Uma rosa
UMA ROSA
É uma rosa despida
Uma rosa só ilusão
É uma rosa caída
No mundo da solidão.
É uma rosa desfolhada
Pétalas a cobrir o chão
Tráz a fronte inclinada
No olhar lágrimas de emoção.
É uma rosa caprichosa
Saudade de quando era botão
Que fez a Vida à rosa?!
Que a deixou sem sedução!?
Rala no peito a saudade
De quando era botão.
Mas flor é sempre lembrada,
Mesmo murcha é flor!
Ainda que desbotada
O cravo lhe tem amor.
Tudo o tempo lhe foi levando
À rosa de fogo feita!
E a Vida a vai embriagando
Às vezes a deixa desfeita.
A deixa triste chorosa
Mas ela canta e implora
Já é da vida saudosa
A vida que a rosa adora.
Assim fala de amores
Quase, quase, quase a medo!
A rosa que é das flores
Que tráz em si o segredo,
Do seu perfume é vaidosa
Ao ver-se ao espelho se espanta
Fica muda e melindrada
Perdeu a beleza tanta
Deixou-a a Vida sem nada.
Partirá triste e chorosa
A flor que um dia foi rosa.
rosafogo
Soneto fora de luxo
Deixei a vaidade fora do meu circuito
Não quero ser escrava da imagem
nâo sou rei nem ando de carruagem
Nem nunca foi esse o meu intuito
Sou muito mais que isso, eu sou gente
Sou livre, não obedeço a padrões
Despi-me de luxos e ostentações
Para mim prevalece o poder da mente
Deixei há muito de ser convencida
na minha alma encontrei guarida
e vivo em função da sua luz
Percorro, calmamente, o meu caminho
Procuro a todos dar o meu carinho
e encontro-me na minha paz fora de luxo
Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
Louca
Louca
by Betha M. Costa
Louca sempre muito louca
Logo que te vi ensandeci
Em teus braços me perdi
Por teus olhos eu vivi
E nada foi como antes
Embalei-me nas varandas
Das redes de toda paixão
Flutuei nas asas da ilusão
Louca para sempre louca
Das areias da praia sai
Esculturas de eu sal ergui
Porque sempre fui louca
E nada será como antes...
Imagem do Google
Poema da Mentirosa Inocente
Poema da Mentirosa Inocente
by Betha Mendonça
Gosto de crer e viver entre as mentiras,
Que crio, alimento e nas que me dizem,
Depois, cuspida de escárnios, culpas e iras,
Acusam-me mentirosa e me maldizem.
Sou mulher inocente por tantos pecados!
Inimputável, assumida e reconhecida louca,
Vivo a vida inteira de pequenos bocados,
A lograr, iludir-me e ser traída pela boca...
Não feneço com desprezo e desmantelo,
De lanças e flechas de destruir-me a doçura,
Hoje de certo ninguém é capaz de fazê-lo,
A esse coração de criança insensata e pura.
*Imagem- @betha
CHUVA DE PECADO
Hoje não estou solitário...
Acompanham-me o bater dos pingos de chuva lá fora...
As nuvens choram.. Negras...
Se olhassem para cima veriam que lá o Sol brilha...
O céu continua azul...
Espreito pela janela mas não o vejo...
Valerá a pena sair destas quatro paredes?..
Molhar-me no pecado?...
Sentir a roupa molhada junto ao corpo...
Fechar os olhos e imaginar o calor daquele sol
O seu pulsar de luz... o seu sentir...
Que está lá.. mas não o vejo...
Valerá a pena ficar seco.. incólume
E ver apenas a chuva através dum vidro sujo?...
Ou imaginar que aquela roupa molhada...
Que me envolve...
É o teu corpo...
A tua Alma...
E aquele calor agora imaginário...
É o toque quente dos teus lábios...
No meu corpo sedento de ilusão...
Chamar-se-á VIVER a quem não queira sentir tal chuva???...
Ser castigado pelo vento de liberdade...
Na esperança de vir a ter tal sensação???...
DARKRAINBOW
Onda da paixão
Toda a maré que se preze
Trás a onda da paixão
Junto à praia ela fenece
Em doce rebentação
Há na arte de amar
Toda uma audaz fantasia
Com tempero a maresia
Sol e sal no mesmo mar
Nas águas da sedução
Muitos são os que perecem
Náufragos da ilusão
Vida e morte lado a lado
Maria Fernanda Reis Esteves
Natural: Setúbal
QUIS BEIJAR O TEU CORPO
Agora sei quem sou. Sei quem sou eu!
Virei as costas a tudo o que era ilusão.
O nosso amor morreu, não disse adeus.
E ficou feliz e alegre o meu coração.
Em mim, como um fantasma de desejos,
Tu moraste sem conheceres a morada.
Tu eras fria como eram os teus beijos
Não tinham sabor a mel, não tinham nada.
Eu era um mal amado, homem de outras eras
Que vivia ainda sem o fogo de um pecador,
Aquele fogo que aquece os desejos, o amor.
Agora sei quem sou, só vivi de quimeras.
Quis beijar o teu corpo sem o conseguir,
Mas hoje é o meu corpo que começa a rir.
A. da fonseca
Ervas daninhas
Persigo sonhos, ideais
Lampejos de fantasia
Lavro a terra sem arado
Dela Colho poesia
Separo o trigo do joio
Na vida sou selectiva
No meio de lindas flores
despontam ervas daninhas
se lhe pusermos as mãos
picamo-nos nas urtigas
Com o fruto do meu trabalho
Apenas compro alegria
Riquezas não me seduzem
Não tenho a alma vazia
Maria Fernanda Reis Esteves
49 anos
Natural: Setúbal
POEMETOS ILUDIDOS
POEMETOS ILUDIDOS
- I –
ATRASADO
Perdi o itinerário do teu beijo:
Um bonde chamado desejo
D'onde a vaca foi pr’o brejo...
- II -
SUPERPODERES
Morar num cristal mole
E assoviar lá do alto (feito pássaro)
Um som de riacho
- III -
DOUTOR
nunca sei o porquê disso,
o porquê daquilo
como não sei exatamente por que
qualquer coisa existe...
é quando até eu me surpreendo:
como entendo eu tão bem dessas coisas
que não podem ser sabidas?
- IV -
CAÇADOR DE VERDADES
ando a perseguir verdades in natura
(que as meias-verdades, aquelas infantis, imaturas,
nem me coçam –
andam por aí, todas juntas, comuns e muitas
como crianças à saída da escola)
- V –
MUDEZ EXEMPLAR
a incerteza das frases,
na língua, arde...
... já a absoluta falta das palavras
enfatiza a inutilidade da fala
de quem não precisa falar
(coloca um literal sentido
na mudez exemplar)
- VI -
LEI DO BREQUE
a velocidade que te conduz
é a grandeza que me breca
- VII –
SIESTA FILOSÓFICA
uma rede
bem-balança minha pança
na fresca varanda de casa...
o resto é
filosofança barata
- VIII –
EGO CEGO
sou o endereço
em que me reconheço,
rego, prego e invejo
e neste deliciado auto-sorver
me entrego cego
de tanto poder ser-me
até não mais poder
- IX –
POBREZA D’ALMA
Morreram
Tão pobrinhos, tão pobrinhas
Que nem alma penada
Aquela turba tinha
- X –
É TIRO E QUEDA...
Se uma boa idéia te ataca
Pega qualquer teoria
Pelo chifre e nela aplica
Que a idéia
Logo empaca
ASSUMO
Assumo que quando sem norte peregrinava
E nos tantos descaminhos era mero viajante
A porta originária da ilusão me abraçava
Foi no teu olhar, que aportei contingente...
Assumo que meus pés feridos nos percalços
Desta terra alheia, quando ainda peregrina
Tuas mãos firmes e afáveis aliviaram o cansaço
E teu colo o berço que me fez outra vez menina...
Assumo, ofereceu-me no teu peito a paz almejada
Foi na cumplicidade do olhar que achei meu cais
E não sei calcular o calibre da emoção saboreada
Quando mãos atrevidas foram balsamo aos meus ais
Assumo ainda, que no aconchego do teu abraço
Abandonei meus medos, segura, no teu compasso
Glória Salles
No meu cantinho...