Eu tentei ficar, amor,
mas o vento arranca tudo o que não é raiz.
E eu sou só folha, perdida,
desenhando teu nome no ar antes de cair.
Não houve culpa,
houve apenas o peso das horas
se amontoando em nossos ombros,
como se amar fosse uma cruz
sem promessa de céu.
Quis escrever um último bilhete,
mas as palavras tremem demais
quando sabem que serão lidas na ausência.
Então deixo apenas este silêncio,
um grito engolido,
um “adeus” que não ouso dizer em voz alta.
Se um dia pensar em mim,
que seja como quem lembra da chuva —
fria, inevitável,
mas bonita quando vista pela janela.
E se te perguntarem por mim,
não diga que fui covarde.
Diga que fui embora porque fiquei demais.
Porque amar sozinho é como gritar num quarto sem eco:
a gente sangra… e ninguém ouve.
Fui teu por inteiro
mesmo quando tu me deu só metade,
e hoje carrego essa falta
como quem carrega um fantasma —
presente, invisível, e sempre frio.
Talvez eu ainda volte nos teus sonhos,
com a mesma voz que te chamava baixinho,
com os olhos cansados de esperar.
Mas será tarde.
Eu serei só lembrança —
daquelas que ardem quando o mundo silencia.
Agora, sigo.
Não porque quero,
mas porque já não há mais lugar pra mim
nessa estação onde você nunca chegou.
Me acostumei a dormir com tua ausência
deitada do meu lado,
e a chamar de rotina
esse vazio que você deixou no sofá,
na xícara, no nome que quase pronuncio e engulo de volta.
Fui ficando menor a cada retorno teu,
até caber num canto da tua indiferença,
como uma carta que nunca foi aberta,
mas amarelou com o tempo mesmo assim.
Hoje, não há mais espera —
só silêncio atrás da porta,
e um amor que não te pertence mais,
porque agora ele aprendeu a viver só…
mesmo ainda mancando do lado onde você morava.
Então vai.
Segue tua vida.
Mas se um dia o frio bater mais forte
e você lembrar de alguém que te amou até desaparecer,
lembra de mim.
Não com saudade,
mas com culpa.
Porque eu morri por você tantas vezes,
que quando finalmente parti,
nem Deus soube me encontrar inteiro.
E se um dia abrir a porta esperando me ver —
só vai encontrar o vento,
e o cheiro antigo de um amor que já virou poeira.
Te deixo a cama desfeita,
as lembranças doídas,
e um eco:
o som exato do que você perdeu por não saber cuidar.
Fim.
(E dessa vez… é mesmo.)