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Triplo 6: A Maldição

 
Tags:  Edgar  
 
Nota:
Um conto do meu filho que quiz partilhar, um rapaz que não gosta de literatura, estuda Português por necessidade.

No século XVII uma pequena família mas de grande prestigio, constituída apenas por três membros, os restantes herdeiros morreram acidentalmente (pensa-se), possuíam um grande leque de terrenos e a seu prestigiado casarão: a mansão Andrade no baixo Alentejo.
A família possuía um objecto que fora deixado por um tetravô, que na sua altura era artesão, apesar de uma humilde profissão, conseguiu enriquecer tornando-se burguês.
E fazia por hábito várias viagens. Numa visita a África, um menino aproximou-se dele, com uma figura que era uma família de três pessoas feita de cortiça, o rapaz contou ao senhor que tal objecto possuía uma maldição, algo que nem os shamans mais prestigiados conseguiram decifrar, algo fora do comum, o homem achou piada à história e teve pena do menino, assim comprou aquele objecto, também porque se viu em parte naquela situação, um casal com um filho pequeno.
Ao chegar a casa, mostrou à esposa, que por sua vez ela adorou, e colocou o objecto na mansão da família, no hall de entrada em cima de uma mesa, o objecto ficou ali durante vários anos, até mesmo depois da morte da senhora ninguém tirou a figura do sítio, por respeito, por medo da história, ou simplesmente porque não calhou.
No dia 6/6/66 os Andrades (segunda linhagem da geração) decidiram ir passear aos seus campos, por acidente ou assassínio, só Deus sabe, a família morreu nesse passeio, os corpos só foram encontrados dias mais tarde, por um camponês da herdade, as causas da morte foram desconhecidas.
Numa estrada próxima do local destas mortes, uma senhora ia a passar, e encontrou um objecto de cortiça, que era nem mais nem menos uma família de três pessoas, o mesmo objecto que á gerações e gerações não era movido do móvel da mansão Andrade, a mulher pertencente a uma baixa classe social, vendia peças de artesanato no mercado, como viu aquele objecto ali abandonado numa estrada rural, não hesitou em meter na sua sacola, para tentar vender junto com as outras peças. Quando chegou ao mercado para mais um dia de trabalho, montou a sua banca, e foi vendendo as suas mercadorias como sempre fizera, até que um casal se aproximou da tenda e comprou aquela peça de cortiça, que a vendedora achara nesse dia.
Contentes com a compra o casal foi para a sua habitação, onde desde logo colocaram a sua mais recente aquisição no móvel da sala.
Passados três dias, às 3:33 horas da manhã, a senhora levantou-se da cama para ir á casa de banho, quando entrou deparou-se com água espalhada pelo chão, chamou logo o seu marido para a ajudar a limpar.
Assim que se aproximaram da porta da casa de banho, reparam que a peça que tinham comprado no mercado e que deveria estar na sala encontrava-se no meio da divisão encharcada. Questionaram quem teria mexido, nenhum dos dois soube responder, amedrontados tentaram chegar à peça, ao entrarem na casa de banho descalços, um fio eléctrico solta-se e em contacto com a água o casal foi electrocutado acidentalmente, morrendo no mesmo momento do choque.
Só dias depois os corpos carbonizados foram encontrados por uma vizinha que estranhara o súbdito desaparecimento do tão simpático casal. A polícia local não deu importância ao caso, por tudo levar a crer que era um mero acidente.
No dia seguinte à esta ocorrência, a senhora que vendera essa peça ao dito casal, espantada ficou, quando na sua sacola encontrou aquela peça que tinha vendido á três dias a um casal que passara no mercado, a vendedora pensou que tudo era uma dádiva por ela ser desfavorecida, algum santo ou uma alma caridosa que roubava aos que mais tinham para ajudar os que menos possuíam. Assim sem hesitar voltou para a sua labora, quando chegou ao mercado aparelhou o seu pequeno negócio de artesanato.
Umas horas mais tarde uma senhora com cerca de 30 anos, interessou-se por aquela simples peça, e adquiriu o objecto. Ao chegar á sua casa pousou o boneco de cortiça na sua cozinha, onde passara a maior parte do tempo, a fazer bolos, que vendia para fora.
Passados três dias, na madrugada dessa noite a mulher como estava sem sono, decidiu adiantar os preparativos para o almoço, pois ia receber visitas e fazer um manjar especial. Pelas 3:33horas da manhã estava ela a cortar a carne, quando escutou a campainha, esqueceu-se de pousar a faca e foi com ela abrir a porta, contudo não viu ninguém, olhou para baixo e estava lá a peça de artesanato que comprara três dias antes com um bilhete: Não voltes para traz! A senhora pensou que tudo se tratava de uma brincadeira de mau gosto, ao voltar para traz tropeçou numa corda que momentos antes não estava lá, caiu desamparada, tombando em cima da faca que se lhe atravessara a garganta e a fez esvair-se em sangue, ali junto da entrada da moradia.
No dia seguinte o carteiro ia para tocar à campainha para entregar uma carta, quando se aproximou reparou que a porta estava parcialmente aberta e que a cor do soalho está avermelhada, mesmo assim bateu na porta, que logo se abriu e este observou o corpo deitado no chão, com uma poça de sangue em seu redor e a faca trespassada na sua garganta, de imediato chamou as autoridades.
A polícia desde logo concluiu que tudo se tratava de um acidente.
Como era de esperar no dia seguinte a peça estava de novo na sacola e a vendedora novamente a levava para o mercado.
As autoridades estranhavam a onda de mortes acidentais, numa semana tiveram mais mortes acidentais que em dois anos.
Assim acharam melhor chamar Walters, um famoso detective inglês, que é conhecido por desvendar os mais misteriosos casos, extremamente astuto e capaz. Este aceitou de bom grado a proposta, e no dia seguinte já se encontrava instalado na esquadra da polícia. Decidido a encontrar respostas para aquele grande mistério.
O investigador depois de ouvir todos os relatos dos policias decide ir ao mercado fazer perguntas aos comerciantes, pois eles na altura eram das pessoas que mais sabiam do que ia acontecendo, por ali muito se falava de todos estes mistérios por ser um local de passagem para todos os habitantes da aldeia.
Após várias conversas e sem muito que o elucida-se para os incidentes, o homem já pouco esperava. Nesse momento olhou em volta e viu uma vendedora com um ar invulgar que lhe despertou os sentidos. Em poucos minutos de conversa com a mulher, esta confessou-lhe que as pessoas que tinham morrido, eram todas clientes dela, e que todas tinham comprado uma peça, aquela “família” de cortiça, Walters pediu para ver a peça, quando olhou para os pés dos bonecos, reparou num bizarro pormenor, em cada um dos três membros daquele objecto aos pés encontrava-se desenhado um pentágono diabólico e um seis, Walters apontou a dica e foi-se embora.
Passadas uma horas no mercado um menino pequenino ao passar ao junto da banca de artesanato pede aos pais para comprar aquele conjunto de três bonecos, estes concordaram com o filho e levaram a peça com eles.
O filho ficou muito contente, ao chegar a casa foi logo por o boneco no seu quarto. Três dias depois de madrugada trovejava. A criança levanta-se com medo da tempestade e correu ao quarto dos pais, dizia-se assustado e que não sabia do seu boneco, os pais acordaram, presenciaram pela janela que o boneco estava no quintal da casa, o filho gritou… berrou… chorou, até que os pais disseram, nós vamos lá buscá-lo. Assim saíram todos da casa e o filho correu para o boneco. Nesse preciso momento, 3e33 horas da manhã um enorme raio cai dos céus escuros varrendo as vidas dos três membros. A vizinhança aterrorizada deram conta da ocorrência ás autoridades.
No local encontravam-se os três cadáveres, mas não o boneco, que a essa hora já estava no mercado pronto para ser vendido.
Walters vai novamente questionar a vendedora. Esta confirmou que os falecidos eram os novos donos do boneco, esta era a confirmação das suspeitas do policial, o boneco era de alguma forma, um elemento chave nas mortes daqueles inocentes.
Ao investigar as moradas das habitações reparou num estranho pormenor, a morada das primeiras vitimas era 222-2654, a morada das segundas vítimas era 231-2654, e das terceiras vítimas 411-2654, o que lhe despertou a atenção foi que a soma dos primeiros dígitos eram sempre 666, o que relacionado com o triplo seis nos pés das figuras era uma coincidência muito estranha, e para mais as mortes aconteciam sempre três dias depois, e a julgar pelo estado de decomposição dos corpos, cerca das 3e33 horas da manhã.
Walters decide ficar pelo mercado para descobrir os próximos compradores, assim poderia comprovar a sua teoria. Algum tempo depois um casal olha para o boneco e como não possuíam de momento dinheiro suficiente pedem para que a peça seja guardada até ao dia seguinte, a vendedora concordou. Ao ouvir a conversa o detective decide infiltrar-se na casa do casal, para obter mais informações.
Nesse mesmo dia apresenta-se em casa do casal à procura de emprego, os mesmos que se tinha mudado recentemente para a localidade, precisava de um mordomo, portanto aceitaram os seus serviços.
Após um dia na mansão, Walters já conhecia todos os cantos da casa.
Como combinado no dia seguinte o casal foi buscar o boneco, e localizaram-no no hall de entrada, em cima do móvel. O “mordomo” ficou sempre atento ao boneco.
Três dias depois pelas três da manhã Walters levantou-se para averiguar que nada de paranormal se passava, reparou que as facas que estavam outrora penduradas ao pé do balcão não estavam lá, apesar de estranho poderia ter sido o casal a mudar de sítio.
Passados trinta e três minutos o casal acorda e decide ir beber qualquer coisa à cozinha, o gato do casal andava alvoraçado, muito estranho para um gato pachorrento e calmo que era. Quando estes descem a escadaria, Walters vê que mesmo na frente da porta está o boneco de cortiça que a momentos atrás estava no hall de entrada, e o mais estranho era a expressão da figura, tinha mudado! Possuía um ar diabólico, um sorriso maléfico, segundos antes do casal passar a porta da cozinha, o infiltrado detective grita ao casal, estes param, Walters diz:
- Esperem… o gato continuou para a cozinha, e ao atravessar a porta, um faqueiro cai subitamente sobre o gato esventrando o pobre do animal.
De imediato o homem descobre que a figura estava ao lado do gato morto. Os proprietários assustados saem de casa a correr sem hesitação .
Walters decide que chegou a hora desta maldição ser quebrada, rapidamente deita gasolina na casa, e ateia fogo. A expressão na cara da figura era de desespero, o investigador foge, enquanto tudo o que estava na casa se reduzia a cinzas.
No dia seguinte quando volta para diligenciar, Walters constata que tudo ardera a cortiça estava toda queimada, mas algo de estranho se passava pois os pés da figura em mármore que tinham inscritos neles, o pentágono com o 6, fazendo o conjunto triplo seis, o número da besta, não estava no local…
Nesse mesmo instante no mercado a vendedora descobre nos seus pertences três bocados mármore, três pares de pés, na sua sacola…


Ana Coelho
Os meus sonhos nunca dormem, sossegam somente por vagas horas quando as nuvens se encostam ao vento.
Os meus pensamentos são acasos que me chegam em relâmpagos, caem no papel em obediência à mente...

 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/05/2010 21:25  Atualizado: 23/05/2010 21:25
 Re: Triplo 6: A Maldição
Ola Ana.

Li com grande interesse este texto do Edgar. Posso dizer que me prendeu a atenção deste a primeira á ultima linha. Um conto cheio de suspense, Muito bem escrito com a relevância do Edgar não gostar das letras. Fico com a sensação real que mesmo não querendo herdou a vocação dos pais. Se não gostando escreve desta forma eu prevejo um futuro brilhante se se dedicar á escrita.

Por ser sincera assino com verdade.

Beijo azul


Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 23/05/2010 21:39  Atualizado: 23/05/2010 21:39
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 Re: Triplo 6: A Maldição p/Ana
Li de um fôlego este belo texto, e como diz a Fátima, filho de peixes sabe nadar.
Parabéns ao Edgar...e aos pais.

bj
Eduarda


Enviado por Tópico
mariagomes
Publicado: 24/05/2010 23:05  Atualizado: 24/05/2010 23:05
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Usuário desde: 18/04/2010
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 Re: Triplo 6: A Maldição
Olá Paulita querida, este elogio vai para o nosso negrito, tem futuro a terceira geração, parabens a ele, tu entendes-me, adorei.
beijinhos pra ti e para ele, para a Catita e Zé.
mariagomes