68h

- devia cortar agora as pernas ao coração -

não existo nesta rua por onde passo agora, onde cruzo os braços, encolho os ombros, olho a noite e espreito por entre as estrelas. daqui não sou e não, não, aqui não quero deixar andar o meu coração. devia-lhe agora cortar as pernas, não o deixar andar por aqui. não existo nesta rua, nem quando olho e a reconheço dentro de mim, nem assim. daqui não sou nem que me pintem o coração com a fachada destas casas. aqui não pertenço. e é quando o gelo me entra pela boca, que sinto nevar-me da boca ao coração ou do coração à boca, que sei, sinto, minto,lembro, a minha rua, o teu rosto, estendido pela fachada de todas as casas que me pertencem, essas sim, minhas. e sei, devo, deixar por aí andar livre o meu coração.