Poemas -> Reflexão : 

martelos e cutelos

 
A construção de uma moradia
é sempre razão de alegria.
Há os senhores engenheiros
administradores de dinheiros,
há os empreiteiros, os encarregados,
velhadas de suores trabalhados...
Tijolo a tijolo
o servente tolo
vai erguendo o que o pedreiro lhe diz,
desconhecendo a planta de raiz...
O estucador e o carpinteiro
embelezam a casa, dão-lhe outro cheiro.
Quando o engenheiro vai à obra
e um espaço do esboço sobra,
vai de culpar o encarregado
de suor ensopado.
Vinga-se com o martelo
(que o idoso chama maço)
e, como no talho cheio de sangue grasso
se usa do cutelo,
começa a endireitar o palmo de defeito...
Entre amadores de moradias
faz-se a empreitada todos os dias
e o edifício perfeito...

Toca a trabalhar...
(pensa um servente)


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
Data
Leituras
1192
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
1 pontos
1
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/09/2008 13:05  Atualizado: 04/09/2008 13:05
 Re: martelos e cutelos


Belo ponto de vista para ter do alto de um andaime, num dia de 40 graus de temperatura, e com um patrão de escassos recursos morais.....



Muito bom...