Noutros tempos
Noutros tempos
Nos meus velhos tempos nada era virtual
tudo cheirava a amor e a zelo de invejar
feito tudo ao natural, por mãos carinhosas.
as casas bem perfumadas e o chão a rebrilhar.
Trabalho laborioso o cuidar bem de seu lar
com arte e mestria, as jarras sempre floridas,
rendas feitas ao serão, eram o tom, o requinte
eram assim as Senhoras naquelas épocas idas!
Tudo feito com zelo, carinho, espontaneidade,
os filhos sempre impecáveis, o orgulho da mamã,
papás de colarinho engomado e bigode perfumado
saiam para o emprego e para a escola, de manhã.
O destinar dos almoços era então elaborado
o peixe, a carne, os legumes, a fruta, combinados
tudo escrito no papel para nada ser esquecido
e a “criada” ia às compras, vinha de braços pesados.
Eram dias de tranquilidade, tudo era ajustado
para um dia equilibrado, lavar, engomar roupinhas,
o tempo dava para tudo, nunca havia correrias.
Brincadeiras, o jantar e o deitar das criancinhas.
Contava-se uma histórinha, que era raro acabar
ao serão havia música ou rádio o êxito inovador!
As peripécias do dia eram ali esplanadas, risadas,
palavras não palavrões, em vez de indiferença amor!
Hoje estou triste
Hoje estou triste
A lua está escondida num céu pardacento, mesmo escuro.
Gosto de a comtemplar e mergulhar no seu brilho, sonhar
compor poemas de alegria, amor, criador de positivismo
talvez porque a esperança, fé, amor não me irão abandonar.
Conservo-os no âmago do meu ser apesar das amarguras
profundas que trazem dores cruas, sentidas até à eternidade.
Mas não me deixo abater, luto, a energia conservo-a, alguém
um dia pode precisar dela e eu dou-lha de muito boa vontade.
Mas que falta me faz o teu luar bela poética lua inspiradora
depois de soltares as lágrimas de protesto que te estão a pesar
o céu se compadece e mandará nuvens brancas para te consolar.
Então resplenderás e será um amanhã de brilho e plenitude
as mágoas esconder-se-hão, entre as estrelas, no tom do azul
e voltamos a ver-te, marota, brilhante, bela, casta de virtude!
Minha Mãe
Para todas as Mães um grande beijinho!
Minha Mãe
Dizem que não há amor igual
ao amor de uma mãe.
É verdade e quem desmente
todas nós que os tivemos
e quem não os teve também.
Minha Mãe foi minha guia
brilhando como um farol
o que aprendi não esqueci
a luz que nunca apaguei
mais forte que o próprio Sol.
Quem as tem que as estime
têm a sua grata presença
porque amor igual a esse
procurem que não encontram
nem com uma candeia acesa!
À Virgem, que é mãe de todos
roguemos com devoção
pelas mães que estão na terra.
As que já vivem no Céu
beijinhos numa sentida oração.
Dia Feliz
Helena de Pina Manique
A aurora
A aurora
A aurora vem clareando está agora despertando
de uma noite serena, o céu ainda como o cresol
começa a colorir, nuvens deslizam rosadas, ténues
na transparência frágil dos primeiros raios de sol.
O bosque ainda escurecido começa a criar vida,
o cheiro da terra húmida, as pequenas aromeiras
onde as gotas de orvalho são pérolas translúcidas
que caem e se espreguiçam nas sumas rasteiras.
As rãs cedo começam a coaxar nos pequenos charcos,
ouve-se o espanejar dos pássaros ao sair dos ninhos
das tocas rastejam os répteis espreitando nos buracos.
O sol abre raiando tudo, é vida no bosque, em louvor
à natureza que se vai abrir à azáfama de um novo dia.
A aurora dá a vez ao dia e promete vir no próximo alvor.
Folhas douradas
Folhas douradas
O Tempo está solarengo mas frio. Uma aragem corre cortante e revolta os cabelos que ficam num desalinho. Foi bom ter vestido este casaco invernoso e o cachecol que estava com uma certa relutância em trazer por que sol me parecia mais acolhedor, enganei-me. Tive que o tirar do saco e enrola-lo no pescoço, senti-me mais confortável e continuei o meu passeio digestivo, pois quase tinha acabado de almoçar. O café deu-me mais ânimo, tomei-o ao balcão. Estava cheio o botequim e não podia ir para a esplanada com aquele tempo azedo. As ruas tinham pouca gente e as montras também não me seduziam, ainda com restos de saldos e pouca graça. Comecei a pensar por onde havia de caminhar. Fui parar à Avenida e constatei que não era preciso andar muito para ver com admiração como ela estava linda, um encanto. Desci-a. As árvores ainda estavam cobertas de folhas douradas que iam caindo com a aragem e o chão parecia acolchoado. Os pés enterravam-se naquele folhedo fofinho e ouvia-se a restolhada que eu fazia a andar. Parecia um acompanhamento musical que me agradava sobremaneira. Arqueadas as árvores faziam uma abóbada, que coisa bonita! Os jacarandás coloriam de lilás forte, muito bem distribuídos naquele dourado e caiam em ramagens de todos aqueles perfilados trocos de um castanho avelado e era um espectáculo maravilhoso. Fixei aquela paleta permista. Sentia-me tão bem, mas tenho de regressar. Subi de novo a alameda, fi-lo com gosto, embora as pernas já me pedissem um sofá.
Já em casa revi as fotos que tirei somente com o telemóvel pois não ia preparada para uma surpresa tão bela. Mas não antes de tomar um cházinho quente e umas bolachinhas que me souberam muito bem. Agora só quero descanso, queridas pantufas.
Helena
Educar é semear
Educar é semear
Educar é como semear um campo prometedor
de terra boa alimentada de produtos naturais
bem tratada e limpa das tais raízes sugadoras,
regado com zelo, carinho, que nunca é demais.
É um processo longo, para se levar com perícia,
serenidade, atitudes meigas, nada de aspereza.
Que os olhos saibam traduzir bem o pensamento
e a sabedoria será bem induzida, com certeza.
As palavras sejam bem claras e compreendidas
para que não sejam deturpadas ou imprecisas
é bom perguntar se entenderam ou se há dúvidas.
Semear para colher, provérbio cheio de ciência.
Iluminar a mente, que se abre ao conhecimento.
Alegria, poder colher os frutos doces da paciência.
Ser teu amor e companhia
Ser teu amor e companhia
Como gostava de ser o teu amor e companhia
ficar sempre a teu lado toda a noite e todo o dia.
Recostada no teu ombro ouvindo alvoroçada
a batida do teu coração também descompassada.
Sussurrando dizias aqueles piropos com graça
inventados, patetas, docinhos, em ar de chalaça.
Com maneiras e simplicidade, gestos amáveis
os beijinhos roubados, eram os mais memoráveis!
Aqueciam a alma e o corpo, uns braços a enlaçar
e os olhos, pareciam estrelas lá no alto a brilhar.
Na mocidade de outrora, a face cobria-se de rubor
tudo tão diferente, ingenuidade e pureza no amor.
Uma flor colhida no jardim, um trevo que dá sorte
escondidos na mão, para me vir enfeitar o decote.
Depois o dia chegou, o véu branco cobriu-me puro,
e assim construímos sempre felizes, o nosso futuro.
Foi assim
Foi assim
Estou olhando uma tela que pintei
já há algum tempo e que reproduzi
tenho-a colocada na parede, olhei
e pareceu-me mais bonita, sorri.
Um trabalho que tem uma história.
A moldura larga, muito simples, mas
o desenho concretizou uma vitória!
Deram-ma se a quisesse aproveitar.
A pintura era própria para cozinha
um bule e uma chávena a fumegar,
plastificada, feia, uma desgraça,
mas não fui capaz de a remover.
Já estava irritada e de pírraça
peguei nos pincéis, na paleta
tintas, e olho uma gravura bonita
que tinha guardada na gaveta
e venci o dragão com uma finta
como sou muito, muito teimosa
pintei por cima de fibra plástica
uma pintura antiga, muito graciosa.
Mas só por bírrinha comecei a pintar.
Qual o meu espanto, a tinta
agarrava bem e podia tonalizar.
Insisti, estava a ficar com pinta!
Acabei-o, coisa que nunca esperei.
Frente á minha mesa de trabalho
estão sentados bebendo chá, olhei,
revi, bonito principalmente o tom.
Porque um ser mau, sendo amado
não se venha a tornar bom?
No meu espírito foi o que pensei
nada tem a ver com a tela, ou tem
segredos da alma, o porquê não sei.
As mãos de minha mãe
As mãos de minha Mãe
As suas mãos já estavam gastas e cansadas
mas como eram hábeis, de delicada estrutura,
tudo fazia com delicadeza, emprestava sentimento
até nos bolos, pratos deliciosos, uma gostosura.
Com um ar sempre tranquilo e sorriso maroto
desconcertava-nos com as suas frases engraçadas.
Quanto aos nossos erros gramaticais, dizia séria,
quando leio coso as palavras, não ficam alinhavadas
Nessa altura achava estranha aquela dita costura
que a linha era outra não a dos bordados ao serão
mas a da nossa conduta, privilegiando a cultura.
Modos educados, seriedade, ter classe, um sorriso
aprendendo cada dia que a sã alegria agrada a Deus.
e cosendo o amor ao coração, nada mais era preciso.
Se tu soubesses
Se tu soubesses
Se tu soubesses meu bem
quanto eu gosto de ti.
Guardei-te no coração
porque uma ternura assim
acho que nunca senti.
Mesmo que o teu ardor
por mim, não seja igual
dá o teu a quem quiseres,
nem por isso eu deixarei
de te querer bem, afinal.
Enraizada no meu âmago
não vale a pena lutar
seria uma luta injusta
fazer-te este pedido
…se me pudesses amar!
Seres o Sol da minha vida
seres a Lua feiticeira
ficar nas nuvens pairando
sem medo dos altos voos
ó, poesia fagueira
pois tenho de confessar,
nunca estás longe de mim
dou por ti, suspiros e ais
e noitadas de prazer
só por te amar tanto, assim.