Poemas : 

que casa agora

 
respiramos e da palavra o regresso dos lunáticos.avivam a alma e abrem o corpo ao corpo desnudado.uma pequena morte os acompanha.permanecem nas gavetas outros escritos da memória distante.de um outro corpo.de um outro caminhante.é bom falar para o coraçao da noite.no encontro do silencio sangue.na passagem do suícida e no nascimento da ossificaçao da flor breve.nas ruas,a imensidao das horas.no corpo a casa .que casa agora.um ultimo beijo deixo às matérias sensíveis.aos homens magma.pois o húmus é longo e àgil na pedra da fraternidade.que casa .rebentam ultimos suspiros ao mar revolto.é das raízes que vem o som que reclamo.as que nascem no fundo do ventre.como as amo.escalam neves e pedra-lágrima.e adormecem nas areias àridas.sao a erosao da terra e feitas da lucidez de quem ama.sao os seus antepassados celestiais.vem comigo agora.derramamos o vinho.encostamo-nos ao tempo.


Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.

 
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Caopoeta
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Enviado por Tópico
Ro_
Publicado: 25/09/2009 19:18  Atualizado: 25/09/2009 19:18
Membro de honra
Usuário desde: 25/09/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 3985
 Re: que casa

Belíssima escrita!
Adorei!

Beijinho!

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Enviado por Tópico
MelSpencer
Publicado: 25/09/2009 20:03  Atualizado: 25/09/2009 20:03
Participativo
Usuário desde: 15/09/2009
Localidade:
Mensagens: 34
 Re: que casa agora
Olá! Gosto de te ler. Escreves de forma intimista e profunda, "escondes-te" atrás das metáforas de forma brilhante!
E os "escritos de memórias distantes" que permanecem na gaveta, quando os postas?

Beijinho
Melissa


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 25/09/2009 22:39  Atualizado: 25/09/2009 22:44
Administrador
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Localidade: Porto
Mensagens: 3595
 Re: que casa agora
...encostado na esquina do tempo

Epílogo:

«Viva a anarquia! Pensamento livre! E dinamite!» - gritaram quase sem voz.
Tinham que escapar de si, de todos.
Com o saco às costas,despediram-se dos pensamentos já sem validade, que iam escurecendo cada vez mais, após, mais uma vida de saudades bastardas.
Tremiam que a noite fosse manhã e com ela a luz indiferente às gretas, as expusesse às sombras, os ferissem ainda mais.
Era um tempo de remissão, de um Dezembro manhã, sem planos de luz, navegavam para além dos guardas do Universo, para além dos senhores do medo, pelas imensas esferas transparentes, dentro dos círculos rolantes das esferas, das amêndoas brancas, das pupilas dardejantes, do absoluto negro.
Ergueram-se, esticaram-se, equilibraram-se com a ligeireza nas pontas dos pés, deram uma pirueta dentro das asas, em espirais de véus, nos nimbos das nuvens errantes, dos incensos, na beatitude interior, na feliz transparência dos vapores de ópio, de éter, de haxixe, de cocaína, oferecidos.
Libertaram-se com lentos movimentos de todos os véus, ouro e cheiros a citrinos frescos, desnudaram-se libertando a implacável serpente erecta do círculo das sagradas convicções.
Viu-se aquela mulher, aquele homem, inteiramente expostos, deixarem cair aos pés a sua única túnica diante dos juizes. E num salto atiraram-se ao mar, ao som vibrante da cítara, dos címbalos tintilantes e nadaram, nadaram vigorosamente com a cabeça e o busto quase todo inteiro, acima das águas como caninos com cio.
Sempre tentaram débeis passagens por cima dos abismos, dos vácuos, do nada, que sempre se abriam a seus pés.
Mas as ruínas da casa sempre os perseguiram, afloraram fragmentos, abriram lascas entre os dedos, que dissolvem vontades, transformam-se em enxames de cinzas e poeiras.
tinham Perdido o poema, a alegria, a pena, ficou apenas a pena de si próprios, como quem perde e morre na inspiração nossa do vazio.
mas o mundo retorna das profundezas, em cisternas, em labirintos, em figuras “ goblin” e é o medo que prevalece. Adónis morre e a musa que tomba.
Foram tomados pela revolta, queriam fazer alguma coisa por aquela revolta, passar para o lado oposto da fraqueza, da derrota.
Deixaran caiu a máscara e segredaran frases que lhes pareciam impossíveis e passaram ao silêncio dos fundos calmos, aos seus encantamentos, na abstracção, na sublime ausência ou na falta da razão e do querer que sempre pensaram ter, na absoluta indiferença, no replicar cego, na demência quebrada. Aniquilaram o cru ou o vil ou o nada:
«Maria, Maria, Estás viva!»
E tu? – Perguntou.

Cena# final
Ao silêncio, êxtase, ao repouso, às acácias de bronze ou de pedra, às lápides, às estatuas brancas devido à lua, ao sono dos justos, às almas perdidas e errantes, aos jejuns e aos que não morrem.
Abanaram o portão com a extrema força dos recém nascidos e emergiram.

beijo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/09/2009 09:37  Atualizado: 26/09/2009 09:37
 Re: que casa agora
Cao, gostei do texto. Excelente a forma como mergulhas nas palavras. Uma casa sem tempo.
abraço

Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 26/09/2009 10:31  Atualizado: 26/09/2009 10:31
Colaborador
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Localidade: Ansião
Mensagens: 5058
 Re: que casa agora
Cao,

Este é um extraordinário texto-poético, que interioriza um acumular de sensações e as expõe de forma sublime e rara. Faz-me lembrar uma autora que muito admiro: Margarete da Silva.

Minhas sinceras felicitações.

Abraço


Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 26/09/2009 13:26  Atualizado: 26/09/2009 13:26
Membro de honra
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Localidade: Braga
Mensagens: 8104
 Re: que casa agora
Não sei se li o que quiseste dizer, mas tb não importa. Fui lendo e imagens e ideias foram-me surgindo que eu curiosa fui tentando interpretar nadando e lutando para não me afogar nas tuas palavras pensadas. No fim encostei-me ao tempo que o tenho todo. Bjs


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/09/2009 13:49  Atualizado: 26/09/2009 13:50
 Re: que casa agora
Numa mão um vinho de casta de solos e climas diferentes na outra uma metáfora, enigmática, fria, estupidamente composta de milhares de funções, agonia e salvação do escriba. Dentro dela, as ideias suicidas, o punhal que matou NERO, aos seus pés, o leitor esvaísse em pensamentos que mais não é do que cicuta envenenando os neurónios. Como Sócrates fico às voltas no quarto, espero a absolvição do poeta.
Um dia terei a certeza que morrerei a saber terás que fazer o teu próprio dicionário das matérias que te corroem.
As metáforas irão então brotar milho, fazem trilho.

JLL


Enviado por Tópico
flavio silver
Publicado: 26/09/2009 14:57  Atualizado: 26/09/2009 14:57
Colaborador
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Localidade: barcelos
Mensagens: 1001
 Re: que casa agora
boas tardes!
só agora li este teu poema e maravilhou-me!
muito bom, com um tempo a respirar dentro do corpo.
abraço

Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 28/09/2009 16:08  Atualizado: 28/09/2009 16:08
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: que casa agora
nunca será demais dizer.
bárbaro, esplêndido

beijo