Poemas : 

Onde houver chão há cama

 
No calor do azulejo,
até no cinzento cimento,
há um aconchego que vejo.

No meio do feno,
até no branco vago dum banco,
há um leito terreno.

No pé de solo
esburacado, se couber o corpo deitado,
como planta, como um cão, há colo.

No lado de dentro da minha porta
cada palmo
é sulco calmo que o frio corta.

Não esperes fama de relento à minha guarda,
onde houver chão há cama,
um encosto, uma farda...


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 21/07/2018 18:52  Atualizado: 21/07/2018 18:52
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16075
 Re: Onde houver chão há cama
Interessante que há leito em qualquer lugar para repouso do poeta ou de quem quer que seja. Um abraço, poeta amigo!

Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 17/03/2022 14:27  Atualizado: 17/03/2022 14:27
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5735
 Re: Onde houver chão há cama
usar o que se tem
pra se sentir bem
ou sobreviver...
ou para aprender a viver
ou, ainda, para a poesia
se fortalecer

não é para qualquer um

bjo