Desfolho o tempo em camadas
E vou assistindo minhas mãos
Cansadas projetando sombras
Chinesas sobre os antigos bibelôs.
Então eu traço arabescos assimétricos
e vou tingindo
O som do meu âmago com o vento
Que sibila entre cordas nos outeiros.
E recolho-me dentro desta solitude
A lamentar o tempo que escoa sobre
A minha inerme existência e que coa
Os dígitos em simples alfarrábios...
Devaneio em árvores que, ninguém
Sabe o porquê, esse ano não deram flores.
Falho ao rimar rumo a um oceano dúbio de inconstantes esperanças tardias
Que tendem a não tecerem mais auroras
Para que os cantos dos galos do futuro
Nunca mais possam tecer amanhãs .
Gyl Ferrys