Poemas : 

Ó mar... devolve-me o filho!

 
Saiu-lhe uma súplica doída
Da garganta gasta e anosa,
Saiu-lhe uma réplica moída...
A suplica já vinha roída,
Sem esperança, chorosa.
Ajoelhada no altar de uma capela,
De fachada trabalhada e frondosa,
Orava por vida que não há nela,
Vida de roseira sem rosa
A que havia faltado a cautela.

Chorava ela:
- Ó mar... devolve-me o menino,
O filho de todos os meus dias
Que me roubaste tão pequenino
Com ondas revoltas e frias! -

Pedia, rogava, implorava
Em promessa de morte
Por um momento mais sem dor,
Sem o ferro que entra, que se crava
Em corpo arredio da sorte
E já engelhado... sem cor.

Valdevinoxis

(originalmente publicado no Luso em 06/02/2007)


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 01/09/2009 13:00  Atualizado: 01/09/2009 13:00
Membro de honra
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Mensagens: 8104
 Re: Ó mar... devolve-me o filho!
Uma vida doída num poema em que cada palavra dói. Muito bom. Abraço

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 01/09/2009 15:52  Atualizado: 01/09/2009 15:52
Membro de honra
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Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3100
 Re: Ó mar... devolve-me o filho! p/ Valdevinoxis
Chorado, sentido, sofrido e belo.

Abraço Mano Velho

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 01/09/2009 17:49  Atualizado: 01/09/2009 17:49
Colaborador
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Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: Ó mar... devolve-me o filho!
Deixo-te, Val, emocionada, a letra de uma belíssima canção do Buarque que cabe inteira no teu poema e ainda sobra dor.


Angélica

Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar