'palavrosia'
veemente
disse que eu não mais viria
às palavras me insinuar...
que um tempo
daria
de fininho saindo
sem provocar
ondulações, nesgas violáceas
resquícios de vento
sequer.
entretanto...
é mais forte
a vontade de te sentir
as curvaturas
tuas
delinear.
teus
sentidos claros ou
indefinidos,
pesquisar
tocar teu porte
fechar os olhos
sentindo tua espessura.
dar-te meus olhos
minhas mãos
meus lábios
entreabrindo-se
silábicos
arfantes de breves
surpresas
fazer-te amor
balbuciando intrigas
provocando
protestos
confesso...
és minha libido
minha luxúria
meu vício promíscuo
e também minha oração
és o limiar de um voo
asas minhas em convulsão
és tatuagem
roçagando como vento
minh' alma
também és
o antídoto
... a minha calma!
No fim
e se o tempo puxar o zíper para me renunciar
e se nada mais
nos meus olhos
se refletir
o silencio será meu mundo
mas minhas palavras permanecerão no teu
naquela janela
naquele cais
naquela tarde amarela
naqueles rios
naqueles ais
naquela renda de crochê
naqueles poemas que te
escrevi
sem que soubesses que eram por ti
sem muito sentido
sem muita verdade
que de verdade
foram escritos
num tempo de
muita saudade.
Nasceu um poema
NASCEU UM POEMA
Meu coração é como um cipreste gigante
Enfrenta o tempo e a tempestade
Resiste, mesmo apertado segue adiante
Barco à deriva num mar de saudade.
São meus sonhos searas à mercê dos ventos
Meus poemas filhos por nascer
Sinto-os nas entranhas, ouço-lhes os lamentos
E aguardo o momento de ao Mundo os trazer.
E assim vou moldando seus passos,
Segundo minha visão
Acrescento-lhes mais umas gotas de medos
Alguns cansaços
E para tapar buracos no casco, a solidão.
Finalmente o desespero que meu rosto esconde
E meus olhos que se perdem sabe-se-lá por onde.
Vida inteira e uma mão cheia de nada
Hoje acordei vazia e assustada
Restos dum sono desassossegado
Palavras à volta na boca
Meu coração acelerado
Agarrando-se à vida que já é tão pouca.
Mais um poema é puxado para fora da mãe
E eu pouco sei do seu nascimento
Mas sendo mãe passam as dores, fico bem
E a minha dor se tranforma em amor neste momento.
O nascimento?
É íntimo e doloroso!
E mais um milagre me parece...talvez curiosidade?!
Dentro de mim a chave... a saudade!
rosafogo
Poema cansado de esperar
queria que me esperasses nesse tempos
onde preparas os intervalos,
das nossas existências,...
eu não sei de maldade,
não percebo se respirar assim,
com dores de saudades a escortanharem
uma voz que já nem viva está,
será digno,
será modelado ao presente
que ainda consigo ter,...
conjugar assim tantos verbos
reduzidos ao particípio,
da espera,
tira-me a força de um
argumento que só está desenhado,
de traço trémulo,
com um sol que desmaia pelo
meio desta chuva ácida cor de enegrecido,...
esquece que te pedi a espera,
prepara-me só a partida,
porque a dor entontece-me o argumento
Poema e Poesia
Poema e Poesia
by Betha M. Costa
Acabou a poesia que me sustinha a fé nos dias, e corria bicho solto pelas campinas do meu querer. Aquele que rolava em novelos de prazer pelas ladeiras dos sentimentos, bolhas d’água e sabão, delicadezas a explodirem em festas no ar.
Triste ver um poema espalhado pela casa, mãos perdidas dos dedos pelos cômodos, sem poder na pena e tinta tomar vida.
E um grito canta da sala à varanda, uma música cai do piano, uma lágrima alimenta o aquário e a alegria sai pela porta da frente. Na soleira um sorriso sem viço sobre o tapete de boas vindas.
Tudo por causa daquele nome retido na boca, que feito um livro guardou as palavras, e, levou consigo os meus versos. Sem ele não existe poesia que valha um poema.
*Imagem Google
Ciclo
O candeeiro suavemente se apaga,
enquanto na janela o sol aguarda
a intensa fuligem dissipar-se no ar,
para o provável alvorecer recomeçar.
Discretamente o amanhecer desponta,
colorindo campos, matas e encantos.
Enquanto a incerteza nos confronta,
a esperança banha antigos prantos.
Desenvolvendo lustroso resplandecer,
o dia extrapola em matizes de cores,
até perder-se em lento esvanecer.
Surgem languidas manchas escarlates,
envolvendo o intenso azul-celeste,
como manto roto, verdade inconteste!
Este poema completa o ciclo aberto com o soneto “Idílico e lúgubre”.
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este poema não existe
este poema não existe
nem sabe o que lhe calhará por sorte
mas insiste, numas palavras mais
pode até falar de morte,
ou dos sonhos que iluminam
o quarto, se me achar ignorante
deixo-o a falar sozinho
e parto...
sussurra-me ao ouvido
que é fugaz minha inspiração
que sou ave extraviada, mal amada,
e é capaz de ter razão!
agora, o poema ferve-me na memória
é grito que me chama do vazio
é lágrima seca sem história,
é vida em escassas linhas
desejos, e saudades tão minhas,
poema que ninguém sabe da existência
poema que é toda a minha essência.
natalia nuno
rosafogo
do pouco que resta
memórias transparecem
e deixam o poema a chorar,
onde houve fogo e calor
há escuridão,
e saudade a marear
fecho a alma e o coração
e se o amor quiser entrar
cuidaremos desse amor
que no dia de ontem esmoreceu,
sem doçura, nem desejo,
na lembrança, tudo o que se perdeu
sustenho a saudade do olhar teu
pedaços de recordações me seguem
agora, sem luz meu horizonte é
caminho indeciso, perdido o sorriso,
nostalgia do pouco que resta
o esquecimento já me sombreia,
a longevidade não é uma festa!
há sempre um nada, que me aguarda,
um curto pensamento, como o rumor
do vento, que o medo semeia.
natalia nuno
rosafogo
Falece este poema
Este poema respira agónico
nas mãos mortiças da doce poesia
os pontos e as vírgulas são pranto,
que alagam a alma do poeta,
deste poeta
para quem as palavras
são,
pedaços da alma
fragmentada
vertendo em sílabas
pinceladas de desalento e cansaço,
fixam-se ao escrito
ávido de brava poesia
Nas construções vislumbram-se
desconexos alinhamentos
visuais críticos
e nas metáforas berram-se
o desencanto fugaz
de uma inspiração perdida
algures no caminho do poeta
desiludido.
Falece este poema
mas não se sente só
porque
ao seu lado permanecerá
sempre
a doce poesia
Escrito a 23/01/10
Sou-te pela encruzilhada
Sou-te pela encruzilhada que se apodera de nossos poros,
Gotas de suor numa escada infinita que sobe.
Pé ante pé, me descalço,
Desmancho meus fios de cabelo
E me desperdiço de ti
A cada verso, que vá perdê-lo!
De que serve viver-te por aqui,
Se a cada respirar meu, passo em falso,
És tudo o que já foste,
e o voltarás a sê-lo.
Horizonte de loucuras imaginárias,
Calçada subida, tortura temida.
Por dentre respirações entre-cortadas,
Ouve-te dentre as cantadas
Que velhas carcaças ousam cantar...
Por onde andas, fim de linha?
Quase que diria que ouvi o meu nome,
Naquela tua voz doce, distante.
Quanto horizonte, quanto renome
Tu te vestes, Ó Destino.
Seja insano, sem lógica.
Que tudo se transforme numa poça,
Dentre esses passos que sobem a escada.
Por onde caminharás tu,
Diante desta encruzilhada?