Carta a Deus: abraça-me sem o toque
Sei que não me abandonaste; sinto que não me deixaste. Sim, refiro-me a Ti…aquele que me conduz e que me guia; aquele que me dá vida e força: a Ti, meu Deus.
No meio de tudo (ou talvez do nada!) pergunto onde estás, onde estiveste, qual o motivo para não me teres ouvido ou simplesmente porque não me ajudas a recuperar o que foi perdido. Lá no fundo, mas bem lá no fundo, eu sei que estás comigo, mas, para meu bem, não podes satisfazer todos os meus sonhos, os meus desejos. Sei que não podes pôr no meu caminho o que eu queria e quem eu queria; sei que aquilo que fazes é por bem e que mais tarde reconhecerei o valor.
Desculpa escrever-Te, desculpa nem sempre me lembrar de Ti, desculpa-me o egoísmo, a vergonha em afirmar mais vezes a minha fé, mas Tu também sabes que para mim és diferente, especial, único. Não és o Deus castrador e severo, não és o Deus que pune nem que castiga; és o Deus que abraça sem toque, que toca sem se sentir e que se sente sem se saber. És fonte de inspiração para eu ser quem sou, para fazer o que faço.
Estou perdido e sei que o sabes…e como o sabes tão bem. Terei o que mereci? Será que fiz para o merecer? Será que assim teve de ser? Não quero que me respondas, mas se consegues acompanhar a leitura de tudo isto ao som do teclado do computador, então pensa comigo: se eu só queria ser feliz, porque não me deixas ser? Porque estás a pôr uma pedra no meu caminho? Não faças mais…não deixes que me continuem a magoar com a agressividade da voz e com os fragmentos dos momentos. Dá-me força e alma; dá-me um corpo coerente e uma mente sã; dá-me o cheiro dos lírios e o dom da beleza.
Não sou exemplo pelo que faço ou pelo que sigo, pelo que idealizo ou pelo que projecto, mas sou exemplo pelo coração que me deste e que me ensinaste a construir: sou exemplo pela força que transmito a quem precisa, pelas vezes que afago as palavras dos momentos menos bons, sou exemplo pelo raciocínio de amor.
Sabes que não sou o mesmo. Sabes que sofro e que me magoam. Sabes que tento ser forte e austero, veloz e autónomo…mas dentro de tudo isto impera a fragilidade dos momentos e a incongruência do meu entendimento.
Peço-te, mais uma vez, que me devolvas a forma de gostar e de admirar. Quero voltar a admirar a arte de viver, cada momento bom da vida, cada conquista, cada desafio, cada oportunidade. Dá-me luz, muita luz, para que possa iluminar o rosto de quem amo.
Faz do meu ser um exemplo de amor. Faz de mim um instrumento de paz. Faz de mim a conquista, para que a dúvida nunca me guie.
Mesmo sem endereço, envio-te estas palavras e estes desejos. Faz, por favor, de mim um servo ao serviço de quem precisa e ajuda-me a agradecer mais cada dádiva que vem ao meu encontro. Abraça-me sem o toque…
Migalhas
Se uma migalha é o que sobra, então estou repleto de migalhas. Umas maiores, outras menores…mas todas retratam o fim; o que sobrou de alguma coisa…de algum momento, de alguma verdade, de alguma circunstância ou até mesmo de alguma meta frutífera ou infrutífera.
Sinto-me como uma migalha que vagueia na toalha que há-de ser sacudida. Sinto-me uma migalha longe e distante, onde os rituais deram lugar aos hábitos e onde os sentimentos se transformaram em meras mensagens cujo conteúdo só difere na interpretação que cada um de nós lhe tenta dar.
Sou uma migalha…mas com cheiro e sabor. Cheiro a nostalgia, a esperança, a crença, a desejo e, a par de tudo isto, conduz-me o sabor; aquele paladar que começa a saber a fel pelo facto da ausência psicológica ser, por vezes, tão ou mais violenta que a física.
Como em qualquer conto de príncipes e princesas, também queria ser um herói guerreiro capaz de ultrapassar todos os obstáculos e transformar as utopias dos sonhos em realidades presentes. Tento-me adaptar a cada momento, a cada passo, a cada etapa…mas não consigo nem quero adaptar-me por completo. Tenho medo de perder o meu eu e, ao mesmo tempo, de entrar num horizonte ameno e pálido, onde o meu querer se transformará em abstinência.
Se sou novo, se sou pouco crente ou se o meu Deus não me ensinou os ideias que o teu pregoa…não sei. Também não me importa. Só sei que às vezes tenho vontade de abrir aquele baú das memórias esquecidas que guardo no meu coração, porém, temo cada pensamento que me assola sobre este assunto. Explico-te o motivo: tenho medo de encontrar o vazio, o nada, o desperdício. Procuro as cartas, os poemas, as flores secas, os bilhetes sorrateiros, as fotos assinadas e até talvez algumas migalhas, porém, sei que apenas encontrarei a aventura e a nossa luta. Já é muito…concordo contigo…mas nem imaginas o quão importante são as pequenas migalhas para mim! Aquelas que sacudimos todos os dias ou que simplesmente deixamos para amanhã pelo facto de hoje dar muito trabalho e não haver pachorra para isso!
Cada um dos meus gestos é uma migalha de afecto, ternura e preocupação. Ainda assim, sei que para ti as migalhas são pormenores de indiferença alheios a qualquer crescimento sentimental!
Pautas com Eco
Doce som, linda melodia
Meu amparo, minha companhia;
Canta para mim com leve fantasia,
A ver se tudo acalma este dia de ventania.
Toques suaves, badaladas agudas,
Dias cinzentos, timbres magníficos,
Sons de poetas, homens de luz
Guiados por estrelas ao viver que reluz.
O som já impera,
Os gritos também,
Falta a quimera
De quem vive e espera.
Enaltece sinais,
Enverga postura
És música e conténs
As pautas da loucura.
Contemplação
Rochedo de avalanche,
Sentinela de troante;
É assim que me sinto,
No meio de um mundo semblante.
Peço contemplação,
E encontro a procura,
Da descurada aflição
Que teima em não ter cura.
Onde?
Como?
Porquê?
Sorrisos de amizade,
Olhares de verdade,
Quero mais, muito mais!
Neste mar de esquecimento,
E na partilha do momento…
Eu peço em discernimento
Que me afagues com sustento.
Onde? Como? Porquê?
Respostas de ilusão…
A par de um sorriso de contemplação!
Se vieres...que seja por bem!
Faz como quiseres
E volta se tiveres vontade;
Vem num silêncio em que imperes
E cantes de novo a saudade.
Loucura ou dor,
Desejo ou maldição;
Vivo com ardor
Os problemas do coração.
Pequei por gostar,
E peco por amar;
Mas sei que hei-de cantar
A vitória a transbordar.
Não quebres o encanto,
Nem magoes a esperança;
Desaparece sem espanto
E não deixes a lembrança.
No planalto dos encantos,
Na travessura da fortaleza,
Eu sei que os teus espantos
Serão sempre a minha incerteza.
Não quero mais abraços,
Nem palavras de mel firme;
Quero somente compassos
Que dancem o meu timbre.
Se vens por bem, entra. Fica.
Se queres magoar, sai. Vai
Deixa somente a luz
Que por Ti me conduz.
Medita
Medita! Agora pensa e volta a meditar. Não medites somente com a respiração; medita, acima de tudo, com o coração. Será possível? Aquilo que eu sei que tu não sabes é que o melhor acto de meditar é a consciencialização do próprio Eu.
Pára, observa e sente. Depois senta-te e deixa de sentir. Põe de lado as adversidades, a dor, a beleza e até mesmo as coisas boas. Despega-te do inútil, do vazio, do vago. Despega-te da felicidade que pensas possuir. Livra-te, solta-te e raciocina comigo de forma consciente e prática.
Analisa o que és, o que foste e o que desejas ser. Canaliza as tuas forças para o horizonte da luz e acolhe em ti a energia que te sacia. Sei que a vais encontrar nas paredes que tiverem a cor que te ilumina, nos olhares que vierem por bem e depois naquelas coisinhas que tu nem sonhas: nas pedras, no orvalho, na chuva, no sol e no caminhar. Sempre que caminhares encontrarás vitalidade e essa mesma força traduzir-se-á num método mais ou menos fugaz mas resultante.
O caminho funciona como uma semente. Não é uma semente qualquer. É uma daquelas que germina com pouca água e que, posteriormente, cresce com muita facilidade. Funciona como ambivalência: por um lado floresce e, por outro, sacia. Floresce no coração humano; sacia a dor e devolve a certeza.
Falando em certeza…onde pára? Sei que não sabes dela, mas está em ti e somente em ti. Está dentro de ti e podes ir buscá-la quando te sentires comodamente. A certeza está sempre no nosso interior e quando pensamos que se está a transformar em dúvida é quando se torna mais forte, mais capaz, mais obediente, mais prática.
Medita e segue. Segue o olhar e a luz. Segue a vida. Segue somente.
Medita e abrange o infinito, abraça o desterro do passado e cresce com a paz.
Medita e consegue o desconhecido para que envergues a exímia capacidade de “ser capaz”.
Vem e segue; vem e fica; vem e prova que és capaz.
Medita…pelo teu eu!
APRESENTAÇÃO DO MEU LIVRO - "PEÇAS SOLTAS"
Neste início de ano lectivo ou de período de trabalho…desejo-vos tudo de bom!Venho por este meio comunicar-vos o desafio que abarquei há alguns meses: a escrita de um livro, onde a prosa e a poesia se conjugam num cenário livre e solto.“Peças Soltas” é o livro que escrevi e que vai ser publicado pela Corpos Editora. Assim sendo, convido-vos, desta forma, para a apresentação da obra – dia 27 de Outubro de 2007 (sábado), pelas 15h30m, no auditório da Escola Superior de Educação de Castelo Branco. Durante a referida apresentação haverá ainda um breve momento cultural (“espectáculo” de danças de salão levado a cabo por professores da Escola “Pautas à Solta” de Castelo Branco).