Dia internacional da paz : 

Erres a menos (ou serão erros?)

 
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Eu costumo começar estas minhas crónicas com umas caralhadas para deixar os meus leitores logo à vontade.
Aqui vai:
Ontem esqueci-me de ir à greve das alterações climáticas. Ou seria participar?
Ontem, sendo hoje vinte e oito de setembro de dois mil e dezanove, por obra e graça de nosso senhor (com minúscula).
Como ando a ler um livro de um historiador que tenho vindo a apreciar sobremaneira, o meu primo Cheiramázedo despertou dum sono bem dormitado.
O pseudo-ensaio do Hebreu Yuval Noah Harari - 21 Lições para o Século XXI, a páginas tantas (mais propriamente cento e trinta e sete, capítulo sete) disserta sobre a eminente e quase inevitável (somos otários e incapazes (peço perdão aos machos de certo tipo de focas)) falência do Homem enquanto espécie dominante deste lindo planeta que utilizamos.
E os adolescentes a grevar por alterações. Por qualquer estado pós biológico, foi definido que os trinta são os novos vinte, que os quarenta são os novos trinta, e por aí adiante… E os vinte?
Esses tornaram a minha ternura um pouco mais sorridente, ainda que já me faltem alguns dentes.
Não me vou focar, contudo, em explicar como isto vai decorrer. Comprem o livro do homem!
Esse foco, ou otário, com mais ou menos luz, mais ou menos fogo, irá para o papel do técnico de serviço social perante o do sociólogo. Acções.
Agir, ou perpetrar um acto, implica movimento. Talvez velocidade. Deslocação do ponto A para o ponto B. A dita velocidade é, segundo os físicos, a distância percorrida num determinado espaço de tempo (espaço de tempo faz-me confusão…).
A força necessária para agir ou não é, apesar de todas as descrições dos físicos sobre a matéria, uma disciplina da metafísica que me fascina. Implica massa (tudo tem) e aceleração.
A aceleração, para mim, é que me deixa inspirado. Em determinados momentos, muito próximo do Espanto.
Acelerei, então para esta crónica.
Desde o início do milénio que estes assuntos relacionados com o efeito-estufa, as emissões de dióxido e monóxido de carbono para a atmosfera, têm vindo a ser estudados e revelados com muita intensidade.
Até os amaricanos, cuja esmagadora maioria tem uma tendência natural para a ignorância e a estupidez (assim como a maioria dos povos), puseram Al Gore, um eminente secretário de estado, a alertar outrem (sim, tu e eu) para as emissões de dióxido de carbono (desculpem, mas não sei escrever CO2) e para a poluição em geral.

Mas não vou falar do degelo. De como a temperatura global aumentando apenas dois graus permanentemente pode acabar com as algas nos oceanos e com o oxigénio no ar. A água vai ficar mais quentinha, mas não vou poder ir à praia sem o risco de meloma ao fim de trinta segundos de exposição.
Hoje o erre que me concerne é a reutilização.
Para os mais distraídos sou adepto dos três. A ordem cronológica é redução, mas se não conseguirem as donzelas evitar o caminho curto para obesidade, a reutilização e quando não souberem como, a reciclagem.
Ainda que os humanoides não queiram ver as empresas de reciclagem enriquecer às custas dum trabalho que cada agregado familiar deve fazer em sua casa, eu acredito. É um assunto que também tenho ponderado.
Em razão benefício–custo, cheguei à conclusão (mais ou menos sozinho) que prefiro ajudar um capitalista qualquer a enriquecer porque a sua empresa ganha milhões reciclando papel, alumínio (entre outros metais, espero que criem uma liga nova qualquer tipo aço), vidro (já referi que gosto de praias de areia fina?) e plástico.
Para mim o anúncio televisivo da década é da National Geografic. Temos uma praia magnífica com ondas lindas (adoro o sabor das ondas, sabe a gaja), e subitamente interrompem para mostrar que afinal o ruído de fundo não era água, mas plástico a roçar numa alcatifa sépia.
Todo o plástico vai parar ao mar.

Mas em vez de pôr no ecoponto (perdoem-me a publicidade), vou pedir que sejamos criativos. Escrevamos poemas.
Vou dar exemplos do que faço ao nível da reutilização e de algumas maluqueiras que talvez comece.
Sacos de plástico. Todos os que não estejam visivelmente ou drasticamente danificados podem ser reutilizados.
Desde os mais pequenos. Os que vêm da mercearia. Assim que acabo de consumir os legumes (fruta é legume certo? Com a cena do tomate ser um fruto nunca sei se volta a ser um legume ou não…), o pão (é só sacudir as migalhas), frutos secos (serão legumes ou não?), entre outros, faço questão de utilizá-los a seguir quando quero armazenar carne no congelador e separo-a em doses para descongelar durante a semana. Ou congelo pão nos mesmos moldes.
Já agora, gostava de perceber porque é que o pão ganha bolor com tamanha rapidez? Será que os senhores da Panrico e da Bimbo subornam os padeiros em geral para que as carcaças e o pão de quilo se estraguem a esta velocidade? Ou será a fórmula que lhes permite ter pão de forma fresco e fofo durante duas semanas uma aberração da natureza?
Os maiores devem ser voltados a usar nas compras, ou para transportar tijolos e baldes de massa para o sétimo andar, ou cinco euros do quarto para a sala. Quando estiverem muito velhinhos podem ser utilizados outra vez, para levar o lixo amarelo (já não era racista há algum tempo) para o ecoponto (desculpai a publicidade de novo).
Eu uso erradamente algumas unidoses de leite (cerca de duzentos mililitros). Alterno com os pacotes de litro, de vez em quando (na razão de vinte e cinto litros para duzentos mililitros). Corto o canto com uma tesoura e despejo o pacotinho num caneco. A palhinha que costuma adereçar guardo para outra ocasição. A embalagem reciclo, assim como o mini-canto.
As garrafas de água de plástico têm sido alvo de uma acesa discussão, pois há uma corrente que afirma que a sua degradação em micropartículas contamina a água consumida pelo dono.

A ser verdade, é só lembrar que todo o plástico acaba no mar.
Essas micropartículas que o mar começa a ter um bocado em excesso, é confundida pelo zooplâncton por fitoplâncton. Logo é ingerido ao nível mais básico da cadeia alimentar.
Lembram-se quem é que consome os peixes? Além de outros peixes?

Mas estou a divagar.
Se compram garrafas de água mineral (já que a marca DelCano é suspeita em algumas torneiras) reutilizem as garrafas enchendo-as com mais água.
A lógica é fácil:
Compram um garrafão. Não querem andar com ele atrás. vão enchendo as de litro e meio, meio litro ou um terço com ele.
DelCano para mim serve. Cerca de uma garrafa média por dia.

Para os que acharam um escândalo eu deitar fora (ainda que recicle) as embalagens de leite, podem sempre fazer arte. Escultura, claro. Podem usar para pôr canetas. Lápis de cor (lá estou eu a ser racista de novo). Afias. Sabonetes.
Até vender.

Pensem nas possiblildades!!!

Há alguns anos vi na televisão um documentário, cuja produção já me esqueço, sobre um industrial de terceiro mundo. Como o meu. Segundo as modas não há um planeta B, mas deve haver um C (seguindo a escrita grega dos algarismos).
O dito industrial era um Homem com vários assalariados, isto é, vários outros homens trabalhavam para ele.
A situação era nojenta a vários níveis, senão vejamos:
Todos, inclusive o dono da ideia, estavam diariamente numa lixeira a apanhar sacos de plástico. Em muitos casos, abriam sacos cheios de lixo variado (posso concluir que nesse país não havia ninguém a enriquecer com a reciclagem) para os aproveitar.
Quando uma certa pesagem de sacos era reunida, alguns iam para um esgoto a céu aberto nas imediações e procediam à lavagem. A imagem era a seguinte: mais de uma dezena de homens como tu e eu, em calções, com esgoto até ao joelho a lavar sacos de plástico vindos da lixeira.
Desconheço o número de ratazanas, gatos e cães vadios, pombos e outras aves limpinhas, que se alimentam naquele local a cheirar a gente.
Quem comprará aquele petisco?
O que farão aos sacos?
Será a reciclagem o resultado final?
Tantas perguntas que já não sei se o documentário chegou a responder…

Importa é reutilizar.
O vidro tem ainda mais aplicações do que o plástico, embora se parta com muito mais facilidade.
Tenho uns copos novos que já foram compotas de framboesa (cortesia da série Investigação Criminal). Hoje vou trocar dez frascos de salsichas vazios por um de doce de tomate cheio (afinal, apesar de ser um fruto, pode ou não ser um legume!?).
Os cacos das minis fazem umas armas brancas bestiais (de besta mesmo).

O papel é só lembrar que cada folha tem frente e verso…

Eu só me lembro é da Greta a chorar. Até já enjoa…





Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
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