Poemas : 

Até Logo!

 
Reminiscências antigas
De um passado longínquo
De outras eras, outros amigos
Que me servem de prólogo
Para este texto ambíguo
Cujo título será " Até Logo".

Era uma noite mal dormida
Meu corpo cansado pedia ócio
A fadiga do trânsito, dos negócios
Uma voz em melancólico monólogo
Deixava minh'alma mal ferida
Quando repetia: Até logo! Até logo!

Talvez fosse o sibilar dos ventos
Daquela noite estranha e intempestiva
Que me surrupiava os pensamentos
Elevando-me ao mundo dos entes mortos
De uma forma ilusória ou imaginativa
Repetindo: Até logo! Até logo! Até logo!

Foi bizarro e bisonho a noite fatídica
Nem um pio de pássaros do lado de fora
O medo e o pavor me furtavam a força física
Quando me aproximei da janela, abri a cortina
E percebi um vulto distorcido de uma senhora
Repetindo o monólogo: Até logo! Até logo!

Não pude conter meu grito de espanto
Algo tenebroso adentrou todo o meu ser
Por mais que eu tentasse não conseguia entender
O que se passava próximo ao meu recanto
De repouso e lazer ( Agora mesmo a Deus rogo)
Ouvindo tal canto: Até logo! Até logo! Até logo!

A figura feminina trazia os cabelos alvejados
As vestes eram de uma claridade ofuscante
A pele alva dos corpos inertes não identificados
Pelo meu cérebro que paralisava-se neste instante
Quando percebi que o vulto estava bem próximo
Surrando os meus ouvidos: Até logo! até logo!

Acho que desfaleci no crucial momento.
Amanheceu o dia morno, sonoro e azulado
Quando dei por mim estava no sofá, deitado.
Balançava uma folha de papel pelo vento
Que entrara pela janela isenta de escorvo.

Peguei da folha. Era o poema de Poe, "O Corvo".
Até hoje, quando me lembro, ainda choro
Das letras garrafais na vidraça que diziam: Até logo!







Gyl Ferrys

 
Autor
Gyl
Autor
 
Texto
Data
Leituras
864
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
14 pontos
8
3
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/05/2017 00:04  Atualizado: 21/05/2017 00:04
 Re: Até Logo!
notei a inspiração logo. Mas convenhamos, até logo é menos mau que nunca mais rs


Enviado por Tópico
Eureka
Publicado: 21/05/2017 09:31  Atualizado: 21/05/2017 09:31
Membro de honra
Usuário desde: 01/10/2011
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4297
 Re: Até Logo! - P/GYL
Bom dia Gyl,

Foi uma delicia poder fazer esta leitura hoje, aqui.
Tem muitas coisas contidas nesta única partilha, que eu gostaria de espreguiçar-me sobre elas, mas não creio que seja o lugar para isso, fica para outra vez.

As três primeiras sextilhas, reúnem e condicionam, de forma aprimorada, as razões para todo o resto que se versa adiante. Quiça um sonho, porque será sempre pelo racional que gosto de me pautar.

De grande valor, todos os versos nos trazem pinceladas sobre várias telas que o poema nos mostra, até ao verso final que, volta ao essencial : " Até logo!"- numa vidraça imaginária, que fecha esse "sonho" versado em imagens ricas de detalhe.

Uma delicia mesmo! Eu gostei muito e parabéns.

Um abraço fraterno

Eureka


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/05/2017 18:21  Atualizado: 22/05/2017 18:22
 Re: Até Logo!
Atos que vem dos senso, nalagiando os tantos que caminham pelas madrugadas se atirando e anseios descaraveis, onde na se oferece das sombras. Madrugadas alheias se despersa dos ventos aquele tocar amaranhado com sentidos vultuosos, ouvindo palavras do alêm.


Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 31/05/2017 18:53  Atualizado: 31/05/2017 18:53
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
Localidade: Ribeirão Preto SP Brasil
Mensagens: 8560
 Re: Até Logo! PARA GYL
Reflito nessa questão das despedidas. Um "até logo" soa mais ligeiro e pra um próximo encontro e não contém uma a carga negativa que, mal ou bem, atribuímos ao ‘adeus’, devido a forma como interpretamos o seu significado.

Parabéns Gyl, gostei desse poema filosófico da despedida!

Bjos de sua fã, meu querido amigo!