A Minha Carne É Feita De Livros
A Minha Carne É Feita De Livros
A minha carne é feita de livros...
de histórias da carochinha
vividas no vapor da boca
que no adeus da aurora
cobriam de magia
o tormento do meu travesseiro
A minha carne é feita de livros...
encaixados à força da régua e do carimbo
do "tens que aprender a lição!"
enquanto lá fora...
a saia primaveril que vestia os meus sonhos
me inundava de interjeições...
A minha carne é feita de livros...
e rogo a quem os abriu
o milagre de jamais os fechar...
Luiz Sommerville Junior, 2010
In a Madrugada Das Flores, Edição Waf-Corpos Editora.
.
"O Silêncio das Estátuas"
Preciso tanto descansar...
deitar-me a repousar
sobre a terra ...
abraçar o céu
beijar o mar
aí ...
só para eu ter a certeza
que a lua que dança nesta cidade
de cais embriagados pelas pontes
é a mesma
que se noivou com o Sol
aí
nesse tão longe
que é o mais perto
deste mim
a repousar...
o meu destino...
agora!
Abre tuas mãos, meu amor,
solene coração de seda,
e... sente ...
o tombar ...
da coluna marcial
a fechar...
o círculo
mudez do meu gritar
combate!
ah, se houvesse força para lutar ...
mas aos milhares...
os velhinhos e as crianças dobram os joelhos
erguem aos céus os seus olhares
e ... oram ...
escuta-se ao longe o cheiro do fumo ...
um cavaleiro rodopia
no campo de batalha
ainda vocifera:
- vencemos! -
coitado, não enxerga
que é dono dum deserto...
baixinho, quase inaudível,
o murmúrio uníssono do hino
abraça a cruz de Deus
rogando por piedade ...
e... todos se foram ...
Cristo ?
Quem sabe quando e se Ele voltará...
Entretranto, minha querida,
arranco do meu peito
o medalhão que te ama
abre as tua mãos , meu amor,
e vê como brilha o ouro
desta minha invisível oferenda ...
sou teu
hoje e para sempre
ainda escuto os metais
inventados para serem donos
da carne que dilaceram
já se ergue a bandeira
dos que venceram
os derrotados...
não morreram
beijaram o sagrado
abraçados ao chão
descansam...
ao meu lado ...
... nos três volumes de História Universal ...
Luiz Sommerville Junior, 280620112044
Barquinhos De Papel
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Barquinhos De Papel
Quero que os meus versos
sejam humildes
como humilde foi o meu nascer:
cinco letras gritando
na boca da minha mãe
cinco letras sorrindo
nos olhos do meu pai
Quero que os meus versos
sejam humildes:
cinco letras entranhadas
no corpo da minha amada
Cinco letras vivendo
no meu filho eternizadas
Sim!
Quero que os meus versos
sejam humildes :
cinco letras apagadas
pela terra que as guardará
E... a chuva impertinente
a levar os barquinhos de papel
no tempo
de quem (não) me viu
Luíz Sommerville Junior , 060220142245 , Eu Canto O Poema Mudo
* cinco letras ou o meu nome - Jorge.
Leia também ... Original
"Tratado Da Minha Paixão"
Tardava a hora
do teu acontecer(me)
- ó Julieta de todos os meus livros!
em lista d´espera(me)
ó lírica de todas as canções, que eu não cantei!
enquanto todas as vozes do mundo te anunciavam
-ó partitura contida na mais perfeita arte!-
que eu te vi em todas as capas
que os mais notáveis artistas
elaboravam só para um dia
saber distinguir(te) em lugar primeiro
entre todos os outros
que nunca foram ou mereceram
constar …
(ó ilusórias nomenclaturas!)
mas …
meu tão descompassado coração
é alicerce de todos os meus pensamentos
- eu te louvo , ó inconfundível Descartes ! -
o sangue que ele impulsiona
qual samba – cor e movimento
do desejo(te)
Bossa-nova em todos os meus neurónios
Luiz Sommerville Junior
Tempestade
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Tempestade
Jamais poderei ser
O vento que movimenta a barca
Jamais poderei ser o mar
Em estradas d´água
Que foram a invenção de novos mundos
Jamais poderei ser o timoneiro
Que governa a canção dos marinheiros
até ao destino
Que é o fim
De tudo o que começa
E se vai embora
Jamais poderei ser como Magalhães
- seguir em linha recta!
Para regressar
A este (mesmo) lugar
Com uma nau desfeita
E suas velas e bandeira
irreconhecíveis , de dilaceradas
À deriva
Escrito ontem 270220142301
Reeditado hoje 280220141601
Luíz Sommerville Junior, Eu Canto o Poema Mudo.
Relógio
.
Relógio
sonhaste-me
era a hora , o minuto e o segundo
de todo o dia
de ti
a força luminosa do sol surgia
no meio da dor o sorriso podia
mais de que tudo o que o grito dizia
algures no tempo que então vingava
um pequeno pontinho ,
poeira movimentando-se ,
carne e sangue que toda a terra sabia ,
acrescentava um quase nada
à infinitude da estrada
para que a data...
inserida no oceano dum búzio atmosférico
que um dia desta vida te levará
siga soprando ao vento - crianças !
neste teu filho que noutros filhos te cantará
em sonhos que são força na palma do relógio
e , de novo , no ventre que é ...
a mãe regressará
(muito antes
da invenção da prece e da escrita
já os oceanos oravam
em silêncio ...)
À Minha mãe
Luiz Sommerville Junior
Madrigal
Sommerville, 2608201021:10
Venham manhãs
embutidas nos tambores cardíacos
escorregando pelos montes das tuas saias
onde o comprimento d´onda
da luz cristalina do Sol
em saudações à tua glória
asparge reflexos d´orvalho
felicitando o meridiano
do teu sexo
Sommerville, 2608201021:10
O Rosto De Deus (II)
"A vida é um sopro...O sopro de Deus sobre a terra..."
(Daniele DallaVecchia)
O Rosto De Deus (II)
A vida é um sopro
e a vida é o sopro
e a vida É Sopro
- de Deus !
Indefinida
quando não sabemos bem
a cor dos nossos passos...
definida quando encontramos
os pés que é urgente seguir
e ... a vida é apenas
verbo e substantivo
do nome e título que gravo
na alma !
Deus nasce agora
aqui neste lugar
em que a minha cabeça
repousa ...
Ele sopra no meu travesseiro
pela primeira vez !
e eu ...ao virar-me ,
incrédulo , pergunto ao Sopro
- Quem és Tu ?
a ternura da vida respirada
responde-me com a mais doce brisa :
- o teu querido rosto , meu amor !
- pela primeira vez ! -
Insisto em agarrar "o evangelho"
do passado que constrói o presente :
- soprando beijos na tempestade! ...
E... quem nos sopra,
minha amada?
quem irrompe
no centro
do nosso uno plural?
quem ao eu somando o tu
multiplica a inseparável
terceira pessoa?
- ele , filho da paternidade !
luz da razão materna ,
outra vez ,
pela primeira vez!
Luis Sommerville Junior, 28052011
Destino
Se fossem flores
as lágrimas que me pendem nos cílios
imagina , meu amor ,
os jardins que sorririam nos teus olhos
se fossem poemas
as gotas que escorrem como rios na minha derme
imagina , meu amor ,
os livros que tuas queridas mãos receberiam
se fossem pássaros
as construções que me revolvem a mente
imagina , meu amor ,
os mundos onde os teus pés seriam (per)seguidos
se fossem músicas
os bafos sufocados que me (não) saem
imagina , meu amor ,
os instrumentos que te ensaiariam
se fossem peixes
as veias que me transportam o sangue
imagina , meu amor ,
os rios e oceanos que te vestiriam
se fossem joaninhas
os estremeceres deste meu corpo
imagina , meu amor ,
as plantas de boa colheita que te agraciariam
se fossem céus
os sorrisos que no meu rosto se revelam
imagina , meu amor ,
a eternidade que te (a)guardaria...
Mas ...
Estes se´s anulam o tanto que tu possas imaginar
condiconam(me) , aprisionando(nos) ...
Se eu puder libertar o condicional
e erguer o absoluto
então
incondicionalmente
meu amor , imagina ,
as horas soprando no relógio :
- acelerai ponteiros , acelerai !
e estancai , agora , exactamente,
neste preciso e precioso segundo
em que eu de parado
traço todos os caminhos que (me) conduzem
ao destino que escolhi e faço
aqui , onde nascem
os anjos que respiram a sagração do amor ...
Luiz Sommerville Junior , 11112010,02:32
Em Luso-Poemas,2010
Em Na Transversal do Meu Relógio, 11112010,02:32
Texto Do Livro A Madrugada das Flores
Edição Corpos, págs. 32,33,34
Barquinhos de Papel II
Sabes , meu doce amor ,
quando fui criança, a rua carregava em seus ombros
os belos rios que a chuva de Fevereiro
espalhava ao longo das alamedas povoadas de frondosas árvores,
na sua parte mais alta nascia o encanto duma viagem
construída pela imaginação de pequeninos Vasco´s da Gama
colocavam-se as canoas construídas com as folhas em branco
dos cadernos escolares
que num ápice venciam as ondas rasas,
enxurrada dos céus,que rolavam desenfreadamente pela calçada
eu desatava a correr , seguindo com dificuldade, a rota delas ,
até ao ponto em que o caudal estreito se alargava
formando uma enseada, espelho d água, onde todos os navegadores
paravam maravilhados, em contemplação!,
por haverem conquistado no meio da tempestade
a serenidade, a paz de espírito e a alegria
apenas ...
com um barquinho de papel ...
Luiz Sommerville Junior, 140220121014
in Távola de Estrelas