Enquanto o fim do Universo bebe no bar
A mesquinhez
Podre encharcada em aguardente
A escorrer do alambique de estupidez
Intriguista
Tilinta o chocalho
Armadilhado
Clama por arrogância
Oportunista
Inconveniente
Besta enlameada
Em cerimoniosa insignificância
Caída na mais notável sarjeta infectada
Da beira da estrada.
Outra Vez o Gato Kokas
o gato músico místico e Kokas
vai dedilhando com pose aristocrática
na viola de madeira lascada
uma melodia fria e ausente
produto irado
do mais puro marketing refinado
ocasional e ajustado às circunstâncias
enche o peito e vai de cantar
cantigas melancólicas de amargura e luar
um lamento tranquilo estoira entretanto
no amanhecer estrépito da estepe
e desperta a natureza para o escutar
e a bagaceira começa por dentro do seu espírito a espairecer
e o champanhe a borbulhar
o sol maravilhado exulta então
e exibe
a secreta elegância
da pá
da picareta
e do carrinho-de-mão
através da aurora boreal da polidez
que prossegue indomável até vencer
o desânimo
o pessimismo
o não querer
25/01/2011
Letras de Sopa
o espectro cabritava o disparate
que estava gozando a aguardente
derramada sobre os livros do escaparate
cretino determinado e aberrante
cara-direita pacóvio e soberano
emboscado entre o estraçalhar dos barcos
de merda engordada veterano
sapo salteador submarino de charcos
ruido estridente corneta grosseira
estrebuchando na frialdade do abraço
vasculho inútil em estrebaria verdadeira
inerte sonho branco na humilhação enervada
meliante besouro trocista de terraço
ostensível azelhice lustrosa e apertada.
No Ideal
No momento
Compulsivo
Incisivo
De cimento
Há esperança
Na bonança
Que poderá vir
No ideal frenético de um sentir.
Para a Maria
não sei descrever
os teus olhos maravilhosos
me fazem te querer
e
na ansiedade os ver ansiosos.
Tragédia Dramática da Comédia Trágica - Primeira Parte.
casebre
insuportável
(Ó Manel! Olh'ó gajo!)
febre
miserável
(Petingas & Chicharro)
lar
façanha
(Merlos? Até os frito!)
luar
aranha.
"A poesia propõe a história do mundo.
Temos então o filme, o tempo."
Herberto Helder. Livro: Cobra.
Dialética
O cão
Se fez lobo
O gato
Se fez tigre
O boi
Se fez touro
A cobra
Se fez víbora
O escravo
Se fez chicote.
No Paquete
no paquete das aves que não cantam
o lixo vegeta cavernoso
de mão dada
com víboras traiçoeiras
intrigas necessárias
mentiras adequadas
recuam perante
a força da natureza
o corvo
afónico
pretende anunciar
que os rios transbordam
e fertilizam as terras
limpando os dias
das confidências da tormenta atrasada.
EMOÇÃO
A emoção prostrada
Esfola a esperteza
Verduga e computadorizada
No subconsciente ofendido
Saturado da sanha de impureza
Remexida em vaso apodrecido
“Amor não correspondido”
Destruído
Baleado
No espectro ardente
Projectado
Através do ciberespaço
Conivente.
Da Janela Miro Um Telhado
da janela (a minha, dizem) miro um telhado
o telhado destelhado
de entendimento de desentendimento
e
de
telhas (falam por aí também)
de maneira que
a janela desjanelada
nas destelhas do destelhado
e o céu (atmosfera por vezes se houve)
no ladrar simplório do cão do vizinho do lado
se reunem comigo na taberna apenas e somente para
beber um copo.
(a acreditar nas más linguas: consta que...)
"Na minha clara idade (acaso dela Te lembras?)"
Teixeira de Pascoaes, livro: As Sombras Senhora da Noite Marânus.