Poemas : 

[O Espiar dos Pássaros]

 
Quietos, parados como sombras de objetos imóveis, pássaros absortos na vida que passa me espiam. Diante do quase imperceptível movimento dos seus olhos, eu, eu-vida, passo; eu sei, eu sinto intensamente que eu apenas passo... A outra vida, esse filme de impossibilidades que os loucos insistimos em criar, passa à solta, ou quase à solta... a [sonhada] vida passa ao largo para desdenhar das nossas ambições, ou passa perto, muito perto quando é para nos ferir.

... E é assim, de tanto não ir às possiblidades que, agora, eu me forço: falo comigo mesmo coisas que eu não gostaria de ouvir: as palavras que escrevo no ar me flagelam o espírito! E de tanto ouvir-me, eu crio o inferno, eu engendro a rota do inferno: descobri que eu posso ir não indo, e então eu vou — pois ir-me, é inevitável — uso o gerúndio, e vou. E assim, eu repito: eu passo... passo lentamente diante dos olhos daqueles pássaros imóveis, absortos... Com pouco, a minha figura não mais estará no caminho da luz que chegaria àqueles olhos... absortos olhos, eu digo!
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[Desterro, 05 de fevereiro de 2012]

 
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crstopa
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Enviado por Tópico
VCruz
Publicado: 24/04/2012 22:35  Atualizado: 24/04/2012 22:35
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 Re: [O Espiar dos Pássaros]
Oi crstopa,
Também sumiste um pouco? Provável que não o tenha notado, pois também...fui ali...e também "descobri que eu posso ir não indo"...gostei muito do seu texto...vou sem ir...mas certamente, esse levo comigo para degustar por entre as brumas de uma boa xicara de café.
Bjsss
Valéria Cruz