Todos Deveriam Escrever Poemas
Todos deveriam escrever poemas, não importa de que qualidade. Pois qualquer desarranjado sabe desenhar, mesmo que precariamente, uma casinha de chaminé fumegante, um gatinho sentado com rabo e bigode, um sol raiado embiocado nas nuvens.
Como não se consegue elaborar ao menos uma singela quadrinha?
Trata-se do mesmo princípio: saber desenhar o rupestre com as letras.
Quem dizia isso era o Mário Quintana, ao que ele acrescentava: só não venham me mostrar!
A Principal Motivação da Guerra.
É preciso lembrar-se da motivação principal de uma guerra: ela é perfeita para se guerrear. Porque a guerra, em si, justifica o seu fim. Através dela exercitam-se todas as qualidades que permitem ao homem lembrar-se de sua origem animalesca e selvagem.
B.H. - 30.12.2010
O Sofrimento
O sofrimento interessa me muito mais que o amor. Não porque eu goste de sofrer. O sofrimento tem algo de grandioso, de eloqüente. Deixa marcada uma lição abstrata, intangível sem necessariamente cair no lugar comum de impor uma simples e clara “moral da história”.
A. Colares
B.H. - 23.07.2011
O Amor, Algo Tão Maior
É que amor é algo tanto
Tão maior do que as
Questões da vida
Que tem ida
Mas não consegue ter volta
Nunca se Matou Tanto
Graças a presente era cristã nunca se matou tanto.
Na antiguidade havia uns crimes bárbaros, e daí?
Pois não eram eles realmente bárbaros de pai, mãe e avós, tão contrariamente a como nos consideramos agora?
Matava-se e morria-se aqui e ali.
Atualmente testemunhamos crimes em massa, procedimentos frios, premeditados, bolsões de extermínios sem rosto, institucionalizados e, para fechar, tem ainda o terrorismo fanático, de caça indiferente aos diferentes, aos milhares, aos milhões.
O progresso contemporâneo reza pelas armas.
E ainda há quem ache serem os antigos, os embrutecidos.
Glória a Zeus, tanto mais piedoso e sábio (que se metia muito mais com seus pares do que conosco, pobres mortais) do que esse deus guerreiro há tanto tempo municiado pelo Vaticano em tantas e tantas guerras, encantoado na casamata das igrejas.
Interessante o quanto as palavras daquele que foi denominado Jesus não são levadas em consideração por quase ninguém, muito pelo contrário.
Tudo o que é para justificar a guerra e a violência é buscada no velho testamento.
Se Jesus veio para aperfeiçoar mandamentos e ritos judaicos porque ninguém segue o que ele fala?
B.H. - 18.09.2010
A Não me Ser Nunca Mais
abri minha cova rasa
vesti meu bom terno preto
ornei-me de flores
deitei bem-penteados, os cabelos
e fui morrer um certo tanto,
no entanto, quieto
à cama do quarto
apertando as mãos
aos cantos do estrado
mergulhei-me d’um torpor cênico
expirei em esquecimentos
cerrei bem os olhos
cruzei forte os dedos
embacei de desmembramentos
desejos,
pensamentos
foi em paz
que deitei e dormi mais cedo
sem medo de me saber
a não me ser nunca mais
A. COLARES
B.H. - 14.09.2011
tão minha, ela, que nunca vinha
tão bela,
tão minha era
tão mulher aquela
moça donzela que eu não tinha
amei-a com ternura caprichosa
de homem crédulo e servil
amei-a com olhos enfeitiçados
de quem nunca soube o que sentiu
e ela, de tão minha
de tanto que não me vinha,
de tanto que nunca me sabia
tornou-se carne podre minha,
sangue seco e socavado nessa vida
Toda a Loucura do Poema
Toda a loucura de um poema está justamente em não admitir-se como prosa.
Até o mais piegas dos poemas é insurreto e revolucionário.
Não Sou, em Nada, uma Unidade
Não sou, em nada, uma unidade.
Não reconheço nos humanos um que assim o seja.
Diversidade interior é condição de toda gente.
Carnalmente únicos,
mas em quantas variegadas personalidades...
Todas pleiteiam reconhecimento ao externo.
Todas se contradizem, esmurram-se.
Todas desconhecem as outras coexistentes.
Todas se autodenominam por igual nome...
Nem sei qual delas me rabisca o papel agora
e se esta garatuja palavras coerentes.
Vislumbro meus olhos a olharem por elas.
Ou serão elas que em meus olhos me vêem?
B.H. - 14.09.2010
Mês Passado, Choveu 2012 Adiantado.
Mês passado, choveu 2012 adiantado.
Caíram tempestades em cabeças humildes.
Formaram-se corredeiras de políticos em seus comícios.
Correntezas de tragédias anunciadas e desprezadas.
Caíram morros, montanhas inteiras de indiferença.
Caiu a crença do brasileiro de que no fim tudo dá certo.
Caíram mortos, velhos, crianças, caíram rostos.
Caíram direto os decretos inúteis, as melhoras por embustes.
Caiu de pé um povo humilde, ignorante.
Levam de enxurrada à sua presença, as descrenças.
Deus morreu em 2011?
Por que não?
Já havia sucumbido em 2010.
Ele deixou o próprio corpo cair sobre as nossas cabeças?
Não. Não foi Deus, jamais será.
Cai o homem em seu egoísmo.
Faltou-lhe aquela mãe, que sem educação, num país de fachada, lhe pariu e agora caem do céu, em gotas.
Cai no povo brasileiro o seu próprio inferno ignorado.
Cai das mãos de um Deus angustiado que olha onisciente para tudo, mas só pode dizer amém.
E ao homem que agora sofre, de que adianta tudo isso?
De que adianta esse texto?
Esses dilemas?
Ao homem que tudo perdeu só lhe resta chorar, berrar, espernear.
Um choro ardido, fedido de raiva, de mal-estar.
Não. Não se clame por Deus.
Paremos com isso.
Ou melhor: chamem sim, pois é preciso ter muita fé para algo mudar.
Porém chamem os homens responsáveis.
Sim. Chamem, chamem por todos eles para que possam apreciar sua “bela obra” e chorarem, se souberem.
E também para já chorarem adiantado suas lágrimas de crocodilo sobre as perdas humanas da chuva de 2012.
B.H. - 01.02.2011