Velha Vida De Prostituta

Poesia que fotografa a vida real. Parabéns!
Gyl , essa poesia me lembra da poesia de Calos Drummond de Andrade.

A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante
Boca de mina amanteigada
Quente. A puta quente.

É preciso crescer esta noite inteira sem parar
De crescer e querer
A puta que não sabe
O gosto do desejo do menino
O gosto menino
Que nem o menino
Sabe, e quer saber, querendo a puta.

A boa poesia é aquela que vem, com roupa ou nua, sem preconceitos ou conceitos, que segue as regras vigentes se desejar ou não... Pode ter ares de inocência ou de prostituta, porque ela é livre , não aceita cabrestos.

A sua prostituta...Ops, a sua Velha Vida de Prostituta, veio com tudo, querido Gyl, arrebentando com as comportas, arregaçando com tudo, sem obscenidades porque ela é daquelas de fino trato, sabe portar-se em todos os lugares.

Amei de paixão , sua inspiração está em alta!

Beijos com paixão e admiração!

Bom dia. Teu poema expõe bem uma realidade nua e crua. A vida de mulheres de rua. Quando falo desta realidade aqui na nossa cidade nos trabalhos sociais, digo que elas fazem um trabalho social muito maior que o nosso. Elas recolhem nelas mesmas o lixo emocional oriundo de todas a vertentes humanas. As que começam novas, quantas pelo caminho encontrarão a morte e as mais velhas expressão uma realidade muito dura de decadência humana. Dos que as usam ninguém fala ou lhes atira pedras, se há prostitutas é por causa do homem. Obrigado por partilhar seu poema.

É isto o lado negro da vida, que nos leva até ao patamar mais baixo da sociedade. Que fazer! É mais uma vida jogada no pantanal da indiferença que luta pra manter sua presença neste velho mundo.

Abraço!
upanhaca

Quem ama uma vez , ama outras mais. O amor é um abuso de quem ama cada vez que ama.
Belo poema e tema. Levou-me para este escritor português e musicado.
Um abarço de onda e carinho

Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto

"Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada"
Lobo Antunes
In: "Eu me comovo por tudo e por nada", 1992

https://www.youtube.com/watch?v=fnkLU5f9cSU

https://www.youtube.com/watch?v=iUUfDb_NxHg

É um espaço da vida preenchido pelos não valores, onde o descaso é feito nos olhos das importunidades.