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Inseguranças

 
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Há certamente formas mais cómodas de contar isto,
Nao sei qual escolha,
A voz enlameada,
Não passa com o que provêm deste sol esquizofrénico,
Atrás de mim,
De ti,
De todos sem que haja sequer voz,...

Tenho um texto escrito com respaldo,
Pode suportar todo este empobrecimento consequente à dor,
E nada mais diz que um novelo de contradições,...

Sou pobre na espera de metáforas,
Vendo só o que aqui está,
Sem o conseguir classificar,
Adio as frases inúteis,
As pausas de poesia experimental,
E assim revelo-te a minha mágoa,...

Incomodado preciso de tempo para ser objetivo

 
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theartist_lc
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 15/04/2020 20:39  Atualizado: 15/04/2020 20:53
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1946
 Re: Inseguranças
Um poema subjectivo.
É um retorno que saúdo veemente, já que me fez relembrar que dois anos, mais ou menos, afinal passam a correr, ou voam.
Sem espaço para metáforas (ainda que a pobreza na “espera” não é a morte da mesma, senão não haveriam pobres, como eu), as contradições que o sujeito poético admite são o verdadeiro forte deste poema, com direito a torre.
Começo pelo fim imitando a ideia, reparando que todos os versos (excepto o último) são pontuados. Ao indicar que, no quinto verso da penúltima estrofe adia “as pausas de poesia experimental”, incluindo reticências (é, um pouco, imagem de marca) no último verso de cada uma, faz com que essas pausas sejam omnipresentes.
“adio as frases inúteis” foi amplamente conseguido, porque cada verso deste poema tem uma utilidade notável. Aqui não houve contradição.
A primeira estrofe soa a declaração de intenções, mas também é ela que faz a ligação com o título, pois respira “a inseguranças”.
O “novelo” nunca se chega a desenrolar, porque o incómodo com que começa, e é afirmado desde o primeiro verso, ainda que “isto” tenha um sentido pejorativo que se vai agigantando ao longo da leitura, começa numa indecisão.
“não sei qual escolha”. Mas a escolha já tinha sido feita, no verso a verso, ainda que ainda só se fosse no segundo.
Apesar da “voz enlameada” não passar (nem com sem voz), há um texto, que o sujeito poético tem, e, agora nós também temos. Não é o mesmo tipo de propriedade, mas eu já favoritei. Agora, só se for apagado é que não o terei.
Gostei do “ texto com respaldo” no momento inicial da segunda estrofe ao ter ligação com o início da terceira, contradizendo-a e validando, novamente, o “novelo” sem novela.
“Vendo” (ou vendendo),esta personagem a que nos vamos afeiçoando (não seremos todos, um pouco contraditórios?) “só o que está aqui”, tenta passar a imagem de clareza a “isto”.
Eu não consegui comprar, já que foi oferecido.
A “dor” é, no meu caso particular, vizinha do silêncio, mas esta mágoa, tão eloquentemente revelada encheu-me as medidas.

Se o sujeito poético quer ser objectivo, pode sempre dedicar-se a escrever para o jornal. Ler as notícias ao fim de quase dois anos era bonito. Sempre ignorava o Covid19 e andava no trabalho sem máscaras.

Muito obrigado pela leitura.

Abraço.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/04/2020 16:09  Atualizado: 18/04/2020 16:09
 Re: Inseguranças
.
Muito bom (e o comentário do meu amigo Rogério também).

Que tal este?

exorcismo, de Christiana Nóvoa

lavro versos
curtos
como orações

palavras são legiões
de demônios
expulsos

corto advérbios
pronomes

poupo os pulsos


[descobri-o na "Teoria Geral do Esquecimento", do José Eduardo Agualusa]