MOTE
— Onde nasceu a ciência
— Onde nasceu o juízo
Calculo que ninguém tem
Tudo quanto lhe é preciso
GLOSAS
Onde nasceu o autor
Com forças p'ra trabalhar
E fazer a terra dar
As plantas de toda a cor
Onde nasceu tal valor
Seria uma força imensa
E há muita gente que pensa
Que o poder nos vem de Cristo
Mas antes de tudo isto
Onde nasceu a ciência
De onde nasceu o saber
Do homem, naturalmente.
Mas quem gerou tal vivente
Sem no mundo nada haver
Gostava de conhecer
Quem é que formou o piso
Que a todos nós é preciso
Até o mundo ter fim
Não há quem me diga a mim
Onde nasceu o juízo
Sei que há homens educados
Que tiveram muito estudo
Mas esses não sabem tudo
Também vivem enganados
Depois dos dias contados
Morrem quando a morte vem
Há muito quem se entretém
A ler um bom dicionário
Mas tudo o que é necessário
Calculo que ninguém tem
Ao primeiro homem sabido
Quem foi que lhe deu lições
P'ra ter habilitações
E ser assim instruído
Quem não estiver convencido
Concorde com este aviso
— Eu nunca desvalorizo
Aquel' que saber não tem
Porque não nasceu ninguém
Com tudo quanto é preciso
António Aleixo in "Este Livro que Vos Deixo"
António Fernandes Aleixo
(✩ 18/02/1899 — † 16/11/1949)
Autores Clássicos no Luso-Poemas