Domingo com minha mãe e Bukowski
Domingo com minha mãe e Bukowski
Ainda posso sentir a dor do pé torcido
Fiz do velho sofá meu leito diário
Numa típica manhã de domingo
Pego o telefone e chamo minha mãe
Detesto estar só em casa sentindo-me um nada devido ao pé que torci
_Alô, mãe? Vem ficar comigo?
E ela veio.
Ensinei-lhe o ônibus que devia pegar.
Enquanto ela não chegava entrei num estado catatônico
A fitar o ventilador de teto
Lá fora as gaivotas cantavam alegres
Um colibri veio até a minha varanda em busca de uma flor que eu não tenho
E eu aqui presa no sofá matando um tempo que não passa
No meu estado de catatonia reflito sobre a triste condição humana:
Por que nos sentimos tão frágeis quando privados do uso de um dos nossos membros?
Não posso ficar de pé!
Não posso tomar um simples café
Sem que alguém traga para mim...
Sentia-me tão impotente!
Meu pé direito quase que engessado
E eu a pensar sobre as besteiras da vida...
Ding! Dong!
Ah! Finalmente ela chegou...
Salva pelo gongo.
_Entre mãe!
Dou-lhe um beijo e um abraço.
Depois, pulando numa perna só,
Volto para o velho sofá já fundo na medida certa da minha bunda...
Tédio!
(Mais três dias assim)
A pia já estava lotada de louça suja
A casa toda estava uma bagunça...
Ela deixou a cozinha brilhando de limpa...
Enquanto ela aspirava a casa e o tapete
Eu folheava poemas de Bukowski.
“de fato, não há qualquer chance:
Estamos todos presos a um destino singular “.
Num poema em que ele estava ‘sozinho com todo mundo’.
Concluí que o amor é mesmo um cão dos diabos!
Após o café da tarde ela se foi...
E eu não senti sozinha no mundo!
Brendda Neves
21-08-2012
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Adeus, verão
outono invade
sem sono
dente-de-leao
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Poesia não mata a fome...
O poeta vive com a cabeça nas nuvens
Num mundo mais imaginário do que real,
Pois a realidade que existe é mortificante
E o poeta quer existir no que pode ser criado!
O poeta quer viver da sua poesia,
Porém ela não mata a fome!
D'alma sim, do corpo não...
Centenas de poetas só foram reconhecidos
Após suas mortes miseráveis...
Alguns tornaram-se gênios imortais,
Mas milhares de poetas marginais
Arrastaram suas vidas em trabalhos inglórios,
Porque a poesia não mata a fome
E a fome do corpo dói, corrói e destrói a alma...
Busco um trabalho para sentir que realizo e produzo algo que é palpável...
A poesia é uma fumaça de palavras feito algodão doce
Que consigo tocar e orquestrar em versos para que me leias...
Mas tú? Consegues tocar?
Mata a fome da tu' alma,
Não mata a fome do meu corpo!
Poesia não mata a fome...
E eu como todo dia, verso por verso, palavra por palavra, estrofe por estrofe
E cago ritmo, melodia e rima todo dia...
Quer comer também?
Poesia é comida que não sacia!
Tu comes e nunca mais deixas de comer...
Brendda Neves
Corcel negro
Corcel negro
No lago de teus olhos negros
Encontro a poesia de meus delírios!
Wandas... Acácias... Sândalos... Lírios!
Teus beijos perfumam minh’ alma
O teu sorriso, tão envolvente, inflama meu coração!
Nos teus braços rendo-me ao corcel da paixão!
Reinarás soberano em meu coração...
O meu corpo estremece ao toque de suas mãos!
Carinhosas mãos... Dedos vadios a despetalar-me!
Horizonte ardente a envolver nossos corpos!
Arrebato-lhe de desejo, meu doce amante...
Gato persa a espera de um gesto meu...
Os teus carinhos são meu maior tesouro!
Te conheci numa gélida noite primaveril,
Entreguei-me translúcida aos teus desejos!
Libertinas palavras por ti sussurradas
Irrompe meu silêncio... Passo meus dedos por seus cabelos,
Pouso minha cabeça em teu peito nu... Amanheço!
Brendda Neves
Acróstico
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Chamas
Chamas
Em direção ao último voo
Nao restou o nosso adeus
Nas asas da paixão pensamos ser deus
Chamas e vento... Voo e ventania
Ninho desfeito sem destino
Porto em desatino
Parto em tua direção
Chamas e sol... Sombras e sons
Vinho sem rótulo e sem sabor
Nao tê-lo aqui é dissabor
Nao sou de quem malmequer
Sou de quem eu quiser
Brendda Neves - Vix/2005
Itapoã
Itapoã
Itapoã da velha vila
Lembra-me Jobim
Com seu mar verde azulado
Esqueço-me das horas do fim
Brisa fresca, areia branca!
Num céu azul esverdeado...
Vou indo vou andando
Caminhando vou pela orla de Vila Velha
Brendda Neves 2009
Humanidade desumana - Brendda Neves
Humanidade desumana
15-03-2012
Sinais de fogo chegam de Brasília
A chama também acesa em Linhares
Não tinham teto tampouco família
Mas tinham vida e foram pelos ares
Homens desumanos com fósforos na mão
Desalmados e sem coração
Ateiam fogo em seu semelhante
Que dormem sob a lua... Morador de rua
Nosso irmão! Tido por alguns como errante
Geração cruel sem amor nalma
Humanidade desumana incendiando vidas
Sinais de fogo chegam e nos tiram a calma
Ontem foi um índio, hoje mendigo
Amanha serei eu? Será você?
Quanto vale a vida? Nossa cor? Opção sexual? Nem digo...
Brendda Neves
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Poema feito após ler a notícia do índio que teve seu corpo incendiado em Brasília. Qual foi a minha surpresa ao saber que o mesmo ocorreu em minha cidade natal, Linhares-ES
Poema do fim dos tempos
Se vejo bem os sinais do fim dos tempos
Se ouço bem as trombetas que anunciam o fim
Será este também o meu último poema?
Ou amanhã ainda abrirei meus olhos
E terei o fôlego da vida em mim?
Se leio bem as notícias de uma nova era
Se sinto bem que é chegada a última hora
Serei eu a poeta do fim dos tempos?
Ou hão de existir ainda poetas de Deus
A terem em mãos o fôlego da palavra divina?
Brendda Neves