Poemas, frases e mensagens de Zambrito

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Zambrito

Vejo o gato

 
Vejo o gato
esgueirando na relva
para surpreender o pássaro.
Olhos brilhantes
- dois diamantes
a agilidade do tigre,
a graça da gazela.

Um salto
do alto
da janela
de costas
caiu
derrubou
no chão
o vaso
de porcelana.

Abrindo asas o pássaro voou,
deixando-me rindo
do absurdo salto,
vendo ao largo
o felino contrito,
silenciosamente frustrado,
rosnando mansinho
por não comer o passarinho.
 
Vejo o gato

Reflexo na vitrine

 
Hoje no shopping
vi seu reflexo numa vitrine
da loja de sapatos femininos,
ao lado de uma flor,
anunciando uma liquidação.

Tão suave me parecia,
que pensei sem real o que via.
Esqueceram-me os desvelos,
pensei na flor em seus cabelos,
idealizei venturas - presunção,
como antes da separação.

Mesmo quando vi que me viu,
- passou ao largo e não sorriu,
consegui me manter firme,
mas o entusiasmo derreteu em mim,
como sorvete do Mc Donalds
salpicado de castanhas de caju e amendoim.
 
Reflexo na vitrine

Saudades de um Dunhill

 
No silêncio gritante
da minha sepultura
únicas companheiras
são as névoas densas,
mesmo em pleno dia,
sob um céu de anil,
trazendo saudades imensas
de uma tragada num Dunhill.
 
Saudades de um Dunhill

vamos beber

 
vamos beber,
venceremos os embaraços,
o álcool correndo nas veias
aquece o peito
adensa músculos letárgicos
aguça sentidos.

sob a blusa apertada
os seios ficam mais densos
com o sangue que circula
regado à vodca.

estaremos prontos para o mundo
mas não se arrependa
dos acontecimentos.
sempre vai poder ouvir sinos
recostada em meu peito.
 
vamos beber

O que é mais importante?

 
Minha querida, agora me diga,
sem ouvir aquela sua amiga,
o que é mais importante:
na salva de prata brilhante
os cristais impecáveis perfilados
ou a bebida espumante derramando
num festivo brinde com nossos amigos?
 
O que é mais importante?

cometa impudente

 
Acabrunhadas,
tímidas estrelinhas
- num canto de céu,
coram envergonhadas,
ante a lúbrica visão
da cauda em chamas
de um cometa impudente.
 
cometa impudente

o ciclope corrupto

 
Diziam que era austero o ciclope,
exímio acrobata e filantropo,
impudico residente em Madagascar.
Corrupto, bateu recorde,
apondo rubricas pérfidas
nos projeteis inúteis,
sem caracteres válidos,
porém profícuo
em proveito próprio.
 
o ciclope corrupto

Agora posso te beijar

 
Agora eu posso finalmente
te dar um abraço.
Agora sei que livremente
posso te beijar,
fazer a mais efusiva saudação
Não vais me repudiar,
tenho certeza que não,
agora que vês a face dos anjos
estendida nesse teu caixão
 
Agora posso te beijar

fotograma à beira de um ataque de nervos

 
num rolo de super oito
negativo da Kodak
um fotograma muito afoito
já próximo de um achaque,
cogitava sobre contrastes e latitudes
do cinema e suas regras.

espantava-lhe tanta solicitude,
odiou as sombras negras
tons de cinza e neutro
rejeitou os highligths
todos brancos e muitos limpos

queria cores vivas
esquecer de tons pastel
produzir mais intensos matizes
efeitos inesperados,
nuances mais ativas

desapercebido da realidade
cruel foi seu destino
foi cortado e editado
passou a fazer parte
de documentário de auto ajuda,
a vigésima quinta imagem
de um rolo sobressalente.

20.06.2013
 
 fotograma à beira de um ataque de nervos

Querubim de merda

 
Fechada a porta,
perdi a chave,
nem meu anjo da guarda,
ajudou a encontrar.
Desnecessário dizer
da minha angústia e decepção.
Querubim de merda,
tivesse espada flamejante,
poderia ao menos iluminar a escuridão.
 
Querubim de merda

Uma carta de amor à moda antiga

 
Uma carta de amor à moda antiga
 
Reconheço seu esforço. Imagino que teve tanto trabalho para escrever esta carta, mas suas palavras não puderam ser lidas. Queimei-as nas chamas do lampião de querosene. Poderia ter usado a chama de uma vela, mas não havia nenhuma calhando. Então... Se tivesse mandado um e-mail, tenho certeza que não jogaria meu note Vaio novinho na lareira. Penso que cartas são mais reais e românticas quando transformadas em fagulhas e cinzas.
Ler no papel sempre dá sono. Vislumbra-se logo de início o número de palavras que transportam a mensagem real. Acontece, na verdade, que a primeira impressão é da letra, cor da tinta, tamanho da carta, essas coisas que dão vantagem ao texto digital. Um envelope com endereço escrito sobre régua, letrinha feia de dar dó, já é um mau começo. Depois, aquelas folhas de cadernos espiral cheias de coraçõezinhos bregas, dobradas como um mapa do inferno. Meio ultrapassado, fora de modo, assim como lamber a cola o envelope para fechar. Nem falo nada sobre lamber o selo...
Mas, mesmo sem ter lido sequer uma única maldita palavra, tenho a certeza que mentiu por demais. Se bem que, na verdade, quando se tem a intenção de criar alguma falsidade, o discurso será vazio, não importa o meio. Não se criam certezas levando-se em conta o modo de enviá-las. O conteúdo sempre será considerado, mas para mim, não poderia ser mais impróprio ter transmitido pensamentos para o papel, indeléveis palavras devassáveis e de certo modo permanentes. Bom que não são resistentes às chamas.
 
Uma carta de amor à moda antiga

Suba as escadas até as portas do céu

 
Poema inspirado nos brados iniciais da “haka”

Suba as escadas que a morte já vem,
faça uma opção pela vida se desejar.
Suba... até encontrar as portas do céu,
mas não se detenha nesse limiar,
suba... suba, vá muito mais além.

Suba as escadas até as portas do céu
do cume do mundo verá o sol brilhar...

Trecho citado original em dialeto maori e uma tradução livre da wikipédia:

“ Ka mate, ka mate
Ka ora
Upane...Upane
Upane... Kaupane"
Whiti te rā,!”

Tradução livre

“ É a morte, é a morte!
Eu vivo!
Suba a escada, suba a escada
Suba até o topo
O sol brilha!”

A "haka" é uma dança executada pelos guerreiros maoris da Nova Zelândia antes de uma batalha ou outras ocasiões importantes.
 
Suba as escadas até as portas do céu

O humor do céu

 
O humor do céu
correndo
em paralelo com o tempo ,
era lido
nos relógios de sol.
Místico espaço
contemplativo
do presente
mítico,
e passado sublime
à espera do futuro.

Mas as ampulhetas
viraram celulares,
não há mais areia azul.
São bytes que caem,
enquanto a vida se perde
transcendente, atemporal
em longa espera
formatando um HD.
 
O humor do céu

só era diferente do que podiam ver

 
Já amei quem não me queria,
deixando a quem me amava.
Muito errei e não fui perdoado,
perdoando o que se fez errado.

Jamais encontrei o que procurava,
quis o que não devia ser encontrado,
disse aos ventos que eram absolutas
muitas das verdades que questionava.

Não sabia que poderia ser tão frágil,
nem todos quiseram me conhecer,
nem todos eles ali poderiam saber,
mas eu não era melhor, nem pior,
só era diferente do que podiam ver.
 
só era diferente do que podiam ver

Olhando seu decote

 
Lanço olhos de fornalha,
quais chicotes na batalha.
Já contorno o destaque
a procura do arremate
do reduto lateral,
que do dote só detalha
a migalha parcial.

Fecha a cara, muda o tom,
se defende
com o rímel e batom,
mas normal e cordial,
esconde as armas
na trincheira natural
do decote sensual,

Não me abate o achaque,
armo o bote contra lote
protegido por muralhas;
aos ataques do olhar
que acuro e esbugalha
rebate duro, é fornalha
que usa o truque
do semblante glacial,
e o potencial de todo o arsenal.
É letal, mas eu juro,não censuro.
 
Olhando seu decote

sem fama, nem brama

 
Será o final onipotente do drama,
do panorama sinceramente decadente,
da trama da alpaca do vira-casaca.
Fincada a estaca de laca impaciente,
rente a barraca na grama reluzente,
faz você entender o monograma da placa.
Assuma corajosamente
o programa da gente,
mas ...
impudente...
libere sua mente...
somente na cama.

Queime o telegrama da dama ausente,
de ressaca que irreverente clama na lama
[ na chama da rama vai-se uma dinheirama ]
de dezembro a março vendo afiadores de faca,
sorrirem francos para videntes, sapientes,
com o pé na jaca, como eu, sem fama,
nem brama,
sem grana...
solitários ...
sem nada na mente
 
sem fama, nem brama

Mais que um sonho de emblemas fáticos

 
Um destino poderia não ser tão mesquinho,
tomando providências para mais risos,
evitando as demandas que angustiassem.
Sem repercutir com ecos miseráveis,
os números dos telefones de urgência
de uma lista virtual técnica e acadêmica,
resolução analítica de problemas táticos ...
Poderia simplesmente fluir leve,
ser mais que sonho na forma de emblemas fáticos.
 
Mais que um sonho de emblemas fáticos

Não toque mais essa corneta

 
Por favor, não me acorde,
não toque mais essa corneta,
aquele Grant’s não era o pior,
já bebi uísque mais vagabundo.
Quando um janeiro for eterno,
sem temporais, sem gelo nas ruas,
nem grama sobre os telhados,
vamos sobreviver ao buraco aberto,
pelos serviços de manutenção,
se tivermos fôlego suficiente
para mais de trinta segundos
prendendo a respiração
livre dos dióxidos e anidridos.

Agora na distância que se impôs,
longe de todo gás sulfídrico,
o melhor que posso fazer,
é desaparecer sem deixar vestígios.
Porém, estarei a salvo dos fastígios
aquecido do frio fatal num abrigo,
protegido contra o último inimigo.
 
Não toque mais essa corneta

CHEIRO DE LUZ

 
Na primavera ensolarada
eu cheiro a luz,
admiro com volúpia
as curvas das mulheres
que caminham pelas ruas.
Ah, essas curvas!

Acalma minha alma
quando consigo
um sorriso de alguém,
Como é divertido
e estranho viver.
Esse cuidado eterno,
desejo de ouvir canções
ou simplesmente sonhar
cheirando os raios de luz,
deixando de lado os detalhes.

Andando nas ruas
vendo o brilho da primavera
passo meus dias,
passo entre toda gente,
as pessoas nada sabem sobre mim.
 
CHEIRO DE LUZ

indescritivel

 
Praia lotada,
de biquínis e maiôs,
nas barracas montadas,
crianças comem sorvetes
no verão, 40 graus.

Enquanto o vento
espalha espumas
além do quebra mar,
a fumaça da fritura de camarão
contamina o ar.
Tudo bom,
perfeito cenário
exceto os animais
passeando entre os pés.

Posso querer mais
que enfrentar o sol aberto
sem protetor solar?
É indescritível...
 
indescritivel