Poemas, frases e mensagens de Sóstenes10

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Sóstenes10

O Fim do Carnaval

 
A manhã daquela sexta feira encontrava-se agitada, afinal, numa cidadezinha como aquela, o carnaval causava o maior reboliço. As pessoas agitavam-se de maneira demasiada, as crianças corriam de um lado ao outro e até mesmo os cachorros ficavam inquietos como todo aquele pandemônio das tradições carnavalescas mantidas desde épocas remotas.
Muitas formigas esmagadas pelos pés agitados de todos que compartilhavam da correria. As janelas das pensões abriam-se donde rostos sorridentes admiravam àqueles que nestes dias de festejos transfiguravam-se em verdadeiras "estrelas" desse "asfalto cinzento da alegria".
As tradições faziam com que àquelas roupas rasgadas, as lonas velhas usadas como vestimenta e os rostos cobertos com as mais tenebrosas máscaras encantassem e alegrasse toda aquela gente. A festa de carnaval na cidadezinha era embalada pelas presepadas dos jovens fantasiados de monstros, um verdadeiro baile das caretas.
As caretas assustavam as criancinhas e encantava os adultos, sempre em grupos de quatro ou cinco, circulavam pelas ruas e vielas zombando de tudo e todos. Mantinham as gargalhadas de alguns com suas acrobacias e palhaçadas, todos, na cidadezinha já estavam acostumados com a "muvuca" dos dias de carnaval.
De repente ficaram pasmos, até mesmo as caretas de grupos diferentes não entendiam como eles haviam conseguido tal façanha. Quatro das caretas que supostamente desfilavam pela tradição da festa, apareceram em uma pick-up turbinada, a surpresa foi geral, afinal, os pobre coitados "careteiros" circulavam sempre usando a força de vossas pernas, nunca antes haviam sido vistas sob os cavalos de motores envenenados. Depois da surpresa, passaram todos a curti a diferença, os "careteiros" do possante fizeram um arrastão com todas as caretas usando o som do veículo, que mais parecia um trio elétrico, todos estavam felizes. Circularam boa parte das pequenas ruas desse bairro chamado de cidade, chegaram à praça principal.
A festa continuava, o som das marchinhas embalavam a todos. Subitamente a música para, os "careteiros", três dos que estavam na pick-up descem lentamente do carro, todos observam e alguns chegam a comentar "eles devem fazer uma apresentação especial" e, de fato foi uma cena que entrou para a história.
As vestimentas velhas foram caindo uma a uma, debaixo daqueles farrapos apareceram duas metralhadoras HK 45 e duas escopetas calibre 12, a gritaria e correria foi total, para todos os lados haviam pernas ansiosas por correrem rapidamente distanciando-se daquele local, os meliantes mantendo as máscaras de caretas na face, disparavam para o alto, os três que desceram da camionete adentraram de maneira avassaladora à agência bancária, em ação rápida roubaram bastante dinheiro e ao saírem do banco carregavam consigo alguns reféns usados como escudo humano, entraram no carro e meio que em tom de zombaria as marchinhas voltaram a rolar. Soltaram os reféns quilômetros a frente e fugiram sem deixar vestígios.
Os policiais, disseram que nada poderia ter sido feito, afinal o baile das caretas era tradição daquele local e, jamais imaginariam tal façanha por parte dos meliantes, então a cidadezinha entristeceu-se e amedrontou-se de tal maneira, que quaisquer um de seus moradores ao avistar uma careta sentia as pernas tremerem, pouco a pouco extinguiu-se o carnaval como festa naquela terra e, nunca mais houve baile das caretas.
 
O Fim do Carnaval

Comendo o Defunto

 
Os artifícios que usamos para mantermo-nos aqui nessa massa cinzenta tornam-se deploráveis. Nos julgamos uma civilização evoluída; nos vangloriamos das conquistas espaciais, das altas tecnologias que desenvolvemos; nos sentimos os reis do universo, os soberanos e, de certa forma até somos, mas os preços de tal status por vezes e quase sempre, são altos demais. Matamos, literalmente matamos para viver.
Pois é, a morte mantém a vida, a extinção de inúmeros e inúmeros seres vivos hoje, nesse dia fúnebre (todos são), o assassinato de seres que não pediram para constituírem-se enquanto vivos, foi o que manteve a nossa sobrevivência, vendo sendo assim desde a criação dessa massa cinzenta, chamada Terra e, será sempre assim, mataremos para viver. Exemplos simples podem demonstrar quão grande verdade é essa afirmação: analisando as refeições rotineiras daqueles que conseguem manter em seus lares, de maneira contínua, o hábito/necessidade de alimentar-se, conclui-se tranquilamente a necessidade de matar para a manutenção da vida; leite, pão, queijo, presunto, manteiga, café... Arroz, feijão, carne, legumes, sucos... O leitinho da manhã foi retirado das tetas de vacas das quais os ubres enchem-se de maneira veemente, o bezerro, herdeiro natural desse leite não degusta do seu alimento primordial, o líquido que parece branco encontra-se na tua mesa, os inúmeros "triguinhos" que choraram lágrimas secas ao terem suas sementes brutalmente arrancadas e, agora comem-se o pão vindouro das lágrimas do trigo; o queijo e a manteiga são derivados do leite que deveria está nas papilas gustativas do bezerro; o presunto de um porco que a muito virou presunto, um porquinho que certamente nunca fizera mal a alguém, entretanto foi abatido como presa fácil, afinal, precisamos de maneira incontrolável desse presuntinho de todos os dias; o café segue o mesmo pensamento do trigo, o cafezal chora em coro quando seus filhos são arrancados e depois postos a secar com o intuito de saciar a necessidade humana do bom e velho cafezinho de todas as horas, assim como o arroz, o feijão, os legumes, as fruteiras que choram em coro a perda de seus filhos; o que dizer do belo nelore que a pouco habitava livremente os pastos verdes da bela fazenda, o que dizer de todas as suas 25 arrobas que arrombadas foram para que a carne estivesse em vossas mesas, pois é, toda essa nossa necessidade de alimentação, depende por vezes da morte de outros, é o ciclo da cadeia alimentar, é uma constante inquestionável: matar para viver.
Diante das percepções do nosso imenso tamanho e valor (quase nada), acredito que muitas das nossas birras, por assim dizer, deveriam ser apaziguadas: orgulho menor, rancor inexistente, soberba, inveja..., tais sentimentos maléficos devem ser extirpados, afinal já temos pecado demais em matar em prol do nosso bem, ou se não matamos, no mínimo comemos o defunto.
 
Comendo o Defunto

O Poder do Abraço

 
A cada segundo percebo e valorizo mais as pessoas, os sentimentos tomam-me de maneira nunca antes sentida, acho que estou ficando careta.
Hoje percebi o valor do abraço, não abracei ninguém em especial, não tive aquele abraço carinhoso que me fizesse sorrir, mas precisei. Lembrei do conforto que um abraço proporciona, lembrei que quando algo bom ou ruim acontece, a primeira reação entre as pessoas é um abraço.
Abraçar proporciona o contato entre seres, um contato puro, onde conseguimos chegar mais perto dos corações, o abraço é a carícia mais pura e sincera que podemos receber, nele conseguimos sentir a essência das pessoas, é em um abraço que tens certeza que amas alguém, sente-se como se tivesse asas, como se teus pés saíssem do chão (e saem, você flutua nos braços de quem te abraça), um abraço falso é facilmente percebido, é um contato frio, seco, sem calor, sem o conforto que o sentimento sincero proporciona
Quando alguém estiver triste, não ofereças um beijo, uma palavra, não ofereças, dê um abraço, conseguirá assim expressar tudo que desejas, todo o teu carinho, todo o teu respeito, todo o teu amor. Após um abraço, poderá haver choros, mas chorar demonstra a pureza de nossos sentimentos, o choro conforta nosso ser, o choro de emoção mostra a nossa maior verdade, a nossa "fraqueza", aquilo que possui o valor máximo em nossa existência, os nossos sentimentos. Estejas preparado para exprimir através de lágrimas o conforto de um abraço.
Um casal apaixonado, beija-se muitas vezes, aquele beijo que tira-os do sério, que faz com que se entreguem num ato de amor e paixão, mas quando precisam de conforto, simplesmente se abraçam, não há sentimentos sem abraços.
Pais e filhos, dificilmente se beijam, pois o beijo carrega consigo a prenuncia da traição, pais e filhos se abraçam, no abraço os pais conseguem transmitir aos filhos toda a proteção que desejam transmitir, os filhos, quando abraçados pelos pais, sentem a segurança que precisas para seguir, para evoluir, para viverem, sentem-se fortes para encarar todos os desafios de uma vida.
Quando estiveres ao lado das pessoas que ame, abrace-as, dê um abraço, certamente elas ficaram tontas, sem entender, mas um segundo depois, se não caírem as lágrimas da emoção, estarão com um sorriso imenso em seus rostos, e o sorriso de quem amamos é a imagem mais linda que nossos olhos podem desfrutar.
 
O Poder do Abraço

Sólido

 
Amar é a sustentação da minha alma.
 
Sólido

O Nobre Pastor

 
Todos os dias a mesma rotina: depois de um dia intenso de trabalho, o Nobre Pastor retorna a sua morada, uma casa simples, telhado dividido entre as palhas e outras coberturas, parede de taipa, chão de terra batida prenssado por inúmeros e inúmeros "xotes xoteados" em noites de festas e algazarras, entretanto o dia relatado trata-se da normalidade rotineira, onde os cantos dos grilos, as "gargalhadas" das corujas, e os movimentos quase imperceptíveis de artrópodes incontáveis são as companhias do Nobre Pastor, no mais, solidão é sua fiel companheira, ou não?
Adentra a casa, que fora encontra-se rodeada de ervas daninhas, caminha lentamente pelo corredor que permite visualizar o pequeno quarto, onde, desde o amanhecer encontra-se um lençol azul esparramado sobre o colchão, na verdade o enxerto de capim em trapos velhos ao qual sob está uma cama de madeira de lei envelhecida; na cozinha encontra-se uma panela sobre o fogão a lenha e dentro da mesma, grãos de feijão machucados que logo serão misturados à farinha e juntos constituirão o banquete daquela noite funesta. Após saciar a fome, o Nobre Pastor, cumpri a rigor o ritual de alimentar seus mais fiéis amigos. Senta calmamente em seu banquinho cinza enquanto de maneira sútil e delicada alimenta um a um seus companheiros de sangue, na verdade, o Nobre Pastor observa os amigos alimentarem-se e na medida do possível contribui para que todos sintam-se saciados e, de fato, a saciedade chega a todos. Faltava o afago aos amigos fiéis, para isso, era preciso banhar-se. O Nobre Pastor dirige-se ao quintal onde a dorna encontra-se meio cheia ou meio vazia, depende do ponto de vista, escuta-se o "timbugo" do balde preto tocando a água, enche-se uma bacia com fundo de madeira e então o banho ocorre. Banha-se completamente de maneira rápida, entretanto o cuidado com pés são fundamentais e nesta região do corpo passa o Nobre Pastor mais de trinta minutos acariciando cuidadosamente entre os dedos em prenúncio dos afagos vindouros. Findado o banho começa a real seção de afagos.
São cinco os fiéis companheiros do solitário da casinha de taipa, carinhosamente a mão grossa e calejada atinge cada um dos pequenos, o senhor daquela razão, observando calmamente seus pés limpinhos contempla a felicidade daqueles pequenos seres alimentados e afagados, afinal não consegue-se encontrar nenhum outro humano que mantivesse em seus pés cinco Tungas penetrans (bicho de pé) e cuidasse carinhosamente desses seres nefastos.
 
O Nobre Pastor

Ao Caminho do Nada

 
Ando meio cansado. É tanta gente a tentar enganar que o cansaço do fingir não entender me tomas. As forças para ignorar têm-se dissipado em larga escala, talvez isso seja bom, talvez ruim, não sei exatamente, sei que estou cansado.
Cansado dessa beleza fajuta que todos os dias sou obrigado a enxergar; cansado dessas caras rebocadas por toneladas de maquiagem, algo tão sórdido em sua essência, que não apenas a cara é tapada, tapa-se, ou menos tenta-se maquiar a maldade interna dos corações.
Esses rostos bonitos, porém mentirosos, estão por aniquilar o pouco que nos resta de bom. Valoriza-se em demasia corpos lindos e rostos perfeitos, aprova-se o ter e não o ser. Estamos nos tornando tão fúteis que certamente os Neandertais sentiriam vergonha dessa prole nefasta que se apresenta.
É roubo, furto, assassinato, estrupo... Mentiras por todas as partes, nada mais sórdido. É gente de colarinho branco roubando descaradamente do pobre, do miserável que nem tem o que comer, entretanto esses sanguessugas aparecem sorrindo em frentes as câmeras de emissoras que, por vezes, financiam toda essa parafernália que tem como resultado essa corja usurpando o poder daqueles que verdadeiramente poderiam melhorar essa nação.
Ética, moral, bons costumes, valores positivos de um povo, de uma gente, de quaisquer um de nós na verdade, andam tão desvalorizados quanto a cusparada infectada pelo bacilo de Koch.
Acho que estou chato, é isso, deve ser isso. Estou acreditando em um mundo onde o bem vença o mal, o ser tenha valor absoluto, onde todos se respeitem de maneira igualitária um mundo onde as faces sejam "nuas e cruas" que não usem do artíficio da maquiagem para encobrir seus defeitos e apresentar-se de maneira diferente do que são, chega de mentiras, fingimentos e seus derivados. Estou obsoleto! Isso é utopia. O melhor mesmo é continuar aqui, cansado.
 
Ao Caminho do Nada

LARA LUIZA

 
L evanto todas as manhãs para contemplar a tua sublime beleza,

A ndo sempre triste quando não estou ao seu lado.

R esplandeço-me quando teus pequenos lábios se abrem.

A mar-te é o alimento que sustenta minha existência.

L inda! Divinamente linda é tua face.

U nica, singular, encantadoramente incomum.

I nfeliz serei, se por razões quaisquer apagar-se do teu rosto o sorriso.

Z arparei da existência, somente com certeza da tua felicidade.

A inda que tu não entendas, ainda que haja erros, eu te amo!
 
LARA LUIZA

Brumas ao Vento

 
E esses olhos azuis...
Dois céus em movimentos cujo esplendor adentra as entranhas,
Provocando-me desejos labirínticos.
E esse corpo...
Donde as mãos escorregam levemente pelas curvas.
Meus instintos provocam o despir-te.
Os botões caem...
As mãos tiram a blusa, arranca-lhe a saia;
Os dentes desprendem o feche,
E os dedos arrastam a lingerie.
Tu estás despida!
Teu corpo alvo clareia meus olhos foscos,
Avisto teus lábios.
Agarro-te fortemente,
Levanto-te, deixando teus pés fora do chão.
Beijo tua boca tirando-lhe o fôlego,
Aperto-te em mim.
E a língua desce ao teu colo,
Onde leves mordidas provocam arrepios em teus seios;
Os bicos encontram-se delicadamente excitados tocando meu rosto.
E a língua acalma-os.
E as mordidas suaves levam a boca à barriga.
Beijo-te intensamente.
E os braços puxam-te, colando o rosto em teu ventre.
Tuas mãos seguram a cabeça e a fazem descer.
Chego em teu sexo despido.
E a língua encontra teu clítores
E os movimentos perspicazes te proporciona um imensurável prazer.
E os gemidos, os gritos de gata no cio, aumentam o desejo.
Levemente e em sussurros escuto tua voz a pedir-me o calor do meu sexo dentro de ti.
Eu, predador de tu, suavemente adentro-te e te completo.
Escuta-se os gemidos e os gritos das gatas.
E indo e vindo em um prazer constante.
A satisfação magistral que esse amor proporciona
Deixa nossos corpos molhados, colados, entrelaçados um n'outro.
 
Brumas ao Vento

Tipo Estranho

 
Eu não sou normal. As vezes a minha estranheza é tamanha, que chego a perguntar-me se sou eu mesmo. As razões para minhas atitudes estranhas, desconheço, não tenho a menor noção de quaisquer influência para essa estranheza aguda. Careca, por vezes com a barba grande, alto, musculoso, com a cara sapecada, joelho estourado, calço 46 na forma das sandálias legítimas, tenho pelinhos no peitoral... Eu sou muito estranho.
Vejamos: Formei-me em Matemática e vivo a escrever; gosto de livros, de jogos interessantes que usem de estratégias e ao mesmo tempo sou musculoso de maneira similar a um lutador de MMA, músculos esses conseguidos após três anos de intensa atividade física diariamente na academia "O Porão".
Conheces alguém que já sofreu preconceito por ser "meio intelectual e musculoso ao mesmo tempo"? Pois é, euzinho. Estava na Conferência Estadual de Cultura como Delegado no eixo temático: Livro e Escrita, antes de começarem os trabalhos passeava eu com minha camiseta apertada no corpo, devido aos músculos, quando um Senhor com trajes estranhos olha para minha cara e diz; "Algumas pessoas não têm nada haver e estão por aqui", no final do encontro esse mesmo senhor disse que eu fui uma grata surpresa. Eu sou estranho.
Recentemente fiz uma prova de concurso, fiquei em primeiro lugar em minha área (Matemática), mas um detalhe, jamais passaria despercebido, minha pontuação foi a seguinte: 86% em Português, 93% Nos conhecimentos de LDB, 60% em conhecimentos contextuais e 20% em Matemática; que patético! Ter rendimento de 20% na área de formação e ainda assim ficar em primeiro. Eu sou estranho.
Meus alunos dizem que sou doido, aloprado: ando desengonçado e depois de uma cirurgia no joelho fiquei pior; monto a minha lambreta amarela e saio a 110, 120Km/h cantando ao embalo do vento no rosto. Salto de tirolesas, escrevo crônicas, contos e poesias (mal, mas escrevo)
Crio dois cachorros: um pitbul e uma puldo (perdão pela escrita). Quando saio com a puldo na rua as pessoas ficam a olhar: um monstro que cuida de um bichinho tão pequenino. Eu sou estranho.
Sou baiano. Não gosto de axé, não gosto de farinha, não gosto de pimenta, não gosto de carnaval em Salvador.
Falo sozinho, canto sozinho, moro sozinho e até gosto de tudo isso, ao menos assim não têm nenhuma pessoa para ser testemunha das inúmeras vezes que jogo um moeda para o ar e olho qual lado da moeda caiu para cima quando a mesma aquieta-se no chão: cara para mim é um sim, coroa um não. Eu sou estranho.
O sol, ai meu Deus! O sol. 5 minutos diante dele, com a cara rebocada de protetor solar provoca "queimaduras" (não sou albino) de consequências catastróficas, que o digam minha dermatologista.
Eu sou tão estranho, que chego a acreditar não ser daqui, devo ter vindo de um planetazinho que fica entre a Terra e a Lua chamado Wiltió e lá todos devem ser assim, normais, por isso aqui entre vós sou tão estranho..
 
Tipo Estranho

O Nascimento de Fausto

 
Nossa! Existem pessoas que parecem ter levado fezes de urubu na cabeça, existem pessoas para quais os acontecimentos são os piores possíveis, alguns, muitos até, existem apenas para consolidar o adágio da cultura popular ocidental, a lei de Murphy: "Se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará". Fausto.
O Fausto era um cara legal, boa praça, super gente fina, entretanto as gafes, os descuidos, os micos eram constantes em sua caminhada existencial.
Ao almoçar pela primeira (e única) vez na casa de sua namorada, o pobre coitado fora aometido por uma dor de barriga desgraçada, os gases maus cheirosos tomaram toda sala de jantar (almoça-se e janta-se nas mesma sala, mas nomeiam-se como apenas de jantar) e depois daquele fatídico dia, ele voltou a ser um solitário. Certa vez ao passear pela pracinha de seu bairro, sentiu muito calor, então decidiu tomar um sorvete, mas havia um pombo que desprendeu uma "tonelada" de vezes atingindo o sorvete em cheio. O Fausto lamentou "tudo de errado acontece comigo".
Aquelas poças de água que se formam nas ruas após as chuvas, pois é, elas mesmo o Fausto distanciava o máximo possível, mas nunca conseguia afastar-se o bastante, sempre havia um veículo que espalharia toda aquela água, donde o corpo do nosso amigo sem sorte sempre fora o ponto de impacto.
A água sempre faltava quando ele estava todo ensaboado, no meio do banho, de fato o Fausto não tinha muita sorte. Os ingressos para o cinema que jamais conseguira comprar, afianal ele sempre se atrasada para a comprar, a mancada, a palavra mal colocada no meio de um diálogo. A falta de potência quando conseguira, depois de muito esforço ter uma parceira para a consumação de seu primeiro ato sexual (não houve).
Certa vez ele decidiu fazer uma omelette, saiu para comprar os ovos necessários, entretanto na volta para casa, distraiu-se com uma discussão entre duas mulheres que berravam ofensas, tropeçou e meio naquele cai e não cai espatifou-se ao chão quebrando todos os ovos, que foram esmagados pela sua face, no mesmo instante as ofensas sanaram-se e todos riam daquela cena deplorável: um homem de calças justas, camisa de listras, óculos fundo de garrafa, tendo a face pintada de amarelo pelas gemas dos ovos.
Foram tantos os acontecimentos ruins que as simples linhas de um texto não serão suficientes para descrever...
Diante de tamanhas perturbações, começou a procurar explicações para tanta "desgraça".
Encontrou-se em uma manhã de sábado na sala de um guru muito auspicioso que fez-lhe revelações surpreendentes. Fora dito ao Fausto que todos esses contratempos foram cravados no momento de seu nascimento, que seria sempre assim, não haveria solução para apaziguar todos os revés de sua vida, afinal o seu nascimento não havia obedecido as leis naturais do ato de adentrar no mundo terrestre.
O Fausto, intrigado começou a questiona-se, afinal de que maneira teria ele nascido? O que haveria acontecido de tão estranho assim com ele para tanta infelicidade? Decidiu então falar com a Tia Soraia, ela certamente expressaria algo sobre os acontecimentos do dia seu nascimento, afinal a Tia Soraia possuía a "maior língua" da região, tudo que se havia passado na família ela sabia de maneira integral, então o Fausto a questionou:
- Tia, como foi meu nascimento?
A tia respirou fundo.
- Meu filho essa é uma história longa, prefiro não relatar sobre ela.
- Tia, a senhora já prestou atenção de como sou azarado? Um guru disse-me que é culpa da maneira como nasci, por favor, me diz como foi meu nascimento.
- É, de fato você não tem sorte, também tendo nascido daquele jeito?
- Que jeito tia, que jeito, por favor, me fale, por favor!
Está bem, vou contar-lhe como fora seu nascimento.
- Era quinta feira, o dia estava bonito, um daqueles dias em que temos a certeza que as coisas boas são mais fortes que as ruins. A casinha da "roça" em que vivíamos estava limpa e arejada, as janelas abertas propiciava a visão do oitizeiro que encontrava-se repleto de azulões, tornando nosso terreiro um verdadeiro concerto enigmático. Sua mãe, a 10 dias de completar o ciclo perfeito da gravidez começara a reclamar de dores na região dorsal de seu corpo, dores nas "cadeiras". Mamãe, experiente em gestações logo expressou "chegou a hora da Márcia". Todos na casa entenderam perfeitamente o que estava por ocorrer, mamãe nunca errava, a Márcia realmente iria dá a luz. Papai, que encontrava-se no campo a trabalhar, fora avisado pelo seu tio Samuel, eu estava na porta, um tanto quanto nervosa e avistei papai correndo em direção a casa ele corria e gritava "meu neto vai nascer! meu neto vai nascer! Sua mãe a essa altura gemia de dores, contorcia-se na cama, todos estávamos assustados, nunca antes tínhamos visto uma mulher a dá a luz agonizar tanto. Era necessário ir até a vila e trazer a parteira, papai preparava o cavalo russo, o mais veloz que possuíamos, a viagem de 5km precisaria ser rápida, afinal ainda seria necessário encontrar o Sr. Miguel com o carro disponível para trazer a Srª Isa, a parteira mais conhecida da região, aquela que possuía mais de noventa filhos de parto, afinal, por falta de médicos, era a Srª Isa, ou mlehor, a mãe Isa que socorria todas as grávidas no momento do parto. Para nossa sorte papai encontrou não apenas o Sr. Miguel disponível, bem como, a mãe Isa pronta, ela sempre estava pronta! A essa altura quando papai ainda encontrava-se no retorno para casa no mesmo veículo que a mãe Isa e o Sr. Miguel (o cavalo fora deixado na vila), sua mãe, a Márcia, contorceu-se de maneira muito estranha: estava por segurar uma de suas pernas e o seu tio Samuel a outra, enquanto mamãe encorajava-a a forçar para que você viesse logo a nascer, a Márcia, colocando uma força descomunal fez com que ambas as pernas se soltassem de nossas mãos, mamãe afastou-se por um instante e, neste momento sua mãe, que gemia de maneira estridente sentou-se na cama, podemos observar que sua barriga, a barriga que carregava você Fausto, exatamente aquela barriga começava a fazer movimentos ondulares, ficamos abismados com todo aquele "sinistro" momento, ao mesmo instante das ondulações percebíamos que havia ânsias extranhíssimas em sua mãe, derrepente voltaram as contrações do parto e os gemidos de dor, não havia mais ondulações no ventre da Márcia, agora, mais uma vez estávamos sustentando suas pernas e mamãe por incentivá-la. Mesmo com os gritos da Márcia observamos a chegada de papai, da mãe Isa e do Sr. Miguel, afinal os cachorros latiam com a presença de estranhos e, também não confundiríamos sob hipótese alguma o som que ecoava do motor daquele corcel 78 vermelho. Mãe Isa apressadamente entrou em nossa casa e adentrou ao quarto, o Samuel retirou-se e mamãe assumiu seu lugar, mãe Isa agora dominava a situação, sua mãe, a Márcia, continuava a gemer, agonizava, transpirava de maneira contínua e prolongada. Mãe Isa, no auge de sua experiência dizia "toma égua, na hora de fazer tu não gemia assim, agora aguenta!" Essa era a maneira como mãe Isa cuidava de suas pacientes. E a Márcia contorcia-se, enquanto mãe Isa colocava suas mãos em movimentos rápidos e perspicazes no canal que conduz ao colo do útero, até que de novo aconteceram as ondulações do ventre e as ânsias, dessa vez de maneira mais intensa. Quando acalmaram-se as ondulações mãe Isa expressou "está difícil, mas ele vem, vai ser um meninão, tenho certeza, birrento assim, vai ser um meninão!". Na sala, papai, o Sr. Miguel, Samuel e os meninos perguntavam o que estava por acontecer, enquanto nós de dentro do quarto pedíamos que tivessem calma, que logo você estaria entre nós. Estávamos todos cansados, a Márcia parecia não mais aguentar, mamãe tentava incentivar "vai dá tudo certo filha, tenha fé em Deus". Confesso filho que tive medo, estava com medo naquele momento, pensei que perderíamos você e sua mãe, mas derrepente mãe Isa gritou "VAI NASCER, ELE ESTÁ VINDO, VAI NASCER!" e então... - A tia Soraia pigarreia.
- Filho, vou tomar uma água, já retorno para terminar essa história.
Tia Soraia dirigiu-se à cozinha, sendo levada por suas "pernas tortas", era uma senhora estranha, talvez pelas dores da vida, talvez pelas escolhas erradas. Na cozinha tomou alguns goles de água que apaziguaram a sensação de poeira na garganta. Voltou para a sala, olhou fundo nos olhos do Fausto:
- Filho, tens certeza que deseja saber o final da história?
Fausto aquiesceu positivamente com a cabeça, afinal estava prestes a saber qual a razão de toda essa falta de sorte e, também saberia quão diferente foi seu nascimento.
Tia Soraia, olhou para o teto rapidamente, como quem recordava de detalhes obscuros, na verdade ela sentiu por um instante a dor da inóspita lembrança de um parto tão doloroso. Então voltou a falar:
- Bem filho, como eu dizia estávamos cansados, perdendo a fé em termos você entre nós, mas os gritos da mãe Isa nos reanimou, diante daquela algazarra de expectativas, vibrando finalmente com a sua chegada senti-me feliz por ter ajudado. Mãe Isa gritava muito, mas derrepente silenciou-se. Ficamos perplexos, o que havia acontecido? Onde estava você? Mãe Isa quebrou o silêncio que predominou por um segundo "ÉÉÉ" este foi o som que ela conseguiu expressar, estávamos novamente a observar sua mãe contorcer-se de dor, a enorme barriga agora possuía ondulações gigantescas, os movimentos rápidos e constantes, as ânsias faziam sua mãe desprender a língua para fora da boca, todos gritavam "MEU DEUS"! - O Fausto começa a chorar, mas tia Soraia continuou a história.
- Neste momento não segurávamos mais as pernas da Márcia, ela se encontrava solta na cama, mãe Isa a rezar no canto da parede, mamãe a clamar "Meu Deus, ajude minha filha!" e eu a chorar diante de toda aquela tetracidade. A Márcia manteve as pernas abertas, os olhos reviraravam e o ventre encontrava-se com os movimentos ondulatórios, derrepente percebemos que uma grande bola formava-se acima do ventre se sua mãe, no estômago, a região abdominal encontrava-se como a de uma virgem enquanto o estômago parecia que explodiria, as ânsias faziam a boca espumar, mas aquela bola não fora aceita no estômago algo subiu pelo esôfago deixando um cilindro aparente entre as mamas da Márcia. A tetracidade da cena aumentara desproporcionalmente ao que olhos podiam suportar, sua mãe sacudia-se incisivamente, gemia, gritava, implorava para que tirassem dela aquela angústia, aquela dor. Papai, Samuel, Sr. Miguel e os meninos encontravam-se no quarto também, não foi possível mantê-los distantes, mãe Isa continuava a rezar, mamãe acariciava a cabeça da Márcia e eu paralisada em frente às pernas de minha irmã, não tinha mais reações. O cilindro do esôfago começou a subir, expelia muita espuma pela boca da Márcia, a mandíbula desprendeu-se do nervo maxilar, houve gritos, muitos gritos, o cilindro movia-se mais rapidamente para cima, a Márcia, em um instinto de força levantou os braços, houve três ânsias muito fortes então de maneira assustadora e inesperada fora expelida uma imensa golfada. Uma camada enorme de espuma amarela se formou sobre o lençol azul claro, não havia mais o cilindro, não havia mais o bola, não havia mais o volume exagerado do abdômen. Você Fausto, estava em meio à espuma amarela, encontrava-se envolvido nos mucos de seu nascimento, você foi golfado!
O Fausto chorou de maneira veemente durante longos minutos, após esse tempo secou os olhos e ecoou um grito de desespero "EU FUI GOLFADO"!
Toda a falta de sorte que sempre o acompanhou desde o nascimento, fora e continua sendo sua companheira inseparável, até os dias de hoje.
 
O Nascimento de Fausto

O Defunto

 
Os passos lentos da multidão
Compassados em ritimos funestos
Levavam as dores do coração,
Despedaçado, transformado em restos.

A alma ausente do corpo
Vendo toda aquela embriaguês
Deixando o caixão torto
Por pura estupidez.

O defunto sacudido
Com essa gente sem noção
Encontra-se aturdido
Com a farsa da emoção.

Na hora de enterrar
O povo em desarmonia
Dana-se todos a chorar
E foi aquela agonia.

A dor maior do defunto
É a falsidade do pessoal
Antes dele virar presunto,
Nunca fora legal.

As lágrimas do velório
Da vida que acabou de encerrar
Desejou em sorriso simplório
Para a tristeza amenizar.
 
O Defunto

O Corvo

 
As perturbações de toda uma vida. Os presságios negativos de sua presença, o medo funesto em seu voo. O Corvo negro das tardes cinzas carregava consigo o peso das alucinações humanas sobre sua possível essência, não havia mais o que pensar, não havia mais o que fazer, estava ele, fadado até os últimos dias ao desprezo e ódio, sem nunca ter sabido as reais razões.
Infeliz vivera o pobre corvo, solitário em seus voos, na busca incessante do alimento pobre; em seus hábitos necrófagos, porém necessários e comuns à prole, por vezes, chorava em silêncio pela necessidade de saciar aquilo que lhe fora destinado, o Corvo não escolhera o que comer, tampouco por onde voar e habitat. Não, não escolhera. A natureza cruel lhe destinou tais atos nefastos, os quais cumpri a rigor.
O pobre Corvo, que todas as tardes lança-se às venturas da existência, assim como o trabalhador que detesta sua função, mas tem que cumpri-la, chora em silêncio a dor do desdém humano por si, e por sua prole. O Corvo triste, que também tem um coração, carrega as amarguras de uma vida incompleta, a dor de ser aquilo que não escolheu e, assim, sofre lentamente, deseja a morte.
Após a saciedade da fome, após bicadas e mais bicadas naquele cadáver imundo e sujo, após sentisse tão sujo quanto àquela carniça que o alimentara, implora o Corvo negro por alento de suas dores. Desejaria ele que os humanos entendessem as suas necessidades, que as dores do "pássaro da morte" fossem percebidas e consideradas. Ele, por vezes, sempre na verdade, não desejava o fardo que carregava, mas não havendo o que fazer, assim como não podem os vampiros abidicarem do sangue, seguiria em frente em voos incessantes, pois não escolhe-se quem deseja-se ser, mas há de se cumprir àquilo que se fora destinado, é preciso cumprir.
O Corvo voou por longos campos temperados. Conheceu povos e mais povos, nações e mais nações. O Corvo negro adentrou aos ambientes mais impróprios em sua busca incessante, não encontrou alento para seus anseios. Hoje, em choque de realidade és o alimento necrófago da natureza mãe que o criou.
 
O Corvo

Ao Teu Lado

 
Meu corpo treme, minha pele queima,
Meu coração é tomado por uma taquicardia incalculável,
Minhas pernas não se controlam, minha boca seca,
Meus olhos vermelhos que vibram, minha pupila dilatada.

Serás a morte que me tomas?
Serás alguma enfermidade assoladora que me afliges?
Sem prenúncios, serás o fim?
Não, a morte não tem tanta força,
As enfermidades sempre se sanam,
Ainda que sejas com a morte.

És tu minha amada, és tu.
Nada tão forte quanto o teu beijo,
Tão avassalador quanto teu cheiro,
Tão voraz quanto te ter.

És tu minha amada, com teu tudo e teu nada,
Com teu jeito singular,
Com tua essência de menina e teu corpo de mulher.

Ao teu lado me sinto como Aquiles,
O mais belo entre todos, o mais forte,
Invulnerável em todo o meu ser,
Exceto no órgão que tu ocupas,
Que mandas, que tu dominas,
Meu calcanhar interno.

Ao teu lado os meus sentidos biológicos aguçam-se
Perdem-se em mim mesmo:
Meu tato não resiste ao te tocar,
Perde-se na leveza de tua pele.
Minhas narinas, infames narinas,
Não sustentam a essência de teu cheiro.

Sou traído pela audição que permites
A minha hipnose comandada pela tua voz,
Meus olhos fixam em ti destruindo minha análise periférica,
Só consigo enxergar a ti minha amada,
A tua sublime beleza.

Meu paladar sente o doce de tua saliva e
É envolvido por teus beijos,
Beijos que me sugam,
Que quebram toda a minha racionalidade,
Que me transforma em um simples mortal capaz de amar,
Que fazes do está ao teu lado meu paraíso eterno,
Eterno enquanto dure.
Eu te amo.
 
Ao Teu Lado

Último Erro

 
Seres humanos, em sua grande maioria, têm dificuldades para reconhecerem seus erros e, por vezes, quando os fazem, usam de justificativas descabidas para atitudes que poderiam ter sido evitadas, pois as mesmas causaram e causarão imensas dores nas vítimas das maldades daqueles que não medem as consequências de seus atos. Dentre tantas justificativas para atos injustificáveis algo me incomoda além do normal, quando usam do desdém aos sentimentos alheios e simplesmente expressam: "não fui o primeiro nem serei o último a fazer assim".
Burrice, babaquice, "cavalice" e, que me perdoe os cavalos. Estamos vivendo em meio social, de maneira alguma devemos agir sem a devida preocupação com o outro, tampouco acreditar e, as vezes de maneira veemente, que as atitude alheias não refletem em nós. Essa nossa vivência em sociedade ocorre de maneira cíclica, ou seja, em algum momento a palavra lançada, a atitude de outrem chegará até nós e vice-versa, então como não considerar as atitudes de outrem? Como se ater àquela frase imbecil e ainda acreditar nela? Não entendo, não entendo mesmo.
Para mim funciona assim: lembro-me quando mais moço, meu avô sempre falava, "meu filho, quando tu vê alguém tomar uma atitude e aquilo não for bom, levar a um caminho mal, toma isso como exemplo, veja os espelho de muitas pessoas". Simples, simples assim. Acredito que devemos observar àqueles que estão ao nosso redor e não repetirmos os erros que muitos cometem, temos a enorme chance de acertar mais do que errar se assim fizermos, pois quantas atitudes descabidas presenciamos e, mesmo assim nos pegamos trilhando os caminhos errados que outrora já foram percorridos, mas a nossa "insanidade" não nos faz recuar e, sempre, digo sempre mesmo, no final estamos no prejuízo.
Que nossas atitudes possam ser pensadas e repensadas, medidas e calculadas nos benefícios e malefícios para nós e para todos e, que os inúmeros exemplos possam nortear os nossos caminhos, assim não necessitaremos mais referenciar o erro do outro como sendo o primeiro, poderemos olhá-lo e decidir não repeti-lo.
 
Último Erro

Perfeitamente Imperfeita

 
Dicotômica!

Flora reluzente.
Contraste!
Diva, Diva!
Olhos claros,
Boca redonda,
Brancura angelical.

Senhora das trevas!

Cinismo infernal!
Coração impiedoso,
Espírito rancoroso.
O Sangue almejado.
O almejo saciado.

A dança fúnebre
Das manhãs cinza,
Alegrando o sombrio
Gosto do medo.
Medo.

Que causa!
Perturba, deturpa.
Não sabe,
Não quer saber.

Vive indo
E vindo.
Entre o bem
E o mal.
 
Perfeitamente Imperfeita

Céus

 
Céus

Esses olhos azuis!
Qual dos dois é o céu?
Qual é o oceano?
Nessas translúcidas luzes
Que adentram o querer.
Esses olhos azuis!
São céus de imenso esplendor
Não seriam oceanos pálidos
De águas incolores.
Esses olhos azuis!
Que guardam segredos,
Desse coração carente.
O medo do engano
De sofrer outra vez.
Esses olhos, tão lindos olhos!
Que longes se encontram
E, no entanto encantam.
Duas esferas em contraste com o branco.
E minha paz, branca, se perde no alvorecer azul.
E o azul remota a sede esquecida.
E entre o céu e o oceano
A lucidez desses olhos
Aguça as emoções.
Olhos azuis!
Límpidos como dois céus em tardes de verão,
Seus olhos...
 
Céus

Separação

 
Nesse mundo sem préstimo e cruel
Na ternura estridente do teu corpo
Donde ósculos conduzem ao fel
E as tardes negras ao canto do corvo.

Outrora fostes límpidas manhãs
Sucumbidas por aparvalhadas sensações
Donde apreciávamos maçãs
Deixando transbordar nossas emoções.

O "nós" transfigurou-se em "eus"
As lágrimas fúnebres do meu pranto
Beijando os lábios que ontem foram teus
Afogando... Silenciando o meu canto.
 
Separação

"O Pecado"

 
Aos olhos simples de quem displicentemente olha para eles, enxergam apenas mais um casal entre tantos que pelas calçadas da vida andam de mãos juntas. A normalidade do que os olhos enxergam não condiz com a situação intensa e tensa daquela relação, as adversidades, os contratempos em tempos e, sobretudo os ensaios de repulsa, fazem daquele casal o símbolo do "pecado".
A criança de outrora que fora ninada e mimada por inúmeras vezes, não constitui-se mais assim. Hoje uma mulher linda e encantadora. A menina cresceu e naturalmente despertou e desperta paixões.
O homem bondoso e carinhoso dos ninos e mimos, hoje é o amante perfeito para àquela que anseia pela felicidade e, quando trata-se dessa busca, por vezes não conseguimos sucesso, então ao senti-la próxima naturalmente nos agarramos à possibilidade e as consequências que venham, pois para ser feliz é necessário encarar e superar as adversidades.
O sangue do sangue. A sobrinha querida de ontem, o tio amado, o amor chegou tomou-lhes de maneira veemente. As bocas se beijam, os corpos tremem, as línguas gemem e eles entregam-se em um ato de amor incondicional. O que dizer, o que pensar, como reagir diante do incesto aparente e real. Será possível tal acontecimento, por que, para que, como, onde, quando? São inúmeras as perguntas e tão poucas as possíveis respostas.
O tio e a sobrinha não mais dispensam a benção, beijam-se como namorados, que são, mantém a relação oculta, ainda oculta, afinal o incesto é "pecado mortal".
O amor não é pecado. A razão não quer, a emoção não obedece. Quando o amor nos toca, quando este sentimento avassalador nos toma, os limites não existem mais, os códigos de conduta caem por terra e o que vale mesmo são as batidas dos corações apaixonados que nem se perguntam o porque e ou para que. O tio e a sobrinha em seu ato incestuoso de amor, carregam consigo o peso da diferença, sofrem a amargura do destino sacana que os fizeram apaixonar-se.
E agora? Afagar ou apedrejar?
Apedrejem o Gênesis da criação de Eva e Adão, pois somos todos frutos de relações incestuosas, afinal a nossa descendência vem do Edem.
Afaguem as filhas de Ló, que no auge da embriaguês do pai e, de maneira sábia, mantiveram relações sexuais para a prole continuar. Estamos aqui.
Que as saúvas do "Cem Anos de Solidão" não carregam o fruto dessa relação, afinal de tempos em tempos haveremos de vivenciar o amor e a paixão acontecer entre aqueles que não têm permissão e, de tempos em tempos nos perguntaremos se isso é pecado ou não?
 
"O Pecado"

Precoce

 
A gravidez fora complicada. Já na primeira semana de gestação os enjoos provocavam escarradas horripilantes, o entojo impunha uma dieta implacável, donde farinha e pimenta eram as delícias das refeições.
Com dois meses no ventre materno, fora identificado como do sexo masculino, era um moleque e, de fato um moleque. O médico que realizara a ultrassonografia jurava ter visto aquele "serzinho" lança-lhe uma "banana" com o dedo médio bastante esticado, o velho obstetra, já cansado de tantas consultas ao longo de seus 40 anos de carreira, pensou está tendo visões mirabolantes, aposentou-se logo em seguida.
E a gestação prosseguia. No decorrer do terceiro, quarto e quinto mês, aquele ventre fora abalado inúmeras vezes por "agressões" físicas internas veementes, os chutes geravam protuberâncias naquela barriga nunca antes vistas, por vezes o pé daquele rebento apoiava-se sobre a bexiga provocando vontades incontroláveis de deixar sair o excrementício segregado pelos rins e, em certa ocasião a urina desceu entre as penas daquela pobre mãe.
No sexto mês a dieta muda. O moleque senti tantas vontades que a mãe engorda 1kg por dia, também pudera: chocolates, sanduíches, batatas fritas, bifes..., coisas de moleque, entretanto nada superou o dia em que a chuva resolveu cair gerando aquele cheirinho de terra molhada, não deu outra, o moleque obrigou a mãe a comer terra e àquela divina mulher assim o fez com prazer e satisfação.
No sétimo mês, tudo que acontecera anteriormente fora nesse período aumentado de maneira exponencial, a pobre mãe já não aguentava-se com as peripécias de seu rebento.
Chega o oitavo mês, a mãe jura ouvir o moleque gargalhar dentro da barriga, não aguenta ouvir uma piada, sobretudo aquelas que falam de mulheres que, segundo a mãe, solta-lhe o rebento uma gargalhada daquelas. Os dias passam e o final da gestação se aproxima. A cesariana é marcada.
E as 14:00h daquela quinta feira estariam a heroica mãe à sala de cirurgia para dar a luz ao seu rebento mais que travesso, entretanto e, como haveria de ser, o moleque vira-se revira-se dentro do ventre encaixando-se perfeitamente e sutilmente e, às 13:00h começam as contrações. Já estando no hospital encaminha-se à sala de partos, haveria de ser um parto normal, cancela-se a cesariana, afinal o moleque prefere o método natural.
A acompanhar toda a situação está a equipe da Drª Verônica, uma linda mulher, cujo rosto carrega duas bolinhas azuis que chamam de olhos, mas de tão azuis poderiam ser dois céus. A jovem de trinta anos já carrega consigo a experiência de muitos partos.
Foi rápido, foi muito rápido, quando todos acreditavam começar de fato o trabalho de parto o moleque já "vinha vindo". A Drª o pega pelas perninhas e olha-o fixamente, todos param, o silêncio predomina, afinal aquele bebê não chorara como a grande maioria faz, espantam-se todos; e os olhos azuis parecem mais azuis. O moleque travesso, lança uma gargalhada maléfica, similar às das bruxas de desenho animado, nesse sorriso assombroso mostra uma boca cheia de dentes. A Drª assustada com aquela arcada completa esbugalha de maneira encantadora os lindos olhos, o moleque, safado que é, fixa-se olho no olho com a Drª e, quando menos esperam ele começa:
- "Nossa! Nossa! Assim você me mata, ai se eu te pego, ai, ai se te pego. Delícia! Delícia! Assim você me mata, ai se eu te pego, ai, ai se eu te pego"!
 
Precoce

La Ele

 
Quem será esse cara? Será um deus pagão de tantos que há na Bahia? Como deve ser o La Ele? Não o conheço, nunca o vi, mas minhas imaginações e elucubrações atormentam-me diariamente. Preciso conhecer o La Ele.
Para tudo que se diz com essa gente da minha Terra, esse povo de fala mansa e arrastada (bem menos do que as novelas mostram) clamam pelo La Ele. Lança-se um elogio, direcionam ao La Ele, se pede-se um favor, quem vai fazer é o La Ele, o pobre coitado deve ficar "doidim" com tantos chamados, afinal em terra de pai de santo, nada mais normal do que receber, e muitos recebem do La Ele a "salvação", ops! Não se deve chamar o La Ele de "doidim". É Doido mesmo. Muitos por aqui além de direcionar ao La Ele quaisquer que seja a atividade, fala, pensamento, seja lá o que for que esteja acontecendo, ainda o chamam de doido. "Pedro, você vai dar ao João"? "La Ele Doido! Dá o que"? "A grana Pedro, a grana". O coitado do La Ele não tem vez, vez nenhuma na verdade. Está em todos os cantos, em todas a bocas, acredito haver bocas que contenham mais La Ele do que dentes.
Todas as vezes que me falam do bendito, respondo "não conheço". Quais as razões para tanta gente conhecer e ser tão íntimo do La Ele e eu não? Será que ele não vai com a minha cara? Já sei, ele deve ser Vitória e curintia ( é curintia mesmo), enquanto eu sou Bahia e Palmeiras, deve ser isso, ele não quer conta comigo devido às minhas escolhas futebolísticas. La Ele Doido!
Desde criança ouço falar desse cara. Os mais espertos dizem que o La Ele é o senhor da salvação, mas salvação, salvação de que? Das maldades alheias. Quando alguém lança frases em duplo sentido o La Ele recebe toda a carga e os indivíduos cujas frases foram direcionadas saem ilesos: "Tu vai chupar.. (La Ele Doido! Gritam antes da frase terminar) picolé'? Coitado do La Ele é ele quem sempre senta, chupa, recebe, cai...
O La Ele deve ser forte, muito forte, talvez seja um Hulk ou um Rambo, do contrário não aguentaria o fardo que lhe é direcionado.
Os machões mais machões vivem a com o La Ele na boca. E agora como tirar da boca o próprio La Ele? Pois se falar em sentar, chupar, cair, receber..., gritam logo por ele, então, como tirar o La Ele da boca?
Certamente chamariam outro deus pagão para ajudar, mas o La Ele é um deus? La Ele Doido! Comecei a escrever sem saber quem é esse "zinho", agora sei menos, me perdi todo. La Ele!
 
La Ele