SER FELIZ (ZÉ POLINOMIO)
Feliz não sou eu.
É quem não nasceu.
Feliz é o tempo
Que até hoje viveu.
Feliz é o santo.
Só porque é santo.
Feliz é quem morre
Pois acaba o pranto
Quem chora de felicidade mente
Ou então não sente.
Chora-se por amor:
Por que amar as vezes dói.
E se dói então não é felicidade.
Então feliz é quem não ama.
Quem não é coisa alguma
Porque não sendo nada não existe.
Se não existe não chora.
Ser feliz...
O que é mesmo ser feliz?
Diga-me.
Ser feliz: Disse-me o homem
É ter "um nada"
Que seja bem maior que o mundo
Então ser feliz não é ter muito.
Meu camarada.
É ter nada.
POESIA DE UM MATEMATICO
POESIA DE UM MATEMATICO (ZÉ POLIÕMIO)
Ao ver tua expressão radical
Senti-me um quadrado
È como se eu fosse um elemento neutro
Sem base, sem potencia e sem exponencial
Tracei muitas linhas e diagramas
100 a intenção de ser determinante
Queria apenas vê-la em evidencia
E você 60 ao meu lado
E acha que não tenho potencia
Tudo isso é sinal negativo
E não faz parte do x-tema
Nem precisa traçar paralela
Nem tese e nem formar teorema
70 por todo ½ ser produto notável
60 ao meu lado olhando por outro prisma
Com diferença impar a abrangente
Nada você soma e nada faz conta
Para você sou um descriminante
Que sempre sai pela tangente
Acho que tens razão. Sou mesmo um 10contente
E quociente de tais contas
Não tenho raiz e não tenho nada
Sou um elemento vazio
Sem limite e sem derivada
FUGA (ZÉ POLINÕMIO)
FUGA (Zé Polinômio)
Não choro, não falo e não canto
A solidão ri de mim com gestos obscenos
As paredes me cercam (são quatro)
Estão armadas. (com concreto armado)
A fala não sai.
O choro não vem.
Nesta noite pretendo fugir pra São Luis;
Embora saiba que lá a poesia casou-se
E que o ultimo poeta enforcou-se.
Mas disseram-me que ainda resta o mar
E meu coração pintado de azulejos
O choro que prometeu vir
Não veio.
E o riso? Nada. (no mar de São Luís)
E a solidão? Continua a debochar de mim.
O silencio é tão silencio
Que não me deixa falar do presente
Sei apenas que existe
É real como essa luz
E como essa dor que persiste
Fugirei ainda nesta noite
Depois de subornar as paredes
E denunciar a solidão
EXISTÊNCIA (ZÉ POLINÕMIO)
EXISTÊNCIA
(ZÉ POLINÔMIO)
Não sou o ponto de partida.
Nem a referência da vida.
Sou apenas um transeunte do universo
Que pensa de seu modo.
Direto ou inverso.
Não sou o centro das atenções.
Nem o motivo das paixões.
Sou apenas um vulto da estrada.
Que às vezes é luz
Que às vezes é nada.
Não sou o homem que imaginas
Nem sigo as regras que ensinas.
Sou apenas a verdade crua
Que às vezes é a minha
Que às vezes é a sua.
Não sou o rumo da estrada.
Nem sou o herói de nada.
Sou apenas conselheiro
Que aconselha a si mesmo
Quando se mira ao espelho
Não sou o núcleo do poder
Nem o herói do saber.
Sou apenas eterno aprendiz
Das verdades e das mentiras
Que essa vida sempre diz.
Não sou a tal palavra que ensina.
Nem a que determina
Sou apenas eu mesmo.
Que às vezes sabe o caminho.
Que às vezes anda a esmo.
Não sou a felicidade completa.
Nem a alegria repleta.
Sou apenas de tal sorte
Que cada dia que passa
Mais se aproxima da morte.
ERREI ( ZÉ POLINOMIO)
ERREI (ZÉ POLINOMIO)
Errei quando te amei
É rei quem te ama agora.
Nunca fui rei, talvez por isso errei.
Hoje nosso amor é rio de nada.
Por ele eu choro, canto e rio.
Desse amor de nada
Neste rio que passo, eu rio.
Quando tu nada.
Deixastes-me... Apenas.
Lugares dentro e fora de mim.
Que vais alugares para essa dor morar
Depois sorrirás de mim.
Zombaras da minha dor
E, então dirás que errei.
E ainda, juraras que é Rei aquele que amas!
BÊBADO DE SÃO LUIS (ZÉ POLINOMIO)
Bêbado, onde está teu brilho?
Tua esperança onde está?
Na Rua no Norte, na Rua dos Afogados?
Como estás afogado... Bêbado!
Tu, que faz ponto na Rua 28
Que embriagado achas que faz coito
Coitado...!
Tua mulher onde está? Teu emprego perdeu?
Não percebes que em cada cálice engoles um sonho
Teus sonhos bêbado, onde estão teus sonhos?
Por que bebes tanto?
Será de alegria ou será pra enxugar teu pranto?
Como? Se não chora? Cantas de bêbado na Rua da Alegria
Que tristeza...!
Onde moras? No Portinho? No Lira?
Como é teu nome? Tens família?
Fala bêbado! Tu és surdo ou qualira?
Não notastes que bebestes os dias, as horas, os minutos,
Tua derradeira esperança?
E o bêbado inerte na sarjeta imunda
Trajes rasgados, rasgado a alma rasgado a bunda
Queria ser doutor, não era?
Já sei: bebes por emoção. Como? Se não cantas uma só canção
Assim como fazem os poetas.
Compreendo: bebes de frustração
Por não ser doutor, por não ser poeta, por não ser feliz,
Por não ser soldado
Ou por ter nascido na rua dos veados.