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CALVÁRIO DA FELECIDADE

 
CALVÁRIO DA FELICIDADE

Para as almas carentes, a amizade
É o troféu mais doce que há na vida,
Pois revigora os nossos corações!
Substitui a ficção por lealdade,
Sentir a nossa estima retribuída
Anestesia enormes frustrações…

De mim não reza a historia: sou um fraco.
Mas, como todos, tenho sentimentos;
Defeitos, e virtudes, à mistura.
Mais do que nunca, preso num buraco,
Em que hei-de eu ocupar meus pensamentos?!...
Meiga, vens até mim, espalhar ternura…

Que azáfama aqui vai, no aeroporto!
Passam por nós imensos passageiros,
E tu?... Demoras, mais do que ninguém!
Tal facto gera um certo desconforto…
E os meus rapazes riem, galhofeiros:
-ai, “pacinhença”! A Guida já não vem!...

Longe vá tal agouro, penso eu,
Sem alarmes; contudo, impaciente,
Por dar e receber um forte abraço!
Bolas! Mas que diabo sucedeu?!...
Afinal chegas, toda sorridente:
Perderam-te uma mala, que embaraço!

Nada podes fazer: só aguardar…
Não estás muito afectada; és optimista:
-hão-de achá-la! Tais lapsos acontecem…
A confirmação vem, logo ao jantar:
Alguém te diz que a mala fora vista!
Transtornos divertidos, que não esquecem…

E, na manhã seguinte, é o esquentador
Que te faz tomar banho em água fria:
Deu-lhe uma birra, e não quis acender!
Dizes que isto faz bem: que está calor…
E eu sinto uma veneta, uma arrelia
Com tudo o que te estava a suceder!

Chega à noitinha; a ovelha tresmalhada”…
Afagas essa mala, com carinho: -
-ai, que engraçado! Até parece gente!
É tua, novamente, e… bem fechada!
Apenas se perdera, no caminho…
Mas, cá não compras roupa, felizmente…

Vinhas reconfortar-me, dum passeio,
Que eu não dera, um mês antes, a Lisboa,
Por incapacidade monetária!
Já te sentes bem nossa, neste meio!
Eu exulto: sou rei! E tu, a c’roa
Que me adorna as, meiga e solidária…

O carro avariou, diversas vezes;
Alguns projectos nossos abortaram:
Ao meu torrão natal não pudeste ir!
É que a felicidade tem reveses…
Alguns, a nossa vida complicaram;
Mas tu, tudo aceitavas, a sorrir

Gastámos longo tempo e, transcrições.
Vamos tomar café, diariamente,
E não dispensas minha companhia!
Procuro abafar tantas emoções!
A tristeza que sinto, não desmente:
Em breve partirás… amargo dia!...

E as “ânsias” que nós tínhamos, querida?!...
Era bem divertido, realmente…
Vivemos e, constante palhaçada!
Essa banhoca férrea, de água quente,
Tua aflição, quando eu cai, na escada…

Não fomos às gaivotas…tive pena
De não te ver remar, tomar ar puro,
Nessa lagoa, cheia de beleza!
Ai, que pudor o teu! Quem te condena?!
Junto de nós, o tempo era inseguro…
Verteste águas: vencia a Natureza…

Está breve o teu regresso; e vais cantar
No casamento dum amigo meu;
Com as irmãs, fizeste sensação!
Sei que o meu coração irá sangrar…
Partes! A lei da vida aconteceu…
Não posso resistir à frustração!...

Despeço-me, a chorar, silencioso;
Este momento encerra desventura,
Por ser inevitável, como a morte!
Regresso ao lar, amorfo, desditoso…
Talvez nunca veja a criatura
Que me deixou em emoção tão forte!...


 
Autor
FRANCISCO QUARTA
 
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