[...e se eu mesmo não me levo a sério...]
Reconheço... e mais: preciso que saibas
que tiveste parte [viva] em atos da minha devassidão;
tuas carnes atiçaram-me aquela mórbida atração
para o profano, jacente nos meus escuros porões!
Mas, ao depois, quando raiou o dia,
eu vi que estava irremediavelmente errado: 
nem mesmo estás à altura de ser o objeto
de uma atração de tão complexa psicologia! 
Mas não te envaideças pela tua efêmera atuação: 
não és, certamente, a primeira mulher 
“rascunho-do-mapa-do-inferno” 
com quem amanheço abraçado, 
depois de uma noite de terrível bebedeira! 
Eu sei: essa minha devassidão ainda há de matar... 
Mas por ora, só preciso apagar-te da mente — 
por isto, te esquecer é uma terapia,
sim, uma terapia muito, muito necessária!
Sempre há uma devassidão de suceder àquela
que tanto me incomoda — assim tem sido a vida;
e nisto reside a certeza do meu esquecimento de ti!
[Penas do Desterro, 27 de agosto de 2010]