Poemas, frases e mensagens de Augusto.Colares

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Augusto.Colares

PERCEBER NO INFINITO, O FINITO

 
Percebi no infinito, o finito.
Vislumbrei um deus na criatura.
Um paraíso criei
só para mim:
Fiz intuído do absoluto
que em si mesmo
é um indevoluto sim
- ou então não existe -

Ah, grande alma que me desperta...
Ah, eternidade que me espera...
Ah, divindade materna,
cândida e terna
de coração virgem e,
para sempre, deusa fecunda...

Tu és o objeto de todos os meus votos,
razão de todo o meu fim:
ah, minha filha querida
- filha que em carne não existe -;
Filha que é cria de todo este amor
que nasce em mim.

B.H. 23-09-2010
 
PERCEBER NO INFINITO, O FINITO

Bombom em Língua Indecente

 
Do bombom de chocolate
ao escuro da caixa
cacau malandro da Bahia:

Sonha com a boca de teus dentes
a morder-lhe as morenices
no maciez de tua língua indecente.

Depois do que, passas, doce,
ao céu da boca da gente
como um cometa de hálito quente.
 
Bombom em Língua Indecente

Já Nascemos o que Somos?

 
Já nascemos o que somos.

Porém, inata é a habilidade de modificarmo-nos para o que não seríamos.

Depois - e a muito custo - é preciso utilizar-se novamente do desejo de mudança para confirmarmo-nos como estes pretensos seres inatos que imaginamos.

B.H. - 09.09.2010
 
Já Nascemos o que Somos?

É Preciso Mudar

 
Viu-se num pueril espetáculo vil,
Fisgado num traiçoeiro anzol da pescaria
Viu-se sem assunto. Fora de ponto
Viu-se como expurgo. Demiurgo da criação
Daquele cinzento céu taciturno
Viu-se um paupérrimo Netuno
A levantar ondas de boataria
Para a maioria se afogar de mar

Viu-se sem-terra, sem lar
Frente a frente à sua miséria fria
Viu-se sem rumo. Fora de prumo
Viu-se sem motivos para a redenção
Daquele ambiente soturno
Viu-se reles gatuno
A lançar ao saco as belas pratarias
De que tanto odiaria afanar

Viu-se de tal e qual jeito
Que nunca mais poderia se olhar
Enquanto vivesse essa canalhice
Viu-se em contraste à própria meninice
De tantos sonhos e encantos
De homem que se iria tornar
Agora, mesmo que não soubesse
Sabia: precisaria mudar

A. Colares
BH - 17.07.2011
 
É Preciso Mudar

A Humanidade Realmente Está Evoluindo?

 
Recuso-me veementemente a admitir que a humanidade incessantemente evolua.

Basta, por exemplo, inteirar-se das elegantes e novas calças envelhecidas e as camisetas fabricadas já desbotadas e rasgadas.

É a valorização do lixo alinhado.

Quando na antiguidade ou no classicismo se poderia sequer conjeturar isso?

Resta observar que, talvez, o próximo ápice do vestuário contemporâneo seja umas chiques meias furadas bem no dedão - e, lógico, os sapatos também.

BH - 12.10.2010
 
A Humanidade Realmente Está Evoluindo?

Quando em Mim, Vi Você

 
quando em mim vi você
o efeito feito em meu peito
veio de um jeito acutilante
percebi a própria face
- reflexo apunhalante -
tal esse sentimento expirasse
em morfemas de
mil emoções
do ouvir
as canções
dos meus dilemas
enigmas
num só rompante.
paixão abarcante.
a manter-me lúcido
o bastante
para saber-me
amante a querer-te
de forma livre,
abundante
cabal.

B.H. - 14.11.2010
 
Quando em Mim, Vi Você

chegará a nós a ressurreição

 
tudo chegará a seu tempo
ao solo do poço
ao mais profundo esquecimento
à chuva banida do céu
às bordas do cimento
seremos livres
de pisar qualquer chão
de viver o sofrimento
de qualquer má-emoção
das vãs tentativas
dos desatinos da razão
cala pois. tudo
tudo chegará a seu tempo
antes morramos
magnificamente
longe das trapaças magras da vida
bem depois do tempo sem tempo
da vida sem vida
chegar-nos-á a ressurreição
 
chegará a nós a ressurreição

escrever poemas de amor

 
Gosto de escrever poemas de amor.

Às vezes, alguns saem bons.

Acontece quando o amor é pouco
e compenso o que falta no amor aos versos.

B.H. - 24.12.2010
 
escrever poemas de amor

Tempos Imorredouros Aqueles

 
Tempos imorredouros aqueles em que todos os caminhos levavam-me a um mesmo lugar.

Bastava pôr-me a caminhar.

Hoje, ao trafegar a mesma e única estrada chego a tantos e tantos lugares ao mesmo tempo...
 
Tempos Imorredouros Aqueles

Amor, Viva Como Der, Mas Viva

 
Não precisas reconhecer as dores,
enfileirar os sofrimentos,
desencontrar do corpo, suores, humores.

Não precisas correr tanto para morreres
no teu paraíso de desencantos
pela besteira coerente
de gostares de não saber viver.

Amor, viva como der
viva até com essa maldita dor incolor.

Mas vive sem dar satisfações
às tuas próprias crises...

B.H. - 25.12.2010
 
Amor, Viva Como Der, Mas Viva

Todos Deveriam Escrever Poemas

 
Todos deveriam escrever poemas, não importa de que qualidade. Pois qualquer desarranjado sabe desenhar, mesmo que precariamente, uma casinha de chaminé fumegante, um gatinho sentado com rabo e bigode, um sol raiado embiocado nas nuvens.

Como não se consegue elaborar ao menos uma singela quadrinha?

Trata-se do mesmo princípio: saber desenhar o rupestre com as letras.

Quem dizia isso era o Mário Quintana, ao que ele acrescentava: só não venham me mostrar!
 
Todos Deveriam Escrever Poemas

A Principal Motivação da Guerra.

 
É preciso lembrar-se da motivação principal de uma guerra: ela é perfeita para se guerrear. Porque a guerra, em si, justifica o seu fim. Através dela exercitam-se todas as qualidades que permitem ao homem lembrar-se de sua origem animalesca e selvagem.

B.H. - 30.12.2010
 
A Principal Motivação da Guerra.

O Sofrimento

 
O sofrimento interessa me muito mais que o amor. Não porque eu goste de sofrer. O sofrimento tem algo de grandioso, de eloqüente. Deixa marcada uma lição abstrata, intangível sem necessariamente cair no lugar comum de impor uma simples e clara “moral da história”.

A. Colares
B.H. - 23.07.2011
 
O Sofrimento

O Amor, Algo Tão Maior

 
É que amor é algo tanto
Tão maior do que as
Questões da vida
Que tem ida
Mas não consegue ter volta
 
O Amor, Algo Tão Maior

Nunca se Matou Tanto

 
Graças a presente era cristã nunca se matou tanto.

Na antiguidade havia uns crimes bárbaros, e daí?

Pois não eram eles realmente bárbaros de pai, mãe e avós, tão contrariamente a como nos consideramos agora?

Matava-se e morria-se aqui e ali.

Atualmente testemunhamos crimes em massa, procedimentos frios, premeditados, bolsões de extermínios sem rosto, institucionalizados e, para fechar, tem ainda o terrorismo fanático, de caça indiferente aos diferentes, aos milhares, aos milhões.

O progresso contemporâneo reza pelas armas.

E ainda há quem ache serem os antigos, os embrutecidos.

Glória a Zeus, tanto mais piedoso e sábio (que se metia muito mais com seus pares do que conosco, pobres mortais) do que esse deus guerreiro há tanto tempo municiado pelo Vaticano em tantas e tantas guerras, encantoado na casamata das igrejas.

Interessante o quanto as palavras daquele que foi denominado Jesus não são levadas em consideração por quase ninguém, muito pelo contrário.

Tudo o que é para justificar a guerra e a violência é buscada no velho testamento.

Se Jesus veio para aperfeiçoar mandamentos e ritos judaicos porque ninguém segue o que ele fala?

B.H. - 18.09.2010
 
Nunca se Matou Tanto

A Não me Ser Nunca Mais

 
abri minha cova rasa
vesti meu bom terno preto
ornei-me de flores
deitei bem-penteados, os cabelos
e fui morrer um certo tanto,
no entanto, quieto
à cama do quarto
apertando as mãos
aos cantos do estrado
mergulhei-me d’um torpor cênico
expirei em esquecimentos
cerrei bem os olhos
cruzei forte os dedos
embacei de desmembramentos
desejos,
pensamentos
foi em paz
que deitei e dormi mais cedo
sem medo de me saber
a não me ser nunca mais

A. COLARES
B.H. - 14.09.2011
 
A Não me Ser Nunca Mais

tão minha, ela, que nunca vinha

 
tão bela,
tão minha era
tão mulher aquela
moça donzela que eu não tinha

amei-a com ternura caprichosa
de homem crédulo e servil
amei-a com olhos enfeitiçados
de quem nunca soube o que sentiu

e ela, de tão minha
de tanto que não me vinha,
de tanto que nunca me sabia
tornou-se carne podre minha,
sangue seco e socavado nessa vida
 
tão minha, ela, que nunca vinha

Toda a Loucura do Poema

 
Toda a loucura de um poema está justamente em não admitir-se como prosa.
Até o mais piegas dos poemas é insurreto e revolucionário.
 
Toda a Loucura do Poema

Não Sou, em Nada, uma Unidade

 
Não sou, em nada, uma unidade.

Não reconheço nos humanos um que assim o seja.

Diversidade interior é condição de toda gente.

Carnalmente únicos,
mas em quantas variegadas personalidades...

Todas pleiteiam reconhecimento ao externo.

Todas se contradizem, esmurram-se.

Todas desconhecem as outras coexistentes.

Todas se autodenominam por igual nome...

Nem sei qual delas me rabisca o papel agora
e se esta garatuja palavras coerentes.

Vislumbro meus olhos a olharem por elas.

Ou serão elas que em meus olhos me vêem?

B.H. - 14.09.2010
 
Não Sou,  em Nada, uma Unidade

Mês Passado, Choveu 2012 Adiantado.

 
Mês passado, choveu 2012 adiantado.
Caíram tempestades em cabeças humildes.
Formaram-se corredeiras de políticos em seus comícios.
Correntezas de tragédias anunciadas e desprezadas.
Caíram morros, montanhas inteiras de indiferença.
Caiu a crença do brasileiro de que no fim tudo dá certo.
Caíram mortos, velhos, crianças, caíram rostos.
Caíram direto os decretos inúteis, as melhoras por embustes.
Caiu de pé um povo humilde, ignorante.
Levam de enxurrada à sua presença, as descrenças.
Deus morreu em 2011?
Por que não?
Já havia sucumbido em 2010.
Ele deixou o próprio corpo cair sobre as nossas cabeças?
Não. Não foi Deus, jamais será.
Cai o homem em seu egoísmo.
Faltou-lhe aquela mãe, que sem educação, num país de fachada, lhe pariu e agora caem do céu, em gotas.
Cai no povo brasileiro o seu próprio inferno ignorado.
Cai das mãos de um Deus angustiado que olha onisciente para tudo, mas só pode dizer amém.
E ao homem que agora sofre, de que adianta tudo isso?
De que adianta esse texto?
Esses dilemas?
Ao homem que tudo perdeu só lhe resta chorar, berrar, espernear.
Um choro ardido, fedido de raiva, de mal-estar.
Não. Não se clame por Deus.
Paremos com isso.
Ou melhor: chamem sim, pois é preciso ter muita fé para algo mudar.
Porém chamem os homens responsáveis.
Sim. Chamem, chamem por todos eles para que possam apreciar sua “bela obra” e chorarem, se souberem.
E também para já chorarem adiantado suas lágrimas de crocodilo sobre as perdas humanas da chuva de 2012.

B.H. - 01.02.2011
 
Mês Passado, Choveu 2012 Adiantado.

Augusto Alfeu Colares