Poemas : 

Pretensão

 
Era uma hora densa e isenta da melancolia cotidiana
Desprendida de todas certezas que são pagas a ouro
O astro rei deita-se no horizonte e a aflição me toma
Pois te busco uma rosa tão supérflua e tão essencial
Que cresce no penhasco, soprada pelo vento agreste

Já são cinco da tarde, uma febre imaginária me ardia
Ainda lá resta uma porção de azul, mas já há estrelas
Onde estará a rubra flor, dádiva das grimpas sem fim
Tenho pressa de chegar a lugar algum, quiçá um café
Tomo nas mãos, tão suavemente, o livro que não lerei

Tudo é fantástico, tão impossível, ouves essa música?
Sigo pela rua. Paro. Continuo. Lá adiante é o mundo?
Sobre a mesa, resta um braço separado do seu corpo
Ingrata perspectiva eis o seu dono ali, mas não a rosa
A porta está fechada para esse tanto de humanidade

É noite, e além dela, nada é certeza. Ouço um sorriso
Sigo até a esquina e meus fantasmas me acompanham
Toca o despertador transtornado, são seis da manhã
A luz matutina sorrateira, veio me apunhalar o sonho
Raia novo dia nesta vida proletária. Queria ser poeta



"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/02/2022 04:30  Atualizado: 16/02/2022 04:30
 Re: Pretensão
*antes li teu poema, fabulosamente vivo, sem palavras vãs, mas de puríssimo sentimentos...tentei dormir, não consegui...voltei para reler.
Sinto-me ttas vezes assim...e se o sonho é a realidade? Vivo em trânsito entre o sonho e o real...e quando fecho os olhos e tento descansar, somente o sonho me embala, me revigora e me acalma...
Composição plena.
Aprecio por demais como escreves, como desnudas tua alma.
Ufa, agora descansarei a cabeça no travesseiro e vou "dormir meu sonho", ou "sonhar meu sono"...rsrs
Beijoka*


Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 16/02/2022 21:39  Atualizado: 16/02/2022 21:39
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Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Pretensão
Boa noite Mr.Sergius, a vida vai ficando incerta, e quanto mais dúbia mais eufórica, parabéns pelos vossos incisivos versos, um abraço, MJ.


Enviado por Tópico
Legan
Publicado: 17/02/2022 22:41  Atualizado: 17/02/2022 22:41
Colaborador
Usuário desde: 26/01/2010
Localidade: Algures em Trás-os-Montes
Mensagens: 788
 Re: Pretensão
Caro amigo posso dizer que o seu poema me fez lembrar de muitas coisas, fez-me lembrar também que tinha escrito 3 poemas com o nomes de A regra I, II e III, mas não chegam ao calcanhar do seu poema...

E o braço sobre a mesa... há muitos anos atras no nosso grupo de amigos havia um moço com um deficiência em uma mão e usava prótese, chegamos a um bar e na mesa uma moça foi-nos atender, pedimos o que queríamos e ela foi buscar o pedido, o tal moço como estava desconfortável com a prótese, a tirou e a deixou em cima da mesa, a moça quando veio trazer o pedido, tirou um fino (imperial) da bandeja e quando o pousou na mesa, viu a prótese... Mandou um grito de pânico e atirou com a bandeja ao ar, resultado tomámos um banho de cerveja, tivemos que acalmar a moça, mas acabou tudo bem, acabamos a noite a rir...

E la divaguei outra vez...

Adorei a leitura

Abraço


Enviado por Tópico
Odairjsilva
Publicado: 19/02/2022 12:11  Atualizado: 19/02/2022 12:11
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Localidade: Cáceres, MT
Mensagens: 5084
 Re: Pretensão
Magnífica construção poética. Admiro muito a sua forma peculiar de escrever. Sou um admirador e, sempre que o leio, tenho inspiração para escrever. Abraços poéticos!!!


Enviado por Tópico
ZeSilveiraDoBrasil
Publicado: 21/02/2022 18:10  Atualizado: 21/02/2022 18:12
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Localidade: RIO - Brasil
Mensagens: 1916
 Re: Pretensão
Meu espanto agora foi que sua escrita me arremeteu aos anos 50, eu com meus 5/6 anos talvez, seguro pelas mãos do meu saudoso pai, enfermeiro chefe do Hospital da Cruz Vermelha setor de amputados pós guerra... Levara-me para assistirmos a parada militar de 7 de setembro na Av. Presidente Vargas, local entre o Ministério da Guerra e o Campo de Santana, quando um amigo desfilaria no pelotão dos Expedicionário, u'a mina explodirá e arrancara-lhe todo braço esquerdo... Meu pai cuidara dele pessoalmente, e a presença era para homenageá-lo pela bravura e total recuperação... Quando o amigo passou à nossa frente, ele, numa tentativa de aceno como agradecimento, deixou que o braço artificial se desprendesse do coto do ombro, qual ficou preso na manga do paletó civil e sua mão há centímetros do sapato preto de verniz... Hoje rio e sempre que lembro, classifico como mais cômico do que trágico, mas à época, num olhar menino; cena aterrorizantemente macabra... mas chega de prosa!!!
"Sigo até a esquina e meus fantasmas me acompanham
Toca o despertador transtornado, são seis da manhã
A luz matutina sorrateira, veio me apunhalar o sonho
Raia novo dia nesta vida proletária. Queria ser poeta"

Acaba que você me aparece com um bom texto, aí faz a gente tentsr ensaiar contar um 'causo' verdade pra ilustrar.
Meu abraço caRIOca ao amigo!