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Falar de amor

 
Se fosses viva terias uns cem anos, nem tu sabias ao certo a idade que tinhas, eram outros tempos,eram tempos em que se sabia pouco de idades, mas sabia-se amar com as mãos, com o olhar.

Eras a primeira a levantar, a preparar o leite com café e o pão com manteiga como se dizia, sei que era uma margarina, que sabe agora a saudade.

Vestias sempre uma saia preta, onde guardavas no regaço o colo que nos aquecia nas noites frias de inverno e um lenço na cabeça a esconder as memórias do tempo em que não foste à escola porque eras mulher.

Agora sei que aquele cheiro a lenha é que nos fazia o jantar dos Deuses que recordo com saudade, faz tanto tempo que foste ter com o avozinho Manelzinho.

Gostavas tanto de sonhar e de contar histórias do tempo da guerra, do orgulho que sentias em dar o milho para o pão que alimentava aqueles que nada tinham, apenas fome e frio.

Lembro-me de nos esperares, a mim e aos meus irmãos ao portão, atenta e a sorrir, até à última carreira que parava uns metros à frente da nossa casa, parecia que nunca largavas o tempo e que assim falavas de amor.

Sabes, tenho muitas saudades tuas e sinto o teu aconchego sempre que penso em ti.




Carolina

 
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Carolina
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/07/2017 12:50  Atualizado: 28/07/2017 12:50
 Re: Falar de amor
*senti aqui, como se para sempre criança amada fosse, todos os cheiros, as quenturas, os aconchegos, as cores de um Amor que nunca morrerá.

Gosto muito da tua escrita em prosa...tu me envolves desde a primeira linha.

Beijoka*


Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 28/07/2017 15:44  Atualizado: 28/07/2017 15:44
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
Localidade: Ribeirão Preto SP Brasil
Mensagens: 8560
 Re: Falar de amor
Carolina, transponho do Sarau pra tua página, o comentário que fiz ao teu poema:

Antes, agradeço sorrindo a sua vinda prestigiando esse momento poetico num só espaço, querida poetisa Carolina.

Ai...ai...Tocou-me as palavras suas, nas fibras mais íntimas e sagradas do ser, eu avó que sou da Rafaella.

Viajei no tempo e no espaço, para ver de perto as cenas domésticas desenroladas nesse belíssimo poema de amor. Sem palavras, Carolina, apenas lágrimas nos meus olhos, que a poetisa não pode ver.

Guardo essa emoção.

Beijos poéticos, com admiração!


Enviado por Tópico
Volena
Publicado: 28/07/2017 20:15  Atualizado: 28/07/2017 20:16
Colaborador
Usuário desde: 10/10/2012
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 Re: Falar de amor p/CAROLINA
FALAR DE AMOR, que prazer e encanto ler o seu texto
além de poético é como estar a viver num ninho de amor
verdadeiro e saudoso, lindíssimo e cheio de ternura,um grande beijinho desta velha avó que recorda todos os dias uma avó que já morreu há oitenta anos precisamente, uma eterna amizade VÓ


Enviado por Tópico
Carlos Ricardo
Publicado: 28/07/2017 21:48  Atualizado: 28/07/2017 21:51
Colaborador
Usuário desde: 28/12/2007
Localidade: Penafiel
Mensagens: 1801
 Re: Falar de amor
Também tive uma avó materna "inexplicável", que teve muitos filhos e tinha muitos netos, mas parecia que só me tinha a mim e eu a ela. Quando estávamos em família, as coisas ficavam um pouco diferentes, mas todos os primos partilhavam desse sentimento. Ela gostava de nós de uma forma muito genuína. As nossas mães, nitidamente, delegavam nela a autoridade moral. Mas para mim ficavam confidências e conversas que não teria tido com os meus pais. Ela era uma criança como eu, aliás, uma aliada preciosa, muito mais sábia e avisada e compreensiva, com grande poder de influência quando era preciso dirimir conflitos .
Um perfeito porto de abrigo.


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 29/07/2017 08:16  Atualizado: 29/07/2017 08:18
Usuário desde: 06/11/2007
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Online!
 Re: Falar de amor
Depois de prometeres que não ias cantarolar. Falas, e de amor.
Assim dito até parece banal. Mas pelos avós, não se lê a toda a hora.
De quatro tenho um(a). Oitenta e oito a sua idade.
A outra deixo-me há três anos com oitenta e um.
O Meu Rogério, chamava-me sempre que me via, marcada pela saudade de quem tinha a família longe da sua aldeia. Fica-me no coração por uma séria ingratidão que lhe tive, e que pude emendar um ou dois anos antos de falecer.
Humilde, iliterada, mais habituada aos recos e às leiras, que às bestas humanas.
Lembro-me do seu cheiro a campo. Dos poucos cabelos brancos, que lhe pareci herdar. Da paixão do meu pai pela sua mãe. Longe.
Levaste-me para estes caminhos.
A tua prosa.
Bem... impecável.
Bem hajam as tuas memórias.

Bj


Enviado por Tópico
atizviegas68
Publicado: 29/07/2017 11:26  Atualizado: 29/07/2017 11:26
Usuário desde: 09/08/2014
Localidade: Açores
Mensagens: 1523
 Re: Falar de amor
Delicioso este caminho que estendeu:o da memória onde o amor viaja incondicionalmente.
Gostei da prosa poética. Do amor na descrição, descrita com os sabores e saberes.

Gostei. Parabéns.

Um abraço


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/08/2017 11:10  Atualizado: 03/08/2017 11:10
 Re: Falar de amor
Tempo que as coisas eram puras e encantadoras