Rio

 
Sai a brisa da fonte
num arrolhar fugidio
percorre a rocha, o monte
e assim, começa a ser rio

Mói e massacra o cascalho
afaga o musgo de leve
esculpe, envolve o entalho
da boca que o poço teve

Escorre em gotas, corrente
na cascata barulhenta
o tempo fica dormente
na margem onde se senta

Abre os braços ao mar
abraça-o ternamente
São imagens a recordar
que ficam na nossa mente!

Felisbela Baião
 
Rio

adormeço nos tentáculos de m’alma

 
adormeço nos tentáculos de m’alma
 
à beira da praia
sinto o pensamento dos rochedos
e em meus lábios arde a flor de sal
recém-chegada da noite

escorre pela garganta seca de silêncio
a inundar o meu corpo de areia
tentando cobrir esta solidão
da sua incapacidade de expressão

e nas ondas surge um vazio
de uma concha fóssil secular
a rasar a vastidão do mar
onde ferve um tempo reprimido

entrego-me ao fundo do oceano
para encontrar outra luz outra vida
suspensa na densidade das águas

aconchego-me nos limos e nas algas
e preso na rede dos meus sonhos
adormeço nos tentáculos de m’alma
 
adormeço nos tentáculos de m’alma

ANCORADOURO

 
ANCORADOURO
 
Fica muito longe o porto onde me ancorei

Distante dos mares turbulentos e frios

Um porto fincado no meu silêncio, e

Nas vontades guardadas...

Sim já não se quer tanto como antes

As lágrimas lavaram a areia dos olhos

Um cansaço do tempo

Ainda bate um coração escasso de sonhos

De dores que não dilaceram como antes

Hoje pulsa mais manso

Minhas Lembranças são passarinhos ingênuos

Fazendo ninhos na tempestade

E, nos oceanos das minhas paixões

Uma maré de águas silenciosas

Indiferente ao barco que carrega

Viaja dentro de mim chegando onde preciso

E ancora... nesse porto onde fiz morada

Num mar mais tranqüilo, numa ilha esquecida...
 
ANCORADOURO

Naufrágio

 
No silêncio dos teus olhos
Vi dois lagos tranquilos.

Procurava o meu mar,
Agitado.

Triste,
Percebi,
Que tinha naufragado…
 
Naufrágio

“O doce enredo da lua” – Soneto - Duo

 
    “O doce enredo da lua” – Soneto - Duo
 
\\"O doce enredo da lua\\" - Soneto - Duo

Contei para a brisa e para um doce luar,
As coisas mais sagradas de meu coração.
Bordei minha lenda com os beijos do mar
E com todos os belos sentidos da paixão.

Imagens e saudades fizeram-me chorar
Pérolas em gotas em meu delicado chão.
Sozinha, lembrei de teu profundo olhar
Envolvendo-me em paz, flor e fascinação

Desnudei-me, levada pelo doce enredo da lua
Aos versos confessei toda minha insensatez
Senti entre as rimas, desejada paz, languidez

No contorno da alma, tatuada a imagem tua
Sinto a espuma das ondas, que meus pés acaricia.
Deixei-me levar, pela mão do mar,que tem pele macia.

Quartetos: Karla Bardanza
Tercetos: Glória Salles

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    “O doce enredo da lua” – Soneto - Duo

Contrariando as leis...

 
Contrariamente às leis da natureza,
Sou eu fêmea em cio,
Que o penetro lentamente
E me sacio na sua frescura
Inebriante.

Mato nele toda a minha sede
Todo o meu calor,
Tão grande é por ele
O meu amor
Que mergulho tão fundo
Até desaparecer
Da vista do mundo.

Meu macho mais que poderoso
Que me recebes dentro de ti
E me abraças com a tua força
Imensurável tão meiga
E afável, que sempre senti.

Minha paz, meu azul
Minha cor da vida,
Meu mar,
Meu amor.
 
Contrariando as leis...

Quero ser...

 
Quero ser tudo
Quero ser alguém
Quero ser nada
Quero ser ninguém!
Quero ser o Sol
Para toda a gente aquecer
Quero ser a Lua
Para os amantes proteger!
Quero ser o Mar
Para a todos banhar
Quero ser a Areia
Para os meninos comigo brincar!
Quero ser Água
Para a sede matar
Quero ser uma Flor
Para me poderem cheirar!
Quero ser uma Árvore
Para oxigénio dar
Quero ser Erva
Para os animais alimentar!
Quero ser um Pássaro
Para bem alto voar
Quero ser Actriz
Para um palco pisar!
Quero ser Poetisa
Para muito escrever
Quero ser Mágica
Para poder desaparecer!
 
Quero ser...

O mar no meu olhar

 
O mar no meu olhar
 
Escuto o sussurrar do mar
Segredando segredos inaudíveis
Como uma carícia humedecida
Afagando o calhau vivo da praia
Num vaivém ternurento de prazer

E eu que faço?

Banho-me nessas ondas espumosas
Onde mergulho sem temor
Consciente da época invernal
Que importa

Em murmúrios flamejantes
Dispo-me das sombras enegrecidas
E visto-me do soalheiro do sol
Brilho ameigada pela quietude
Dessas águas cristalinas
Da ardência do meu sol
Cintilando em céus límpidos
Em melodias sensoriais
Em corpos vestidos de amor
Perco-me na imensidão de sentires
Feliz de ser o que sou
De usufruir das ondas e do sol
Desta minha ilha seduzida
Por ti.... praia idilica

Onde o horizonte longinquo
É a quimera do meu sonho de mulher

Escrito a 13/12/08
 
O mar no meu olhar

Barco à Vela

 
Se o vento que hoje sopra vier de feição
teu riso rasgado solta-se livre no rosto
e a vela içada no alto veleja por gosto
num mar de acalmia, ao bater do meu coração

Mas a maré sobe de raiva irada
e este barco à vela da vida à deriva,
deixa-me sem rumo, mas de ti cativa,
à mercê de ondas revoltas de nada

Quando a tempestade já nos céus se insurge
primeiro o clarão anuncia o que, agora, urge
o trovão que rosna e me deixa muda de aflição

Mas no fim das trevas, chegada a bonança
o meu barco à vela navega com rumo à esperança
e tu és o homem que é forte mas, de mim precisa.

Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
natural: Setúbal

Poema classificado com o Prémio Destaque Internacional Literário
Concurso Internacional Literário Letras Premiadas/2008
da Associação Literária AlPAS XXI
 
Barco à Vela

Galgo o asfalto

 
Galgo o asfalto
 
Galgo o asfalto vertiginosamente
como se quisesse planar o cosmos
Sinto o silêncio do meu pranto
resvalar suavemente
pelo meu rosto marejado
sedento de ti

Galgo mais e mais incessantemente
encurto o tempo, que o tempo me dá
e lá onde as ondas dançam
em vagas espumosas,
onde o horizonte é a paz
que me acalma,
encerro as pálpebras e voo
em nuvens solitárias
banhada pelo sol luzidio.

O vento docemente afaga-me
sussurrando brisas idílicas
desvendando segredos em mim
o meu corpo impetuoso relaxa
ao sabor da tua voz
à cadencia do teu sorriso
percutindo no imaginário recordado

A minha mente distancia-se
com o fervor de um pássaro audaz
livremente nas águas frias do oceano
sentindo o ardência de ti

Sacio a saudade insaciável
mitigo a vida que acontece
nesta distancia mensurável
deste diáfano sentir em mim

Escrito a 17/01/09
 
Galgo o asfalto

Inês de Portugal

 
 
..

Inês de Portugal - Nesse Lago Tão Quieto

Tu
que és tão grande
que eu não consigo ver-te
que és por cima
dum céu
vermelho de flores que chora
o verde vida das pétalas em ferida
neste silêncio
em que
"todos os barquinhos
cansaram de nadar"
dizes-me
por que dormes
eternamente
nesse lago tão quieto
por baixo
deste mar?

Luiz Sommerville Junior, in memorian

01 de Setembro 1929 - 04 Junho de 2013
 
Inês de Portugal

Alinhando as estrelas

 
Saiu da sala de jantar. Ninguém reparou.
Desceu alguns degraus e baixou-se para tirar os sapatos de salto alto. Então, desceu o último degrau e sentiu a areia seca tomando-lhe os pés.
Deu alguns passos seguindo o chamamento das ondas.
Sentou-se, pousou os sapatos e abraçou os joelhos.
A noite estava quente e húmida. O vestido branco agarrava-se à pele, do mesmo modo que, a espuma branca das pequenas ondas, se vinha agarrar à areia.
Ainda conseguia ouvir a música tropical vinda da sala e as vozes sem palavras definidas. Tinha sido um jantar muito agradável. Tudo era bom e bonito. Perfeito, se não fosse a sua fome de silêncio e de solidão.
Sentia-se bonita naquela noite, Sentia-se em paz. Mais ainda, ali sentada sozinha. Num ímpeto deixou-se cair para trás e ficou deitada. Olhou o céu azul escuro e viu milhões de estrelas. Definiu algumas constelações.
Tentou definir caminhos de estelas. Complexos caminhos que lhe fizeram lembrar as estradas da vida. Viu as estrelas desalinhadas e iniciou um árduo trabalho de tentar alinhá-las. Pareceu-lhe possível. Mas, nessa noite sentia-se cheia de força. Uma força interior que nem sempre conseguia ter. Com a ajuda do mar, conseguiu mesmo alinhar alguns caminhos. Caminhos seus. Caminhos irreais.
Talvez tenha adormecido. Decerto que sonhou e, só acordou, quando sentiu a presença de alguém perguntando o que fazia ali, tão só.
Não era uma voz conhecida. Não era alguém que a procurava mas sim, alguém que a encontrou. Simplesmente respondeu que estava a alinhar estrelas. Ele sorriu e sentou-se ao seu lado. E só perguntou se podia ajudar…

Por vezes, também gosto de escrever em prosa.
 
Alinhando as estrelas

Mar e guitarras

 
Se o fado me mente na tristeza
Consola-me a alma, o garanto,
Pois sinto no seu canto a beleza,
Da alegria, ao secar meu pranto.

Podes mar sussurrar um chamamento
Nas águas serenas de Verão
Acompanhamento terás, lamento,
Das guitarras que não se calarão.

Mar e fado de mãos dadas, cantem
Memórias do meu belo recanto
Chamem a coragem e agitem

Os ventos de outrora, num só manto.
Cubram esta terra nossa que tem
Nobreza de espírito, encanto…
 
Mar e guitarras

"Certo querer..."

 
"Certo querer..."
 
"Certo querer..."

Uma longa espera...
Pelo que nunca veio e talvez jamais venha.
Um querer provar outro gosto, outro bocado.
Perco-me nas voltas que traço
E meus territórios abertos
Mostram-me o horizonte longe demais.
Inalcançável aos meus olhos...
É querer esse “nada” cheio de mistérios.
Outras palavras, antes jamais ditas.
Rios que querem fluir, ir ao encontro
Do mar desconhecido, assustador.
Ao mesmo tempo o medo
De ficar a deriva, num mar bravio...
É me olhar do alto de mim.
Nada entender, ainda assim me permitir.
É o querer ser o que digo
E o que penso, sem negar, nem me esconder.
É querer o plano “B”, antes até
Da estratégia montada.
A ânsia por descobrir, conhecer, ouvir.
É contornar minhas margens
Preencher meus espaços...
E aprender a nesses vácuos...
Não tecer fios de solidão.
Confuso esse querer ir embora
De mim mesma...

Glória Salles
19 outubro 2008
20h18min
 
"Certo querer..."

O Mar!

 
O Mar!
 
Mar, tu que envolves a areia
Com toda a tua força e paixão
Quem te sabe admirar
Já presenciou esta linda união!
União essa que é sublime e encantadora
A força com que a areia abraças
Fazes esquecer a muita gente
Que a vida tem desgraças!
Mar, és incrível e avassalador
És fonte de grande inspiração
Tua paisagem tem efeitos curativos
Cura muitos males de coração!
O horizonte faz parte de ti
O sol todos os dias te vai beijar
És majestoso, imponente
Visto muitas vezes por quem sabe amar!
Quando o sol te beija
Torna-se num momento de grande admiração
Nem todos sabem avaliar este teu poder
Nem todos são dignos de tamanha contemplação!

Este poema foi feito hoje, sentada à beira-mar, contemplando o pôr-do-sol!
 
O Mar!

Caminhar na alma

 
Saiu sozinha. Meteu-se no seu carro.
Acelerou, como sempre fazia naqueles dias em que queria que o mundo a deixasse em paz.
Gostava de carros potentes que a levassem rápido ao “seu cantinho da solidão”. Desceu a serra alimentando o prazer de fazer e desfazer as curvas.
Depressa, chegou ao mar.
Estava revolto e espumava a sua ira em gigantescas ondas brancas.
Nem sequer havia sol. Estava tudo deserto, como ela queria.
Sentou-se numas rochas e sentiu-se dona de si.
Caminhou no fundo da alma e encontrou as suas flores preferidas.
Estavam murchas de tristeza. Regou-as com lágrimas.
Sorriram-lhe e arrebitaram. Tinham saudades da sua atenção. Sorriu também.
Em paz consigo própria (mas não com o mundo), ali ficou olhando o mar…
 
Caminhar na alma

ÚLTIMO MAR

 
Hoje vi…vi o sol ,
No meu pensamento se eclipsou.
Tudo ficou escuro, sem sentido,
Tudo se aproxima…vai chegar…
O ÚLTIMO MAR !

Aproveitei a escuridão,
Para entrar na noite acordado.
E sem queixas do passado,
Anseio pela próxima visão.

Hoje vi…vi a lua,
Espelhada num rio…frio,
Nas águas escuras, do teu sonhar.
Tudo se aproxima…vai chegar…
O ÚLTIMO MAR !

Nem o dia, nem a noite
Me devolveram o viver,
Que troquei outrora no caminho
Pela inspiração para escrever.

Hoje vi…vi os teus olhos,
Reflectidos...molhados a ler
Num espelho de papel amarrado.
Tudo se aproxima…está a chegar…
O ÚLTIMO MAR !

Palavras caladas, sentis-te
Com odor a azul riscado,
Aquelas que nunca ouvis-te
Por eu sempre amar calado.

Hoje vi...revi o amor,
Perto de ti...de mim...
Numa maré...numa onda,
Que se aproxima...que já chegou...
NO ÚLTIMO MAR !


pedro V.S.
 
ÚLTIMO MAR

Mistérios entre a lua e o mar

 
Mistérios entre a lua e o mar
 
A lua faceira recostou-se no mar,
hipnotizou-se pelas ondas inconstantes
e o brilho das águas,
e assim quis logo o mar, que lhe jurou noites de amor,
Mas sem amarras, o mar era liberto e nada lhe podia prometer !

A lua entristecida resolveu então,
só admirar as intrigantes e misteriosas
águas do mar ...
Entreter-se suas madrugadas com a melodioso som das águas,

E o mar não contentado
tenta conquistar a lua romântica,
e enternecida de ilusões,
a mostrar-se numa exuberância,
chamando-a, e envolvendo com suas ondas insaciáveis...
Sem forças para resistir a lua pergunta :
Para onde mar, queres chegar ?

" Tu lua descobrirás o meu verdadeiro mundo,
e saberás meu verdadeiro amar,
e lá poderemos reinar ... "

...E assim sucede-se o eterno mistério entre a lua e o mar ...
 
Mistérios entre a lua e o mar

- Trazes-me o Mar -

 
Trazes o Mar nas pernas.
No teu leito um Rio apenas.
Traz-me o Mar e deita-o ao lado de mim.

Embala-me a vida...
Desagua o Rio que trazes até ao alto Mar de mim!

Marca-me muito!
Na pele deixa-me o rasto
...de todos os Rios...
... de tudo que no teu corpo corre...
... até mim!
 
- Trazes-me o Mar -

Tento te ver por entre vestígios de luz e salpicos de mar ...

 
Tento te ver por entre vestígios de luz e salpicos de mar ...
 
 
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Vejo o beijo mareando na pele azul de dois céus,
Comunicando através das lágrimas secas e molhadas

Vejo feixes de luz alcatroando a estrada de ouro e de prata

Vejo o pestanejar suave do mar na noite apresada

Vejo a vela raiada do sol, substituindo o negro das borbulhas douradas

Vejo o círculo … fechado … aberto … na horizontal … na vertical … de tudo o que é céu…

Vejo na alquimia das marés, a poesia de baloiço que traz e leva horizontes …

Horizontes que aqui defino, que aqui semeio:

Horizonte Tranquilo

Nessa lonjura que as promessas comprometem
Se extingue a solidão num reconfortar de mar

Horizonte (in) Tranquilo

Numa brisa crescente que amarrota o estômago num acenar
Os olhos ganham velas imaginárias, esbofeteadas pelo ondular

Horizonte Nocturno

O frio escurece as luzes das embarcações nos sons húmidos das ondas
Enquanto a lua inveja o farol que rodopia perante as estrelas mudas

Horizonte Saudoso

O espelho mais fiel ao reflexo da alma, buscando a parte que falta
Para lá da memória dos afectos, para lá do azul sem fim

Horizonte Longínquo

O céu tremido e distante embarga as saliências da morte,
No azul orvalhado que não obedece ao incómodo dos olhos

Horizonte (morto) Novo

O espírito fecha os estores e se desprende na brancura dos azuis
Gotejando gotículas solares, irrigadas de sal humano

Horizonte Teu

Aquele que não vejo mas sinto, quando refino o silêncio no peito erguido e te procuro …
E tu me respondes na voz do vento, no arrepio profundo das lágrimas, no sofrimento das estrelas …

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Musica
Come Home to Me -Tim Janis Ensemble

Foto pessoal-Praia dos Salgados
 
Tento te ver por entre vestígios de luz e salpicos de mar ...