Poemas : 

Olhares

 
Senti-me preso num momento
De olhares longíquos e cegos,
A mendigar atenção
Confinado a quatro paredes
Como os peixes nas redes,
Nessas redes da imaginação
De um cristo cucifixado a pregos
Dando ao povo sabor a desalento.

Sentado nesta ilha deserta,
Neste meu mundo de jogo azarado
A passear por um trilho do faz de conta.
Olhos inchados, cambaleantes
Deste ser pequeno em terra de gigantes,
Homem ingénuo que ousa a afronta,
Que não teme a mão do mestre irado,
Desafia estupidamente a morte certa.

A rouquidão que me assola
Por tanto gritar, tanto esperar,
Que me consome toda a vontade
E obriga o corpo a não obedecer.
Faz-me ser algo que não deixa viver
Que me suga tanta humanidade,
Que esquece a necessidade de lembrar.
Dia a dia com ar de esmola.

O vento raso que me traz frio aos pés,
Que me arrepia e me leva a alma,
Disse-me ontem o dia de amanhã
Canta-me hoje os males do passado,
Ri-se incrédulo deste corpo escanzelado
Ao gozar esta minha esperança vã
Por entre nuvens de chuva calma.
Olhos que se erguem para ver quem és.

Subitamente vislumbro o horizonte...
Nele, uma silhueta gasta e corcunda,
Efémero olhar perdido nas pedras do chão
A arrastar o esqueleto sedento.
Reconheço-me naquele escremento
E choro num aperto de coração
Choro esta vida dura e imunda,
A terra, as pedras, o vale, o monte.


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
Carolina
Publicado: 22/04/2008 17:38  Atualizado: 22/04/2008 17:38
Membro de honra
Usuário desde: 04/07/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3422
 Re: Olhares
Olhares e pensamentos teus
São por vezes os meus também...

Gostei desta reflexão



Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/04/2008 17:54  Atualizado: 22/04/2008 17:54
 Re: Olhares
Poema bem balanceado requerendo um leitura atenta. Parabéns. Abraço


Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 22/04/2008 18:08  Atualizado: 22/04/2008 18:08
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 Olhares para o meu Al
Menino sente o meu olhar a atravessar o mau-tempo, chegar-te como a melodia da tarde a findar... sente o meu risso a ecoar na tua face fazendo com que as sombras da noite demorem a chegar.
Estou aí, na distância de um olhar, à Ânsia de um riso, no salto de um charco

Adoro-te!

Saudade*

Deixa-me cruzar o olhar ...


Enviado por Tópico
Alberto da fonseca
Publicado: 22/04/2008 19:21  Atualizado: 22/04/2008 19:21
Membro de honra
Usuário desde: 01/12/2007
Localidade: Natural de Sacavém,residente em Les Vans sul da Ardéche França
Mensagens: 7071
 Re: Olhares
este poema reflecte com fidelidade o que é o Mundo e esta sociédade imunda. as tais palavras que eu não disse!...
Abraço amigo
A. da fonseca