Todo o vinho barato esvai-se na miséria dos homens impotentes

Todo o amor questionado tem a absoluta graça

Na graça de todos os Nobeis de economia e de todos os futuros Nobeis

E tenho a puta da fé de brindar ao Nobel do amor

Ainda hei-de brindar ao Nobel do amor

Amanhã vou comer melão com jarros de vinho barato

Amanhã como pão de terceira

Hoje parto tranquilo

Amanhã as mulheres serão pássaros objectivamente livres

Amanhã estou serenamente olvidado

Amanhã presto homenagem à minha ausência

Dionísio Dinis
 
Sem título(77)

Sem título(92)

 
E se disser que te amo

Na palavra insuflada pelo ar que respiras

Pelo ar que me dá vida em tua vida

Pela palavra nas palavras que me fazem respirar

E se disser que te amo

E se disser que te amo

perdendo-me na luz vulgar de todos os dias

Doando-me na demanda da luz emérita que de ti provém

encontrando-me na fonte de claridades do teu ser

Sabendo-me cúmplice em tuas noites declaradas de amor

Tornando-me raro pelo amor que me destinas

Invulgar é o meu amor p´la razão de te saber em razão maior

E desmesuradamente ajustada é a palavra nascente na voz do teu peito em que respiro

E sempre renasço se disser que te amo

Se disser que te amo

Saboreio-te na palavra e no acto transparente da palavra transpirada

Decanto o rio livre no mar selvagem

Decanto-me na verdade do teu sol

Sacio-me na verdade do teu ser

Revelo-me quando me tanges e atravessas sabiamente o meu âmago

A veracidade de nós está no corpo a corpo da nudez

No orgasmo da palavra que escrevo em teu corpo

No teu êxtase fulgurante de jardins sacros e selvagens

Na loucura prodigiosa em que tornamos o último fôlego em primeiro desejo

E até na exaustão de me sentir exausto

Existo e revivo em teu amor

Se disser que te amo

Digo e sinto cabalmente que te amo

Se disser que te amo

Amo-te em mim e pelo teu amor também

Se disser que te amo

Se disser que te amo

Gritarei pela cidade que te quero

Falarei às flores da tua beleza ímpar

Cantarei com todas as aves os hinos que mereces

Serei a força indómita de todos os mares

Serei por ti e para ti

Serei para seres bem-aventurada

Serei em ti porque te amo

Se disser que amo

Dionísio Dinis
 
Sem título(92)

Sem título(98)

 
Não quero filosofias nem poemas que falem da natureza das coisas,

como se a natureza das coisas fosse abstracção matemática

ou grandiloquentes metáforas cheias de coisa alguma.

A realidade de mim ou da árvore que me abriga

é apenas a visão ou o sentir da sua beleza e do peneirar do sol, dos ventos

nas suas folhagens, direi apenas que são ventos ou talvez música da floresta .

Por mais significados e mil palavras inventadas, não lograrei explicar-me para além do

que é a minha essência, nem farei mais real a árvore que me abriga de todas as

intempéries.

Da verdade das coisas e dos seus nomes, limito-me a saber sentir o que agora é meu

merecimento, e não profanar o íntimo das coisas e dos seres, é saber mais do que posso

merecer enquanto vivo.

Basto-me sem filosofias nem poemas, contento-me no acolhimento da árvore

sem querer saber mais do que ela é, sabendo apenas que as suas raízes tomam e

renovam incessantemente meu ser.

Saber disto tudo, sem saber de filosofia nem de poesia, poderá ser coisa pouca, poderá

ser quase nada, mas eu que sou de viveres simples, deixo-me a viver em contentamento

de saber que da floresta, fui bafejado com a mais bela das árvores.


Dionísio Dinis
 
Sem título(98)