Poemas, frases e mensagens de elendemoraes

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de elendemoraes

LÁBIOS QUE NÃO BEIJEI... Elen de Moraes Kochman

 
LÁBIOS QUE NÃO BEIJEI... Elen de Moraes Kochman
 
Lábios que não beijei

Elen de Moraes Kochman

Teus beijos, que o sabor nunca provei,
Teu corpo, que jamais acariciei,
Hoje povoam minha fantasia.
Tudo que não tenho... o que mais queria!
Utópico prazer, fora da lei.

Falar-te do meu amor... nunca ousei.
Tão belos sonhos que não realizei...
Tanto te quis dizer quanto queria

Teus lábios nos meus... minha fantasia!

São minha alucinação de hoje em dia
As tuas mãos em mim - doce agonia! –
A arrepiar meus pelos, mas bem sei
Que essa emoção jamais sentirei!
Cismo-me em teus braços ... e à revelia,

Beijo teus lábios...minha fantasia!
 
LÁBIOS QUE NÃO BEIJEI... Elen de Moraes Kochman

Entardecer do amor

 
Entardecer do amor
 
Entardecer do amor

Elen de Moraes Kochman

Matizava-se de cinza aquele recanto,
Nosso refúgio de sombras se preenchia,
A melodia do riacho era acalanto
Pra natureza que, aos poucos, se recolhia.

A sós com as tuas lembranças, entretanto,
Vi desmaiar minha esperança com o dia...
Queria estar contigo... mas pra meu espanto
Senti que algo dentro de mim também morria.

Os sons se abafavam na tarde que esfriava...
Alegre bem-te-vi no ninho se escondia.
Perdida em minhas dúvidas, ensimesmava...

Esperava-te... e a paixão me consumia.
Grande desilusão conta de mim tomava
Ao ver que nosso amor também entardecia.
 
Entardecer do amor

Elegia do Adeus (Video com voz da autora)

 
 
Elegia do Adeus
Poesia e voz de Elen de Moraes Kochman
Vídeo de Neila Costa
 
Elegia do Adeus (Video com voz da autora)

O SOM DO AMOR (Silêncio, minha mãe está sorrindo)

 
O SOM DO AMOR (Silêncio, minha mãe está sorrindo)
 
O som do amor
Elen de Moraes Kochman

Silêncio!
Minha mãe está sorrindo.

Som celestial!
Coro de vozes de arcanjos
derrama melodia
sobre seu sorriso lindo,
vivifica
a divina paz do seu semblante,
com a ternura usual
do seu olhar de anjo.
Que nenhum ruído abafe
esse som contagiante;
que sofrimento não turve
no seu rosto, a alegria;
que nuvens não encubram
esse seu deslumbramento
de aconchegar-se à vida,
com sublime maestria.

Silêncio!
Minha mãe está sorrindo,

sem temores,
para um amanhã incerto.
Esperança,
nesse tímido sorriso aberto
é a mola que a encoraja a viver,
transpor limites,
e entre nós permanecer.
Nesse enfrentamento,
dissabores são detalhes
esquecidos, certamente,
pelas esquinas do tempo.
Rugas, no seu rosto,
são primorosos entalhes
esculpidos, suavemente,
por sábio envelhecimento.

Silêncio!
Minha mãe está sorrindo,

placidamente,
para os meus sombrios medos...
Lágrimas que brotam
nos meus olhos,
por suas mãos enxugadas,
amorosamente,
quando em seu colo
reencontro meu abrigo,
trazem cheiro de infância,
num eco saudosista.
Deposito, confiante,
em seus braços, minha fadiga.
Removo os meus escolhos
e descanso...
no santuário do seu regaço de amiga.

Silêncio!
Minha mãe está dormindo!
18/01/1919 - 21/02/2016
 
O SOM DO AMOR (Silêncio, minha mãe está sorrindo)

O mais precioso bem

 
O mais precioso bem
 
Parabéns pelo teu dia, querido filho!
Feliz aniversário!
 
O mais precioso bem

AMOR EM BRANCO E PRETO (Pelo dia da Consciência Negra, no Brasil... melhor dizendo, consciência humana.

 
AMOR EM BRANCO E PRETO  (Pelo dia da Consciência Negra, no Brasil... melhor dizendo, consciência humana.
 
Amor em Branco e Preto

Elen de Moraes Kochman

Acetinada e negra é a cor da tua pele.
Bastante branca e luminosa é a cor da minha.
Entretanto o amante coração não repele
O puro amor... que nessa paixão adivinha.

A mistura dos tons que no mergulho cego
Nossos corpos, entrelaçados, realizam,
Tem no vermelho do sangue nosso alter ego...
Matiz das novas cores que nos divinizam.

Que em nossa união jamais haja preconceito!
Embora, às vezes, vejo escárnio onde passamos.
O que nos importa, se aqui em nosso peito
Há tanto amor... e nele nos realizamos?

Se bastardo é o amor por ser em branco e preto:
Não sou poeta! Nem mestiço é meu soneto!
 
AMOR EM BRANCO E PRETO  (Pelo dia da Consciência Negra, no Brasil... melhor dizendo, consciência humana.

ALMA GÊMEA

 
ALMA GÊMEA
 
Alma gêmea

Elen de Moraes Kochman

A gêmea alma da minha,
por quem vivi encantada,
trocou-me...e agora se aninha
em braços de alma penada!

Bem-feito! Digo hoje em dia.
Pular cerca, quem mandou?
Foi atrás do que queria...
Deu-se mal com o que achou!

Mas eu, também, não me emendo!
Amor novo, se a alma insiste...
Mas quase me convencendo
que alma gêmea não existe!

E o resultado... adivinha?
Eu, de novo, aqui, sozinha!
 
ALMA GÊMEA

COMIA-TE TODA!

 
COMIA-TE TODA!
 
Comia-te toda... minha torta gostosa!
Só de te olhar sinto um enorme calafrio
Tomar conta de mim... E tu, toda cremosa,
Provocas-me... Pões minha dieta por um fio.

Da vitrine, te ofereces tão glamourosa...
Meu desejo por ti é mais que doentio:
Ele se apodera, de forma vergonhosa,
Dos meus fracos sentidos... do meu desfastio.

Eu quero esse teu corpo de merengue mole
Seduzindo-me... como na dança de um tango!
Só de te imaginar... minha fome te engole!

O meu pecado é desejar comer-te, assim...
Como resistir ao chantilly com morango,
Se te ofereces, continuamente, pra mim?!
 
COMIA-TE TODA!

Ser... ou não Ser...

 
Ser... ou não Ser...
 
Fui?
Sou?
Serei?
Não importa,
se a alma me suporta
e a inspiração bate à porta...

Ser ou não ser...

Elen de Moraes Kochman

Não sei se sou poeta por dizer em versos
Tudo quanto à mente me vem, liricamente...
Ou se porque amor e ódio são reversos
Pra mim, que vivo o amor bem mais intensamente...


Não sei se sou poeta quando o pranto cai
Dentro do peito, por essa gente sofrida.
Ou se porque, por ideais, meu ser se esvai,
Quando a inspiração abre mais essa ferida...


Não sei se sou poeta pela dor que eu invento,
Ou se porque me perco em tanto sentimento...
Só sei que não sei mais se sou, ou não, poeta.

Porém, sinto-me poeta neste soneto,
Pois nele ponho alma e coração em dueto...
E neste instante sei que meu EU se completa!
 
Ser... ou não Ser...

Correr atrás do vento (a transitoriedade da vida)

 
Correr atrás do vento (a transitoriedade da vida)
 
Correr atrás do vento

Elen de Moraes

Tem dias que acordo com a estranha sensação de que não sou deste lugar. Sinto a casa vazia, sem vida, evidenciando objetos que me parecem tão fora do comum, que não os reconheço como meus. Os móveis se revelam gastos, sem brilho, as cortinas e estofados já não têm aquele cheiro característico de teciso novo - nem viço - e os tapetes dão idéia de ocupar espaços e não de enfeitar o ambiente ou amortizar ruídos.

Nesses dias a paisagem que há muitos anos vislumbro do meu terraço, não a distingo mais com a exuberância de antes e, para dizer a verdade, não sei se a vejo porque os meus olhos podem enxergar ou se porque é impossível não divisar os edifícios que brotam como ervas daninhas bem adubadas, entre os antigos e ensolarados casarões, agora sombrios e desbotados, que eu, romanticamente, tanto gostava de admirar.

Até o ir e vir dos transeuntes, que me deixava curiosa tentando adivinhar seus pensamentos, dores e alegrias da alma, dá-me a impressão de pessoas apressadas que andam de lá para cá, sem que eu consiga entender se conversam consigo mesmas ou se seus lábios se movimentam em rituais silenciosos, em preces, ou se dizem impropérios contra as calçadas mal conservadas e as ruas mal iluminadas.

Pior do que essa estranha sensação é a de me sentir invisível quando cumprimento alguém nos elevadores ou corredores do prédio onde moro. Respondem olhando o teto, o chão ou ajeitando-se ao espelho. Não se dão ao trabalho de se voltarem para ver com quem falam. Só as crianças, meio tímidas, fazem perguntas. Há exceções, bom lembrar. Os porteiros e empregados, geralmente, sorriem com gentileza quando entro ou saio, mas sinto que não me vêem. Também não sei se os vejo, pois jamais sei se são novos ou antigos no emprego, posto que não consigo identificar o que os diferenciam, uma vez que todos têm o mesmo olhar entristecido e a velha desilusão no rosto marcado pelo cansaço.

Ponho-me a pensar por que tudo isso me causa desgosto se antes não me sentia assim e por que só agora o tempo se detém nos detalhes que eu não percebia. Por que, de repente, a vida perde o sentido da graça, dando-me a impressão de que tudo se repete com as horas, os dias e os anos. Pergunto-me em quais momentos me perdi de mim ou será que são nesses estranhos e amiúdes momentos que me encontro?

Descartada a hipótese de alguma patologia, sobra certeza do vazio existencial, da intolerável rotina, a convicção de que mais da metade da vida é passado e que futuro é só uma esperança, sobra a segurança plena que isto é envelhecer, ou seja, esse sentir-se estranho na própria casa e transparente para a família, vizinhos e muitos que se dizem amigos, como se fizéssemos parte da mesma paisagem observada dia após dia.

Dizem que envelhecer é isso e que é melancólico porque, aos poucos, nos transformamos em alguém que muitos olham sem ver, que ouvem sem escutar, com quem conversam sem dialogar, que questionam sem querer respostas.

Envelhecer, então, é aceitar a rotina do tempo, o que os outros nos impõem, além do que já nos impõe a vida? E os sonhos que ainda sonhamos, onde os colocamos? Enterramos com os anos e as ilusões que foram? Ninguém deseja ser aquele “móvel velho” que é deixado para trás, colocado na porta como lixo, quando a família vai para novo endereço. Tampouco a “antiguidade” que é tratada com cuidado só pelo seu valor comercial. Figura de retórica à parte, importante é reagir, mudar, recomeçar! E não permitir, jamais, ser tratado como objeto fora de uso.

“O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos”, diz Airton Luiz Mendonça e continua: “se repetirmos algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida”. Se ao envelhecermos a vida se transforma numa rotina sem fim, e perde a graça e os dias parecem menores, o segredo está em vivenciarmos coisas novas, aquelas que a mente vai parar e pensar. Os dias nos parecerão mais longos e cheios de novidades, a vida mais colorida e movimentada.

Salomão, do alto da sua notável sabedoria, explica, claramente, esses questionamentos. Em seus livros de Provérbios e Eclesiastes, fala sobre a nossa finitude e sobre o tempo de todas as coisas: nascer, morrer, rir, chorar, plantar, colher, etc., e mesmo quando afirma que tudo na vida é vaidade, é correr atrás do vento, ele nos ensina e encoraja a aproveitar as coisas boas que ela nos oferece sem, entretanto, esquecermos a transitoriedade das mesmas.

https://elendemoraes.blogspot.com/2011 ... vento-elen-de-moraes.html
 
Correr atrás do vento (a transitoriedade da vida)

Outono - Estação do amor

 
Outono - Estação do amor
 
Outono, estação do amor.

Elen de Moraes Kochman

A lua ainda teima em marcar presença quando um tímido sol, através dos seus primeiros raios, dá esmaecidas tonalidades rosa e laranja aos tufos de nuvens, cedendo colorido ímpar ao manto negro da noite que se rende à beleza e empresta espaço à exuberância dos matizes outonais do amanhecer.

A cidade desperta sem pressa e se espreguiça sobre o mar. Os gritos abafados das gaivotas - como se tivessem pena de acordar o dia - com seus vôos lânguidos e rasantes sobre águas cor de esmeralda , que aos poucos se cobrem com nuances douradas e o som das ondas, lambendo luxuriosas as brancas areias, num ritmado vai-vem, orquestram uma perfeita sinfonia.

Do mar, a brisa sopra fria, ondula os coqueirais e se enrosca nas pequenas árvores, despindo-as com leveza e graça, deixando-as despudoradamente nuas, num ritual de paixão e prazer. Os cheiros cítricos que invadem o ar, aspergem pelas ruas um perfume gostoso, um rastro de vida que dá um toque extasiante de boas-vindas ao recomeço.

Cores amarelas, vermelhas e douradas tonalizam a esperança; sons embalam e cadenciam a alegria de existir; notas musicais produzidas pelas batidas do coração, em unissonância com os acordes do universo, entoam um novo tempo; fragrâncias de terra molhada, no cio, que recebe em seu ventre novas sementes, novas vidas, dão o toque de abril.

Nos trópicos o outono é belíssimo: o céu mais azul, os dias mais claros e ensolarados e as temperaturas amenas convidam a passeios, abraços e união de corpos. As noites, mais aconchegantes e românticas, estimulam confidências e entregas. Não sei se o que vejo, enxergo com os olhos da paixão, da admiração que cultivo pelo meu Rio de Janeiro ou se os filtros, através dos quais vejo amor e encantamento num singular amanhecer outonal, precisam ser substituídos.

Todavia, acredito que a beleza natural que veste a nossa cidade não poderia ter um outono qualquer, só com árvores desfolhadas, uma época simplesmente de espera por dias mais viçosos, sem mistérios e sem poesias. Tinha que ser como acontece: o clímax da natureza rompendo um novo tempo, tingindo de ouro as águas da Lagoa, das praias e da baia, colorindo nossas águas interiores. Um tempo de reencontros, de renovação, de perdão para renascer, de dispor novas sementes no solo da nossa compreensão (e aceitação pelo inevitável), de colher os frutos que se plantou. Outono, estação do amor!

Há quem o compare com o “principio do fim” da vida, a antecâmara da velhice, a tristeza ligada à morte. Talvez, pelas folhas secas, sem brilho, espalhadas pelo chão, largadas ao vento. Penso que depende de como cada um modera a luz e protege as lentes, através das quais capta e absorve o belo ou o feio, a alegria ou a tristeza, a intensidade ou o efêmero desses dias, de todos os dias e estações.

Quando eu era mais jovem, quando meus olhos só viam o necessário, o que se mostrava em primeiro plano, quando o meu coração reclamava sem conferir e a minha alma sentia sem entender, eu mesma não conseguia enxergar, no outono, a estação do amor e, sim, uma sucessão de dias insossos, um desfilar de rostos inexpressivos, uma procissão de acabrunhadas gentes. Uma estação de saudades antecipadas.

Hoje faço coro com o poeta Vinicius de Moraes, em seu poema “As cores de abril”, quando ele afirma: “vai e canta, meu irmão/ ser feliz é viver morto de paixão”.

Publicado no jornal da CA
www.tribunaportuguesa.com
em 1º/06/2010
 
Outono - Estação do amor

"O Poeta é um fingidor"?

 
"O Poeta é um fingidor"?
 
"O Poeta é um fingidor"?

Elen de Moraes Kochman

Nessas noites solitárias, quando revivo
cada sonho que permiti amanhecer,
cada paixão que inventei... só para escrever
versos tórridos de algum poema explosivo;

quando ao coração proibi deixar-se cativo
dos amores que fingiam bem me querer,
quando desisti de viver só por viver,
pelo cansaço que se me fez persuasivo,

entendi que na vida tudo tem um preço...
Lúcida, de bom grado, aceitei a amargura
do licor, do cálice que bebo... E agradeço,

cada dia, viver essa grande aventura:
fantasiar a vida em cada recomeço;
reinventar-me na “transparência da loucura”.
 
"O Poeta é um fingidor"?

Toma posse...

 
Toma posse...
 
Toma Posse...
Elen de Moraes Kochman

Que o Senhor te abençoe e que te guarde,
Que te dê saúde que necessitas,
Que em ti a ira sempre venha tarde,
Que te sejam, as palavras, benditas.

Que sobre ti Ele levante o rosto,
Que te desvie da estrada do mal,
Que não permita sobre ti desgosto,
Que te faça entender teu ser mortal.

Que pelos desertos te estenda a mão,
Que te dê Luz e o Amor Verdadeiro!
Que tu entendas que a Ele, por inteiro,

Deves entregar o teu coração,
Pois o cansaço que pesa em teus ombros
Ele alivia, ao limpar-te os escombros.
 
Toma posse...

A Tua essência (saudade em paz...)

 
 
A tua essência
Elen de moraes kochnan

Na taça
dos teus seios
bebi, gota a gota,
sem receios,
a borbulhante seiva da vida.

No amparo
do teu amor,
resisti às dores,
ao despreparo,
às angustias e temores.

Nos braços
das tuas preces,
soltei os laços
que me atavam a estresses
e fracassos.

Sob o clarão
do teu saber,
a minha escuridão
fiz alvorecer.
Clareei minhas ignorâncias.

Nas águas
dos teus olhos
mergulhei...
Bebi da sua transparência...
A alma purifiquei
no bálsamo da tua essência!

Obrigada, Mãe!
 
A Tua essência (saudade em paz...)

O sumiço do Santo casamenteiro

 
O sumiço do Santo casamenteiro
 
O sumiço do Santo casamenteiro.

Elen de Moraes Kochman

Procuro impaciente a foto do meu Santinho casamenteiro. Desde o divórcio – faz tempo! – minha Advogada colocou-a na minha carteira. Reviro bolsas, gavetas e não a encontro. Sumiu! O Santo se escondeu, talvez, exausto de interceder pelos solitários. Embora não creia que me vá arranjar marido, não quero sair de casa sem ele, logo hoje no seu dia – dos namorados – mas vejo que é o jeito!

Com o tempo, a gente se apega às manias: sempre ando duas quadras antes de entrar num táxi. Não gosto que saibam onde moro. O motorista, um senhor simpático, muito perfumado àquela hora da manhã, fala mais do que dirige, embora sua conversa seja agradável. Enquanto fala, olha-me pelo retrovisor e acho aqueles olhos os mais azuis que já vi. Azuis ou verdes? Não confiro, porque o homem pode pensar que correspondo ao seu flerte. Que palavra antiga! Será que os jovens usam-na quando olham para alguém, com interesse, insistentemente, tantas vezes, até que tenham certeza de serem correspondidos?

Paramos em frente a um centro comercial. Pago a corrida. O motorista estende a mão com um cartão. Comenta que é seu telefone, se precisar de um táxi. Pego, agradeço e ele diz que é para o caso, também, se precisar de um amigo para tomar um vinho. Grande namorador! Olho para sua aliança e jogo o cartão no banco, dizendo-lhe para levar rosas à esposa.

O movimento é intenso. Em meio a tantos casais abraçados, pareço barata tonta vagando pelos corredores. Não sei o que faço ali. Se admitisse, diria que saí de casa com a esperança de conhecer alguém especial. Cansada, o sapato de salto alto, que uso raramente, incomoda-me. Dirijo-me à praça de alimentação para dar uma trégua aos pés e um agrado ao estomago. Sento-me, olho em volta e um susto me acelera o coração: Virgem Santa, quantas mulheres sozinhas tiveram a mesma ideia! Jesus, cadê os homens! Os mais moços, no trabalho, certamente. E os bem mais velhos, aposentados, em casa, vendo TV, na internet, adoentados ou já partiram mesmo, desta para melhor. Pasma, perco a fome. Levanto-me e saio.

No andar de baixo um casal me pede para responder uma enquete para sua agência de publicidade, que pesquisa o presente que uma mulher, na minha faixa etária, gostaria de receber no dia dos namorados. – Um namorado! Respondo e os deixo sorrindo. Penso sobre o que gostaria de ganhar e concluo que, já que namorado não vai ser, uma sandália rasteirinha, que me deixe com os dedos à vontade, será um presente dos deuses. Entro numa sapataria, sento-me, tiro os sapatos, estico as pernas como se estivesse em casa e flexiono os dedos martirizados. Como é gostosa a liberdade! Danem-se as regras sociais.

Uma voz masculina pergunta-me o que desejo e me traz à realidade. Solícito, mostra-me vários modelos. Impressão ou ele acaricia meus pés enquanto me ajuda a calçá-las? Credo, que imaginação! Porém sinto que o sangue devolve vida às minhas pernas e espanto-me com meus pensamentos. Pago, saio e volto a cabeça para olhar o funcionário: minhas dúvidas se confirmam vendo seu olhar maroto. À noite ele terá divertidas histórias e muitas fanfarronices para contar aos amigos.

Já não aguento andar e não quero voltar para casa. Entro numa das salas de cinema. É cedo para a primeira sessão, mas estão abertas. Compro chocolate e pipoca, acomodo-me num ótimo lugar, recosto a cabeça e fecho os olhos. Alguém toca meus ombros. Olho para trás e um senhor pergunta-me se pode sentar-se ao meu lado, para conversarmos. Não respondo. Ele insiste. Diz que faltam uns quinze minutos para iniciar o filme e que podemos passar o tempo nos conhecendo. Sem esperar resposta, dá a volta, quase se joga no assento e antes que eu reclame, diz sorrindo, mostrando bonitos dentes: - Hoje desisti de esperar a morte em casa. Decidi sair e arrumar uma namorada.

A “cantada” é diferente, mas um tanto mórbida. Olho-o com o rabo dos olhos e deduzo que não parece ser um tipo mulherengo. Vá saber! Deve ter entre setenta e oitenta anos. Maliciosa, me questiono se ele ainda namora.
O homem pede que eu fale alguma coisa. Corto o silêncio:
- Casado?
- Não!
- Mentiroso?
- Não! E você, o que faz aqui hoje?
- Vim comprar uma sandália – E mostro meus pés.
- Mentirosa? – Não respondo.
Rimos muito e nos apresentamos.

(Será mera coincidência qualquer semelhança da vida de alguém com este conto)
 
O sumiço do Santo casamenteiro

SOU POETA (sou? sei lá...)

 
SOU POETA (sou? sei lá...)
 
Já fui feia,
já fui linda,
fui casada,
divorciada,
fui pobre
- e melhor ainda -
já fui rica
e adulada...

Hoje sou feliz,
sou o que sempre quis:
sou poeta!
E mais nada.

(sou? sei lá...)

(Parafraseando Cecília Meireles, mas as verdades são minhas)
 
SOU POETA (sou? sei lá...)

SER PAI

 
 
Desejo a todos os pais um feliz domingo.
 
SER PAI

CIÚME

 
CIÚME
 
Ciúme

Elen de Moraes Kochman

Por te amar, sofro... e te faço sofrer.
Quando me bate n'alma a insegurança,
Duvido de tudo! Faço cobrança,
Achando que tens sempre algo a esconder...

Fico a imaginar que não mais me amas,
Que estás comigo só por não saber
Que palavras usar pra eu entender
Que da paixão apagaram-se as chamas.

Então fujo dos teus olhos... me afasto
Pra que não vejas a dor do meu pranto,
Para não ver no teu rosto o espanto
Pelo meu ciúme cruel... nefasto.

Quão inglória essa dor! Muito lamento...
Ao nosso amor sei que nada acrescento.
 
CIÚME

Minha Obra prima

 
Minha Obra prima
 
Minha Obra prima
Elen de Moraes Kochman

O meu melhor poema
escrevi com a alma,
fértil de esperança,
quando a vida
inundava-se de monotonia,
os dias se perdiam
nos mormaços outonais,
e se enfeitavam
de momentos vazios
e repetitivos...

O meu melhor poema
escrevi com o coração
tomado de amor,
quando a matreira solidão
esgueirava-se por atalhos,
minava minhas vontades
e com as garras invisíveis
das mesmices tediosas
da existência,
embotava meus pensamentos
e desorganizava minhas palavras...

O meu melhor poema
escrevi tomada em vertigens
de emoções,
quando o fruto da inspiração
pulsou forte nas minhas entranhas
e se amalgamou
com cada partícula do meu Ser.

O meu melhor poema,
foi escrito nas células
da minha eternidade,
assinado pelos meus sentidos,
impresso na minha essência
pelo Poeta Supremo,
Deus e Criador!

Meu melhor poema,
elo entre o passado,
o presente
e a minha posteridade...
Poesia da minha alma,
da minha esperança!
Minha semente...

Minha obra de arte,
minha perfeita rima,
filho da minha carne,
minha obra prima!
 
Minha Obra prima

Quando nas mãos de Deus... - Elen de Moraes Kochman

 
Quando nas mãos de Deus... - Elen de Moraes Kochman
 
Quando nas mãos de Deus...

Elen de Moraes Kochman

Quando nas mãos de Deus a gente se coloca,
No coração o regozijo faz morada,
Fardo fica leve, aflição não mais sufoca...
Cessa a lágrima! Vislumbramos nova estrada!

Quando nas mãos de Deus a gente se coloca,
A vida se renova ao longo da jornada.
Profundamente, a dor do nosso irmão, nos choca.
E perdão nós liberamos de alma lavada.

Quando nas mãos de Deus a gente se coloca,
O receio pelo amanhã não faz pousada.
Vencer batalhas, a fé sempre nos convoca!
E a alma, pra tudo, se sente preparada.

Quando nas mãos de Deus a gente se coloca...
Vida eterna é a parte da herança que nos toca.
 
Quando nas mãos de Deus... - Elen de Moraes Kochman