Poemas, frases e mensagens de Andraz

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Andraz

Manifesto anti-poemas de amor

 
Manifesto anti-poemas de amor
 
Poemas de amor, cartas de paixão e nostalgia sem fim, tristeza sempiterna. Adoras arrastar a tua alma pelo pó da terra. Se tens o vento a correr-te nas veias e um mundo inteiro no lugar do coração, porque finges ser do tamanho de um punho que bombeia fechado lágrimas de dor?

Tens dentro do peito a fonte da luz sem fim, a nascente de onde brotam todos os deuses. A árvore da vida de onde cai o fruto da infinita paz faz crescer raízes no teu ser mais profundo, mas ainda sim curvas-te perante as fragilidades da personalidade humana. Diante de ti, o próprio Divino teria de se fazer vergar e orar em submissa adoração. Que imaginas então dizer quando escreves essas ridículas palavras de triste romantismo?

Cada quadra de amor é um pedido de socorro, é um salva-me desta solidão, abraça-me para longe daqui e faz-me sentir maior. Mas se no teu rosto está o rosto do mundo e nos teus olhos o brilho de mil astros, a quem pensas estender a mão quando te inclinas nos versos que escreves?

Esquece essas infantilidades da alma, espasmos de adolescência de um espírito que nasceu eterno. Vê quem és e despe-te das roupas que não te pertencem. Nu serás infinitamente mais glorioso. Quando disfarçado pelas máscaras dos sentimentos mundanos, o teu ser universal parece uma mera fotografia tirada ao sol. Rasga-te no papel e brilha como verdadeiramente és.
 
Manifesto anti-poemas de amor

Sempre apenas isso

 
Sempre apenas isso
 
As palavras são sempre apenas isso
nunca levam para fora aquilo que as empurra

de
d e n t r o
.
 
Sempre apenas isso

E depois do adeus?

 
E depois do adeus?
 
Digo adeus ao mundo cinzento da indiferença fria; dos sorrisos falsos e dos abraços de mentira.
Separo-me das discussões sem sentido, dos gritos de angústia e da violência aleatória do ego.
Deixo para trás a agressividade latente nas filas dos autocarros, nos escritórios dos edifícios envidraçados, debaixo dos tectos onde pais e filhos se cruzam.
Digo adeus às multinacionais gigantescas que infinitamente estendem os seus tentáculos, sufocando comunidades, nações, números incontáveis de seres.
Despeço-me dos interesses e das ambições; divorcio-me dos medos, dos rancores, dos anseios e desejos, rectrospectivas e perspectivas; deixo para trás sonhos e intenções, marcas, modelos e raças, diferenças e semelhanças, todos os prazos e projectos - acabados, por acabar, por começar ou planear.
Digo adeus a todos os rios conspurcados, a todas as árvores decepadas, aos ocenos enegrecidos e às cidades obscuras.
Abandono o universo inteiro, esqueço-me de galáxias e mundos, da minha própria alma, coração e espírito; até do sonho de ser maior ou alguém de todo.

Vede a minha alma a flutuar para além de tudo, muito mais além...

E agora? Quem sou eu e para onde me dirijo? Depois do adeus a todas as coisas do mundo e de fora dele, todas as coisas físicas e etéreas, que caminho resta ao homem vazio? Continuo aqui, há-de haver uma estrada a percorrer. Onde me levará ela? Na ausência de tudo o resto, quem sou eu agora?

Uma alma de gavetas vazias. Sem conteúdo, haverá contornos a delinear o vazio?
 
E depois do adeus?

A nudez original

 
A nudez original
 
As ideias são como roupas. Podemos vestir as que quisermos, mudá-las quando quisermos, podemos ter roupas elegantes e caras, baratas, sujas ou rotas, mas por debaixo estamos sempre nus. As roupas, por muito diferentes que sejam, escondem algo que é igual para todos: uma nudez que nos foi dada originalmente à nascença e que nunca é perdida, apenas camuflada.

Assim são as ideias. Podemos ter ideias fantásticas sobre a vida ou nós próprios. Podemos ter ideias muito avant-garde ou ideias muito retrógradas. Podemos nutrir ideias muito ou pouco ortodoxas, mais abertas ou mais fechadas, mas, por debaixo de todas elas, esconde-se um ser humano que não faz ideia do que é que isto se trata. "Isto" é a vida, é a essência de estar vivo, é o que nos faz existir e é o que nos faz morrer.

Debaixo de todas as capas, sobretudos, casacos e chapéus está um corpo nu, uma mente despida de todos os adornos que lhe foram acrescentados por razões sempre desconhecidas. Debaixo de cada peça de roupa - comunista, democrata, religioso, new-ager, libertário, anarquista, materialista, activista - esconde-se aquilo que nunca desaparece, por mais roupas que sejam adicionadas. Esconde-se um ser humano que nunca será mais ou menos do que isso - humano. Alguém que quando toma banho é igual a outros mil que tomam banho, que quando se alivia, se limpa como outros mil se limpam, que quando come, mastiga e engole como o fazem outros mil que mastigam da mesma maneira.

Por detrás de cada veste esconde-se alguém que vê em toda a peça de roupa uma oportunidade - a oportunidade - de transformar esta vida em algo um pouco mais tolerável, mais fácil de vestir. Cada roupa é um escudo, cada escudo uma máscara, cada máscara um grito de revolta. Cada grito de revolta é um pedido de socorro, um chamar pela paz, pelo silêncio que tudo leva, pelo oceano que tudo purga.

Cada ideia onde nos introduzimos é uma tentativa de vestir a nossa nudez original, a nossa fragilidade essencial, a nossa vulnerabilidade total. É uma muralha erguida para nos esconder da verdade que fingimos procurar, da verdade da qual fingimos fugir; a verdade que é quem nós somos e, referente à qual, buscas ou fugas fazem nenhum sentido.

Pessoas morrem e matam pelas roupas que vestem, pelas ideias que erguem. Nações inventam novas roupas, controlam povos por causa delas, mentem por causa delas, pisam e esmagam por causa delas. Todos esquecem que a roupa não é a pessoa, que a pessoa está e sempre esteve nua e que essa nudez, essa pessoa, é igual para todos, em todos. Ricos e pobres, inteligentes e broncos, bons e maldosos, todos estão tão nus como todos os outros. Ninguém está mais nu que ninguém. A nudez é como a verdade - não conhece níveis, estados ou relatividades. Existe em pleno absoluto.

Sou plenamente nu, plenamente verdadeiro, plenamente eu - as roupas não apagam o que sou, apenas disfarçam, como uma peneira ao sol. Por detrás de cada buraco brilha a luz, por detrás de cada olhar cintila o nu e cru que habita o coração de todos sem excepção. Os olhos não tapam o que a roupa intenta, não disfarça o que as palavras e discursos distorcem. O frio faz-se sentir na nudez da cada um, independentemente das roupas que nos tentam proteger do gelo que se ergue à nossa volta. Na nuvem de bafo quente que se forma ao abrirmos a boca pode escrever-se o que os nossos lábios têm medo de pronunciar, que esta nudez, esta fragilidade, esta vulnerabilidade é desconfortável, magoa profundamente, cria ansiedade e insegurança. Por detrás de cada armadura respira um corpo mole, tenro perante qualquer flecha, espada ou bala. Por detrás de cada peito erguido vive uma ferida interior que tentamos esconder no fundo do coração.

"Quem não está confuso não compreende realmente a situação", disse Edward R Murrow. Eu diria que quem não está confuso ou já se despiu por completo e treme de frio, treme de verdade e real, ou tem demasiadas roupas a obscurecer, a entreter, a engodar a mente e a evitar que a nudez de si próprio e da vida se mostre absolutamente. Se mostre absolutamente. Absolutamente. Nua.
 
A nudez original

A coisa mais es tranha do mundo

 
A  coisa  mais  es tranha  do mundo
 
Viver é a coisa mais estranha do mundo, pois congrega em si o potencial para o mais extraordinário e para o mais desgraçado, sendo simultaneamente absoluta e eternamente desprovido de qualquer sentido. Faça-se o que se fizer, grandioso ou ridículo, nunca de nada serve no longo prazo. Não é isto niilismo ou desesperança, é tão-somente uma fria e lógica observação da profunda realidade das coisas. Nesta ausência de sentido surge, e é inevitável, uma sede interior de significado, de direcção ou propósito, e esse movimento de alma do homem é o maior paradoxo da existência, e igualmente estranho, pois é ele ao mesmo tempo vazio também de significado de onde surge, mas pleno de realidade e verdade aonde chega. Nascendo do ser humano, que apenas é mais uma peça de matéria à deriva no cosmos, é obrigatoriamente sem sentido; mas chegando à única essência da vida, que é por vezes chamada de espiritual, alcança um valor imortal e exclusivamente real.
 
A  coisa  mais  es tranha  do mundo

No quarto da alma

 
I
Apetece-me sentar
no alpendre
do meu rosto
e,
debaixo do beiral
do meu cabelo,
ser feliz para sempre.
Dali olho as ruas
dos meus braços,
unidas
no cruzamento das mãos.
Carros passam
e levam o meu pensar;
bicicletas deslizam
no meu sentir.

II
O dia apaga-se
com o fechar dos olhos
e dentro de casa
sento-me no sofá
do coração.
A televisão
passa filmes
de fantasias e intenções,
anseios e quimeras,
e são todos meus.

III
Ali me divirto
com os meus roteiros
para o futuro,
mas quando adormeço
no quarto da minha alma,
a paz que lá se sonha
vale mais
do que o brilho
de todos
os
sóis.
 
No quarto da alma

Será que ainda te lembras?

 
Será que ainda te lembras?
 
Quando há interesse, as coisas acontecem. É tão simples quanto isso, lei universal. Nunca há tempo oportunidade disponibilidade para estarmos conversarmos para eu não me esquecer de quem tu és e tu de quem eu sou.

Será que ainda te lembras? Nunca há tempo para parecer que existe ainda linha, mesmo que ténue, a ligar estes dois pedaços a quem chamamos nós. Somos uma ponte sem margens para unir. Nada nada nada que possas dizer ou inventar muda o que sinto com tudo o que não me dás.

Repetidamente saio como que com um tiro no peito, vazada uma vista no coração, és o meu castigo mais pesado que apenas queria que acabasse. Desiste de fingir que ainda me conheces e talvez um dia eu seja livre de te ter conhecido.
 
Será que ainda te lembras?

Só o amor é real

 
Só o amor é real
 
O Amor
não se rege
pelas leis do Homem
mas sim
pelas leis de Deus

Estranhamente
Deus apenas impôs
uma condição legal:
tudo é possível
mas só o Amor
será real

Julgá-lo
e tentar compreendê-lo
com olhos
que não os do coração
é como querer segurar
o vasto oceano
na pequena palma
da tua mão
 
Só o amor é real

Tudo o resto é sombra

 
Tudo o resto é sombra
 
Deus é grande,
I m e n s o,
VASTO
para além de qualquer esforço do pensamento!

No coração Dele mergulho,
no meu mergulha Ele.
Neste mergulhar
surge a compreensão de que
o coração que mergulha
é o coração mergulhado.

Apenas Um é.
E apenas isto é Paz.
Apenas isto é Luz.
Tudo o resto será
sempre e eternamente
sombra e poeira
e lama sob uns pés que não vêem.
Tudo o resto será
sempre
um tormento sem fim,
um firmamento
eternamente sem estrelas.

Entrar em casa
sereno e feliz,
verdadeiramente sereno e feliz,
é o único céu onde pouso o olhar
e pelo qual anseio.
Por isso vim até aqui.
Por isso caminharei enquanto caminhar.

É esse o sonho
por detrás
de todo
e qualquer passo
dado neste canto
deste mundo.
 
Tudo o resto é sombra

Oceanos que se entrechocam

 
Oceanos que se entrechocam
 
O rapaz sente dentro de si um mar que parece explodir para o céu a meio, como que repuxo de dois oceanos que se entrechocam, saboreia a excitação do mundo que o espera duas horas adiante de si, prova do suor das batalhas que irá travar consigo, os projectos são irrelevantes, o que interessa é superar-se a si próprio, é transcender o que era ontem e ser o amanhã hoje, é mostrar a todos a sua imponência cognitiva, a sua majestade cerebral, a sua grandiosidade genial, já sente a adrenalina, já antevê o sangue a correr aceleradamente nas veias, o brilho enfiado nos olhos, o sorriso no canto da boca, as palavras acertadas de triunfo na resolução de mais um enigma, de mais uma dúvida, de um projecto que sem ele estaria atascado indeterminadamente nos lamacentos carreiros da mente comum, este é o oceano que corre numa direcção, contra ele esbarra um outro que lhe traz aos lábios uma água de sabor amargo, uma insegurança, um coração desocupado de afectos, uma alma desabitada de qualquer amenidade humana, terá sido uma rapariga loira que ficou ignorada numa estação, terá sido uma mãe de catorze anos que foi atirada para a irrelevância do esquecimento, sente-se a transferir uma vida para dentro de si enquanto se descarta da anterior, é cobra que muda de pele, mas a nova não surge ainda e a velha já se liberta, está ele nu, débil e frágil, como bebé de carne tenra, neste momento é como se existisse em coma, já não vive a vida que viveu, ainda não vive aquela que viverá, está numa ponte entre as margens que são a sua existência, ele olha para um lado e vê lá uma vida, olha para o outro e vê lá uma outra vida, onde estará ele que tão bem vê estas existências mas vive como se não fossem elas dele, como se não existisse ele já ou ainda, será o vácuo interior, o deserto identitário, todo ele é um ser oco, desguarnecido, destituído de miolo, comido de todo o conteúdo, é como um poste de electricidade, por si passam cabos que conduzem uma energia viva, mas ele não passa de uma estaca de madeira morta, viaja num avião climatizado, em bancos de pele, uma obra clássica baila no stereo, mas por dentro subitamente sente-se como uma criança despida, o calor solta-se da carne com o passar da noite, dentro de si ele dorme enrolado num chão frio de azulejo.
 
Oceanos que se entrechocam

Silêncio

 
Silêncio
 
O
silêncio
é
algo
bom
de
se
falar
.
Nele
encontro
as
melhores
palavras
sem
ter
de
as
dizer
.
 
Silêncio

Ponte transparente

 
Ponte transparente
 
Em vez de comeres com os olhos o chão,
traga antes o céu com o coração.

Acende no peito uma tocha ardente,
e queima a permanente doença da mente
que te pára diante de uma ponte transparente.
 
Ponte transparente

Corpo vin d o d o c é u

 
Corpo vin d o d o  c é u
 
A morte cai-me nos braços
como um corpo vindo do céu,
é vida que se solta
como suor
que lentamente se larga da pele,
a terra que a recebe
é a lama que piso,
sozinho um vulto se ergue agora,
sou pele que fica para trás,
vazia como uma casa abandonada.
 
Corpo vin d o d o  c é u

Natureza presa entre quatro paredes

 
Natureza presa entre quatro paredes
 
Hoje, quando vinha no autocarro, passei por um prédio de apartamentos que tinha algumas varandas
repletas de vasos com plantas e flores.

Pensei,"Que engraçado. As pessoas fecham-se em enormes blocos de cimento e depois decoram-nos
com alguns vasos para não se esquecerem que,
algures,
existe uma coisa
chamada natureza..."
 
Natureza presa entre quatro paredes

con tradição ab surda

 
A existência humana
é uma
con
tra
di
ção absurda,

como a de um homem
que
de
testa

rir
.
 
con tradição  ab surda

O estranho

 
O estranho
 
na ausência
de auto-conhecimento
vives
vinte e quatro horas
por dia
com um estranho

e o estranho
és tu próprio
 
O estranho

A ditadura dos sentidos

 
A ditadura dos sentidos
 
Aahh, a ditadura dos sentidos, a tirania das aparências, o fascismo dos contornos exteriores do corpo, os seus vários elementos, os olhos, o cabelo, agora as formas libidinosas dos seios, as coxas, as nádegas, as pernas delgadas que parecem estender-se até nós, convidando a por elas subir, a por elas subir e perder o sentido.

O déspota que é o sorriso, os tiranos dos jeitinhos de ombro, os opressores que são os pequenos tiques singelos do rosto que escravizam quem deles bebe, quem deles se torna servo, quem neles embarca na atribulada viagem pelas águas escuras da beleza, da sensualidade, os caminhos tortuosos que se escrevem nas linhas curvas da formosura, da elegância, da delicadeza corporal.

Aahh, que subserviência atroz a dos sentimentos que se regem pelas malfadadas atracções dos corpos, e não pelas sublimes e dóceis inclinações do espírito, as empatias amigáveis do coração. Infeliz troca de prioridades, como a do filho pródigo que regressa a casa volvidos anos de longas caminhadas, peregrinações, e antes de abraçar a mãe ansiosa, o pai que o olha emocionado, vai primeiro a correr aos lavabos a aliviar-se das persistências do baixo ventre.

Quem me dera que a beleza que carregas no coração, como se levasses ao peito uma criança de colo, como se nele se encaixassem todas as riquezas de todos os reinos, todos os recantos do mundo onde estacaram homens, embatocados com a deleitosa perfeição da Criação, quem me dera que essa beleza que abraças dentro a levasses também fora, nas linhas do teu rosto, no encanto do teu perfil, na maciez do teu cabelo. Amar-te-ia sem um segundo de hesitação, amar-te-ia sem que me atraiçoassem as fraquezas da razão, que escravas deveriam de ser da força da emoção pura do coração, mas não o são, não o são, repito, são elas quem na sua fraqueza comandam, são os tiques da vanidade, da vaidade, que sempre em busca do belo, do esbelto, dos contornos sedutores e apelativos ao apetite voraz dos sentidos, as fraquezas da razão que se perdem num mar de ossos e trapos, de bolor e bafio, elas as mesmas que deixaram os tesouros da seda e do mel para trás, os aromas dos perfumes, as reluzências dos cristais.

Ai, se os meus olhos fossem cegos, se não tos pudessem eles ver, e apenas pudesse o meu coração sentir o que sente quando o meu olhar se confunde no brilho que cintila no teu, pudesse isso assim ser, e jamais deixaria eu o teu colo, o teu centro, enrolar-me-ia em ti, juntinho à criança que levas no peito, a criança em forma de coração, o coração em forma de baú, baú em forma de cofre onde guardas todos os encantos do mundo, onde os reis do universo generosamente depositaram os tesouros que outrora lhes pertencera, um cofre que deixas aberto no peito, quem se chegar perto nem precisa de chave, a luz do teu ouro brilha desentravada e toca em quem tiver olhos verdadeiros para a ver.

Se soubesses como te acho bela pelo lado de dentro da alma, como vejo no teu coração uma paz e ternura que não as conhecem a maioria dos homens deste mundo, se isto soubesses abririas tu os portões do teu peito e espalharias pelas ruas e campos, pelas serras e mares, espalharias as cores e os sabores, as fragrâncias e as elegâncias que te enchem o corpo pela força que uma alma recheada faz nas paredes físicas que a cercam. Tens uma alma cheia como os têm os vales da Terra os declines onde se depositaram os oceanos, transbordas em todas as praias do coração vagas que lavam as areias escuras que lá habitam.

És grande, muito grande, descomedida na sumptuosidade dos sentimentos que trazes, és como um palácio que caminha entre as tendas, palhotas e barracas que se estendem na periferia do teu olhar, luminoso como sempre é o das rainhas e princesas dos reinos da alma.
 
A ditadura dos sentidos

Eu sou feito de luz

 
Eu sou feito de luz
 
Esta mente é uma prisão,
mas dentro dela não vejo ninguém.
Há uma penumbra que lá ondula
e pronuncia o meu nome,
mas eu não a conheço.
É assim que respiro a minha total liberdade.

No espaço vazio entre os muros da cela
o meu ser voa em queda livre.
O silêncio que eu sou
é chão onde nenhuma prisão
poderá alguma vez ser erguida.

Em meu redor
enormes paredes se levantam.
Elas são feitas de sombra
eu sou
feito de luz

Baseado na frase de Jean Klein: "the mind is a cage, but there is no prisoner inside."
 
Eu sou feito de luz

Med o s

 
Med o s
 
Antes morrer
porque não tive
medo de
v i v e r

do que não viver
porque tive
medo de
m o r r e r
 
Med o s

Foi o Homem

 
Foi o Homem
 
A p a z
n u n c a a b a n d o n o u
o c o r a ç ã o d o H o m e m

F o i o H o m e m
q u e a b a n d o n o u
o s e u p r ó p r i o c o r a ç ã o
 
Foi o Homem

Não precisas de responder às tuas questões. Precisas é de questionar as tuas respostas.