'palavrosia'
veemente
disse que eu não mais viria
às palavras me insinuar...
que um tempo
daria
de fininho saindo
sem provocar
ondulações, nesgas violáceas
resquícios de vento
sequer.
entretanto...
é mais forte
a vontade de te sentir
as curvaturas
tuas
delinear.
teus
sentidos claros ou
indefinidos,
pesquisar
tocar teu porte
fechar os olhos
sentindo tua espessura.
dar-te meus olhos
minhas mãos
meus lábios
entreabrindo-se
silábicos
arfantes de breves
surpresas
fazer-te amor
balbuciando intrigas
provocando
protestos
confesso...
és minha libido
minha luxúria
meu vício promíscuo
e também minha oração
és o limiar de um voo
asas minhas em convulsão
és tatuagem
roçagando como vento
minh' alma
também és
o antídoto
... a minha calma!
Poema Despido
Dominas-me voraz
Sem que entenda o sentido
Dos versos que trazes
Na boca que beija
Em carícias longas
O brilho do sol.
Sou apêndice sôfrego
De um poema.
Pacifico-me na tua voz
Que embala o desejo
De ser letra do teu corpo,
E rasgo a folha imerecida
Que te sustém,
Com a fúria decomposta
Da improbabilidade
De te possuir.
Contempla-me
Na prateleira exposta
No extremo do segmento.
Sou matéria invisível
Dos teus propósitos.
Às voltas
Quando escrevo por vezes penso
Que vou parir uma montanha
Que por ser tão tamanha
Será soprada pelos quatro ventos
Banhada pelos sete mares
Que irá na solas dos astronautas
Pisar novos mundos
Que por sistemas solares
E outros lugares profundos
Irá divagar
Como luz a se propagar
Que será para sempre
No espaço e no tempo
Na matéria e na memória
Que será vitória
Se fará rainha
Quando às guerras do Homem
Mostrar-se espada na baínha
Ah Deus, Deus, chego a chorar de emoção
Quando penso, por momentos, ter um poema assim na mão
Quando sinto andar às voltas a chave do Universo
E não esta folha em branco, sem um traço, sem um verso
Nasceu um poema
NASCEU UM POEMA
Meu coração é como um cipreste gigante
Enfrenta o tempo e a tempestade
Resiste, mesmo apertado segue adiante
Barco à deriva num mar de saudade.
São meus sonhos searas à mercê dos ventos
Meus poemas filhos por nascer
Sinto-os nas entranhas, ouço-lhes os lamentos
E aguardo o momento de ao Mundo os trazer.
E assim vou moldando seus passos,
Segundo minha visão
Acrescento-lhes mais umas gotas de medos
Alguns cansaços
E para tapar buracos no casco, a solidão.
Finalmente o desespero que meu rosto esconde
E meus olhos que se perdem sabe-se-lá por onde.
Vida inteira e uma mão cheia de nada
Hoje acordei vazia e assustada
Restos dum sono desassossegado
Palavras à volta na boca
Meu coração acelerado
Agarrando-se à vida que já é tão pouca.
Mais um poema é puxado para fora da mãe
E eu pouco sei do seu nascimento
Mas sendo mãe passam as dores, fico bem
E a minha dor se tranforma em amor neste momento.
O nascimento?
É íntimo e doloroso!
E mais um milagre me parece...talvez curiosidade?!
Dentro de mim a chave... a saudade!
rosafogo
Gotas de Luz
Hoje acordei diferente, mais humano e solidário
Querendo dividir meu amor como a hóstia consagrada.
Vendo que minha imperfeição impedia
Toda a beleza que cercava minha vida, noite e dia.
Olhei para o sol, não vi sombras ao meu redor
Ouvi o canto dos pássaros como a homenagear
Minh’ alma renovada que acabara de encontrar.
Vislumbrei gotas de luz nas folhas do meu jardim,
Borboletas coloridas, sobre flores, a sorrirem para mim.
Extasiado, escutei a melodia do vento
Espalhando folhas douradas ao sol, pelo tempo.
Senti de leve o roçar dos caules em minha fronte a sorrir
Ergui então meu olhar e vi uma majestosa árvore
Com ciúme a me dizer: Eu também estou aqui!
Vem desfrutar de minha sombra amiga!
Não me importa quem sejas, teus pecados, ou o que digas.
Aceitei o lindo convite, não dava para recusar
E ali sentado em silêncio, comecei a meditar.
Raios de sol disputavam minha vida a iluminar.
Ouvi revoada de pombos:
Meu olhar os seguia com o coração comovido
Após, ver o azul do céu, do infinito o esplendor.
E com os olhos marejados,
Percebi o quanto sou pequeno diante do Criador.
Despojado de imperfeições e ambições desmedidas
Detive-me em orações, pedindo perdão e agradecendo ao Senhor...
O milagre da vida.
Falcão S.R - Rio de Janeiro - RJ
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Falece este poema
Este poema respira agónico
nas mãos mortiças da doce poesia
os pontos e as vírgulas são pranto,
que alagam a alma do poeta,
deste poeta
para quem as palavras
são,
pedaços da alma
fragmentada
vertendo em sílabas
pinceladas de desalento e cansaço,
fixam-se ao escrito
ávido de brava poesia
Nas construções vislumbram-se
desconexos alinhamentos
visuais críticos
e nas metáforas berram-se
o desencanto fugaz
de uma inspiração perdida
algures no caminho do poeta
desiludido.
Falece este poema
mas não se sente só
porque
ao seu lado permanecerá
sempre
a doce poesia
Escrito a 23/01/10
Sou-te pela encruzilhada
Sou-te pela encruzilhada que se apodera de nossos poros,
Gotas de suor numa escada infinita que sobe.
Pé ante pé, me descalço,
Desmancho meus fios de cabelo
E me desperdiço de ti
A cada verso, que vá perdê-lo!
De que serve viver-te por aqui,
Se a cada respirar meu, passo em falso,
És tudo o que já foste,
e o voltarás a sê-lo.
Horizonte de loucuras imaginárias,
Calçada subida, tortura temida.
Por dentre respirações entre-cortadas,
Ouve-te dentre as cantadas
Que velhas carcaças ousam cantar...
Por onde andas, fim de linha?
Quase que diria que ouvi o meu nome,
Naquela tua voz doce, distante.
Quanto horizonte, quanto renome
Tu te vestes, Ó Destino.
Seja insano, sem lógica.
Que tudo se transforme numa poça,
Dentre esses passos que sobem a escada.
Por onde caminharás tu,
Diante desta encruzilhada?
Amazônia em Mim
Amazônia em Mim
by Betha M. Costa
Sou a vitória-régia em flor,
A Iara perdida no igarapé,
N’água fria e de escura cor,
Sou pé do traiçoeiro mururé.
Tenho os olhos da Boiúna,
A infantilidade do boto rosa,
Sou fauna e flora em fortuna,
Descrita em verso e prosa.
Sou parte esquecida da lenda,
Os cheiros e ritmos da selva,
O índio que chora sua prenda,
Doente no catre sobre a relva.
No sabor exótico do cupuaçu,
No riso inocente do curumim,
Ou no canto triste do uirapuru,
Há Amazônia dentro de mim...
Falando ao coração
Fui procurar um poema
Que falasse de meus conflitos
Que falasse de meu olhar aflito
Tantos eram os dilemas.
Procurei em meus cadernos
Em minhas anotações
Nas chuvas e nas monções
Um belo tema que fosse terno.
Achei tantos... uma porção
Mas não era o que procurava
Não era o que me aliviava
Resolvi falar ao meu coração
Cantando uma bela cançao.
Nereida
Despido
O mundo corre.
Mais despido a cada volta em torno de si mesmo e de tudo o resto.
Mais só. Mais pobre. Mais frio. Mais nu.
O mundo corre. Cada vez menos.
O mundo fez juras e promessas. O mundo deixou assente que ia fazer, que ia tentar, que ia conseguir.
Frases ocas das quais se despiu assim que abriu os olhos no amanhecer seguinte.
Viu-se amparado pelo céu imenso, pelas próprias estrelas.
Enganado estava o céu quando pensou que o mundo vestiria de novo todas as juras que esquecera.
Enganadas estavam as estrelas quando pensaram que o mundo pediria o seu brilho todas as noites.
Enganado estava o mundo quando se despiu do céu e das estrelas.