Poemas : 

Borboletas de Chumbo

 
A noite aponta o revólver abaixo da estátua de braços abertos
O abismo aplaude insciente do tanto perdido, cidade maravilha
As multidões, o coro do universo e até as rosas já emudeceram
Nos subúrbios da metrópole, onde só restou a caneta do poeta
Era uma cidade linda, mas agora a morte é entregue a domicílio
Os anjos faziam-se moucos, desapartados pelos disparos cá e lá
As crianças malabaristas equilibram limões já passados, no sinal
Esgueiram-se ávidos, invulneráveis, entre paquidermes de metal
Seu futuro estéril se esvai na madrugada com os olhos alagados
Que louco, caminha esquivo a exalar um hálito quente de verão
Nas calçadas tingidas de vermelho por mil borboletas de chumbo
No horizonte branco nasce, a trote, uma furiosa lua inesperada
Na esquina dessa rua cujo nome esqueci onde o sono não existe
Um outono bate à última janela fechada, em manifestos niilistas
Minha cabeça não pode digerir, ao passo que se contam mortos
Mas outros em desprezo pela vida caminham qual nada houvesse
O fogo ainda ilumina aquela fotografia que restou na imaginação



"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/12/2020 01:22  Atualizado: 09/12/2020 01:22
 Re: Borboletas de Chumbo
Muito bom o texto. É uma pena ser real , mais parece páginas de um livro, e com frases que pulam, que dá vontade de tampar os ouvidos e fechar os olhos. Mas ainda não é o final ,a imagem permanece na cabeça.