Poemas : 

Esqueleto à beira mar plantado

 

Degolam a palavra,
Pelo simples e egoísta acto de matar,
Idiotas inúteis
Ocos entre o parietal e o frontal,
Corre-lhes nas artérias exangues
Um pútrido líquido que esparramado pelo nasal
Contamina suínos à peste humana.
Admiram a unha tratada na ponta da falange,
Raspam o sabugo,
Engordurado pelos que rompem a cervical
A engordar-lhes os fígados hepáticos.
Longas vidas têm as bestas
Que da ciática se livram
À custa de quem rompe as rotulas
A encerar-lhes o lídimo piso
Onde assentam as plantas
Que lhes suportam os cuneiformes.
Debitam diarreias para audiência
De campânula em riste
Ignara dos riscos que os tímpanos sofrem
Ao oferecer a tuba auditiva aos rectos falantes.
Abanam as clavículas em jeito contristado e pesaroso
As pobres audiências
Que lhes sufragaram o direito de perdigotar aleivosias,
Continuando a romper falanges
Nas plainas alisantes da madeira
Onde sentam o sacro cu.
Despontam como papoilas na primavera
Os gordos asnos sufragados
Para um povo que lhes merece o peso,
Que pela força não os desencadeira
E por uma cruz os legitima.
 
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jaber
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Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 24/02/2010 22:44  Atualizado: 24/02/2010 22:44
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 Esqueleto à beira mar plantado ao jaber
tenho acompanhado a tua evolução, construtiva. raramente me engano e já antes de disse, aquando de um teu comentário a um texto meu, que sabias colocar voz nas palavras. este poema é exemplo disso. construído em volta de um tema/mensagem/verdade de forma coerente e precisa, sem abandonar a voz que lhe dá ser.
um recado muito bem dado, incompreensivel só para quem tapar os ouvidos.

um beijo,
mar.


Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 24/02/2010 22:52  Atualizado: 24/02/2010 22:52
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 Re: Esqueleto à beira mar plantado
Visceral e mordaz como eu tanto aprecio!

Uma boa forma de reduzir o monstruoso défice deste país era colocar a verborreia a pagar imposto! eheheh

um abraço


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/02/2010 22:58  Atualizado: 24/02/2010 23:01
 Re: Esqueleto à beira mar plantado
vais e volta. os cabelos grisalham um pouco mais, mas não hamenizas o tom da voz. vomitas, para humedecer a garganta... para sustentar a força das palavras. grande fala jaber.

meu fraterno abraço, amigo e irmão.

Silveira


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/02/2010 14:19  Atualizado: 25/02/2010 14:20
 Re: Esqueleto à beira mar plantado - p/ Jaber
E aí, Jaber?

Cara, perplexo com teu desencanto!
Por aqui é a mesma merda. Sustentamos a máquina
direta e indiretamente a contragosto.

Mas alguém que vê um pouco mais longe e o todo
precisa dizer algo: você.

Muito bem construído este, diria, manifesto.
Quiçá o mesmo quebre um dente da engrenagem.

Bravo!

REHGGE.

Enviado por Tópico
Antónia Ruivo
Publicado: 25/02/2010 15:35  Atualizado: 25/02/2010 15:35
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 Re: Esqueleto à beira mar plantado
Ora aqui está o Jaber que gosto de ler, beijinhos amigo