Poemas, frases e mensagens de BernardoAlmeida

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de BernardoAlmeida

Nem um, nem outro

 
Escondo-me abaixo do inferno
E acima do paraíso
Para que não me incomodem
Nem bons, nem maus
Nem deuses, nem diabos, nem homens

Cansei de jogos e quero equilibrar-me
Apaziguar os pensamentos que se libertam
Das foices entortadas pela gênese

Só existe condenação para quem nela crê
E o purgatório não comporta tantas almas mornas
Em nenhum biombo me encaixo, permaneço caótico
Uma métrica desconhecida, além de comportamentos óbvios

Mas qual o míssil que me interceptará?
Qual radar me captará?
Se não estou entre a escala do bem e do mal
E desperdiço as explicações oferecidas
Contundidas pelo que é certo ou errado

Prefiro continuar deitado acima do paraíso
Ou de pé abaixo do inferno
Substituindo qualquer moral pelos meus desejos

Bernardo Almeida - Livro Crimes Noturnos / 2006
www.bernardoalmeida.jor.br
 
Nem um, nem outro

Aventura idílica

 
Em tuas mãos, páginas de idéias tumultuosas
Enquanto miravas as palavras, eu te olhava
Despertaste em mim um enlevo convidativo
Reforçado pela translúcida vestimenta que desenhava
E demonstrava claramente aquilo que supostamente escondias

Acelerado, meus batimentos tornaram-se assassinos camuflados e furiosos
Queriam matar-me ali, não sei se de ciúme ou paixão
Mas as tuas coxas suscitavam um triunfante desejo excessivamente carnal
Pareciam viver para ofertar o prazer mais digno, freqüente e gratuito do mundo

Enquanto eu insistia em disfarçar que não te atacava
Perplexo e aturdido por intenções calorosamente mudas e nuas
Escreveste com teu sorriso o chamado de que precisava

Descobrimos por dias e noites que éramos amantes ferozes
Lembro-me dos seus seios rígidos, intumescidos da base ao ápice
E dos murmúrios sublimes, dos enlaces de pernas e das pálpebras cerradas
Quando os meus suspiros atingiam a parte traseira da sua orelha
E tocava todo o seu corpo com uma parte do meu

Sabíamos: o que é bom não precisa durar pouco
E mantivemo-nos em contatos, em extratos e substratos
Constantemente conectados
Até que as lágrimas da rotina nos separasse...

Livro Crimes Noturnos (www.bernardoalmeida.jor.br)
 
Aventura idílica

Pagão

 
Pagão

Livro-me dos meus pecados cometendo outros
Novos, picantes e furtivamente lascivos
Sinceros, profundos e deliciosamente proibidos

Livro-me dos meus pecados falando de amor
Sendo condenado pelos olhares que nada me dizem
A não ser que são infelizes e por isso julgam demais

Livro-me dos meus pecados profanando a dureza da razão
Contestando-a diante de sentimentos que desestruturam
Qualquer lei ou idéia aceita como verdade universal

Livro-me dos meus pecados sem fazer esforços
E tomo como minhas as palavras do poeta que afirmava
Não conhecer pecados, apenas prazeres

Bernardo Almeida ( Livro Crimes Noturnos – 2006/www.bernardoalmeida.jor.br)
 
Pagão

Geração exonerada

 
Geração exonerada

Na distinção entre um sorriso e uma lágrima
Pende para o absurdo desejo da catástrofe
Uma pavorosa mania não mais possível
De ser expressa por meio de gestos calculados
Os movimentos, seqüencialmente imperceptíveis,
Protegem o esquecimento que tomará conta da sua alma
Descarnada, desnuda, etérea, imaterial
Dilacerada e agredida como cada milímetro da sua ossada
Escondes este peso em um jazigo distante
Onde apenas olhares mortos te alcançam
Colabora com a terra que fornece a colheita
Da qual tanto te beneficiaste em vida
Colha agora a raiz, e deixa o fruto para os que restam
Contentas-te com a jaula em que te encerras
Sem praguejar contra o fardo que te aflige
O teu rastro, em breve, será apagado
Para que as novas gerações sejam mais belas e ternas
Menos hipócrita, sujismunda, atávica e apática
Como as guardas, os punhos, os corações e as lanças
Dessa tacanha representação da realidade humana

Bernardo Almeida ( Livro Crimes Noturnos – 2006/www.bernardoalmeida.jor.br)
 
Geração exonerada

De lado

 
De lado

Sinto-me em profundo estado de solidão
E, pela primeira vez, não me vejo confortável
Acho que mudei sem imitar quem eu era

O silêncio toma formas acústicas
Nas asas que batem imóveis e irritadiças
Abaixo do tempo que estagnou o mundo das pessoas

E tudo desapareceu em segredo
Nem uma mão falando em meu ouvido
Nem uma língua coroando os meus desejos
A companhia tornou-se uma vasta penúria de nada

E eu que pensava ser difícil sofrer calado
Descubro que o pior se dá quando o peito se agacha de dor
Precisando externar um soluço em forma de desabafo
Mas permanece corroído pelo desamparo da impossibilidade
Da frustração, da angústia e da calamidade do abandono

Bernardo Almeida - www.bernardoalmeida.jor.br
 
De lado

Condenação sócio-laboral

 
Condenação sócio-laboral

Hoje eu acordei como um pedreiro
E trabalhei como um pedreiro
E cansei como um pedreiro
E almocei como um pedreiro

Hoje eu acordei como um pedreiro
E falei como um pedreiro
E cantei como um pedreiro
E vesti-me como um pedreiro

Hoje eu acordei como um pedreiro
E amei como um pedreiro
E andei nos mesmos veículos que transportam um pedreiro
E suei como um pedreiro

Hoje eu acordei como um pedreiro
E fui visto como um pedreiro
E fui ignorado como um pedreiro
E fui contratado como um pedreiro

Hoje eu acordei como um pedreiro
E morei como um pedreiro
E gastei como um pedreiro
E o meu nome passou a ser “ah, é o pedreiro!”

Bernardo Almeida - livro Crimes Noturnos/2006
www.bernardoalmeida.jor.br
 
Condenação sócio-laboral

Devoção

 
Devoção

Se com mil toques pudesse agraciar a sua beleza
Se com mil palavras pudesse definir suas curvas
Se com mil passos pudesse percorrer entre seus mistérios
Se entre mil pessoas o seu olhar fosse somente meu
Se com mil orgasmos pudesse presenteá-la
Se de mil paixões pudesse abastar seu peito
Se mil amores eu pudesse renunciar
Se com mil sons, pudesse cantar sua carne
Se ao meu amor terno estivesse tu entregue
Beberia mil jarras do seu sorriso
Se em mil versos pudesse ler a sua alma
Se em mil encarnações pudesse entregar-lhe a minha
Se com mil destinos tivesse escolha
Minha rota seria seu caminho
Se em mil sonhos, apenas você
Se em mil sensações, suas mãos
Se em mil delírios, seus lábios
Se em mil crenças, devoção a você
Se em mil desejos, suas fantasias a realizar
Se em mil perfumes, seu aroma
Se em mil tentações, a sua presença
Que inebria e irradia vida
Que ilumina e salva
Desperta e liberta
Amém, amém!

Bernardo Almeida - Achados e Perdidos
 
Devoção

Mundo inundado

 
Mundo inundado

Dos submundos mais profundos
Derivam todos os outros mundos
Os quais habitei sem freqüentar

E os quatro cantos eram sempre mais
Traziam amostras curtas e espaços ociosos
Na insanidade efervescente dos espíritos mais criativos

Dentre duas ou três loucuras, escolhi a minha
Completa e desfeita, harmoniosamente conflitante
Abria caixas sem jamais revelar um segredo

E os dentes já não sorviam a matéria
Grotesca e protuberante em dias nublados de quente e frio
Mas conheciam de cabo a rabo os castiçais malditos
Os destemidos, indecisos e indefinidos candelabros

Bernardo Almeida - www.bernardoalmeida.jor.br
 
Mundo inundado

Nem um, nem outro

 
Escondo-me abaixo do inferno
E acima do paraíso
Para que não me incomodem
Nem bons, nem maus
Nem deuses, nem diabos, nem homens

Cansei de jogos e quero equilibrar-me
Apaziguar os pensamentos que se libertam
Das foices entortadas pela gênese

Só existe condenação para quem nela crê
E o purgatório não comporta tantas almas mornas
Em nenhum biombo me encaixo, permaneço caótico
Uma métrica desconhecida, além de comportamentos óbvios

Mas qual o míssil que me interceptará?
Qual radar me captará?
Se não estou entre a escala do bem e do mal
E desperdiço as explicações oferecidas
Contundidas pelo que é certo ou errado

Prefiro continuar deitado acima do paraíso
Ou de pé abaixo do inferno
Substituindo qualquer moral pelos meus desejos

Bernardo Almeida - Livro Crimes Noturnos / 2006
www.bernardoalmeida.jor.br
 
Nem um, nem outro

Prescindível

 
Prescindível

Quantos amores um peito pode suportar
Sem ser chamado de masoquista?
E fui cair logo por ti, o protótipo do impossível
Em jogos de azar, ter sorte é mais importante que competir
E surges e somes e reapareces apenas para salvar
De forma vã e egoísta, as minhas esperanças da forca
Pensas em monopolizar o meu apreço, e por isso me contornas
Com pequenas fábulas que falam de promessas
Mas saiba que o tempo esquecerá o teu endereço
Assim como faz com aqueles que impressionam
Sem fortalecer a cicatriz com novos cortes longitudinais
E, da profundidade, um monte se ergue
Colocando, apenas um de nós, no topo
Do fogo, do jogo, do riso e do gozo

Bernardo Almeida - www.bernardoalmeida.jor.br
 
Prescindível