Poemas, frases e mensagens de Baguera

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Baguera

k piada, =), embora seja rapariga, as minhas personagens são sempre homens....ou quase sempre.....

Bilhete

 
Para uns um barco
Lento,
Para outros avião
Apressado,
Para os demais comboio
Regular,

Não tem porto ou aeroporto
Nem pára na estação

É qualquer coisa sentida
Por vezes perdida
Bilhete? Só de ida.
Sem retorno
A vida.
 
Bilhete

O amor é...

 
como me disseram uma vez (sabedoria dos pequeninos)

"O amor é uma equação com demasiadas incógnitas, impossível de resolver na totalidade."
 
O amor é...

O Menino da Lua e o Pastor de Estrelas

 
- Mãe, olha a lua tão bonita! Posso ir lá ter?
- Não, meu querido. Só quem tem muito dinheiro. - respondia logo minha mãe
- Oh Mãe! Olha que lindo poema eu fiz para a lua!
- Estuda. Não faças essas parvoíces! - já era a resposta de minha mãe nos meus tempos de primária.
- Mãe! Vê a nota que a "stôra" de português me deu pela composição sobre a lua!
- Devias estar a estudar matemática. Não sejas cabeça-na-lua, cai na realidade. Estuda! - desesperava já minha mãe, vendo-me a escrever poemas e contos em vez de equações e gráficos, já no secundário.
Mas não conseguia evitar. Letras, palavras, frases, parágrafos, textos...uma pequena ribeira, depois um rio, a seguir um mar e por fim um oceano. Um oceano de mundos , cores, lugares, pessoas...um oceano de sonhos. Gostava de imaginar, de sonhar...
E assim fui crescendo.
Nos meus quinze anos encontrei, uma noite, um velho sentado num banco de jardim. Silencioso, olhava as estrelas e mexia os lábios como se lhes falasse. Curioso, aproximei-me dele e, a medo, perguntei:
- Que está a fazer?
- Estou a juntar as estrelas. - calmamente respondeu
- Como é isso possível? - a curiosidade tinha-se apoderado de mim.
- Chamo-as pelo nome - continuou o velho - Elas conhecem-me, sou o seu pastor.
- Quê?
- Sou pastor de estrelas. - afirmou o velho
Parte de mim dizia-me que ele era um louco e que me devia afastar. Já a outra parte, (quase de certeza a de menino sonhador) lá no fundo, acreditava nele e queria continuar a conversa. A segunda ganhou.
- Mas essa profissão não existe. E as estrelas não são como ovelhas... - disse eu, ainda mais curioso
- São-o no teu mundo mais precioso se assim o quiseres. - sossegava-me o velho - Basta quereres.
- Mas que mundo?
- O da tua imaginação, o dos teus sonhos.
- Mas é um mundo irreal, não existe. Minha mãe diz-me que devo ter sempre os pés bem assentes na terra e não andar a imaginar coisas. - disse, muito desconsolado pois era precisamente o que eu não queria admitir. Gostava do mundo dos sonhos. Gostava muito de sonhar, ainda que tudo o que sonhava não fosse verdade.
- Sabes, fui guarda nocturno por muitos anos. É dura a realidade de estar sozinho durante longas horas, a meio da noite. Foi aí que saí do duro e frio mundo da realidade para partir á descoberta do doce mundo da imaginação. E foi aí que achei a minha segunda profissão, a de pastor de estrelas. - contou-me o velho que , vislumbrando o céu, murmurou mais algumas palavras.
- Mas ninguém, nas pessoas que conheço, quer admitir esse mundo , só eu! - ripostei
- Nesse caso sonha para ti. Escrever ajuda um pouco a deixares a tua imaginação voar. Mas sobretudo sonha. - disse-me o velho - Não deixes de sonhar!
Já interessado ganhei confiança e perguntei-lhe:
- Há alguém a vigiar a lua?
- Olha que não. Gostarias de o fazer? - respondeu-me
- Pois sim. Ela sempre me fascinou! Parece uma bolacha a flutuar no meio do céu. É mágica, penso eu.
- Então, todas as noites, da janela do teu quarto, olha para a lua e fala com ela. Precisa de companhia....
E assim passei a menino da lua. Sem falta, todas as noites, olhava para a lua e falava-lhe. Contava-lhe histórias que ia inventando, recitava-lhe poesia, fazia-lhe confidências...a lua era a minha amiga. Não sei bem como, gradualmente as contas de matemática e outras ciências desapareceram do meu mundo. Restaram as disciplinas dos sonhos como o Português. Dediquei à lua poemas, textos banais que escrevia ou histórias saídas da minha imaginação fértil alimentada constantemente pelas mais diversas situações. Tudo me inspirava e inspira. O meu mundo expandiu-se, agora grita fortemente pelo direito à afirmação de um mundo que é das crianças por excelência. O mundo dos sonhos e da imaginação. Aquele mundo em que não se sabe distinguir entre o que é real e o que é fantasia pois a linha que separa os dois reinos é ténue, fraca. Não sinto vergonha alguma de viver neste mundo. Afinal, que mal tem ser sonhador? Sentado nesta secretária, olho as pilhas de escritos meus. Abro a janela e miro a minha lua, é de noite. Sou um fazedor de sonhos, sou o menino da lua e sobretudo sou....escritor.
(Leiam este texto e comentem e pontuem! Por favor!)
 
O Menino da Lua e o Pastor de Estrelas

Escritor

 
Sob as estrelas, sonha
Contra o mal, grita
Pequena alegria, folha
Arma própria, escrita

Imagina metas, vê
Para além do, horizonte
Aquele que ao longe, cria
Sonho - Realidade, ponte
 
Escritor

Olha....

 
Olha o mar! Olha o mar à tua frente....
Aprende os sons das ondas, meu amigo...
Porque os sons das ondas a bater no areal são o bater do coração da Terra.

Olha a terra! Olha a terra á tua frente...
Aprende os sons dos seres terrestres, meu amigo...
Porque os sons dos seres vivos são o sangue da Terra.

Olha o ar! Olha o ar em cima de ti....
Aprende o som do bater da asas de um pássaro, meu amigo....
Porque o som do bater das asas de um pássaro é o respirar da Terra

Olha também o fumo das cidades! Olha o fumo e chora...
Aprende o som e os barulhos das fábricas, meu amigo....
Porque o som e os barulhos das fábricas é o cancro da Terra. E a Terra está a morrer...
 
Olha....

Gota a Gota no Fio da Navalha

 
Sentia-me no fio da navalha, literalmente.
Estava preso no chão e em cima de mim, uma navalha pendular sustida por uma tina de água com um pequeno furo. A minha condenação à morte: gota a gota. A minha acusação:ser revolucionário. Vim parar a esta prisão à uns três dias, a navalha estava agora a uns escassos trinta centímetros de mim. Fui preso pela minha imprudência, estava a uns escassos momentos da morte e continuava a rir. O meu trabalho estava feito, era indiferente a minha morte ou a minha vida.
Sentia medo, é verdade, a navalha resplandescente sustia-se instàvel sobre mim. A qualquer momento algo ou alguém podia fazê-la desabar e era o fim. num rasgo de vento seria cortado ao meio como o mercador de carne corta galinhas, vacas e porcos. O sangue fervia-me nas veias mas ria, ria como um louco que acreditava na vida depois da morte. Como se obtesse alguma vez a redenção divina! Pelo menos depois dos actos que cometi. Tinha como companhia os ratos. Bichinhos incansáveis que incessantemente roiam as cordas que me prendiam. Faziam-me cócegas quando se aproximavam da minha pele ensanguentada pelas chicoteadas, talvez fosse por isso que ria tanto.
Nasceu o dia. O calor ofuscante da luz que emanava da minúscula janela do meu cárcere incidia furioso sobre a tina de água que lentamente se deixava evaporar. As horas foram passando: gota a gota. Ao cair da noite ouviu-se um raspar violento de metal na pedra. Nem um grito, nem um único grito.
(Edgar Allen Poe a Mais! LOL )
 
Gota a Gota no Fio da Navalha

Solidão (Reflexão)

 
Que querem que diga? Que me sinto só? Que não consigo amar ninguém? Que a única pessoa que amei me recusou?
Estou para aqui, sozinho, a reflectir. Sou famoso, bem sei, mas não consigo aquilo que mais quero, amor. Não um amor qualquer, amor verdadeiro, pela pessoa que sou não pelo escritor famoso com muito dinheiro. Amei (quer dizer "flirtei") muitas raparigas desde que começei a minha carreira de escritor de sucesso. Falo (nos meus contos infantis) de amores impossíveis que, magicamente, se tornam possíveis....mas não consigo escrever uma única história, a minha. A única companheira que tenho é a lua, a velha lua.
- Olá Lua! Boa Noite!
- Olá! - ouvi
- Annhh, Quê?
- Eu disse olá, João- ouvi
- Quem fala?
....
 
Solidão (Reflexão)

Memórias...

 
Guardo em caixas, caixotes, malas e malotes todas as poucas recordações com que fico desta casa. Olho fotografias da minha feliz infância e, melancolicamente, verifico que o tempo já marcou o meu rosto com rugas. Recordo os quadros que via em casa dos meus pais e que agora apenas vejo nas fotografias. Arrumo as minhas louças e com elas os jantares que dei nesta casa. Que alegria quando juntava os meus amigos em grandes jantaradas. Descubro também, escondida nos armários, a colecção de jarras de minha mãe e que herdei. "Que alegres lembranças tenho!" penso. O toque dos lençóis de linho quando era pequeno, a imagem de meu pai sempre autoritário, as visitas... Tinha uma alegre e preenchida vida em pequeno. Agora sonho entre lembranças e o mundo...são sonhos de escritor.

Tocam à porta. Rasgo á pressa escritos meus amarelecidos pelo tempo. Esperem por favor...já vou...
 
Memórias...

Dois dedos de Conversa

 
dedicado a cada pessoa que adore o sítio onde vive. Lisboa é o Meu e este poema é dela.
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Do alto de cada uma das tuas colinas,
Lisboa,
Caem sonhos, futuros incertos,
Passados que o tempo não apaga,
Vidas que a água não lava,
Manta por Clepsidra estragada és,
Lisboa...

Não te vejo passado, nem presente,
Nem futuro, amiga...
Vejo-te dentro de uma única estória
Tecida pelo mais puro fio de oiro
Pelas mais habilidosas mãos
Nos meandros do Mundo.

Foste tecida com as vitórias de Roma
Com os amores de Veneza
Com a arte de Florença, a ciência Francesa
E fiadas e fiadas de sonhos.

Teceram-te lendas
Mouras encantadas chorando nas ruínas
Da cidade muçulmana que foste
Campos de alfaces que
Te mataram a fome, Lisboa.

Cheiras a sangue heróico
(Mais, estás impregnada dele)
Até parece que, se fechar os olhos
e me deixar cair, cair, cair, cair
No âmago da tua história
Consigo ouvir nas pedras o roçar dos gumes
Afiados na carne fresca
Espadas batem e rebatem
Espadas que te conquistaram.

"Viva El-Rei D. Afonso Henriques!"
Ouço, junto à quieta estátua
No castelo altaneiro
Consagrado a S.Jorge
Que, como tu Lisboa,
Venceu o dragão (inglês)

Até pareces um palco
Onde se representa um épico
Personagens que partiram e voltam heróis
Personagens que partiram e não regressaram
Personagens que vagueiam, sós...

Mas espera! Ouço os sinos da Sé!
Uma, duas, três, quatro,...doze badaladas
É meio-dia, pardo e lento
Como os lagartos a aquecer ao sol.

A velha Sé, austera como sempre
Cada grão, sua história
Cavaleiros, mouras, amores desencontrados
Heróis criados, reis coroados
E mais outros tantos ainda por encontrar.

Caminho, pelas tuas vielas,
Onde o povo sempre soube lutar
Força da terra nunca lhes faltou
E houve sempre alguém, por mais espaçado
Que o tempo parecesse, para os liderar.

E os cafés! Ah, os cafés e os botequins
Onde revoluções se preparavam no mais absoluto silêncio...
E almas criativas conquistavam a imortalidade
Lançando palavras sentidas a despique
Divertindo, enfurecendo, emocionando gerações...

Repara no Nicola, ainda lá vive
O espírito do Casanova português
Cujos sonetos e piadas jorravam para fora da sua boca
Da mesma maneira que o vinho jorra para dentro de
Um bêbado qualquer.
É Bocage que lá vive
O homem dos mil amores.

E sentado, no Martinho da Arcada
Estão cinco homens onde só vemos um
Cinco esses, às vezes mais,
Mas veremos sempre um.
Pequeno, atarracado, perturbado por Calíope
Que lhe fez pensador, quando lhe doía
Que não sabia viver no seu tempo
Pessoa era, mas só de nome.

Também no Tavares, nobre restaurante
Que se te faltar a atenção não o vês
Vive um nobre revolucionário
E as suas personagens
Eça de nome, Queirós de apelido
E uma imaginação imensa.

Estes poetas, Estes escritores,
São apenas uma amostra
Porque a tua criação, Lisboa
Assombra o mais erudito dos eruditos
Hà tantas histórias e estórias em ti
Que nem sei
Nem tu sabes
Por onde começar.

Vejo o Nobre Chiado à minha frente
Ao lado a Baixa, sua irmã
Pais da madeira dos palcos
Das cortinas vermelhas
Do rouge das caras
E dos holofotes.

Pais dos seres humanos de mil caras
De mil nomes, mil emoções
De mil sentimentos.
Um dia reis, outro dia doutores
Outro dia o mais pobre dos mendigos
Outro dia o mais pobre dos Homens.

Tiveste de tudo um pouco
Galãs, divas,
Comédias e tragédias a despique...
Pouco dinheiro...
Cadeiras vazias...

Mas sem vacilar avanças
Por entre os Vicentes, os Saramago
E os Sttau Monteiro.

Porque Portugal tem magia e heróis de sobra
Para alimentar o pó de palco
Até à eternidade e mais além...

E até no teatro
Heróis tiveste, Lisboa
Que te encham as medidas de memória
Porque se um português só cai
Com a bala cravada no corpo
Mas o último tiro da sua no inimigo
Lisboa só se considerará conquistada
Na última pedra marcada
Só, na última.

Tivemos o nosso Viegas, Mário
Cujo amor à madeira que ressoava
Ao som de cada aplauso era
Amor Shakespereano
Que recitava poemas como quem
Segurava um diamante nas mãos
(Aí não estava, mas em todo ele
Pessoas assim são jóias)
Viegas da expressividade, do ardor
Mário Viegas que a clepsidra apagou
Cedo demais.

Tivemos os nosso revolucionários
O Estado novo raiava e continuavam
Sttau Monteiro à proa
S.Julião da Barra a arder
E ainda continuavam a gritar:
"Felizmente, felizmente há luar!"

Não há como parar o movimento perpétuo
Em que vives Lisboa
Alimentas-te continuamente
Da sede dos Homens
Que em ti, amiga,
Vêm beber do cálice das Musas

Logras-te chegar mais longe
Pediste graça divina
E na Sra. da Graça
Sobes mais alto
Só para te admirares Lisboa
Quão vaidosa, quão vaidosa és...

Desces o Ouro e a Prata
Viras para a Augusta
E no fim, voltas a afirmar
Sobre o arco que a tua gente construiu
Que és nobre como Roma
E o triunfo que demonstras
É justo e teu
Conquistaste-o.

Á tua frente estende-se o Terreiro do Paço
Ao centro D.José parece indicar o caminho do mar
E respiras a reis, ministros e intrigas
Neste local onde o Paço houve
Até se ouvir gritar: "República!"

Seja um rei ou rainha
(Alguém da velha guarda)
Seja presidente ou general
Seja quem for, Lisboa
Sempre tiveste líder
Sempre foste líder
Nobre Lisboa

Foste poder, és poder e serás poder
Poder para gerir um país
Poder para ser líder de um país
Poder para seres forte, corajosa

E com os olhos cravados no rio
Vejo o teu apogeu
A Lisboa do mar, das Caravelas
A Navegar, navegar, navegar
A dar novos mundos ao Mundo
A dar ilhas e mares
E terras e lares
E culturas (aos milhares)

Destes Gamas e Álvares Cabrais
Soltaste-os no azul do mar
Esperaste luas e luas
Até que voltassem

Uns voltaram cobertos de glória
Outros tornaram-se alimento do mar
Ficaste para a história Tejo
Pelas conquistas que viste partir
Pelas conquistas que viste chegar
Pelos milhares de almas a chorar na areia
Pelas famílias desfeitas, pelas noivas por casar
Só para que fosse teu o mar...

E lavo os olhos no rio
Ouço o buzinar dos carros
Pessoas a gritar
Como se o apocalipse fosse amanhã
Sem pressa, sento-me à beira das àguas
E contemplo o teu apogeu...

Olha Lisboa, anoiteceu...
 
Dois dedos de Conversa

New York

 
“I’m going to be a part of it,
In all New York.”
As estrelas descem dos céus para
Bem perto da Terra, esta noite,
Todas as noites para te observar,
Bem de perto, bem de perto,
Bem de perto, cidade do Centro
Do Mundo. Big Apple, amiga
Dos artistas. Minha amiga...

Rosa do Mundo, expoente (Ai de mim!
Que até matemática tens , cidade!)
Máximo (sem exagero) da arte da vida, aquela
Arte de saber viver bem.

Em ti cidade, pequeno Mundo,
A vida corrre à velocidade de um carro
Multiplicado pelo bater de um coração
Elevado à potência de um máquina de calcular
Ou de um telemóvel de última geração.

As mamãs (vestida à ultima geração de
Farrapos andrajosos ou de farrapos chiques),
Olhando para os rolex comprados na
5th Avenue ou na feira de rua mais próxima,
Chamam, em gritinhos, gritos, gritões
Pelos filhos, à porta de uma escola.

“James! Vem já para qui! Meu cérebrozinho estúpido
De QI MUITO acima da média. Estás atrasado para a tua aula de violino.
Um mês sem a X-Box!” – grita uma mãe à sua criança que apenas
Se demorou porque queria declarar-se à colega de turma,
Segredar-lhe um poema de amor....

Mas, e no meio do rebuliço do
Querer viver mais rápido do que a vida,
Um poeta sonhador
Olhando para os céus no meio da Broadway,
Atrasa o tempo à sua volta
Dividindo-o pela imaginação, elevada
Ao quarto de hora.
E sonha...
 
New York

Cavalo Marinho

 
Volto á praia onde nasci
Ao som suave do ondular
Nas algas, alegre cresci
E o meu lar é o imenso mar.

Sou amazona das ondas
Livre entre os corais
Meu pai é cavaleiro mor
Do mar e dos seus animais

Sou estranha, talvez
Ser solitário, sozinho
Sou cavalo sem sela
Sou cavalo marinho
 
Cavalo Marinho

Sonata da Meia-Noite

 
Um mocho pia.
Assusta-me.

Noite, noite amiga, por favor, manda-o embora
Traz um rato para que ele o possa perseguir.

O quê? Não podes?

Pois é, um rato não vale um medo...
Está bem, vou tentar pensar noutra coisa sem ser
Em histórias que parecem saídas de um filme de terror.
Sabes? Deve ser do meu coração....anda negro ultimamente.

O quê noite? Que dizes?
Que não és só medo?

É verdade, é verdade...
Olha...podes fazer-me um favor?

Qual?

Acende a Lua.
Cheia se puderes. E traz-me aquele brilho das estrelas.
Sinto a falta delas. Não as vejo desde que amanheceu.

Gostava de ter agora aqui a outra metade do meu coração
Seria perfeito, maravilhoso
Uma verdadeira Sonata.
Ou uma serenata ao luar. Quem sabe?

Podes trazer-ma?
 
Sonata da Meia-Noite

1000 Rosas

 
O meu mundo é a Broadway. Aquela magia dos teatros fascina-me, o cheiro dos perfumes caros que senhoras emproadas não se esqueceram de pôr antes de vir ao teatro, o cheiro dos charutos dos homens que as acompanham, etc. Musicais, dramas, comédias....tudo me fascina.
Quem sou eu? Apenas um solitário viajante das palavras. As pessoas lêem o que eu escrevo, falam comigo na rua, interpelando-me por meros autógrafos, mas não me conhecem. Não conhecem o homem, que viajando ao mais ínfimo dos sonhos, lhes traz histórias, poesia..... O homem solitário que vagueia entre teatros, observando-os. O homem, que apesar de tudo o que pode ser, não deixa de ser homem. O homem que sonha amar um dia e ser correspondido. E até esse dia surgir, continuará a vaguear pelo seu mundo na procura do seu bem mais precioso, imaginação. Continuarei a deambular por aqui, talvez por um breve período de tempo, talvez eternamente.
Mas as minhas deambulações dão-me ensinamentos, histórias... Sobretudo histórias.
Vêem esta rosa no meu bolso? Está seca, eu sei, mas guardo-a como recordação da maior prova de amor a que alguma vez assisti.
Nas minhas rondas pela zona dos hotéis, estava eu conversando com o meu amigo James Monroe defronte de um grande hotel, quando vejo um rapaz dos seus dezoito anos carregando uma grande mala escada acima. Notava-se a dificuldade com que ele a carregava. Nisto, um senhor embate contra a mala e ela cai no chão, abrindo-se. Dentro dela estavam cem rosas vermelhas, talvez mil... O rapaz, desconsolado, apressa-se a tentar apanhar as rosas mas as pessoas que por ali passavam já as tinham pisado. Conseguiu salvar duas. Aproximei-me dele e perguntei:
- Para que queres tu, rapazito, tantas rosas?
Ele respondeu-me que eram para a rapariga dos seus sonhos, a Elizabeth. Que iria declarar-se nessa noite e as rosas eram uma ajuda.
Ofereceu-me uma. Atónito, perguntei-lhe porquê. E foi então que deu a resposta mais impressionante que eu alguma vez ouvi:
- Não se preocupe. Fique com essa para si como recordação. Uma basta-me para demonstrar-lhe o que sinto.
Pediu-me também que imortalizasse o seu amor nas minhas palavras. Chamou-lhes sopro de magia, mas não sei, talvez tenha sido o melhor dos elogios que recebi. Mas a rosa, continuo a mantê-la comigo...talvez apareça alguém a quem a possa dar.

(axo mesmo k tenho mais jeito é pra prosas portanto aki vai esta)
 
1000 Rosas

Medo do Escuro

 
- Avó! Fica comigo! - gritava aflita Mariana, ao ver a Avó a afastar-se depois de a ter deitado
- Mas porquê, querida? - responde a Avó
- Tenho muito medo do escuro. Fica comigo Avó! Não me deixes sozinha por favor - suplicava Mariana
- Mas não é preciso teres medo! Sabes, antigamente, o escuro também tinha medo de nós. Sossega querida, não há nada que te faça mal no escuro.
- Como? O escuro tinha medo de nós?
- Sim, Mas isso era quando eu tinha a tua idade. Foi há muito tempo.
- Conta Avó, conta! - disse Mariana, curiosa
- Mas não sei se me lembro bem da história.
- Vá lá.
- Está bem.
A Avó sentou-se á beira da cama de Mariana. Lentamente, recostou-se ás fofas almofadas e começou
......................................................................
Tinha eu alguns 7 anos como tu, Mariana. E como tu, todas as noites implorava para que alguém ficasse comigo até que eu adormecesse. Morria de medo do escuro.
- Mãe! Fica comigo! Tenho medo! - gritava, mal ela me deitava e se afastava
- Mas querida, não é preciso. Não há nada que te possa fazer mal. - respondia docemente a minha mãe, tua bisavó
- Mas, está bem. Leio-te uma história.
Nisto, dirigiu-se á velha estante de carvalho que estava ao fundo do meu quarto e tirou um livro. "A Polegarzinha" lembro-me bem. E a história começou: "Era uma vez..."Embalada, fui ganhando sono. Sabes, ganhando talvez não. É mais divertido dizer que fui roubando sono ao João Pestana. E embalada, adormeci. Mas, antes de entrar naquela fase entre o dormir e o estar acordado, penso que ouvi um chorar miudinho junto á janela do meu quarto. Não liguei.
No dia seguinte, na escola, o tema da aula foi o medo e os vários medos que existem. Desfiou-se, naquele dia, um sem número de medos:
- De que têm mais medo? - perguntava a professora
- De cobras - gritava um
- De aranhas - acrescentava outro
- De sítios pequenos e fechados - disse, timidamente, a minha colega do lado
Toda a sala ecoou num enorme riso. A minha colega irrompeu num choro convulso, triste.
- Calem-se - gritou a professora, zangada
- Não chores Ana. Porque tens esse medo?
- Porque...eu...eu...sofro de Claustrofobia. - disse a Ana, ainda soluçando num choro miudinho.
- Quê? Claus...quê? - gritou logo, de imediato, o arruaceiro da turma.
- Claustrofobia, o medo de estar em lugares pequenos e fechados. - finalizou a professora
Um "Aaannhhh" em uníssono irrompeu por toda a sala.
- Continuem - disse a professora
- Eu tenho medo de alturas, vertigens, como diz a minha mãe.
Chegou a minha vez. Timidamente, disse:
- Eu tenho medo do...do...escuro.
- Apoiado - gritaram uns
- Sim, também eu - gritavam outros
- Porquê? - disse a professora, na esperança que a ideia fosse desenvolvida. Tinha razão.
- Porque o escuro é mau! - começo eu
- E feio. - segue-se outro
- E...e...e...escuro - finaliza alguém
Nesse dia ouvi chorar outra vez. Estranhei, mas voltei a não ligar.Voltei alegremente para casa. Fiz os trabalhos de casa, brinquei, jantei, lavei os dentes e...nova choradeira."Fiquem comigo" pedia eu. "Tinha que perder este medo." respondiam os meus pais. Para piorar, o choro que ouvia continuou e continuou e cada vez a aumentar mais e mais. Continuava aterrorizada cada vez que me ia deitar. Até que um dia, melhor, uma noite, a minha mãe me sugeriu:
- Pega no lampião e procura no teu quarto. Assim verás que não há nada de mal no escuro.- Está bem.Peguei no lampião e lá fui. Comecei pelo armário, nada. A estante dos livros, nada. Debaixo da minha cama, nada.De repente comecei a ouvir um melodia suave de uma flauta. Como que hipnotizada dirigi-me á beira da minha janela. Não sabes o que é estar hipnotizada? É estar num transe, como que enfeitiçada. Puxei a cortina para o lado e encontrei um menino sentado no beiral da minha janela. Assustou-se e chegou-se para um canto.
- Porque é que te assustas-te? - perguntei
- Tenho medo de ti.
Era um menino bonito. Preto, de olhos e cabelos negros como a noite. A Noite que eu tanto temia.
- Mas, porquê?
- Porque vocês não gostam de mim. - disse ele
- Vocês, quem? - perguntei
- Vocês, os meninos e as meninas.
- Como te chamas? - quis saber
- Sou o Escuro, o filho da noite. E como vocês acham que eu sou mau, não me deixam brincar com vocês. Tenho medo de aproximar-me e vocês quererem fazer-me mal. - disse, e começou a chorar.
Não acreditava nos meus olhos. O escuro, de que eu tinha tanto medo, era apenas um rapazinho pequeno, como eu. Deixei o medo de lado, enchi-me de coragem, olhei-o nos olhos e disse-lhe:
- Amigos? Mas não me assustas mais!
Vim um brilho nos seus olhos negros.
- Juras? Posso juntar-me a ti cada vez que estiveres triste ou só. - disse alegremente
- E aquela música tão bonita que te ouvi a tocar. - acrescentei
- Toco-a para ti sempre que quiseres - a alegria já transbordava dos seus olhos
- Olha. Fazemos assim. Todas as noites, para não adormecer assustada, tocas a música. Assim, lembro-me de ti e sei que já não estou sozinha.
- Está bem.
E assim fiquei amiga do Escuro. Brinquei com ele muitas vezes em criança. E ainda hoje ele toca para mim todas as noites para eu adormecer.
..............................................................
- Então Mariana, percebes porque não é preciso teres medo do escuro? - perguntou a avó
Mas Mariana não ouviu. Tinha os olhos fechados, dormia. Mexia os lábios. Sonhava...talvez. A Avó tapou-a com os cobertores. Fechou a luz á saída do quarto.
- Boa noite Mariana. E boa noite Escuro. - disse

(kuando os primos mais novos não adormecem por medo do escuro....surge isto)
 
Medo do Escuro

Tango da Morte

 
Um sonho, uma fantasia
Saem trémulos do pincel
Surgem dois corpos enrolados
Numa dança caliente.

José chora, Maria delira
O calor queima-lhe a lucidez
Ela apenas dança e dança
Rodopios de cor na tela branca

Desconhece a causa da sua loucura
Mas José conhece-a e muito bem
Rios de mágoa correm-lhe dos olhos
Dançam o último tango...o tango da morte

E numa pincelada de preto
Encoberta pela sombra da mão
A pintora, qual deusa selvagem
Pinta-lhes o destino em alva tela.
 
Tango da Morte

Quadro (Uma Realidade)

 
Uma pincelada de branco
Cerdas percorrendo o céu
Criam o sonho no mundo azul
Branco puro, diferente.

Nasce uma pomba, animal frágil
No meio do quadro incompleto
O Pintor acrescenta-lhe um sol
Que ilumina o frágil ser

Traz qualquer coisa no bico
A pomba, uma pincelada de verde
Ah sim, um ramo de aveleira
Símbolo de pureza, a magnifica graça

Mas o pintor solta uma lágrima
Custa-lhe pintar a verdade
Entre trémulas pinceladas
Surge algo na folhagem rasteira

Algo verde ergue-se na erva
Surge uma arma, um caçador
Este dispara uma só vez
A pomba cai, morre.
 
Quadro (Uma Realidade)

Loucos de Lisboa

 
Deu-me na cabeça começar a pensar no mundo dos pequenos. Como é bom viver na ignorância. Sem preocupações, sem medo do futuro.
Ouvia neste momento a minha amiga Sara que acabava de ser mãe há um mês. Falava-me dos problemas da pequena Carolina (cólicas e outros assim) e eu só me afundava na visão que tinha em miúda da minha Lisboa. Ela não foi minha desde sempre, vivi em Mafra até aos 12 anos mas os meus pais, em busca de melhor trabalho, trouxeram-me com eles. Agora, quinze anos depois, Lisboa é minha e eu sou de Lisboa.
Caminho agora com a Sara pelo Chiado. Ela fala-me de problemas e preocupações e eu, fingindo ouvir (com o tempo tornei-me mestra na arte de bem saber fingir ouvir), deixo-me absorver pela inebriante magia que o Chiado emana.
Sentamo-nos numa mesa da “Brasileira”, um dos cafés mais emblemáticos de Lisboa. A Sara parou por momentos de falar na pequena Carolina e prendeu a minha atenção.
- Joana, já viste o ar andrajoso daquele homem que está a olhar para nós? – disse, apontando discretamente um homem que estava sentado no muro que ladeava a entrada do estação de metro da Baixa-Chiado.
- Qual é o problema? – respondi.
- Deixa-me desconfortável. – continuou a Sara – Detesto quando gente desconhecida me fixa.
- Ora, não ligues. Deve ser louco. – finalizei.
Enquanto a conversa durava não deixei de divagar em que pensaria o “louco” enquanto olhava para nós. Desenhava indefinidamente num pequeno bloco (perguntava-me o quê). E pensei. Viver sem rumo, sem lugar nem posses é viver em liberdade. Sorri para o “louco”, ele retribuiu o sorriso. “Os loucos dão outro colorido à cidade” pensei “ O que seria de Lisboa sem o senhor do adeus?” O sorriso do “louco” era sincero, via-se. Olhei para a estátua do Fernando Pessoa e pensei, ele foi o louco do tempo dele, agora é celebrado. Mário Viegas foi o louco mais sério e brincalhão que existiu (Ainda bem que a Companhia Teatral do Chiado dá continuação ás suas loucuras....)
Enfim, Lisboa construi-se com os seus “loucos”. Eles são parte de Lisboa e Lisboa é parte deles.
Sara parou a conversa.
- Que é? – perguntei.
- Tenho de ir ter com a avó da Carolina. Deixei a Carolina lá e tenho de ir dar-lhe de mamar. Adeus Joana. Adorei falar contigo. – disse ela.
Saiu apressada em direcção ao metro. Quando me voltei para ver o “louco” ele também se tinha ido embora. Deixou uma folha no lugar onde estava. Paguei a conta, o café e peguei na folha.
Surpresa das surpresas, era o meu rosto desenhado na perfeição. Junto estava rabiscado o velho ditado: “De génio e de louco todo o mundo tem um pouco. Para os olhos mais sinceros e curiosos que alguma vez vi. Ass: O Louco”
Ri-me, meti o papel na minha mala e segui errante pelo Chiado, cantarolando:

“São os Loucos de Lisboa
que nos fazem duvidar.
A terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar.”
(ai como eu adorava que se reparessem em coisas tão simples como a desta estória....mas vivemos metidos nas complicações....=
 
Loucos de Lisboa

Um olhar sobre Lisboa...

 
Doce Lisboa! À beira de água...
Minha amada casa sobre o Tejo
Espelho da vida presente
E da que se escreveu sobre tuas pedras.

Terna mãe, que embalas teus filhos
Em sete berços de dura pedra
Contas-lhes estórias de feitos heróicos
Que a história escreveu em ti.

És senhora dos reis, príncipes...
Mas amada por vagabundos
Que vagueiam com roupas coçadas
E um molho de folhas por companhia...

Conversas imaginadas, feitos inventados...
Amigos? A imaginação, um copo de tinto
E tu, Lisboa, casa de poetas, pensadores....
 
Um olhar sobre Lisboa...

Sem titulo (por agora)

 
Aquela cortina velha nunca teve tão bom aspecto como hoje. Ela estava do outro lado. Manuel sabia-o e isso sabia-lhe tão bem. Algures, do outro lado daquela cortina de veludo verde velho e gasto, mas com um aspecto interessante hoje, ela estaria lá. Aqueles olhos castanhos de leoa meiga e aqueles cabelos de doce chocolate, vivos como a terra com que Manuel tanto sonha. Olhos esses que, como estrelas no céu, olhando ternas para a Terra, estarão vidrados no Manuel homem. Talvez com outro nome, temporário, mas sempre o Manuel homem.
"Bem, são 20:30, falta pouco." pensa Manuel "É melhor despachar-me."
Debaixo do seu reflexo iluminado, o rosto de Manuel mudou. Um toque de blush, um chapéu com plumas negras e, no outrora Manuel homem, nasce agora Casanova, o D. Juan de Veneza. Uma capa, uma espada à cintura e já está está, outro homem nasceu.
- Cinco minutos! Faltam cinco minutos! A despachar! - grita-se, perto da cortina velha, do velho palco.
"É agora, o espectáculo vai começar." medita o, agora e por mais duas horas, Casanova.
Três pancadas ressoaram no chão, mais três e outras três. O alaúde, velho como o tempo, começa os seus primeiros acordes e a cortina sobe, e sobe, e sobe... A luz que incide sobre Manuel desfoca-lhe o outro lado, mas ele não se importa pois duas doces estrelas estavam lá, olhando para ele, quer as visse, quer não.
- Não existe sentimento mais nobre que o amor, nem mais vil que a paixão. Por amar-te quero o paraíso, por querer-te, quero o inferno. Por não te ter, vivo entre os dois. Que esta rosa que te dou sangre sangue vermelho vivo dos homens se nenhuma destas palavras for verdade. - diz Casanova a Raquel, uma das suas conquistas, e diz Manuel a Leonor, sentada na primeira fila do Trindade.
Leonor, que encantada sorria, deixava-se absorver pela história. Com André, rapaz que nada devia nem nada pedia a Apolo, a seu lado. André avançava insistentemente sobre Leonor, ora tentando pôr-lhe um braço sobre os ombros, ora tentanto dar-lhe a mão. Coisas que a pobre Leonor tentava parar, a muito custo.
- Adeus, adeus, adeus, Casanova!
- Adeus, adeus, minha doce Raquel!
As últimas palavras foram ditas, os últimos acordes tocados, as luzes apagaram, o pano desceu para depois voltar a subir num irromper de aplausos. Era a felicidade, estava estampada nos olhos de Manuel e Leonor. Não sabiam o que ali tinham vivido, sabiam apenas que algo lhes tinha atravessado o coração, irremediavelmente. Tinham atravessado o ponto sem retorno, sem volta a dar só podiam seguir em frente.
O Casanova depressa voltou a Manuel homem, com os seus trajes habituais de negro escuro, misteriosos como a noite negra. Foi-se sentar na beira da madeira do palco, como sempre fizera desde que o teatro se atravessara no seu caminho e o levara na sua carruagem. Gostava de meditar, pensar na sorte que tinha ao estar a fazer o que gostava. Não tinha tudo e, ao mesmo tempo, tudo tinha, pensava, um actor pode ser rei num dia e mendigo no seguinte e agradecia assim, à vida, por tal presente.
O Trindade tinha um brilho especial para os olhos de Manuel. O dourado e verde, velhos como o tempo, resplandeciam de magia sobre o lustre iluminado e sobre os olhos de Leonor.
- Leonor, que fazes aqui? - pergunta Manuel.
Leonor estava lá, com Manuel. Acabava de entrar para o primeiro balcão e aqueles braços de tez morena de sol e sal debruçavam-se sobre a varanda que os separava.
- Parabéns Manuel. Nunca pensei. Sabia-te um excelente actor mas nunca imaginei que fosses tão bom. Enfeitiças-te toda a audiência com a tua magia, meu bom amigo.
- Obrigada. - responde-lhe Manuel, num tom tão atrapalhado como uma criança.
"Azul, a minha cor favorita!" pensava Manuel. Leonor envergava um vestido azul petróleo como o céu, que agora vestira o seu fato de noite, preto como breu, mas salpicado de estrelas.
- Este teatro emana tanta magia. Ouve-se um misto de choro e alegria nestas tábuas, nestes dourados. - comenta Leonor.
- Bem, dizem algumas pessoas que a história do Teatro se imprime nas suas tábuas. Que todos os teatros têm os seus fantasmas de estimação, que zelam pelo cumprir desta arte. - disse Manuel, com a ternura de quem fala de uma das suas paixões, a outra estendia-se à sua frente, sobre a varanda do primeiro balcão.
- Que bonito, que bonito. - respondeu Leonor.
- Desce, daqui tens outra vista. - sugere Manuel.
Leonor desapareceu por entre a penumbra do primeiro balcão para voltar a reaparecer por entre os últimos lugares da plateia.
- Anda. Senta-te perto de mim. Vou-te mostrar uma coisa que nunca antes viste. - convida Manuel.
Leonor, um tanto hesitante, sentou-se na beira do palco com Manuel. Olhou em volta. Uma cara de um misto de espanto e felicidade iluminou-se no seu rosto.
- Daqui para a frente vive-se a vida. Daqui para trás espelha-se a vida. Um actor nunca sabe realmente o que está por trás dos holofotes e um espectador nunca sabe bem o que está por detrás das personagens. É uma conversa de desconhecidos que se conhecem há décadas. É esta a magia do teatro - os olhos de Manuel reflectiam orgulho em cada palavra dita.
Cada um, alternadamente, bebia alegre das palavras do outro. Até que Manuel disse:
- Sabes, embora seja outras pessoas no palco, continuo o mesmo desde que nos conhecemos, lembras-te? No secundário, a menina mais brilhante da aula e o cabeça na lua. E...
Alguém gritava de fora da sala. Alto, bem alto.
- Leonor! Onde estás Leonor? Já é tarde.
As portas do fundo da plateia abriram-se para deixar entrar André, ofegante.
- Que estás aí a fazer? É tão tarde. E quem és tu? - perguntou André ao ver os dois juntos, sentados à beira do palco. - O que é que estás a fazer com ela?
- É o Manuel, um amigo, da Secundária. Manuel é o André, filho do sócio do meu pai.
André aproximou-se dos dois.
- Bom trabalho, o teu. - a aspereza rudimentar dos pensamentos de André espelhava-se em cada palavra sua.
Os olhos de Manuel brilhavam sobre Leonor e esta respondia-lhe com um sorriso sincero. "É uma ameaça." pensava André. Ele era estúpido mas não era parvo.
- Obrigada. É sempre bom ouvir notas de apreço pelo nosso trabalho. – respondeu-lhe Manuel, a medo.
- Mas olha que tens ainda tens de melhorar até chegares ao nível do
Ruy de Carvalho, por exemplo. – André não sabia medir a crueldade do que dizia.
Manuel, no entanto, sabia-lhe responder, à letra. E com a eloquência de quem a cultura abençoou.
- Mas eu não me posso comparar ao Ruy de Carvalho. Vê bem, ele tem mais de 50 anos de actor e eu apenas 26 de vida. É impossível comparar-me com ele.
- Ah, ok. – disse André, confuso.
Manuel e Leonor segredaram qualquer coisa um ao outro entre risos. Com a maior calma, Leonor disse:
- André, há muito que não via o Manuel. Podes ir andando para tua casa que eu e ele temos muito que conversar. O Manuel depois leva-me. Por favor.
- Mas, um homem que sai num encontro com uma mulher só deve terminá-lo à porta de sua casa. Vens comigo. – a perturbação percebia-se na voz de André.
- Já não estamos no séc. XIX e eu sei cuidar de mim, por favor vai, meu bom amigo. A conversa é apenas entre mim e o Manuel. – insistiu Leonor.
- Eu, amigo? E não, não vou! – as últimas duas palavras de André soaram como um grito.
- Calma. – disseram Manuel e Leonor.
- Calma, mas qual calma? Venho contigo ao teatro, de que não gosto, para te agradar. E tu, aos primeiros olhinhos de um actorzeco qualquer, deixas-me. – era raiva, pura raiva nas palavras de André. – Vais para casa, para minha casa.
Leonor percebeu o que se iria passar.
- Não, André, por favor, não faças isso. – disse.
André não a ouviu. Um murro no estomâgo de Manuel e começa a persgui-la pela plateia, pelo primeiro balcão, pelos camarotes e até pelos camarins.
Manuel depressa recuperou. Depressa tudo estava no sítio.
- Leonor! Leonor! - gritou, a plenos pulmões.
- Manuel! Salva-me, por favor! – ouvia, em resposta.
Foi para os bastidores, descobriu um velho florete de uma produção shakespereana, Hamlet talvez, cheio de ferrugem.
“Ainda deve fazer mossa.” Pensou.
- André! André! – ouvia.
Os gritos vinham do palco, correu para lá o mais rápido que conseguiu. Cauteloso, por detrás de uma das cortinas do palco, esperou. André pegava em Leonor como quem pega num saco de batatas. “Um, dois e …” Manuel lançou-se no seu encalço e deixou a ponta do florete a centímetros da jugular, na garganta de André.
- Solta-a. Respeita a vontade dela, Brutamontes. – proferiu, em solene tom, que nem Manuel sabia que possuía.
- Não! É que nem penses! – respondeu-lhe André – O que é uma espadazeca face a isto?
E saca um revólver de debaixo do casaco. Leonor deu um grito e desmaiou.
- Vá, vá! É a andar. Desampara-me a loja. Desaparece, insignificância. – era poder puro nas palavras de André.
Manuel recuou um passo atrás do outro. André avançou pelo centro da plateia. Até que, num rasgar de ideia, Manuel viu a sua oportunidade. O Trindade ainda tinha pesos de areia. Descobriu o central, um golpe de florete na corda que o segurava e este voou, qual bala, directo à nuca de André, deixando-o inconsciente.
Daqui para a frente tudo parece que aumenta exponencialmente de velocidade.
Manuel depressa corre a acordar Leonor. Meio zonza, apenas o seguiu. Fechou todas portas que davam acesso à plateia. Sentou Leonor numa das cadeiras do primeiro balcão, foi para a cabine de som. Acendeu o holofote maior sobre André que acordou, estremunhado.
- Vem cá! Luta como homem! – gritou André, ainda zonzo da pancada que havia levado.
E nisto corre para as portas da plateia, fechadas, corre para as portas do palco, também fechadas, por Manuel.
- Ó meu grande filho da puta! Deixa-me sair! – grita, irado como nunca, André.
Leonor, de súbito, acordou. Dirigiu-se à varanda do primeiro balcão.
- Parem! Os dois! Agora! – gritou.
André e Manuel pararam, imóveis como pedra.
- Se querias alguma oportunidade para eu gostar de ti, André, esquece, perdeste-a. Nunca mais te quero ver. Nem tentes. E posto isto, Manuel, leva-me para casa, por favor.
- Descansa bem. Uma noite no teatro acorda muita gente para a cultura. Talvez despertes o cérebro, que julgo estar em estado vegetativo há muito tempo. – rematou Manuel.
André, no instante em que o tempo passa, ficou sozinho. Manuel e Leonor saíram da sala, do hall e, por fim, do teatro.
Já banhados pela luz da lua e da estrelas, Manuel murmurou:
- Sejam os milhares de almas que brilham por cima de nós o testemunho do que te digo. Nunca amei ninguém senão a ti. Nem nunca amarei ninguém senão a ti. Desde sempre.
- O sentimento é recíproco. Vamos Casanova. – ouviu em resposta.
- Está bem. Vamos Raquel. – disse
E duas mãos cruzaram-se para a eternidade nessa noite de Agosto, no Trindade.
A cortina desceu, o alaúde já tocou…por agora.
 
Sem titulo (por agora)

Lisboa...

 
Olho-te a ti Lisboa, amiga
Sob um sol translúcido, brilhando
No capot de um carro ou mesmo
Naquele velho carrinho de compras
Onde alguém dorme

Lisboa, a minha casa, a
Mãe de poetas, actores, pensadores, revoluções,
Revolucionários, a mãe de sonhadores
Solitários.

Mas não deixas de ser tu, Lisboa,
A mãe extremosa que embala os
Filhos e depois parte com os céus
Nos olhos para a vida boémia do
Bairro Alto

Mas não deixas de ser tu, Lisboa
Dos ricos e dos pobres, dos ignorantes e
Dos Doutos em coisa nenhuma.
A Lisboa que voa, qual gaivota errante,
A Lisboa que grita, por mil vozes:
“Senhora, que os salários são baixos...”

A Lisboa sobre o Tejo, sobre os barcos
Sobre os boémios à deriva nas Docas
Mas és, sobretudo, os barcos de pescadores, que Em vez
Da faina de outras eras, trazem apenas a brisa marítima.
E tristeza nos olhos.

A Lisboa do Camões (Ah Sim!
Aquele que em vez de se perder em ti, Lisboa,
resolveu ficar zarolho em Ceuta! Acreditas nisto, Lisboa? Acreditas?)

A Lisboa do Pessoa (ou do Álvaro de Campos, ou do Alberto Caeiro,
Ou do Ricardo Reis, ou de quem quer que fosse que o Pessoa criasse...)

A Lisboa de uma infinita peça que intercala epopeias monumentais
E momentos mortos ( a estrear no Politeama, dia de S.Nunca à tarde,
Com um elenco Invejável – não faço a mais pequena ideia quem são
Os actores, mas se assim o dizem- o elenco é invejável)

A Lisboa da vida, da morte,
Do amor dos apaixonados
Do ódio dos artistas incompreendidos que, em ti,
Lisboa, tentam vingar uma arte
Que não vinga (Será que eles não sabem que o mar de oportunidades raras,
Mas que existem, é notros países? Espanha, Estados Unidos da América, Inglaterra...)

Mas serás sempre tu, Lisboa,
Uma identidade própria que inebria o
Menos sensível dos corações.
Serás sempre Lisboa,
A terra dos Sonhos
E das ilusões.
 
Lisboa...